Thomas Miersma
Tradução: Marcelo Herberts
“Jesus lhe disse (a Zaqueu): ‘Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão’” (Lucas 19:9).
Por essas palavras Jesus nos conduz à promessa de Deus a Abraão: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência” (Gênesis 17:7). O propósito de Deus na eleição e em Sua obra de graça pela qual Ele se torna o nosso Deus em Cristo é pessoal, mas não individualista. Jesus salva uma igreja. Ele diz, “… edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mateus 16:18). Reunindo essa igreja segundo o conselho de Deus para todas as nações, Jesus ordena a pregação do evangelho a toda criatura (Marcos 16:15). Nessa pregação e reunião dos eleitos, as nações são incorporadas ao Seu reino e feitas seus discípulos (Mateus 28:19). O mundo que Deus amou é salvo (João 3:16). Crêem aqueles foram ordenados à vida eterna (Atos 2:47; 13:48). A essa obra da vontade de Deus pertence a verdade que Deus salva Seu povo em famílias e lares crentes, reunindo Seus eleitos nas gerações dos crentes (Gênesis 17:7).
Quando Jesus passou por Jericó em seu caminho a Jerusalém e à cruz, fez isso com um propósito em vista–salvar Zaqueu. Ele estava realizando a vontade do Seu Pai. Ele torna isso evidente quando pede a Zaqueu que desça do topo de uma árvore, e então diz, “… me convém ficar hoje em tua casa” (Lucas 19:5). Jesus não diz simplesmente o que deseja fazer, isto é, “ficar hoje em tua casa;” Ele diz, “… me convém ficar hoje em tua casa.” É algo que “precisava” [versão do autor] ser feito. Era algo indispensável, pois Sua ovelha precisava ser salva e reunida. Jesus explica isso mais tarde quando diz, “Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19:9-10). A referência de Jesus aqui é à promessa de Deus a Abraão, e a promessa à Sua descendência (Gênesis 17:7). Essa promessa estava em Cristo, que é o descendente acima de tudo (Gálatas 3:16) e àqueles que são a descendência espiritual da graça de Deus, filhos da promessa (Gálatas 3:29; 4:28). Assim, Zaqueu era “um filho de Abraão” não apenas segundo a carne, mas um que, embora perdido em si mesmo, foi tornado um filho espiritual, que tinha a fé de Abraão. Mas trazendo essa salvação a Zaqueu, Jesus não estava trazendo tão-somente ele para Si mesmo, como um indivíduo isolado. Ele a trouxe à sua casa, à sua família. Jesus disse assim, “Hoje, houve salvação nesta casa” (Lucas 19:9).
Em sua obra da graça, Deus torna pecadores mortos em filhos vivos de Deus, uma descendência espiritual de Abraão, quer sejam judeus ou gentios. Esse foi o ensino de João Batista (Mateus 3:9; Lucas 3:8). É também a instrução de Jesus concernente a Zaqueu. Mas essa obra da graça salva um crente e sua descendência, não simples indivíduos. Esta é a bênção que foi concedida a Abraão, primeiro em sua descendência e depois nas gerações após ele, na qual Deus reuniu uma descendência crente e espiritual que amava a Deus e era o Seu povo. Tal bênção não foi resultado de qualquer conexão natural, mas uma obra da graça. Deus estabeleceu Seu pacto com eles, tornou-se Deus deles, e os admitiu como filhos. Não se tratou de toda a descendência de Abraão, seus descendentes naturais, mas uma descendência espiritual reunida ao longo das gerações da sua descendência natural. Os fariseus e escribas também eram filhos de Abraão segundo a carne, sua descendência no sentido natural, mas não eram verdadeiros filhos de Abraão, pois não tinham a fé de Abraão (João 8:39-40). De acordo com a Sua promessa e com base na Sua vontade, Deus salvou uma descendência espiritual que nasceu por meio da graça do alto. É isto que Isaque, o filho nascido segundo a promessa, representa. Por essa razão a Palavra de Deus diz, “Vocês, irmãos, são filhos da promessa, como Isaque” (Gálatas 4:28).
Também foi da vontade de Deus que houvesse uma descendência espiritual através de Abraão entre os gentios. Quando o apóstolo Paulo diz, “vocês, irmãos, são filhos da promessa, como Isaque” (Gálatas 4:28), ele está se referindo aos gentios na igreja da Galácia. É aos gentios que João Batista está se referindo quando diz “porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mateus 3:9). Por isso o apóstolo Paulo diz aos gentios, “e, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:29). Como vimos, a promessa não foi a Abraão como simples indivíduo, “eu serei Deus por ti,” mas para sua descendência, “nas suas gerações.” Quando Jesus se dirige a Zaqueu é essa promessa que ele tem em vista, incluindo o fato que Deus firma a sua graça em famílias. Deus sempre se agrada de salvar o seu povo, “nas suas gerações.” Deus se agrada em ordenar à graça da eleição seguir seu curso entre as gerações de crentes, reunir dos filhos dos pais crentes um povo da Sua própria possessão, filhos nascidos da Sua graça, tal como foi com Isaque. Por essa razão Jesus não diz a Zaqueu “Porque este homem, unicamente, é filho de Abraão.” O que Jesus diz é “pois que também este é filho de Abraão” (Lucas 19:9). Ele não disse isso porque agora a casa tem um crente morando dentro dela. Jesus está chamando a nossa atenção à natureza da promessa de Deus a Abraão, e subjacente a isso, à vontade de Deus em salvar Seu povo em famílias, reunindo crentes e sua descendência eleita nas suas gerações para as bênçãos da salvação.
Isso tem relação com a verdade da eleição. Nós também vemos isso quando Jesus declara a vontade do seu Pai para com os filhos dos pais crentes que ansiavam pela Sua bênção aos seus filhos, “Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas” (Marcos 10:14). Deus em Cristo salva Seu povo nas gerações dos crentes. A eleição e a graça de Deus tomam seu curso segundo a vontade de Deus, nas gerações. Não por algum poder da carne, nem por alguma causa no homem. É pela soberana determinação de Deus. Por isso o evangelho não é meramente “Creia no Senhor Jesus, e serão salvos,” mas “Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa” (Atos 16:31). O evangelho em Atos 2 não é “a promessa é para vocês [judeus] e para todos os que estão longe [gentios],” mas a promessa, àqueles circuncidados em seus corações de judeus, é “para vocês e para os seus filhos” (Atos 2:39). Além disso, no que se refere aos gentios, àqueles que estão longe, a promessa é “Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa” (Atos 16:31). Não se está fazendo referência aqui, antes de tudo, a questões como a do batismo infantil (ainda que seja uma implicação necessária), mas a vontade de Deus–a vontade de Deus para a eleição, as promessas de Deus em Cristo. O evangelho em si está em questão. Jesus diz a respeito dos filhos dos crentes–e se tratavam de crianças–”pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas” (Marcos 10:14). Jesus as abençoa porque elas são objeto da Sua graça e obra salvífica–Sua bênção. Jesus traz salvação à família de um crente. “Hoje, houve salvação nesta casa!” (Lucas 19:9). Do mesmo modo não é sem significado que dois dos milagres de ressurreição de Jesus envolveram a ressurreição de filhos; o filho da viúva de Naim e a filha de Jairo. Jesus também operou outros milagres entre filhos de crentes (Mateus 15:21; 17:14; João 4:46). Jesus veio para salvar o Seu povo dos seus pecados, isso também envolvendo os pequeninos do Seu reino (Mateus 18). Jesus tem trazido salvação à sua casa?
Fonte: What Jesus said about, Rev. Thomas Miersma, cap. 7.
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