Thomas Miersma
Tradução: Marcelo Herberts
Jesus disse: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (João 10:16).
Com essas palavras sobre o aprisco Jesus se refere às Suas ovelhas crentes reunidas a partir de Israel. Elas representavam o verdadeiro rebanho de Jesus Cristo, o verdadeiro Israel espiritual. Constituindo o Povo de Deus no Antigo Testamento, Israel em sua existência como nação, foi a manifestação visível da igreja de Deus no mundo.
No entanto, nunca foi verdade a respeito de toda a nação, pessoa por pessoa, que faziam todas elas parte do povo de Deus. Jesus diz ao Israel descrente, “mas vocês não crêem, porque não são minhas ovelhas” (João 10:26). Note também o que Jesus diz a Nicodemus, “O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (João 3:6). Os Judeus eram a semente de Abraão segundo a carne, pela sua descendência natural, mas não eram a semente espiritual genuína de Abraão, pois Abraão creu em Deus. Jesus lhes disse, “Abraão é o nosso pai,” responderam eles. Disse Jesus: “Se vocês fossem filhos de Abraão, fariam as obras que Abraão fez. Mas vocês estão procurando matar-me, sendo que eu lhes falei a verdade que ouvi de Deus; Abraão não agiu assim” (João 8:39-40). A nação de Israel como tal nunca foi o povo de Deus.
Esse é também o testemunho da Palavra de Deus, que declara “Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel” (Romanos 9:6). Nem todos os descendentes de Israel, isto é, Jacó, representavam o verdadeiro Israel, o verdadeiro Israel espiritual, o povo de Deus. Israel, como uma nação envolvendo todo e qualquer israelita, nunca foi o povo escolhido de Deus. A nação era uma representação visível da igreja. Nela estava o Israel verdadeiramente crente, mas não era de forma alguma a nação como um todo. Somente aqueles nascidos pelo poder da graça, tal como Isaque, eram verdadeiros filhos da promessa. “Noutras palavras, não são os filhos naturais [ou ‘da carne’] que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão” (Romanos 9:8).
Além do mais, era o propósito de Cristo trazer ao remanescente crente, o verdadeiro Israel de Deus do seu aprisco, as bênçãos das promessas reveladas no Antigo Testamento das Escrituras. Jesus ensinou seus discípulos, “Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lucas 24:46-47). Também era o propósito de Deus abandonar o Israel incrédulo, e essa forma de manifestação visível da instituição da igreja do Antigo Testamento, como uma nação, uma concha vazia. Assim, Jesus diz, “Eis que a casa de vocês ficará deserta” (Mateus 23:38). Não apenas isso, Deus iria extinguir a forma visível dessa instituição do Antigo Testamento. O templo com o seu altar e sacerdócio seria destruído. Então Jesus fala a respeito da destruição do templo. Ele diz, “Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas” (Mateus 24:2).
Mais apropriadamente, era o propósito de Jesus, iniciando com Jerusalém e com o aprisco do Israel crente, reunir outras ovelhas que não as deste aprisco, isto é, os gentios, tal como Ele disse, “… tenho outras ovelhas” (João 10:16). Estas também precisavam ser reunidas ao aprisco do Seu povo, mas agora a partir das nações. Elas são reunidas numa irmandade de salvação, como o rebanho de Cristo, “um só rebanho e um só pastor” (João 10:16). Jesus não colocou de lado o verdadeiro Israel de Deus por um ínterim, enquanto voltava-se para tratar com os gentios, mas trouxe Israel para dentro da igreja como a base da igreja do Novo Testamento. Jesus não prega um futuro especial para a nação de Israel, mas prega que a Sua igreja é o verdadeiro Israel de Deus através da fé. Para dentro dessa igreja Ele traz as ovelhas que lhe foram confiadas a partir dos gentios. Esse “lhe foram confiadas” dos gentios é obra do Espírito e não da carne. E os gentios crêem, tal como foi com Abraão. Portanto, o apóstolo Paulo diz, “E, se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:29).
Essa é também a instrução da Palavra de Deus em outros versículos. Os gentios foram inicialmente mantidos do lado de fora do reino de Deus, em sua manifestação terrena, o Israel. Assim também foram mantidos à parte das bênçãos da salvação. Por sua vez nós lemos, “Portanto, lembrem-se de que anteriormente vocês eram gentios por nascimento [ou ‘natureza pecaminosa’] … e que naquela época vocês estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo estrangeiros quanto às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo” (Efésios 2:11-12). Israel, a manifestação do reino de Deus, obteve Cristo pela promessa. Daquelas bênçãos da salvação os gentios haviam sido uma vez excluídos. Mas agora Cristo morreu e ascendeu novamente, consumando o verdadeiro sacrifício pelos pecados aos quais os sacrifícios do Antigo Testamento remetiam. O efeito tem sido de trazer as promessas do cumprimento em Cristo, cumprir a lei e levantar o reino de Deus para uma nova realidade espiritual cuja plenitude está no céu. O resultado é que os gentios que estavam longe têm sido agora trazidos para perto. “Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram aproximados mediante o sangue de Cristo” (Efésios 2:13). O resultado é que os gentios são agora concidadãos do verdadeiro Israel espiritual, o reino celestial de Deus em seu cumprimento espiritual. “Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2:19). À luz disso a igreja do Novo Testamento, com Cristo sentado no trono de Deus, tem o trono glorificado de Davi (Apocalipse 3:7). Através do Espírito, O Israel tem se tornado o verdadeiro templo espiritual de Deus (Efésios 2:21-22). Ele possui o verdadeiro sacrifício, a cruz. Ele tem o verdadeiro maná, Jesus Cristo, o pão vivo. Ele tem o sumo-sacerdote da ordem de Melquisedeque (Hebreus 5:10). Ele chegou à verdadeira cidade de Deus, ao verdadeiro Sião (Hebreus 12:22-23), que é espiritual e celestial.
Não apenas isso, mas essa igreja do Novo Testamento tem sua consumação na vinda de Cristo. Com todos os santos do Antigo e do Novo Testamento, ela constitui Sua esposa (Efésios 5:25-27). Essa esposa em sua glória é também a nova cidade celestial de Deus, a Nova Jerusalém (Apocalipse 21:2). Ela possui a verdadeira terra prometida, a qual os santos no Antigo Testamento ansiavam, “uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial” (Hebreus 11:15) (veja também Hebreus 11:10-16). Porque a promessa a Abraão, que Canaã era apenas sombra daquilo “de que ele seria herdeiro do mundo” (Romanos 4:13). Essa promessa diz respeito a “novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (II Pedro 3:13). Essa promessa é para a verdadeira semente espiritual de Abraão, de judeus a gentios, “E, se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:29).
Os gentios são agora “concidadãos e membros” (Efésios 2:19) do verdadeiro Israel de Deus, o reino, com os filhos de Deus do Antigo Testamento. O filho da igreja do Antigo Testamento, debaixo da lei, torna-se o adulto à luz do cumprimento do Novo Testamento (Gálatas 4:1-7). Israel e a igreja são um só e o mesmo organismo espiritual, um povo de Deus, um aprisco debaixo de um pastor. Jesus não ensina uma separação entre Israel e a igreja, nem mesmo o restante da Palavra de Deus. A igreja de Jesus é o verdadeiro Israel de Deus em Espírito mediante a fé. Jesus disse que “haverá um só rebanho e um só pastor” (João 10:16). Introduzir a noção de uma distinção entre Israel e a igreja é uma corrupção do propósito de Deus, que é o de reconciliar todas as coisas em Cristo (Colossenses 1:18-20). É restabelecer “o muro de inimizade”, que foi derrubado pela morte de Cristo (Efésios 2:14). É de fato uma deturpação da cruz e do evangelho de Jesus Cristo. Você crê neste Cristo, Pastor de um povo e rebanho?
Fonte: What Jesus said about, Rev. Thomas Miersma, cap. 19.
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