Thomas Miersma
Tradução: Marcelo Herberts
“Naquela ocasião Jesus disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado’” (Mateus 11:25-26)
Por essas palavras Jesus agradece ao seu Pai por sua soberana vontade de esconder a verdade do evangelho de algumas pessoas e revelá-la a outras; agradece por sua justa escolha. A causa da vontade de Deus não é encontrada no homem, mas em Deus somente, já que “Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado.” Portanto, Jesus diz: “Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11:27). Segundo a vontade do seu Pai, Jesus o Filho faz com que alguns conheçam o Pai, revelando-o a eles, trazendo os cansados e sobrecarregados para junto de Si (Mateus 11:28). Eles são suas ovelhas, que escutam a Sua voz. Cristo lhes concede fé salvadora para ouvir com os ouvidos da fé. Cristo os conhece pessoalmente. Ele disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (João 10:27). Os demais não são Suas ovelhas. Jesus não lhes revela o Pai. Ele não lhes concede fé salvadora, mas os entrega à sua incredulidade obstinada. Como Ele diz, “mas vocês não crêem, porque não são minhas ovelhas” (João 10:26).
Através da pregação, Jesus busca por Suas próprias ovelhas, “Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora” (João 10:3). Jesus ensina uma escolha soberana da parte de Deus em salvar e conceder fé a alguns homens: eleição. E ensina uma escolha soberana justa de Deus em rejeitar os demais e condená-los por sua incredulidade: reprovação.
Em harmonia com a determinação do Seu Pai, Jesus pregou às pessoas através de parábolas. Quando inquirido pelos seus discípulos da razão para agir assim, Ele aponta ao profeta Isaías (Isaías 6:10) e explica o propósito pretendido por Deus: “Ele lhes disse: ‘A vocês foi dado o mistério do Reino de Deus, mas aos que estão fora tudo é dito por parábolas, a fim de que, ainda que vejam, não percebam; ainda que ouçam, não entendam; de outro modo, poderiam converter-se e ser perdoados!’” (Marcos 4:11-12). Deus escolhe salvar o seu povo, revelar a si próprio e seu Filho Jesus Cristo a eles, e infalivelmente trazê-los à fé em Cristo. Mas Deus também, segundo a sua determinação, soberanamente abandona os demais em seus pecados. Ele envia Sua palavra àqueles que podem ver e ficar sem desculpas, mas, no entanto, não podem crer e ser salvos, pois não são das Suas ovelhas.
Em harmonia com essa verdade, Jesus repetidamente fala dessa escolha de Deus, e da sua própria condição como Filho de Deus. Quando está se referindo à tribulação da Sua igreja e da salvação dos seus, Jesus fala acerca dos últimos dias: “Se o Senhor não tivesse abreviado tais dias, ninguém seria salvo. Mas, por causa dos eleitos por ele escolhidos, ele os abreviou” (Marcos 13:20). Ainda que o texto fale dos últimos dias, na linguagem de Jesus, Ele também explica a eleição. É escolha de Deus. No contexto da pregação do evangelho, muitos são chamados pela palavra pregada, mas que alguns creiam é uma questão de escolha divina. Ele diz: “Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (Mateus 22:14; veja também 20:16). Salvação depende da escolha de Deus e não da escolha do homem.
Essa escolha inclui o chamado de Jesus aos seus discípulos. Não se tratou, contudo, de uma mera escolha de homens para um ofício. Tal explicação é muito superficial. Nós lemos: “Então Jesus respondeu: ‘Não fui eu que os escolhi, os Doze? Todavia, um de vocês é um diabo!’” (João 6:70). Dizendo isso Jesus estava respondendo à confissão que Pedro fez da sua fé em Cristo, “Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus” (João 6:69). Essa confissão não foi feita por Pedro e pelos discípulos em si mesmos. Ela estava enraizada na obra da graça poderosa de Deus neles. Jesus fala acerca dessa mesma confissão em outra ocasião, quando diz a Pedro: “Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus” (Mateus 16:17). A confissão de Pedro “és o Santo de Deus” não foi obra de Pedro, mas obra soberana de Deus nele, a revelação de Deus. Ele não fez essa confissão pelo poder de escolha, ou por alguma vontade em sua própria carne, mas pelo poder da graça. Deus o escolheu em Cristo.
Então Jesus diz: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome” (João 15:16). As palavras de Jesus são claras. É ele quem escolhe os seus. Os discípulos não fizeram sua decisão por Cristo. Em conformidade com a vontade de Deus, Cristo os escolheu. O fruto que eles deveriam produzir como Seus servos, pela fé e pelo labor do evangelho, também foi Seu—e não deles. Ele os ordenou não apenas a agir, mas também a serem fecundos. O fruto do seu labor na comunhão da igreja também foi ordenado por Deus em Cristo. Jesus explica a razão para isso: “Eu revelei teu nome àqueles que do mundo me deste. Eles eram teus; tu os deste a mim, e eles têm obedecido à tua palavra” (João 17:6). Eles foram escolhidos e confiados a Cristo e Ele a eles. Isso é verdade não somente em relação aos discípulos, mas em relação a todas as ovelhas de Jesus, que deveriam crer pela palavra do evangelho (João 17:20) e estar com Ele tal como quem lhe foi dado pelo Pai (João 17:24).
Jesus ensina a escolha de Deus em Cristo para salvação e fé. Trata-se de um falso cristo inventado pelo homem aquele cristo que oferece a si mesmo a todas as pessoas para que soberanamente optem por aceitar ou rejeitá-lo. Fé não é uma decisão, mas uma dádiva de Deus.
Fonte: What Jesus said about, Rev. Thomas Miersma, cap. 8.
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