Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
A última grande revelação do Antigo Testamento sobre o pacto de Deus foi aquela feita a Davi (II Samuel 7). Como uma revelação do pacto, ela também teve algumas características notáveis.
Temos aqui a fórmula pactual que mostra o pacto com Davi sendo ainda um pacto eterno de Deus, a despeito das diferentes circunstâncias. Nesse pacto Deus promete ser o Deus de seu povo e torná-los seus (v. 24). Esse é sempre o propósito do pacto.
A revelação do pacto feita a Davi é única, portanto, em várias considerações. Ela une o pacto e o reino e mostra que eles estão intimamente relacionados. Deus promete estabelecer o reino de Davi e o seu trono para sempre (vv. 12-13), uma promessa que foi cumprida em Cristo, o Rei dos reis (Lucas 1:32-33).
Ao mostrar que o pacto e o reino estão ligados, Deus ensina a Davi e a nós algumas verdades importantes. A relação entre o pacto e o reino mostra a estrutura ordenada do pacto. Nesse pacto o povo de Deus são cidadãos de um reino, cada um com o seu lugar devido sob o governo de Deus. O “trono” do qual Deus fala (II Sm. 7:13) é realmente sempre o trono de Deus, mesmo quando um homem como Davi se senta nele.
Essa conexão entre pacto e reino também revela a natureza espiritual do reino. Há muitos hoje que têm a mesma concepção terrena e carnal do reino que os fariseus tinham no tempo do ministério de Jesus. Eles pensam que o mundo todo é, ou será, o reino de Deus; que o reino está aqui na terra antes do retorno de Cristo e que o mesmo é composto de uma sociedade dominada por cristãos. Ou eles pensam que o reino será um Estado judeu terreno modelado segundo o reino de Israel no Antigo Testamento e que o mesmo será levantado antes do reino de Cristo.
Deus deixa claro que essas concepções são errôneas ao conectar a vinda do reino com a promessa do pacto. O reino não é nem um Estado judeu nem uma sociedade cristã, mas a habitação ordeira de Deus com o seu povo em comunhão. No centro desse reino, portanto, está a casa de Deus, o templo (v. 13), a grande figura do Antigo Testamento da igreja como o corpo de Cristo (João 2:18-21).
É na obra de Cristo que vemos o cumprimento dessas promessas pactuais a Davi. Ele estabelece e inicia o seu reino não dominando o mundo ou estabelecendo um Estado judeu, mas na forma de sofrimento e vergonha (II Sm. 7:14; Sl. 89:30ss). Não são exércitos, armas e governos que devem ser derrotados, mas o pecado.
As palavras que estavam sobre a cabeça de Cristo na cruz, portanto, marcaram o cumprimento das promessas feitas a Davi, embora aqueles que a puseram fizeram com o intuito de zombaria. Em seu sofrimento Cristo foi o Rei dos judeus, isto é, de todos os filhos verdadeiros de Abraão. Cristo é aquele que os liberta dos seus inimigos espirituais e adquiri para eles um lugar no paraíso, em seu próprio reino celestial.
Fonte (original): Doctrine According to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 178-179.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em fevereiro/2007.
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