David Engelsma
O termo “calvinismo” não é o melhor nome pelo qual nós, calvinistas, preferimos que a nossa fé seja chamada; nem preferimos chamar a nós mesmos “calvinistas“. Calvino era o sobrenome de um homem, um grande servo de Deus, João Calvino. Ele foi um dos reformadores pelo qual o Espírito Santo reformou a igreja no século XVI. Chamar a nós mesmos “calvinistas” e à nossa fé “calvinismo“, dá a impressão de que seguimos um homem e que essas crenças são a invenção de um homem. Na verdade, esses termos originalmente eram termos de escárnio utilizados pelos nossos inimigos, assim como eram os nomes “cristão” e “protestante“. Portanto, desde o princípio, os calvinistas se chamavam “reformados” ou “presbiterianos“. Assim, eles se distinguem consideravelmente do outro grande ramo da reforma protestante, a Igreja Luterana, que de fato chamava-se pelo nome de um homem – mesmo contra a vontade do próprio Lutero.
No entanto, “calvinismo” e “calvinista” são termos úteis hoje em dia. Eles são amplamente conhecidos, apesar de serem, em parte, através do ataque e censura contra o calvinismo por seus inimigos. Além disso, o nome “calvinista” é abraçado por pessoas e igrejas que não são reformadas ou presbiterianas, mas que confessam os princípios do calvinismo, os quais são chamados “As Doutrinas da Graça.” O “calvinismo” passou a defender certas doutrinas, um certo sistema de verdade. Nós não temos nenhuma objeção em chamar essas doutrinas “calvinismo” desde que duas coisas sejam claramente compreendidas. Primeiro, é preciso compreender que não é o homem, João Calvino, mas a Sagrada Escritura que é a fonte destas doutrinas. Segundo, é preciso entender que nós, que abraçamos essas verdades, não somos discípulos de um homem, Calvino, mas que exatamente por confessarmos essas doutrinas, estamos exclusivamente preocupados em seguir o eterno Filho de Deus encarnado, Jesus Cristo.
Existem diferentes maneiras de ver o calvinismo. Alguns descobriram implicações políticas no calvinismo, por exemplo, a forte oposição a todo tipo de tirania. Outros têm achado que o calvinismo é importante para economia. Max Weber julgou ter traçado o espírito capitalista de volta até o calvinismo, na verdade até a doutrina da dupla predestinação do calvinismo. Poderíamos examinar o calvinismo como uma visão completa sobre a vida e o mundo. É mais, muito mais, do que um conjunto de doutrinas e, com certeza, muito mais do que cinco pontos doutrinários. Assim como o humanismo ou o marxismo, o calvinismo é uma visão sobre a vida e o mundo com o qual o homem toma uma posição em todas as áreas da vida. Além disso, o calvinismo se envolve com a igreja, a igreja instituída, e não apenas as crenças pessoais de um indivíduo, ele é do começo ao fim, eclesiástico. Juntamente com a igreja primitiva, o calvinismo fervorosamente sustenta que “não há salvação fora da igreja“.
Não obstante, em sua essência o calvinismo é teologia, verdadeira religião, e isso significa doutrina. Esta é a maneira que veremos o calvinismo aqui. Nós nos limitaremos a uma consideração do calvinismo como sendo o Evangelho.
Calvinismo é o Evangelho. Suas doutrinas marcantes são simplesmente as verdades que compõem o Evangelho. Portanto a renúncia do calvinismo é a apostasia do Evangelho da graça de Deus em Cristo. Logo, nossa defesa do calvinismo procederá da seguinte maneira. Primeiro, mostraremos que o calvinismo é o Evangelho. Isto é necessário por causa de seus detratores, que criticam o calvinismo como sendo uma perversão do Evangelho. Em segundo, vamos defendê-lo como o Evangelho. Ao fazer isso, realizaremos a vocação que cada crente recebeu de Deus. Paulo escreveu que ele foi “posto para a defesa do evangelho” – Fp 1v16.1 A primeira carta de Pedro, capítulo três, versículo quinze chama cada crente para dar uma resposta, uma “justificativa” ou defesa, a todos que nos pedirem a razão da esperança que há em nós. Como o nome indica, o calvinismo é um certo ensinamento associado a João Calvino, o qual se refere às doutrinas bíblicas que Calvino expôs.
Calvino era um francês, que nasceu em 1509, e morreu com cinquenta e cinco anos em 1564. Ele viveu durante o período da reforma da igreja e foi contemporâneo de Martinho Lutero. Ele foi convertido do catolicismo romano no início da sua vida, “através de uma conversão repentina“, assim como ele nos conta em seu prefácio ao comentários de Salmos, “desde que eu permanecera tão obstinadamente entregue às superstições do papado para ser facilmente arrancado de tão profundo lamaçal” – e trabalhou em nome da fé protestante pelo resto de sua vida. Ele viveu e trabalhou em Genebra, na Suíça, como um pastor e teólogo. Seu trabalho era estupendo. Ele pregou quase que diariamente; realizou um formidável trabalho pastoral, manteve uma correspondência massiva e escreveu comentários, folhetos e outras obras teológicas. Ele é lembrado principalmente por sua grande obra sobre a teologia cristã,As Institutas da Religião Cristã2– obra que ainda exerce grande influência, que cada protestante professo poderia proveitosamente ler e que qualquer crítico do calvinismo tem que ter estudado, se quiser ser levado a sério – e por seus comentários em quase todos os livros da Bíblia. Os protestantes contemporâneos de Calvino reconheceram seus ilustres dons, especialmente na teologia e na exposição das Escrituras. Eles se referiam à ele simplesmente como “o Teólogo“.
A influência de Calvino em todo o mundo, já durante sua vida e até depois dela, foi enorme. Lutero, é claro, fica sozinho, como o fundador da reforma protestante. Mas Calvino, beneficiado por Lutero, superou até mesmo Lutero em influência na Igreja de Cristo em todo o mundo.
Na história da igreja, o calvinismo é o nome da fé do ramo presbiteriano reformado da reforma protestante. Estas igrejas eram chamadas “reformadas” na Alemanha, França, Suíça e Holanda. Na Inglaterra, Escócia e no norte da Irlanda, elas eram chamadas “presbiterianas“. Esta fé foi anteriormente expressa em confissões e credos escritos. Entre as confissões das igrejas reformadas estão oCatecismo de Heidelberg, a Confissão de Fé Belga e os Cânones de Dort. Os grandes credos presbiterianos são a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos de Westminster. Todas estas confissões concordam em essência.
As igrejas reformadas e presbiterianas insistiam que o ensino incorporado nestes credos, que agora é chamado de calvinismo, era a revelação de Deus na Sagrada Escritura. O calvinismo se baseia nas Escrituras. Ele sustenta plenamente o princípio protestante do Sola Scriptura – somente a Escritura. A doutrina da Escritura é o próprio fundamento do calvinismo. Portanto é um erro definir o calvinismo à parte de sua crença sobre a Escritura.
A Bíblia é a única autoridade dentro e sobre a Igreja. É assim porque ela é a Palavra inspirada de Deus, como segunda Timóteo capítulo três, verso dezesseis afirma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça“. Como tal, a Escritura é a “regra infalível“.3 Ela não pode ser ignorada, questionada ou sujeita a críticas, mas deve ser recebida, crida e obedecida. Isso é vital para o calvinismo, pois o calvinismo ensina muitos assuntos dos quais o homem, reclamando, diz: “Estas palavras são duras, quem pode ouví-las?” Para o calvinismo, a questão não é: “Será que os homens do século XX irão gostar destes assuntos?” Mas a pergunta é: “A Palavra de Deus diz isso?“
O calvinismo está preocupado em proclamar as Escrituras. A pregação das Escrituras, tanto dentro da igreja quanto fora dela, é o principal interesse do calvinismo. É falso conceber o calvinismo como uma ciência teórica confusa desenvolvida por intelectuais de cabeças inchadas em torres de marfim. Em toda a reforma, o calvinismo quiz, e quer hoje, pregar o Evangelho, que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.
Portanto, o calvinismo pode muito bem ser visto como certas doutrinas básicas, os conhecidos “cinco pontos do calvinismo“. Mas mesmo aqui, uma palavra de cautela é necessária. Historicamente, é um equívoco chamar essas doutrinas de “calvinismo“. A respeito destas doutrinas, não havia diferença alguma entre Lutero e Calvino. Estes dois importantes reformadores estavam de acordo em seus ensinamentos sobre as doutrinas da predestinação, da depravação do homem caído e da justificação pela fé somente. De fato, quase que sem exceção, todos os reformadores adotaram o que hoje chamamos de “calvinismo“. Além disso, os “cinco pontos do calvinismo“, cinco doutrinas particulares que distinguem o calvinismo, originaram-se após a morte de Calvino. Elas foram formuladas por um sínodo das igrejas reformadas na Holanda, entre 1618 e 1619 – o Sínodo de Dort – em resposta a um ataque feito contra essas cinco doutrinas por um grupo dentro das igrejas reformadas, que eram conhecidos como os remonstrantes ou arminianos. Este sínodo pôs em evidência, confessou, explicou e defendeu estas cinco verdades nos Cânones do Sínodo de Dort. Mas foi Calvino quem desenvolveu estas verdades de forma sistemática e plena, e portanto elas passaram a ser chamadas pelo seu nome.
Depravação total é um dos cinco pontos do calvinismo. Esta doutrina ensina que o homem, todo homem, é por natureza pecaminoso e mau – unicamente e completamente pecaminoso e mau. Não existe no homem, à parte da graça de Deus em Cristo, bondade e capacidade para fazer o bem. Por “bom” se entende o que agrada a Deus, ou seja, um ato que tem sua origem na fé em Jesus, o seu modelo na Lei de Deus e o seu alvo na glória de Deus. Desde a concepção e o nascimento, todo homem é culpado diante de Deus e merecedor da condenação eterna. Esta é a condição do homem por causa da queda de toda a raça humana em Adão, como Romanos capítulo cinco, do verso doze ao vinte e um ensinam: “Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram […]” Não é somente que todo homem é culpado desde a concepção e nascimento, mas também que ele é corrupto e depravado. Esta depravação é total. Um aspecto dessa miséria do homem é a servidão, ou escravidão, da vontade do homem. A vontade de cada um, à parte da graça libertadora do Espírito de Cristo, está escravizada ao Diabo e ao pecado. É de bom grado escravizada, mas é escravizada. Ela é incapaz de querer, desejar ou escolher Deus, Cristo, a salvação ou o bem. Ela não é livre para escolher o bem.
Não é calvinismo, que Deus força os homens a pecarem ou que os homens pecam contra a sua vontade, mas que a condição espiritual do homem natural é tal que ele não pode pensar, desejar ou fazer nada de bom. Nesta doutrina, Lutero e Calvino estavam em perfeito acordo. Lutero, de fato, escreveu um livro chamado “The Bondage of the Will” – “A Escravidão da Vontade“4 – no qual ele afirmou que a questão fundamental da reforma, a diferença básica entre o genuíno protestantismo e o catolicismo romano, é esta questão, se a vontade do homem natural é cativa ou livre. O calvinismo apresenta a si mesmo como puro protestantismo pela sua confissão sobre a vontade na Confissão de Fé de Westminster:
O homem, por sua queda em um estado de pecado, perdeu completamente toda a capacidade de desejar qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação; portanto como homem natural, inteiramente contrário ao bem e morto em pecado, ele não é capaz, por sua própria força, de converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, Ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado, e por Sua graça – graça somente – Ele permite que ele livremente deseje e faça o que é espiritualmente bom […]5
Outro dos cinco pontos do calvinismo é a verdade da expiação limitada. Somente em Jesus Cristo há libertação para os homens caídos, o Filho eterno de Deus encarnado. Esta libertação ocorreu na morte de Cristo na cruz. Sua morte foi a expiação pelos pecados, visto que Ele satisfez a justiça de Deus, sofrendo a penalidade da ira de Deus em nosso lugar, ira a qual merecíamos por causa dos nossos pecados. A morte de Jesus foi eficaz; ela salvou! Ela salvou a todos por quem Ele morreu. Ela removeu, na íntegra, a punição de todos por quem Jesus morreu. Ele expiou alguns homens em particular, não a todos sem exceção; Sua expiação foi limitada no que diz respeito ao número de homens por quem Ele morreu e a quem Ele redimiu. Eles são “o seu povo” – Mt 1v21 – Suas “ovelhas” – “Dou a minha vida pelas ovelhas” – Jo 10v15 – por “todos os que [o Pai] lhe deu [Jesus]” – Jo 17v2.
Não é calvinismo, que alguém que busque a salvação será renegado, mas que a morte de Jesus salva, que ela foi eficaz e que ela não foi em vão.
O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e auto-sacrifício, o qual pelo Espírito eterno outrora se ofereceu a Deus, satisfez plenamente à justiça de seu Pai, e adquiriu não somente a reconciliação, mas também uma herança eterna no reino dos céus, para todos aqueles que o Pai deu a Ele. À todos aqueles para quem Cristo adquiriu a redenção, Ele certamente e eficazmente aplica e comunica o mesmo […]6
Graça irresistível ou graça eficaz é o terceiro dos cinco pontos do calvinismo. Esta doutrina refere-se a efetiva salvação de homens caídos, através da obra do Espírito Santo em aplicar neles a redenção realizada na cruz. Esta obra de salvação é totalmente obra de Deus, que é realizada pela graça somente. Negativamente, isso significa duas coisas. Primeiro, a salvação de um homem não é algo que ele mereça ou torna-se digno de receber, em nenhuma circunstância. Segundo, a salvação não é um trabalho que o homem realiza, no todo ou em parte. O homem não coopera com Deus na concretização de sua salvação. Positivamente a salvação se dá pela graça somente, isso significa que a salvação é dada gratuitamente aos homens por Deus, unicamente a partir do Seu amor e bondade. Além disso, isso significa que essa salvação é realizada pelo poder de Deus, o Espírito Santo. Ele regenera; Ele chama; Ele dá a fé; Ele santifica e Ele glorifica. Esta obra da salvação e do poder da graça pelo qual o Espírito Santo efetua esse trabalho, são eficazes. Na realização desta obra, o Espírito e a Sua graça não tornam a salvação do homem possível, mas efetivamente salva. Não é como uma mera tentativa de Deus a qual depende, em última instância, do homem a quem Deus tenta salvar e que, portanto, pode ser frustrada e dar em nada; mas é semelhante a obra da criação, que soberanamente e infalivelmente faz do homem, a quem Deus tem o prazer de salvar, uma nova criatura em Cristo Jesus.
Não é calvinismo, que Deus arrasta os homens, chutando e gritando, para o céu, mas que Deus faz o homem disposto, o qual antes estava indisposto. Nos Cânones de Dort, o crente reformado descreve a obra salvadora da graça irresistível da seguinte maneira:
[…] é evidentemente uma obra sobrenatural, a mais poderosa, e ao mesmo tempo a mais agradável, surpreendente, misteriosa e inefável; não inferior em eficácia à criação ou à ressurreição dentre os mortos […] de modo que todos em cujos corações Deus age desta maneira maravilhosa são, certamente, infalivelmente, e efetivamente regenerados e verdadeiramente crêem […]7
A doutrina da perseverança dos santos, ou “segurança eterna“, como alguns chamam, resulta da verdade da graça irresistível. Nem sequer uma pessoa a quem Deus dá a graça do Espírito Santo, vai perecer; pois esta graça e o Espírito o preservam para a perfeita salvação no dia de Cristo.
Não é calvinismo, que alguém pode fazer o que quiser e permaner salvo ou que um santo jamais pode cair em pecado. Contra a acusação de que a doutrina da perseverança implica que alguém pode fazer o que quiser e ainda ir para o céu, o calvinismo replica que o Espírito Santo nos preserva nos santificando, fortalecendo a nossa fé e dando-nos o dom da perseverança. Como em relação à “queda deplorável“8 do cristão, os santos podem, e às vezes de fato caem em pecado, mesmo em “sérios e horríveis pecados,”9 mas o Espírito que habita neles, que nunca se afasta deles por completo, os traz ao arrependimento. O calvinismo dá a todos os verdadeiros crentes o inestimável e precioso conforto desta “certeza que são e permanecerão verdadeiros e vivos membros da Igreja, e que têm o perdão de pecados e a vida eterna.“10
Toda a salvação descrita acima tem a sua origem na eterna eleição de Deus. A verdade da eleição é outra das distintas doutrinas calvinistas. Deus, desde a eternidade, elegeu ou escolheu em Cristo alguns da raça humana caída – um certo número definido de pessoas – para a salvação. Esta escolha foi incondicional, graciosa e livre; ela não foi devido a qualquer coisa que tenha sido pré-vista naqueles que foram escolhidos. A reprovação está implícita. Deus não escolheu todos os homens; mas Ele rejeitou alguns homens no decreto eterno. Não faz nenhuma diferença essencial se alguém vê a reprovação como o ato pelo qual Deus ignora alguns homens com Seu decreto de eleição na eternidade – que é, na verdade, uma decisão divina sobre seu destino eterno -; ou se alguém vê como um decreto positivo para que alguns homens pereçam em seu pecado, incredulidade e desobediência. Eleição e reprovação compõem a predestinação, a doutrina de que Deus determinou o destino de todos os homens desde a eternidade. Esta verdade é vista, não imprecisamente, como a marca do calvinismo. O coração da igreja reformada é a eleição, a graciosa escolha de Deus por nós – pecadores culpados e depravados, dignos apenas da condenação – para a salvação.
A eleição é a fonte de toda salvação! Como tal, ela é a última, decisiva e convincente prova e garantia de que a salvação é pela graça – que a salvação não depende do homem, mas de Deus; que a salvação não é a idéia do homem, mas de Deus; que a salvação não é obra do homem, mas de Deus; que a salvação não é devido à decisão do homem por Deus, mas da decisão eterna de Deus pelo homem.
Esta é a maneira como o próprio Calvino via a predestinação – como o final, conclusivo e incontestável testemunho e garantia da salvação pela graça. Portanto, em sua edição final das Institutas – em 1559 -, Calvino abordou a predestinação no final do seu terceiro livro, após ter abordado a redenção em Cristo e a aplicação da redenção pelo Espírito Santo. Calvino escreveu:
Jamais haveremos de ser claramente persuadidos, como convém, de que nossa salvação flui da fonte da graciosa misericórdia de Deus, até que sua eterna eleição se nos faça conhecida, a qual, em virtude deste contraste, ilumina a graça de Deus, a saber, que Ele não adota à esperança da salvação a todos indiscriminadamente; ao contrário, ele dá a uns o que nega a outros.11
Isto é calvinismo! Isto é o Evangelho!
O Evangelho proclama a miséria do homem como depravação total, incluindo a escravidão de sua vontade. Efésios capítulo dois, versículo um diagnostica a condição espiritual dos pecadores, antes da vivificação do Espírito de Cristo dessa forma: “Mortos em ofensas e pecados“12. Espiritualmente morto, o pecador carece de tudo que é bom – de qualquer aptidão para fazer o bem – e carece tanto do poder quanto da inclinação para efetuar uma mudança nesta condição. Ele por si mesmo é impotente e a sua condição desesperadora – a impotência e o desespero da morte. Romanos capítulo oito, versos sete e oito remetem o mesmo juízo sobre o homem caído: “A mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus“. Amente carnal é a natureza humana como ela é, em virtude do nascimento natural. A condição é tal que sua mente é incapaz de estar em sujeição à lei de Deus. Aqueles que estão na carne são aqueles que não nasceram de novo pelo Espírito de Cristo, aqueles que estão fora de Cristo. Sua condição espiritual é tal que eles são incapazes de agradar a Deus; tudo o que eles são capazes de fazer é pecar. Para que um pecador deseje e faça a boa vontade de Deus, Deus precisa operar nele tanto o querer como o realizar, pelo Espírito de Jesus Cristo – Fp 2v13.
O Evangelho proclama a morte de Cristo como uma morte que efetivamente redime alguns, ao invés de uma morte que apenas torna a salvação possível para todos os homens. A Escritura ensina a expiação limitada. O próprio Jesus ensinou isso sobre sua morte em João capítulo dez, verso quinze: “Dou a minha vida pelas ovelhas“. Um pouco mais adiante, no mesmo capítulo, o Senhor afirma especificamente que alguns não estão incluídos entre as “ovelhas” – “Mas vocês não creêm, porque não são minhas ovelhas” (v26). Ele morreu por alguns, “as ovelhas“, em distinção a outros homens, que não são Suas ovelhas. Jesus descreveu sua morte de forma semelhante em Mateus capítulo vinte, verso vinte e oito: “O Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por [em grego: no lugar de] muitos“.
A questão de maior importância não é o fato d’Ele ter se referido àqueles por quem morreu como “muitos“, não como “todos“, mas do fato de ter se referido a sua morte como o resgate dado a outros. Ao morrer, Ele pagou o preço do resgate à Deus em nome de muitos pecadores. Ele fez isso, tomando o lugar deles, dando a sua própria vida onde a vida deles havia sido tomada como uma punição pelo pecado. A eficácia dessa morte é que todos por quem Ele morreu estão libertos do pecado, da morte e do inferno. Nem sequer um por quem Ele morreu perecerá. Ninguém pode perecer, pois o valor do resgate está pago. Este Evangelho – e não há outro – já havia sido pregado pelo profeta evangelista Isaías. Isaías capítulo cinquenta e três mostra que por ser o “ferido de Deus” o Cristo sofredor levou sobre si as iniqüidades do povo de Deus como seu substituto.
O Evangelho proclama uma graça irresistível, como o poder que salva pecadores eleitos. Não pode ser de outra maneira, se o pecador está “morto em ofensas e pecados“. Após ter ensinado isso em Efésios capítulo dois versículo um, o apóstolo passa a ensinar a graça irresistível nos versículos quatro e cinco: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões – pela graça vocês são salvos“. A salvação do pecador, em todos os casos, é Deus ressuscitando-o dos mortos, comparável as maravilhas de Jesus de ressuscitar os mortos fisicamente. Agora, duas coisas são verdadeiras sobre a ressurreição: é o ato do próprio Deus, em que a pessoa que é ressuscitada não coopera; e ela é eficaz – Deus nunca deixa de realizar a ressurreição de alguém que Ele deseja ressuscitar. No versículo dez do mesmo capítulo, Paulo compara a obra pela qual nós fomos salvos com a obra da criação, deixando portanto claro que este trabalho é exclusivamente obra de Deus, o Criador, e de maneira alguma o trabalho da criatura que é criada, “porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras“. Jesus explicou em João capítulo seis, verso quarenta e quatro que a salvação se dá pela soberana atração do Deus Todo-Poderoso: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia“.
O Evangelho proclama a perseverança dos santos. Jesus disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um“- Jo 10v27-30. Jesus dá a vida eterna a cada uma de Suas ovelhas, e nenhum destes santos perecerá. É impossível que alguém possa arrancar um santo da mão de Deus, isto é, fazer com que uma criança regenerada caia na perdição. O motivo não é a força dos santos, mas o poder da graça de Deus – “Meu Pai […] é maior do que todos“. Estas palavras de Jesus deixam claro que a verdade consoladora da perseverança depende da eleição e da graça irresistível. Os santos perseveram, porque o Pai os deu a Jesus e porque Jesus lhes dá – não tenta dar, mas dá – a vida eterna.
Como fonte e fundamento da salvação, o Evangelho proclama a eleição divina. Essa verdade está na própria natureza do Velho Testamento inteiro: Deus escolheu Israel para a salvação, rejeitando as outras nações. O mediador da antiga aliança diz a Israel: “O Senhor o seu Deus, os escolheu dentre todos os povos da face da terra para ser o seu povo, o seu tesouro pessoal. O Senhor não se afeiçoou a vocês nem os escolheu por serem mais numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de todos os povos. Mas foi porque o Senhor os amou […] ” – Dt 7v6-8.
Em perfeita harmonia com esta verdade óbvia da antiga aliança, o mediador de uma nova aliança traça todos os aspectos da Sua salvação à sua origem, a eleição divina. Sua morte que dá vida deriva-se da eleição: “Para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste” – Jo 17v2. Sua piedade sacerdotal e oração intercessória são regulamentados pela eleição: “Eu rogo por eles. Não estou rogando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus” – Jo 17v9. Sua revelação salvífica da verdade para os homens depende da eleição: “Eu revelei teu nome àqueles que do mundo me deste” – Jo 17v6. A vinda dos homens até Ele, com fé genuína, é executada por meio da eleição: “Todo o que o Pai me der virá a mim” – Jo 6v37. A preservação dos homens na fé e a ressurreição desses homens em glória, acontecem devido a eleição: “Que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia” – Jo 6v39.
A eleição tem um lugar de destaque no Evangelho pregado pelos apóstolos. Ela é a razão da salvação de todo aquele que é salvo e a fonte de todas as bênçãos da salvação: “O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo […] nos abençoou com todas as bênçãos espirituais […] e nos escolheu nele antes da fundação do mundo” – Ef 1v3-4. Na predestinação eterna foi forjada a preciosa – e inquebrável – corrente da salvação: “E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou” – Rm 8v30. Todo o rio da misericórdia de Deus em Jesus flui da Sua vontade eletiva; e a graça soberana dessa vontade é ilustrada em que Deus endurece alguns homens de acordo com Seu eterno decreto da reprovação: “Portanto,Deus tem misericórdia de quem ele quer, e endurece a quem ele quer” – Rm 9v18.
Não há como ignorar estas doutrinas – as doutrinas do “calvinismo” -; se elas não são pregadas e confessadas elas são negadas. Todo pregador, toda igreja, todo membro de toda igreja deve tomar uma posição em relação a elas, e realmente se posicionar. É impossível não fazê-lo. Porque elas estão em larga escala nas páginas das Escrituras, como elementos essenciais do Evangelho. Quem rejeita o calvinismo abraça a única alternativa contra o calvinismo – um sistema de doutrina que se opõe ao calvinismo em todos os pontos.
Alguém rejeita a depravação total? Logo, ele acredita que o homem natural caído ainda retém algum bem e alguma habilidade para fazer o bem, especificamente uma vontade que é capaz de tomar uma decisão por Cristo; e que o homem fora de Cristo não está morto em pecados, mas apenas doente, isto é, não morto mas vivo.
Alguém rejeita a expiação limitada? Logo, ele acredita que Jesus morreu por todos os seres humanos, sem exceção. Pelo fato de que a Escritura e as árduas situações da vida ensinam que alguns homens de fato perecem no inferno, este defensor da expiação universal acredita que a morte de Jesus na verdade não expia os pecados, mas apenas faz a expiação possível; que a cruz não foi o pagamento do resgate em lugar de todo aquele por quem Cristo morreu, mas apenas um exemplo de amor; que o sofrimento do Filho de Deus não satisfaz efetivamente a justiça de Deus, retirando os pecados, mas apenas …? Fez o quê? Completamente nada? E se não, será que Ele era realmente o eterno Filho de Deus encarnado?
Alguém rejeita a graça irresistível? Logo, ele acredita que o chamado de Deus para a salvação e a graça do Espírito Santo dependem da aceitação do pecador pelo uso do seu “livre arbítrio“, de modo que a graça de Deus pode ser anulada e ineficaz. Além disso, ele acredita que, quando um pecador vem a Jesus com fé genuína e recebe a salvação, não é devido à graça de Deus, mas à boa vontade do pecador.
Alguém rejeita a perseverança dos santos? Logo, ele acredita que todo crente pode cair e perecer a qualquer momento, inclusive ele mesmo.
Aguém rejeita a predestinação? Logo, ele acredita que a definitiva fonte e fundamento da salvação é a escolha, decisão e vontade do homem.
No final, há duas, e apenas duas, possíveis fés:
Uma sustenta que toda a humanidade está morta; que Deus por meio da Sua livre e soberana graça escolheu alguns desde a eternidade; que Deus ofereceu Cristo para morrer por aqueles a quem Ele escolheu; que o Espírito Santo os regenera e chama eficazmente para a fé; e que o Espírito preserva estes eleitos – redimidos – e renasce pecadores para a glória eterna. Este é o calvinismo.
A outra fé sustenta que o homem caído tem alguma capacidade espiritual para fazer o bem, um pouco de vida; que a escolha de Deus pelos homens depende da utilização da capacidade para fazer o bem que há dentro deles; que a morte de Cristo depende daquele bem dentro do homem; e que a obtenção da glória final depende daquele bem dentro do homem. Este é o inimigo do calvinismo. Este é o inimigo do Evangelho! Pois o calvinismo proclama a salvação pela graça e esta outra fé prega a salvação pela vontade, obra e dignidade do homem.
O calvinismo é o Evangelho! O Evangelho de Deus é a mensagem da plena salvação pela graça. Isso não significa que o calvinismo é inofensivo. Pelo contrário! O próprio Calvino tomou conhecimento, há muito tempo, da ofensividade da verdade que ele ensinava, especificamente com relação à depravação total:
Não me é oculto o quanto se deve aplaudir esse parecer, seja que nos convida antes a considerar o que haja de bom em nós, ou a atentar para a nossa deplorável miséria. Juntamente com a nossa indignidade, a qual nos deve esmagar de vergonha. Com efeito, nada há que a natureza humana mais cobice que ser afagada por lisonjas […].Ora, se uma palavra ocorre que, com seus afagos, acaricie o orgulho que faz espontaneamente comichão nas estranhas do homem, nada há que mais o deleite. Daí, ao ser escolhido com grande aplauso de quase todos os séculos, cada um, com seu elogio, sente que a excelência da natureza humana foi exaltada mui favoravelmente.13
Mas a ofensividade do calvinismo aos homens não é nada mais do que o escândalo da cruz de Cristo. Em Gálatas capítulo cinco, verso onze, Paulo fala do “escândalo da cruz“, uma ofensa que só cessa na pregação de uma heresia que nega a cruz. A cruz de Cristo, que é o coração do Evangelho, não é agradável ao homem nem sensato para ele. “Nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios.” – 1 Co 1v23. A cruz, como a cruz do Filho eterno de Deus encarnado, mostra a extensão da miséria do homem caído: ele apenas pode ser salvo por meio da morte do Filho de Deus. Por fim, as palavras deixam de fazer jus à grandeza da miséria do pecador, trazida à tona pela cruz: completamente perdido, plenamente arruinado e totalmente depravado. A cruz mostra que a salvação é do Senhor, deriva-se completamente da graça divina, e não do homem. Visto que é a cruz do Príncipe da vida, a cruz é poderosa para salvar. Nada e ninguém pode anular ou derrotar o sangue e o Espírito do Cristo crucificado. O Evangelho da cruz é esta mensagem: “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus” – Rm 9v16.
Pelo fato desta ser a mensagem do calvinismo, o calvinismo é ofensivo aos homens. É ofensivo para o homem orgulhoso ouvir que ele está morto espiritualmente, totalmente desprovido de qualquer coisa que agrade a Deus, completamente incapaz para salvar a si mesmo, nada mais do que um filho da ira. Mas esta é a sentença proferida contra ele no calvinismo – e no Evangelho. É ofensivo para homem orgulhoso ouvir que a salvação é exclusivamente o dom gratuito e a graciosa obra soberana de Deus. Mas é isso que o calvinismo – e o Evangelho – proclama.
Justamente por causa disso, o calvinismo é a boa nova! Este é o Evangelho, as boas novas! Por ser a mensagem da graça, ela conforta a nós e a todos aqueles que, pela graça do Espírito, crêem em Cristo. Somente esta mensagem pode dar esperança aos homens perdidos, pecadores e que de outra forma estariam sem esperança. Somente há salvação, porque a salvação é pela graça.
Defender o calvinismo é simplesmente uma questão de defender o Evangelho. Portanto, nós não o defendemos defensivamente, como se precisássemos nos desculpar por esta doutrina ou como se o seu destino fosse duvidoso, dependente da nossa defesa. Por ser a verdade de Deus, o calvinismo é, e permanecerá, vitorioso e invencível. O próprio Deus o mantém, e o próprio Deus o envia em uma irresistível trajetória de conquista por todo o mundo.
O calvinismo é o Evangelho para todas as idades. O calvinismo é a verdade por meio da qual a reforma da Igreja de Jesus Cristo ocorreu no século XVI. O Evangelho não mudou desde aquela época; Jesus Cristo em Sua verdade é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Mas a verdade do Evangelho está, em grande parte, perdida e enterrada nas igrejas protestantes de nossos dias, incluindo muitos que se orgulham de serem “fundamentalistas” e “evangélicos“. O Evangelho é pervertido por uma mensagem que é essencialmente a mesma mensagem contra a qual a reforma lutou e que radicalmente se opôs a reforma. Naqueles dias, Roma pregava uma salvação que tinha de ser conquistada por obras humanas – como de fato ainda prega hoje -, Roma ensinava que os homens eram justos diante de Deus, em parte, por suas próprias obras – como de fato ainda ensina hoje. Em nossos dias, as igrejas protestantes ensinam e pregam que a salvação depende da vontade do homem; elas proclamam que o pecador deve alcançar sua própria salvação a querendo. Este “evangelho” da grande parte do protestantismo e o “evangelho” de Roma são igualmente um. Essencialmente, não há nenhuma diferença entre os dois. Esta é a razão pela qual muitas igrejas protestantes, pregadores, evangelistas e indivíduos acham possível cooperar estreitamente com a Igreja Católica Romana, especialmente no trabalho de evangelização; e esta é a razão pela qual um grande agrupamento com Roma, por parte de muitos protestantes, é eminente. Roma diz: “A salvação depende da obra humana“; o protestantismo moderno diz: “A salvação depende da disposição humana“. Ambos estão dizendo a mesma coisa: “A salvação depende do homem“. Em Romanos capítulo nove versículo dezesseis o apóstolo coloca essas duas variações desta mesma doutrina básica juntas, e as condena: “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus“.
Depois de ter condenado essas heresias, Paulo declara que a fonte da nossa salvação é a demonstração da misericórdia de Deus – somente a demonstração da misericórdia de Deus – e ele proclama que a salvação depende da demonstração da misericórdia de Deus – somente da demonstração da misericórdia de Deus. Esta é a mensagem do calvinismo, e por causa disso é que a nossa defesa do calvinismo é uma defesa corajosa, intransigente e desenvergonhada. Dizemos do calvinismo o que B. B. Warfield uma vez disse sobre ele: “O futuro do cristianismo – assim como no passado – reside em suas mãos“.
Nós repudiamos as falsas acusações feitas contra o calvinismo, e as caricaturas feitas dele. Certos homens dizem que o calvinismo é o destruidor das boas obras e da lei de Deus, que ele produz cristãos descuidados. Certos homens dizem que o calvinismo é o destruidor do zelo pela pregação e por missões. Certos homens dizem que ele é terrível para as pobres consciências, que ele é frio e duro, e que os calvinistas são só cabeça e não coração. Essas são acusações antigas, velhas o bastante. Você vai encontrá-las, quase que palavra por palavra, apresentadas contra o apóstolo Paulo e contra o Evangelho que ele pregava – Rm 3v8; Rm 3v31; Rm 6v1-22; Rm 9v19-33.
Quem dera estes homens não estivessem tão prontos a aceitar a caricatura do calvinismo inventada pelos inimigos dele, mas ao invés disso deixassem o calvinismo falar por si só, em suas confissões. Leia o Catecismo de Heidelberg ou o Catecismo Westminster e veja por si mesmo se o calvinismo é duro, frio e cruel ou se ele é quente e reconfortante. Leia a Confissão Belga ou aConfissão de Fé de Westminster e veja se o calvinismo pega leve com respeito a lei de Deus e as boas obras do cristão ou se treme perante a lei, destaca a santificação e insiste na necessidade das boas obras. Leia os Cânones de Dort, o credo reformado que é insuperável na sua declaração sobre a predestinação e na sua defesa da salvação pela graça somente, e veja se o calvinismo obstrui o vigor de uma pregação viva do Evangelho, incluindo um sério chamado do Evangelho a todos que estão ouvindo a pregação. Consulte também a ternura da fé reformada para com os pecadores arrependidos e sua profunda preocupação pastoral pelas consciências aflitas.
Ao mesmo tempo, nós, pessoas e igrejas reformadas, devemos refutar as caricaturas do calvinismo através de nossas vidas e obras. Isto também pertence a uma “apologia do calvinismo“. Fazemos bem em prestar atenção em nós mesmos, assim como em nossa doutrina. Somos zelosos por boas obras? Estamos prontos para pregar o Evangelho a toda a criatura e dar uma resposta a todo aquele que nos pede a razão da esperança que está em nós? Nos manifestamos como santos alegres, esperançosos e confiantes? Faremos isto, pela graça de Deus, se vivermos a verdade do calvinismo, que é o Evangelho.
Temos um poderoso motivo para defender o calvinismo. O motivo é que ele é o Evangelho, portanto a única esperança para os homens pecadores, o único poder de Deus para a salvação e o único meio de reunir e preservar a Igreja.
Ainda mais motivante, é que o calvinismo glorifica a Deus. A glória de Deus é o coração do calvinismo, e o coração dos corações de todo calvinista. Os inimigos de Calvino sempre viam isso e zombavam dele dizendo “esse homem intoxicado de Deus“. O calvinismo dá a magnífica resposta para a pergunta: “Qual é o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus, e desfrutá-lo para sempre.”14 A glória de Deus é o alvo do Evangelho, isto é, o alvo do próprio Deus através do Evangelho “para o louvor da sua gloriosa graça” – Ef 1v6. Ele não dará Sua glória a outro – Is 42v8. “Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém” – Rm 11v36.
Tradução: www.FirelandMissions.com
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