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Lutero sobre Pregação

Steven Key

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

A influência de Martinho Lutero sobre a pregação é digna de consideração. A Reforma aconteceu, afinal de contas, pela restauração da pregação fiel, com Lutero e os outros reformadores abrindo o caminho.

Embora seria um exagero dizer que a pregação tinha sido inteiramente perdida antes da Reforma, é verdade que haviam poucos pregadores fiéis na igreja, e a própria pregação certamente tinha caído em tempos difíceis. O elemento da proclamação, o “assim diz o Senhor” que é o cerne de toda pregação verdadeira, tinha sido quase perdido. Por essa razão, uma das mais importantes contribuições de Lutero à igreja foi sua ênfase sobre a pregação.

O próprio Lutero nos dá uma visão do que a pregação comumente envolvia em seus dias, ridicularizando e desprezando abertamente o que se passava então por pregação na igreja por parte de pastores infiéis. Os sermões eram superficiais, freqüentemente incluindo fábulas ou estórias, bem como uma mistura de filosofia pagã. Além do mais, esses “sermões” eram geralmente comunicados de uma forma vulgar ou cômica, para entreter o povo. Cristo era esquecido. As Escrituras eram negligenciadas.

“Ó, temos tido pregadores cegos por um longo tempo; eles têm sido totalmente cegos, e líderes de cegos, como o evangelho diz; deixaram o evangelho e seguiram suas próprias idéias, preferindo a obra de homens ao invés da obra de Deus.”2

Nunca medindo palavras, Lutero falou duramente dos pregadores infiéis:

Esses são os pregadores preguiçosos e inúteis que não dizem aos príncipes e senhores seus pecados. Em alguns casos, nem notam os pecados. Eles deitam e roncam em seu ofício, e não fazem nada que pertença ao mesmo, exceto que, como porcos, ocupam o lugar onde bons pregadores deveriam estar.3

Contra essa corrupção da pregação, Lutero exigia fervorosamente uma pregação bíblica e expositiva. “Foi Lutero quem redescobriu tanto a forma como a substância dessa pregação… Para ele pregação era a verdadeira Palavra de Deus mesmo, e, como tal, ocupava a posição central da Igreja.”4 De fato, a ênfase sobre pregar o evangelho se tornou uma das principais marcas das igrejas da Reforma e, como Lutero nunca cansou de apontar, deu propósito bem como autoridade à existência delas.

Pregação com Substância

Martinho Lutero entendia que a pregação fiel deve ter substância. Essa substância é a verdade do evangelho, a exposição fiel da Sagrada Escritura.

A. Skevington Wood resume a pregação de Lutero da seguinte forma:

A característica saliente da pregação de Lutero era seu conteúdo e referência bíblica. Ele estava preso à Palavra. Sua pregação nunca era meramente tópica. Ele nunca poderia transformar um texto num pretexto. “Eu me esforço para tratar um versículo, para agarrá-lo”, ele explicou, “e assim instruir o povo de forma que possam dizer, ‘Era sobre isso o sermão.’” Sua pregação nunca foi um movimento dos homens para o texto; sempre foi um movimento do texto para os homens. O assunto nunca determinava o texto; o texto sempre determinava o assunto. Ele não tinha o hábito de abordar assuntos ou questões, mas doutrinas. Mas quando o fazia, ele invariavelmente seguia uma determinada passagem da Escritura, passo a passo. Ele considerava uma das principais qualificações do pregador ser familiarizado com a Palavra.5

Lutero ensinou claramente a centralidade da Palavra. Fé é nada mais que aderência à Palavra de Deus. É essa Palavra que destrói o pecador pela lei, e levanta o crente no evangelho.

Sua alta estima pela Palavra de Deus explica o porquê Lutero também tentava pregar sistematicamente por toda a Escritura, pregando séries de sermões tanto do Antigo quanto do Novo Testamento.

Por causa dessa ênfase bíblica sobre a primazia da Palavra e a centralidade da pregação, Lutero não tinha lugar para o falso misticismo que troca a Palavra de Deus pelos sentimentos internos. “Fora com os cismáticos que menosprezam a Palavra, enquanto sentam-se nos cantos aguardando a revelação do Espírito, mas à parte da voz da Palavra!”6

Deve ser observado nessa conexão que Lutero falava da pregação em termos de “a voz.” Ele disse: “Observem: o princípio de todo conhecimento espiritual é essa voz de alguém clamando, como Paulo também diz, Romanos 10:14: ‘Como crerão… sem um pregador?'”7

Pregação com Autoridade

Lutero ensinou claramente que a pregação que é fiel e verdadeira vem como a autoridade da “voz”.

Esse pensamento refletia a alta visão de Lutero do ofício. O ministro é enviado por Deus e entrar no ofício de Deus. “Dessa forma, S. Paulo é confiante (2Co. 13:3) que está falando não sua própria palavra, mas a Palavra do Senhor Cristo. Assim nós, também, podemos dizer que ele a colocou em nossa boca.”8

Essa verdade era importante para Lutero, também, em face de toda a oposição que obscurecia seu caminho. Era uma verdade que ele proclamava consistentemente.

Em seu tratamento do Salmo 2, falando do ofício de Cristo como Mestre que declara o decreto de Deus, Lutero explicou que o Espírito Santo assim nos ensina

que Deus faz tudo por meio do Filho. Pois quando o Filho prega a Lei, o Pai mesmo, que está no Filho ou é um com o Filho, prega. E quando pregamos sobre esse mesmo decreto, Cristo mesmo prega, como ele diz: ‘Quem vos ouve a vós, a mim me ouve’ (Lucas 10:16).9

O pregador, portanto, é o porta-voz de Deus, o instrumento através do qual Cristo e Deus pregam.

Nós, pastores e ouvintes, somos apenas alunos; há somente uma diferença, que Deus está falando a você por meio de mim. Esse é o poder glorioso da Palavra divina, através da qual Deus mesmo lida conosco e fala conosco, e na qual ouvimos o próprio Deus.10

Comentando sobre João 14:10, Lutero escreve: “Não somos nós que falamos; é o próprio Cristo e Deus. Por conseguinte, quando você ouve este sermão, está ouvindo Deus mesmo. Por outro lado, se despreza este sermão, está desprezando não nós, mas o próprio Deus.”11

Pregação e a Obra do Espírito

Porque Cristo fala pela pregação do evangelho, a pregação é poderosa e eficaz na realização do propósito para o qual Deus a envia.

Assim, Lutero chama a atenção em seus escritos para o lugar do Espírito Santo na pregação. Cristo opera essa palavra poderosa por seu Espírito Santo. É através das palavras de pregadores que o Espírito Santo opera, convencendo o mundo do pecado e estabelecendo a fé dos eleitos de Deus por meio do chamado eficaz e irresistível.

O Espírito Santo de Cristo dá à pregação o seu poder. Cristo atrai os homens por meio da palavra somente, resgatando o seu povo do poder do pecado e da morte, e dando-lhes liberdade, justiça e vida,

Essa coisa grande e maravilhosa é realizada inteiramente por meio do ofício da pregação do Evangelho. Visto superficialmente, parece algo insignificante, sem qualquer poder, como qualquer discurso ou palavra de um homem comum. Mas quando tal pregação é ouvida, seu poder invisível e divino está em ação no coração dos homens por meio do Espírito Santo. Portanto, S. Paulo chama o Evangelho de “um poder para salvação de todos que têm fé” (Rm. 1:16).12

Claramente, os pregadores são apenas instrumentos nas mãos de Deus: “Que faremos? Podemos deplorar a cegueira e obstinação do povo, mas não podemos trazer uma mudança para melhor.”13 Somente quando Cristo mesmo fala por seu Espírito Santo é que a pregação é poderosa para mudar e trazer salvação.

“Eu, nem qualquer outra pessoa pode pregar a Palavra adequadamente; o Espírito Santo somente deve expressá-la e pregá-la.”14 Pois é o Espírito que opera obras pela palavra. Quando por meio da pregação externa da palavra e o testemunho interior do Espírito Santo a fé é criada, então o que é prometido no evangelho se torna eficaz para o crente.

“Conseqüentemente, ela é uma Palavra de poder e graça quando infunde o Espírito ao mesmo tempo em que fulmina os ouvidos. Mas se ela não infunde o Espírito, então aquele que ouve não difere de forma alguma daquele que é surdo.”15

Ouvindo a Pregação

Lutero não ignorou o chamado de todos os que ouvem a pregação, para examinar essa pregação, a fim de ver se a mesma é fiel às Sagradas Escrituras. “Por conseguinte, essa é a pedra de toque pela qual toda doutrina deve ser julgada. Uma pessoa deve tomar cuidado e ver se essa é ou não a mesma doutrina que foi publicada em Sião por meio dos apóstolos.” É tal pregação que é usada por Deus como a voz poderosa e salvífica de Cristo. “Pois essa somente, como tem sido dito, é a verdadeira doutrina, que concede aos homens um entendimento correto e adequado, conforto ao coração e salvação.”16

Junto com essas linhas, Lutero enfrenta honestamente a questão de se Cristo fala ou não através de um pregador, simplesmente porque o mesmo ocupa o ofício.

Em primeiro lugar, devemos saber que aqueles que são enviados falam a Palavra de Deus somente se aderem ao seu ofício e o administram da forma como o receberam. Nesse caso, certamente estão falando a Palavra de Deus… Um embaixador ou emissário do rei cumpre seu dever quando permanece pela ordem e instrução do mestre. Se falha nisso, o rei decapitou-o.17

Quando um ministro, portanto, prega fielmente a palavra de Deus, Cristo se agrada em falar por meio dele por seu Espírito Santo; se não, então essas palavras aplicam-se ao pregador: “Acautelai-vos dos falsos profetas!” Não devemos falar nem ouvir nada, senão a palavra de Deus.

Por essa razão, o evangelho deve ser ouvido e pregado. A pregação não tem apenas substância, mas também um conteúdo bem específico. Lutero insiste: “A primeira mensagem do pregador é ensinar penitência, remover ofensas, proclamar a Lei, humilhar e aterrorizar os pecadores.”18 Nosso pecado deve ser exposto pela pregação do evangelho. Concernente ao livro de Romanos, ele diz,

A soma e substância dessa carta é: rebaixar, erradicar e destruir toda sabedoria e justiça da carne … não importa quão enérgica e sinceramente elas possam ser praticadas, devemos implantar, estabelecer e engrandecer a realidade do pecado… Pois Deus não quer nos salvar por nós mesmos, mas por uma justiça externa que não se origina em nós, mas que nos vem dos céus.”19

A necessidade de pregar a depravação do homem é encontrada no fato que a graça é dada aos humildes. Cristo não veio salvar os justos, mas trazer os pecadores ao arrependimento (Lucas 5:32). Assim, Lutero diz: “Não pode ser humilde aquele que não reconhece ser condenável, cujo pecado fede até os altos céus … O desejo pela graça se origina quando o reconhecimento pelo pecado aparece. Uma pessoa doente procura o médico quando reconhece a seriedade da sua enfermidade.”20

E porque o povo de Deus tem uma luta contínua com sua carne pecaminosa, a pregação deve ser antitética. Ela deve ser pregação que não somente soa a trombeta de prata da salvação, mas que soa também a buzina que expõe e reprova o homem velho do pecado e chama ao arrependimento.

Como Lutero reconheceu e experimentou, requer-se coragem na pregação para servir como um embaixador de Cristo. Mas o pregador não pode deter-se em pregar meramente o pecado, pois então equivaleria a machucar e não ligar, ferir e não curar. “Portanto, devemos pregar também a palavra de graça e a promessa de perdão, pela qual a fé é ensinada e levantada.”21

O foco de toda pregação deve ser Cristo. O único conteúdo de sua mensagem é sobre ele. “Essa é a essência de sua pregação: Eis o seu Deus! ‘Promova Deus somente, sua misericórdia e graça. Pregue somente a mim.'”22

Portanto, não menos que Calvino, Soli Deo Gloria era o moto de Lutero. A soberania de Deus ocupava um lugar proeminente em toda a pregação de Lutero, pois ele realmente pregava o evangelho. Chegou até ele também o grito da Reforma: “Deixem Deus ser Deus!” Em suas palavras: “O evangelho proclama nada mais que a salvação pela graça, dada ao homem sem quaisquer obras e méritos, seja quais forem. O homem natural não pode receber, ouvir e ver o evangelho. Nem podem os hipócritas, pois o evangelho joga fora as suas obras, declarando que eles não são nada, e não agradam a Deus.”23

Somente Deus opera sua maravilhosa obra de graça ao nos salvar. Pois em Cristo somente descansa toda a nossa salvação. O evangelho é pregado com o propósito de consolar com graça aqueles que são contritos de coração.

Martinho Lutero também viu a importância da pregação à luz dos seus frutos positivos. Em oposição aos erros do legalismo, ele reconheceu que a vida cristã deve ser uma vida de gratidão a Deus e, portanto, um abraçar consciente do evangelho de uma salvação graciosa. Vidas gratas seguem-se à pregação fiel.

A abordagem de Lutero para com a pregação é uma que mais tarde seria delineada no Catecismo de Heidelberg. Esse é o caminho do conforto, operado pelo Espírito por meio da pregação.

“Assim, não são as pedras, a construção, e a grandiosa prata e ouro que tornam uma igreja bela e santa; é a Palavra de Deus e a pregação sã.”24 E essa é a pregação na qual Deus é glorificado.

Tal pregação é a maior bênção de Deus para a sua igreja. “Portanto, que aqueles que têm a Palavra pura aprendam a recebê-la e dar graças ao Senhor por ela, e que busquem ao Senhor enquanto se pode achar.”25 Que nós, os filhos da Reforma, possamos nos humilhar e agradecer a Deus pela pregação fiel. Deus certamente exigirá que prestemos conta de nossa pregação e do nosso escutar.

Fonte: David Engelsma (ed.), The Sixteenth-Century Reformation of the Church, pp. 88-95.

Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.


1 E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em outubro/2007.
2 Luther, “Sermon, Matt. 22:37-39,” in Sermons I, ed. and trans. John W. Doberstein, in Luther’s Works, ed. Helmut T. Lehmann (Philadelphia: Muhlenberg Press, 1959), 51:107.
3 Luther, “Psalm 82,” in Selected Psalms II, ed. Jaroslav Pelikan, trans. C. M. Jacobs, in Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia Publishing House, 1956), 13:49.
4 T. H. L. Parker, The Oracles of God: An Introduction to the Preaching of John Calvin (London: Lutterworth Press, 1947), 20.
5 Wood, Captive to the Word, 89.
6 Luther, “Isaiah 40,” in Lectures on Isaiah 40-66, ed. Hilton C. Oswald, trans. Herbert J. A. Bouman, in Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia Publishing House, 1972), 17:8.
7 Ibid.
8 Luther, “Psalm 26,” in Selected Psalms I, ed. Jaroslav Pelikan, trans. Lewis W. Spitz Jr., in Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia Publishing House, 1955), 12:186.
9 Luther, “Psalm 2,” in Selected Psalms I, in Luther’s Works, 12:43.
10 Luther, “Sermon on John 6:37,” in Sermons on the Gospel of St. John 6-8, ed. Jaroslav Pelikan, trans. Martin H. Bertram, in Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia Publishing House, 1959), 23:98.
11 Luther, “Sermon on John 14:10,” in Sermons on the Gospel of St. John 14-16, ed. Jaroslav Pelikan, trans. Martin H. Bertram, in Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia Publishing House, 1959), 24:66.
12 Luther, “Psalm 110,” in Selected Psalms II, in Luther’s Works, 13:291.
13 Luther, “Lecture on Genesis 6:3,” in Lectures on Genesis 6-14, ed. Jaroslav Pelikan, trans. George V. Schick, in Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia Publishing House, 1960), 2:17.
14 Luther, “Sermon, Matt. 22:37-39,” in Sermons I, in Luther’s Works, 51:111.
15 Luther, “Lecture on Galatians 3:4,” in Lectures on Galatians, ed. and trans. Jaroslav Pelikan, in Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia Publishing House, 1964), 27:249.
16 Luther, “Psalm 110,” in Selected Psalms II, in Luther’s Works, 13:271, 272.
17 Luther, “Forty-seventh Sermon on the Gospel of St. John,” in Sermons on the Gospel of St. John 1-4, ed. Jaroslav Pelikan, trans. Martin H. Bertram, in Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia Publishing House, 1957), 22:483.
18 Luther, “Isaiah 57,” in Lectures on Isaiah 40-66, in Luther’s Works, 17:277.
19 Luther, “Lectures on Romans,” trans. of Römerbriefvorlesung, in Luther’s Works, Weimar ed. (Philadelphia: Muhlenberg Press, 1959), 56:3, 4. Uma tradução diferente pode ser encontrada na edição americana de Luther’s Works, 25:135, 136.
20 Luther, “Heidelberg Disputation, 1518”, in Career of the Reformer I, ed. and trans. Harold J. Grimm, in Luther’s Works, ed. Helmut T. Lehmann (Philadelphia: Muhlenberg Press, 1957), 31:51.
21 Luther, “The Freedom of a Christian, 1520,” in Career of the Reformer I, in Luther’s Works, 31:364.
22 Luther, “Isaiah 40,” in Lectures on Isaiah 40-66, in Luther’s Works, 17:14.
23 Luther, “Sermon, Matt. 22:37-39,” in Sermons I, in Luther’s Works, 51:112.
24 Luther, “Lecture on Genesis 13,” in Lectures on Genesis 6-14, in Luther’s Works, 2:334.
25 Luther, “Lecture on Genesis 6:3,” in Lectures on Genesis 6-14, in Luther’s Works, 2:18.
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