Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Porque a Escritura é a Palavra de Deus e o Espírito Santo seu autor, ninguém tem o direito de interpretá-la. As pessoas freqüentemente falam como se tivessem esse direito. Elas falam de “minha interpretação” ou a de alguém outro. Isso está errado (2Pe. 1:20). Mesmo na controvérsia, existe somente uma interpretação aceitável da Escritura, e essa é a interpretação da Escritura dela mesma. Essa interpretação é de Deus, não do homem.
Um dos grandes princípios da Reforma foi o princípio que a Escritura é auto-interpretativa. Embora isso possa parecer estranho para nós, deve ser assim, pois somente o próprio autor, o Espírito Santo de Deus, tem o direito e o poder de nos comunicar o que ele quis dizer. Minha interpretação não significa nada. Somente a de Deus importa.
Isso é ensinado em 2 Pedro 1:20, 21, que declara claramente que nenhuma Escritura é de interpretação particular. Essa declaração parece um pouco inapropriada, pois a ênfase não é sobre a interpretação, mas sobre a inspiração. Todavia, a doutrina da inspiração, como ensinada nesses versículos, tem o seguinte como sua aplicação: ninguém senão Deus mesmo, que inspirou a Palavra, tem o direito de interpretá-la.
O Espírito Santo interpreta a Escritura, mas não de uma forma mística – não revelando misteriosa e secretamente o significado da Escritura para nós mediante algumas revelações privadas. É errado dizer, “Deus me mostrou”, “Deus me disse”, ou “Deus me revelou isso”. Isso, também, é uma negação da Escritura, não somente de sua suficiência, como temos visto, mas da inspiração da Escritura. A pessoa que diz essas coisas está alegando ter uma interpretação da Escritura que Deus lhe deu privadamente, à parte da própria Escritura. A interpretação apropriada da Escritura é dada quando a Escritura é comparada com a Escritura.
Por exemplo, se desejamos determinar o significado de uma palavra na Escritura, talvez a palavra batismo, devemos analisar diferentes passagens nas quais a palavra é usada e o contexto de cada passagem, para então determinar o que ela significa na Escritura e como é usada por esta. A interpretação apropriada da Escritura, portanto, requer estudo cuidadoso para que possamos aprender da própria Escritura o que ela quer dizer. A pessoa que pensa poder voltar-se para uma passagem da Escritura e entendê-la sem estudo é muito tola e arrogante.
Devemos ser cuidadosos, portanto, para não impor nossas idéias sobre a Escritura, mas humildemente e em oração receber o que ela diz. Aprender a interpretação apropriada da Escritura requer graça, submissão e oração.
Não existe ninguém, nem mesmo ministros do evangelho, que possa alegar estar acima da Palavra de Deus. Toda interpretação, credo e sermão pode e deve ser submetido ao escrutínio rígido à luz do que a Palavra de Deus diz, exatamente porque ninguém tem o direito privado de interpretar a Escritura. Por essa razão, mesmo a pregação dos apóstolos era sujeita ao exame e crítica cuidadosa (Atos 17:10, 11). Mesmo aquela pregação, como qualquer outra, tinha que se conformar à interpretação do Espírito de sua própria Palavra.
Possa Deus nos dar a graça necessária – muita graça – para buscarmos e encontrarmos a interpretação correta e prestarmos atenção a ela (Hb. 2:1).
Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 22-23.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em abril/2008.
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