Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / [email protected]
Não há dúvida que a morte é um inimigo – o último inimigo (1Co. 15:26). Tememos a morte, porém não simplesmente porque ela é desconhecida. Ninguém jamais retornou para nos dizer como é morrer, mas nosso temor da morte vem especialmente do conhecimento que a morte é o salário do pecado (Rm. 6:23), o julgamento de Deus sobre aqueles que se rebelaram contra ele.
Não é de maravilhar que toda tentativa é feita para esconder o horror e a corrupção da morte. Nem é de se admirar que em face da morte, a maioria tente afogar suas tristezas em diversão e bebidas. Mesmo quando estão morrendo, eles não querem pensar ou falar da morte, e em muitos casos eles simplesmente negam que estejam morrendo, quando é claro que não há nenhum remédio ou socorro.
Quando o ímpio vê a morte na criação, eles falam de “sobrevivência do mais adaptado”1 e da “natureza, vermelha no dente e na unha”2 para esconder o fato que a morte não é natural e que a ira de Deus é evidente nela. A morte está em todo lugar e sempre é o fim de todas as esperanças, o inimigo que chega rápido demais. Na morte, pelo julgamento de Deus, todos os labores e esperanças são deixados sem cumprimento e satisfação.
É somente pela fé que um crente é capaz de enfrentar a morte, e mesmo então isso não é fácil. Em face da morte, a fé deve brigar, lutar e sobrepujar, embora sempre tenha a vitória. Com consciência dos seus próprios pecados, o filho de Deus ainda deve buscar pela fé confiar no sacrifício e vitória de Cristo sobre a morte e crer de todo o seu coração que a morte foi tragada na vitória.
A morte está conquistada para o crente. A morte não pôde deter Cristo (At. 2:24), pois o aguilhão (o poder destruidor) da morte é o pecado (1Co. 15:56), e Cristo não tinha nenhum pecado. Os pecados que tomou sobre si, como Mediador, ele pagou até o último centavo. Ele deliberadamente colocou a si mesmo no poder da morte e permitiu que ela fizesse o pior com ele, mas ela não podia e não o conquistou, pois ele era o Filho de Deus, o Santo. Sua morte, como John Owen colocou tão belamente, foi “a morte da morte”3 para todos a quem o Pai tinha lhe dado.
Isso levanta a pergunta: “Por que os crentes devem morrer, se a morte foi tragada na vitória?”. Ou, como o Catecismo de Heidelberg coloca: “Se Cristo morreu por nós, por que devemos nós morrer também?” A resposta do Catecismo é a resposta da Escritura: “Nossa morte não é para pagar nossos pecados, mas somente significa que morremos para o pecado e que passamos para a vida eterna”4 (Veja também Jo 5:24; Fp. 1:23).
Que maravilha! A porta escura, que antes tinha sido aberta somente para o inferno e condenação, abre-se agora para que os crentes entrem na gloriosa vida celestial. Portanto, talvez não seja errado dizer que devemos morrer para mostrar quão completa foi a conquista de Cristo em nosso favor. A morte é um fim para todo pecado, sem dúvida, e uma porta para glória, mas também um testemunho do fato que essa morte foi verdadeiramente tragada.
E assim, os crentes dizem: “Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rm. 14:8). Será essa a nossa confissão quando a morte chegar?
Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 309-311.
1“Sobrevivência do mais adaptado”, do livro Principles of Biology (1864-1869) de Herberts Spencer, foi tomado por Charles Darwin para descrever sua teoria de evolução.
2“Nature red in tooth and claw” faz parte do estrofe 4 do poema In Memorium, Parte 56, de Alfred Lord Tennyson.
3“A Morte da Morte na Morte de Cristo: Um Tratado sobre a Redenção e Reconciliação que há no Sangue de Cristo, com o Mérito disso, e a Satisfação adquirida por ela” em The Works of John Owen, editado por William H. Goold, vol. 10 em Division 3:c Controversiel (London: The Banner of Truth Trust, 1967) 139-421. Originalmente publicado em 1850-1853.
4Catecismo de Heidelberg, Dia do Senhor 16, P&R 42.
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