David J. Engelsma
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Calvino escreveu: “Cristo ordenou sua Igreja de tal forma, que se [a pregação pura do evangelho] for removida, o edifício inteiro deve cair” (Institutas 4.1.2). Àqueles que imploravam por tolerância de erros doutrinários em nome da Igreja Mãe, Calvino replicou:
Há algo ilusório em nome da moderação, e a tolerância é uma qualidade que tem uma bela aparência, e parece digna de louvor; mas a regra que devemos observar a todo preço é, nunca suportar pacientemente que o nome santo de Deus seja assaltado com blasfema ímpia—que sua verdade eterna seja suprimida pelas mentiras do diabo—que Cristo seja insultado, seus santos mistérios poluídos, almas infelizes cruelmente assassinadas, nem deixar a Igreja padecer em extremo sob o efeito de uma ferida mortal. Isso não seria mansidão, mas indiferença sobre coisas que deveriam vir em primeiro lugar (A Necessidade de Reformar a Igreja).
O povo protestante, tolerando a falsa doutrina e aderindo a instituições apóstatas, não entende que seus ancestrais abriram mão de tudo—por doutrina. Não entendem que homens de carne e sangue como eles uma vez desafiaram tudo e arriscaram transformar o mundo num tumulto—por doutrina. Eles não entendem mais as palavras do poderoso hino de Lutero: “Se temos de perder, famílias, bens, poder. Embora a vida vá”—por doutrina.
A gravidade dessa indiferença para com a verdade está no fato de ser uma indiferença para com a glória de Deus. Deus é glorificado na verdade do evangelho; e é desonrado quando homens transformam sua verdade em mentira. A Igreja da Reforma incendiou-se com desejo pela glória de Deus. Onde isso será achado no Protestantismo de hoje? Deus julga esse desprezo pela sua glória no evangelho, punindo até aqueles que não o glorificam como Deus quando ele é revelado na criação (Rm. 1:18ss.). Por falta de amor à verdade, homens e mulheres são punidos nesses últimos dias com um forte delírio, da parte de Deus mesmo, para que creiam na mentira, “para que sejam julgados todos os que não creram a verdade …” (II Ts. 2:10-12).
Tudo isso – abandono do evangelho da graça, adoção do outro evangelho (das obras e do livre-arbítrio) e indiferença à verdade – pode ser resumido como uma rejeição da Palavra de Deus. Esse era o pecado da Igreja pré-Reforma: ela rejeitou a Palavra negando a autoridade única da Escritura, e rejeitou a Palavra repudiando a mensagem da Escritura – salvação pela graça somente. Todas as coisas erradas naquela Igreja poderiam ser traçadas até esse mal. E esse é o mal do Protestantismo de hoje.
Fonte: Excerto do panfleto “The Church Today and the Reformation Church: A Comparison.”
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em outubro/2007.
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