Rev. Steven R. Houck
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Prefácio
O apóstolo Paulo nos exorta, “aquele que se gloria glorie-se no Senhor” (I Coríntios 1:31). Este é o dever fundamental de todo homem. Devemos nos gloriar em Deus, não em nós mesmos. O homem é pronto por natureza a se gloriar de seu poder e capacidade, de suas obras e vontade; mas ele não deve agir assim. Porque nós não temos nada do que se gloriar. De nós mesmos, somos nada e até menos do que nada (Isaías 40:17). Tudo que somos é nos dado por Deus. “Ele (Deus) mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas … Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos …” (Atos 17:25, 28). Se for para nos gloriarmos, devemos nos gloriar na grandeza e no poder de Deus, em auas obras e caminhos. Somos admoestados: “Cantai-lhe (a Deus), cantai-lhe salmos; falai de todas as suas maravilhas” (Salmos 105:2).
É o nosso chamado nos gloriar especialmente na obra maravilhosa de salvação de Deus. Com o salmista devemos cantar: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o que perdoa todas as tuas iniquidades, que sara todas as tuas enfermidades; Que redime a tua vida da perdição; que te coroa de benignidade e de misericórdia …” (Salmos 103:2-4). Porque não contribuímos com absolutamente nada para a salvação. Ela é totalmente a obra maravilhosa de Deus. Ele é o Soberano Salvador. Antes da fundação do mundo Ele planejou a salvação. Ele realmente obteve a salvação enviando zeu Filho para morrer na cruz. Por zua graça ele sozinho aplica a salvação ao coração e vida de seu povo. Assim, do princípio ao fim a “salvação é do Senhor” (Jonas 2:9). Toda glória é de Deus.
É a nossa oração que o Senhor Deus se agrade em usar este panfleto como um testemunho de sua soberana graça, para o avanço da causa de sua Verdade, e para a glória do seu grande nome. “Sê exaltado, ó Deus, sobre os céus; seja a tua glória sobre toda a terra” (Salmos 57:5).
Rev. Steven R. Houck
O Deus Soberano
As Escrituras nos ensinam que Deus é absolutamente soberano. Como o Deus Todo-poderoso, ele governa o mundo. Ele é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Altíssimo Deus. A ele pertence todo poder e toda autoridade para fazer o que lhe agrade em cima nos céus e embaixo na terra. O mundo e tudo que nele há é o seu mundo. Toda criatura é controlada por sua soberana vontade e poder. Isso foi reconhecido pelo Rei Davi quando ele louvou ao Senhor com as palavras: “Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, SENHOR, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre todos” (I Crônicas 29:11).
Deveras o Senhor é o “cabeça sobre todos.” Não há criatura, seja ela besta fera, homem ou anjo, que possa frustrar o soberano domínio de Deus. Nabucodonosor estava absolutamente certo quando confessou: “Eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?” (Daniel 4:34-35). Não há ninguém que possa estorvar a mão de Deus de fazer o que ele quer; nem entre o exército do céu e nem entre os moradores da terra. Embora muitos levantem o punho em desafio a Deus, embora muitos desprezem seus estatutos e mandamentos, e embora eles se rebelem contra ele com toda a impiedade de seus corações; todavia, nisto tudo Deus reina supremo. “Porque o reino é do SENHOR, e ele domina entre as nações” (Salmos 22:28).
Como poderia ser de outra forma? Porque se Deus é DEUS, então, ele deve ser soberano sobre tudo. Se ele é Todo-poderoso, então, não pode haver ninguém com poder em si mesmo para frustrar o poder e o domínio de Deus. Ele é Deus e ele somente é Deus. Assim Moisés instruiu o povo de Israel, “só o Senhor é Deus, em cima no céu e em baixo na terra; nenhum outro há” (Deuteronômio 4:39). Porque todos somos “reputados como nada.” “Todas as nações são como nada perante ele; ele as considera menos do que nada e como uma coisa vã ” (Isaías 40:17). Somos tão insignificantes em comparação com o Deus Infinito que não somos nada. Somos menos do que nada.
Certamente, então, não podemos dizer a Deus, “que fazes?” Certamente não podemos nem questionar algo que ele diz ou faz. Ele é o Soberano Deus e nós somos suas criaturas finitas. Ele é o Oleiro e nós somos o barro. Assim lemos: “Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?” (Isaías 45:9). Deus tem o direito de fazer conosco seja o que for que lhe agrade e não podemos nunca reclamar ou questionar. Devemos nos curvar diante dele em humilde submissão sempre. “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos” (Isaías 57:15).
A Vontade Soberana De Deus
Porque Deus é o soberano Deus, o Senhor e Dominador do céu e terra, deve ser também verdade que a vontade de Deus é soberana. Se Deus é o Rei de toda criação, então, seu decreto e propósito devem permanecer inamovíveis. Porque é impossível conceber um Deus soberano cuja vontade e propósito possam ser frustrados por aqueles sobre quem ele governa. Se a vontade do governado pode de alguma forma mudar ou demover a vontade do regulador, então, o regulador não é soberano. O Deus soberano deve também ter uma vontade soberana. Isso é exatamente o que a Bíblia nos ensina. O grande Deus do céu e da terra desejará o que lhe agrada e então realizará tudo o que desejou. Porque o próprio Deus declara através do profeta Isaías: “… Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Isaías 46:9-10).
Realmente, não há ninguém que seja como Deus. Porque quem pode nos dizer o fim de uma coisa em seu início, mesmo antes dela começar a seguir o seu curso? Quem é capaz de declarar as coisas que ainda não aconteceram, mesmo antes delas se tornarem história? Certamente somente Deus pode fazer isso. Porque é a própria vontade e propósito de Deus que determinam a existência e o curso de todas as coisas. Sua vontade é tão soberana que ele determinou de uma forma precisa exatamente o que acontecerá neste mundo. Deus determinou e apontou absolutamente todas as coisas. Mesmos os mínimos detalhes foram englobados em sua vontade e propósito. Dessa forma o apóstolo se refere a ele como o Deus “que opera todas as coisas segundo o conselho de sua vontade” (Efésios 1:11). Todas as coisas são o que são e fazem o que fazem porque Deus assim operou nelas. E ele opera nelas em perfeita harmonia com o que desejou em seu conselho. Não há nada que esteja fora do determinado conselho de Deus.
O que é mais maravilhoso é que essa determinação aconteceu na eternidade. A vontade e o conselho de Deus não estão presos ao tempo, nem à qualquer coisa no tempo. Eles estão acima do tempo e da história. São eternos como o próprio Deus o é, assim como o apóstolo diz, “segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” (Efésios 3:11). Muito antes que houvesse mundo, o curso da história foi fixado e determinado pelo propósito de Deus em Cristo Jesus. E assim também o seu propósito continua inquebrável e imutável para sempre e sempre. Devemos cantar sobre isso com o Salmista, “o conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração ” (Salmos 33:11).
Pode haver alguma dúvida de que a vontade do soberano Deus é sempre feita? Visto que o seu conselho permanece para sempre, de geração em geração, certamente ninguém pode jamais frustrar a vontade de Deus. Esse é exatamente o testemunho do próprio Deus. Lemos, “o SENHOR dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará … Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?” (Isaías 14:24, 27). A vontade de Deus é soberana. Ninguém pode anular o que Deus propôs—nem mesmo o ímpio que ativamente procura fazer com que termine em nada o bom propósito do Senhor, pela sua desobediência e rebelião. Os homens podem inventar todos os tipos de esquemas para destronar o Altíssimo; mas Deus é tão soberano, que ele realiza sua vontade mesmo em e através de todas as suas invenções. “Muitos propósitos há no coração do homem, porém o conselho do SENHOR permanecerá” (Provérbios 19:21). Seu conselho permanecerá e ele fará toda a sua vontade. O Senhor Deus falou; ele também fará acontecer (cf. Isaías 46:11). Deus é soberano e isso deve significar que sua vontade também é soberana.
Predestinação Soberana
Visto que Deus é o soberano Deus, de quem o conselho permanece para sempre, cuja vontade não pode ser frustrada e cujo propósito não é anulado, devemos concluir que sua vontade e determinação são soberanamente particulares na salvação. Não pode ser que o homem seja aquele que determina, por sua própria vontade, se ele será ou não salvo. Certamente o homem deve vir a Deus pela fé para ser salvo. Certamente ele deve buscar a Deus, amá-lo e servi-lo, como resultado de um coração desejoso. Porque ele é o infinito Criador que tem o direito e o poder de fazer com suas criaturas finitas exatamente o que lhe agrade—mesmo com respeito ao nosso destino eterno. Assim o apóstolo Paulo diz, “ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou?” (Romanos 9:21-23). Deus é o soberano Oleiro e nós, suas criaturas, somos o barro. Exatamente como um oleiro terreno tem poder soberano sobre o barro, para fazer dele o que lhe agrade, assim Deus soberanamente faz de nós o que lhe agrada.
Ele faz alguns para serem “vasos de misericórdia” que ele “de antemão preparou para glória”. Este é o povo eleito de Deus, aqueles escolhidos por ele para salvação em Cristo. Deste povo o apóstolo diz, “mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação …” (II Tessalonicenses 2:13). Antes de o mundo ter sido criado, Deus em seu eterno decreto e conselho selecionou certos indivíduos para serem seu povo especial. O salmista diz: “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo ao qual escolheu para sua herança” (Salmos 33:12). Para este povo escolhido Deus, em sua misericórdia, concede fé e arrependimento, e todas as bênçãos de salvação, de forma que eles são chamados “vasos de misericórdia.” Assim lemos: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo …” (Efésios 1:3-4). Oh! deveras escolhemos a Deus, mas somente depois dele nos ter escolhido e nos concedido o poder de escolhê-ço. Jesus disse: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós …” (João 15:16).
O apóstolo Paulo também se refere aos “vasos de ira preparados para destruição.” Porque, visto que Deus é soberano, sua vontade deve não somente ser o fator determinante na salvação, mas também na destruição eterna. Deus não somente seleciona alguns para serem salvos e glorificados, mas também destina outros para “destruição.” Judas se refere a estas pessoas quando fala de “certos homens que se introduziram, que já antes estavam ordenados para esta condenação …” (Judas 4). O apóstolo Pedro se refere a eles como “sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (I Pedro 2:7-8). Para este povo Deus não concede fé e arrependimento, de forma que eles continuam em seu pecado e impiedade. Ele olha para eles, não em amor, mas em sua ira. Assim eles são mencionados como “os vasos de ira.”
Não é de estranhar que as Escrituras declarem: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Romanos 9:16). A salvação nunca pode ser baseada sobre nossas obras ou vontade. Se confiamos em Cristo como nosso Salvador e temos a esperança de glória dentro de nós, isto é por causa de uma única coisa—a vontade soberana e o bom propósito de Deus que nos destinou para glória. Porque o nosso Deus é o Deus “que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (II Timóteo 1:9). “Seu propósito e graça” não é nada menos do que seu gracioso decreto de eleição, que é a fonte de todo bem salvífico.
Presciência
Visto que Deus soberanamente predestinou a vida de cada homem (alguns para glória e outros para destruição), não pode ser que a predestinação de Deus seja baseada sobre a escolha do homem—sua fé e arrependimento. Não pode ser que Deus, em sua presciência, simplesmente olhou para a história e viu todos aqueles que iriam crer e, então, baseado sobre essa presciência, os escolheu para salvação e glória. Porque isso faz a escolha do homem soberana e não a escolha de Deus. Isso faz a predestinação de Deus dependente da vontade do homem. As Escrituras, contudo, ensinam que a eleição não tem nada a ver com as obras do homem. Em conexão com a eleição de Jacó e a reprovação de Esaú, lemos em Romanos 9:11: “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama).” Predestinação, visto que é baseada sobre o propósito de Deus, não pode ser baseada sobre as obras do homem—nem suas boas nem suas más, nem sua fé nem sua incredulidade. Tanto a eleição como a reprovação são incondicionais. A predestinação é a soberana e livre escolha de Deus somente.
De fato, a presciência de Deus não é uma pré-visão dos eventos futuros. Não tem nada a ver com um olhar para a história do homem e ver o que ele fará ou não fará. Romanos 8.29-30 diz isto muito claro. Lemos: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho… e aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” Observe que nestes versículos há uma cadeia inquebrável de eventos que Deus realiza. Ele pré-conheceu certas pessoas, e estas mesmas pessoas ele também predestinou, chamou, justificou e glorificou. Os que ele pré-conheceu são os que ele salva e traz à glória eterna. Presciência, então, não pode se referir a um certo conhecimento intelectual de todos os homens. Porque nem todos os homens são salvos e glorificados. Antes, presciência se refere ao conhecimento de Deus de seu povo escolhido que, somente eles, são salvos e glorificados.
Mas essa presciência do povo escolhido de Deus não é um mero conhecimento intelectual também. As Escrituras nos ensinam que ela é um conhecimento muito íntimo de amor. Quando Deus pré-conhece o seu povo escolhido, então, ele os ama. Ele os amou antes deles terem nascido. Assim lemos em Amós 3:2: “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido …” Certamente, como Onisciente, Deus conhece intelectualmente todas as famílias da terra. Mas ele conhece somente seu povo escolhido (a família de Deus) em amor. Cristo expressou exatamente o mesmo quando disse: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido … Eu dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10:14-15). Embora o mercenário conheça intelectualmente as ovelhas, ele não as ama. Portanto, quando os lobos chegam, ele foge. Mas Cristo, que conhece seu povo eleito em amor, dá a sua vida pelas ovelhas. A presciência de Deus, então, é o seu eterno amor pelo seu povo escolhido.
É esse conhecimento eterno de amor que é a base da eleição. Deus não escolhe ninguém para a salvação e glória porque ele viu de antemão que eles creriam e se arrependeriam de seus pecados. Ele soberanamente os escolheu porque soberanamente os amou em Cristo Jesus. Se voltarmos para aquela cadeia inquebrável em Romanos 8:29-30, então veremos que “conheceu de antemão” é primeiro do que “predestinou.” O povo de Deus é salvo e glorificado porque eles foram predestinados para este fim por Deus, e foram predestinados para este fim porque foram amados de Deus desde toda a eternidade. Assim, lemos: “O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; mas, porque o SENHOR vos amava … o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão …” (Deuteronômio 7:7-8). É a eleição incondicional que está por detrás da salvação. É o soberano e eterno amor (presciência) de Deus que está por detrás da eleição.
O Amor Soberano De Deus
Visto que Deus é soberano na predestinação e visto que a predestinação é baseada sobre o íntimo conhecimento de amor (presciência) de Deus, deve também ser verdade que o amor de Deus é soberano. Seu amor está tão vitalmente conectado com a Divina eleição, que ele dever ser tão soberano quanto o é a vontade eletiva de Deus, tão soberano quanto o é o próprio Deus. O amor de Deus não pode ser uma emoção impotente que gostaria de ver todos os homens salvos, mas que não tem a força para realizar este desejo. O amor de Deus dever ser um poder eficaz que não somente deseja a salvação dos seus objetos (eleição), mas que realmente os salva.
Deveras, as Escrituras nos ensinam que o amor de Deus é como um poder soberano que é sempre um amor salvífico. É impossível para o amor de Deus não salvar os seus benditos objetos. Lemos as palavras do próprio Deus: “Com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí” (Jeremias 31:3). O amor de Deus não senta por perto observando seu objeto ir para o inferno e não faz nada sobre isso. Se Deus te ama, então, ele te salva. Seu amor eterno é um poder soberano eficaz que sempre traz seus objetos para ele. “Por isso,” ele diz. Porque ama o seu povo, ele deve eficazmente trazê-los para fora de seus pecados e morte e para dentro da glória de sua eterna salvação. Seu amor soberano não permitirá que seu povo seja condenado. Não há objetos do seu amor no inferno no tempo presente, nem jamais haverá algum ali. Quão cruel seria o seu amor se não quisesse salvar seus objetos do inferno, e quão fraco seria se não pudesse salvá-los do inferno.
Tal amor cruel e fraco não é o amor de Deus. O apóstolo Paulo diz: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo …” (Efésios 2:4-5). Deus vivifica seu povo, os faz espiritualmente vivos pelo poder eficaz e sua misericórdia e graça. Mas, por quê? Por quê Deus dá vida a eles ao invés de deixá-los apodrecer no buraco do inferno? Por apenas uma razão—ele ama o seu povo. Seu amor não é alguma coisa fraca e impotente que chora pelos pecadores perdidos no inferno por não pode fazer nada para ajudá-los. O amor de Deus livra o pecador da destruição do inferno.
O apóstolo João concorda, porque declara: “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus …” (I João 3:1). Olhem para o amor de Deus. Olhem para a sua natureza. É uma maravilha soberana tal como esta que faz possível que os eleitos sejam chamados filhos de Deus. Aqueles que por natureza eram filhos da ira podem ser chamados os filhos de Deus porque Deus assim os amou. O poder eficaz soberano do amor de Deus realmente os faz seus filhos. Em seu amor ele os livra, assim como livrou o Israel dos tempos antigos. “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho” (Oséias 11:1).
Dessa forma, não pode ser que Deus ama a todos. Visto que o amor de Deus é soberano e, portanto, sempre um amor salvador, somente aqueles que experimentam a salvação do Senhor podem ser os objetos do seu amor. Deus ama o seu povo eleito, a quem escolheu para salvação, mas o seu ódio e ira eterna permanecem sobre o réprobo pecador. O salmista declara: “O SENHOR prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência a sua alma odeia” (Salmos 11:5). O Senhor odeia não somente os pecados dos ímpios, mas os próprios ímpios. “Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade” (Salmos 5:5). Sua ira, não o seu amor, permanece sobre eles para sempre (Salmos 7:11, João 3:36). Jacó, a quem Deus escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, é o objeto de todo amor de Deus. Mas Esaú, a quem Deus destinou para destruição, é eternamente o objeto de sua ira. Deus disse: “Amei a Jacó, mas odiei a Esaú” (Malaquias 1:1-3, Romanos 9:13). Dessa forma Deus não salvou a Esaú, mas o deixou em seu pecado, e para os tormentos do inferno eterno.
O homem que vai para o inferno, então, não vai pra lá a despeito do amor de Deus. Ele vai para lá sem o amor de Deus. Por outro lado, o homem que vai para o céu vai pra lá, não por causa de sua vontade ou obras, mas por causa do soberano amor de Deus que sempre salva. Que bendito conforto para o filho de Deus. O amor de Deus não o deixa no inferno, mas o levanta e livra de todos os seus pecados e da morte. Seu soberano amor não permitirá que ele veja a condenação. Que amor maravilhoso! O povo de Deus, portanto, deve se rejogizar em “nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança” (II Tessalonicenses 2:16). Eles devem se regozijar no amor soberano de Deus.
O Amor De Deus e a Cruz
Visto que o amor de Deus não é alguma emoção impotente, mas um poder eficaz que sempre salva seus objetos, segue-se que a morte de Cristo sobre a cruz é também um poder soberano que realmente efetua a salvação do povo de Deus. Isso porque o amor soberano de Deus é manifesto na cruz de Cristo. A morte sacrificial de Cristo é a demonstração de quanto Deus ama o seu povo. Na cruz vemos o amor eficaz de Deus operando soberanamente. Assim o apóstolo João escreve: “Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (I João 4:9).
Se você quiser contemplar o amor de Deus em toda a sua maravilha, então, você deve olhar para cruz. Pense nisso! Deus amou de tal maneira o seu povo que ele deu o seu Filho unigênito para morrer por eles, para que pudessem viver através dele. Ele enviou o seu próprio Filho, que está no próprio seio do Pai, e a quem Deus ama com um amor perfeito e infinito. Tão grande, tão infinito, tão maravilhoso é o amor de Deus por seu povo que ele deu a si mesmo em seu Filho sobre a cruz. Por isso o apóstolo Paulo diz que “a igreja de Deus” é a igreja” que ele (Deus) comprou com o seu (de Deus) próprio sangue” (Atos 20:28).
Certamente, então, devemos ver que a morte de Cristo sobre a cruz foi uma parte do plano eterno de Deus para a salvação de seu povo. A relação entre o amor de Deus e a cruz é tão íntima, que é impossível que a cruz possa ser algo incidental ou acidental. A morte de Cristo não aconteceu simplesmente. A cruz não foi forçada sobre Deus pelos ímpios que colocaram seus corações contra o Senhor e o seu Ungido. Não, nunca! Como a manifestação do amor infinito de Deus pelo seu povo, a cruz é o próprio coração e centro do propósito de Deus de salvação. A cruz é o meio soberano de Deus para salvar o seu povo amado do inferno. Ele deliberadamente propôs que Cristo deveria ser crucificado e assassinado pelos seus pecados [do seu povo]. Assim lemos: “Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” (Atos 4:27-28).
Oh! deveras os ímpios o pegaram e crucificaram, mas tudo foi feito de acordo com a boa e perfeita vontade de Deus (Atos 2:23). A cruz não foi um ato não pensado previamente, nem de contingência, mas um ato soberano do Deus Todo-poderoso que realiza todo o seu bom propósito. A cruz foi a perfeita execução do decreto de Deus. Assim em Apocalipse 13:8 Cristo é mencionado como “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” Ele é o Cordeiro já morto no eterno conselho de Deus para nossa salvação.
Isto significa que a cruz é um poder em si mesma—o poder soberano de Deus. Visto que Deus, como resultado de seu grande amor, enviou Cristo para morrer por seu povo para que através de sua morte pudéssemos ter vida, essa morte deve salvar e dar vida a todos os objetos do amor de Deus. A cruz não torna a salvação possível para todos, de forma qualquer um possa tê-la, se tão somente desejar tomá-la. A morte de Cristo realmente salva o povo eleito de Deus. “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19:10). Em sua morte sobre a cruz Cristo não fez meramente uma provisão para a salvação. Ele realmente obteve salvação. Dessa forma, lemos: “Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” (Hebreus 8:12). A cruz é o próprio poder que salva. O apóstolo ensina isso quando diz: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus” (I Coríntios 1:23-24). Deveras “Cristo crucificado” é o “poder de Deus”—o poder eficaz soberano de Deus que realmente salva o seu povo de todo pecado. Deus ama o seu povo, Cristo morreu por elas, certamente então, todos eles serão salvos.
Redenção Particular
Visto que o soberano amor de Deus é particular (somente para os eleitos), e visto que a cruz (o poder real de Deus que assegura a salvação) é o soberano resultado daquele amor, necessariamente a expiação da cruz deve ser limitada ao amado povo escolhido de Deus. A redenção que Cristo mereceu na cruz é para um grupo de pessoas particular e definido. É limitada àqueles que Deus amou e que ele escolheu para salvação desde antes da fundação do mundo. Cristo não morreu por todos. Ele morreu pelos eleitos de Deus e por eles somente. Visto que a escolha de Deus é soberana e visto que o seu amor é soberano, isso deve ser verdade. Deus não proveu salvação para todos e agora espera que o homem faça uma escolha. Se isso fosse verdade, então, ele não seria soberano. A expiação ilimitada é inconsistente com a soberania de Deus. Ela faz do homem soberano, e não Deus. Mas Deus é soberano. Ele está soberanamente executando o seu plano de salvação. Portanto, ele enviou Cristo para morrer, não por todos, mas somente por aqueles que ele intentou salvar.
Isso é exatamente o que o próprio Jesus nos ensina. Ele diz: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10:14-15). Cristo é o Bom Pastor e seu povo (que ele conhece e que o conhece) são suas ovelhas. Ele deu sua vida pelas ovelhas. Ele não morreu por todos, porque deixa mui claro que muitos não são suas ovelhas. No versículo 26 do mesmo capítulo ele diz: “Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.” Os ímpios que não conhecem a Cristo nunca creem nele porque não são suas ovelhas (povo eleito). Por eles, Cristo não morreu. Ele morreu pelas ovelhas somente.
Segundo o apóstolo Paulo, as ovelhas constituem a igreja de Cristo. Ele exorta os presbíteros da igreja: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20:28). Deus em Cristo comprou a Igreja com o seu precioso sangue. Ele não comprou toda a humanidade, os eleitos e os réprobos. Ele derramou seu sangue para adquirir a redenção para sua Igreja somente. Isso é mui belamente declarado em Efésios 5. Lemos: “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25). Cristo amou sua Igreja desde antes da fundação do mundo e, portanto, deu a si mesmo, deu sua vida sobre a cruz, por ela. Note que temos o amor de Cristo e a cruz de Cristo associados nesta passagem. Assim como o amor de Cristo é particular (somente pelos eleitos), assim sua morte expiatória é particular.
O alvo limitado da expiação é confirmado por Romanos 8, onde nos é informado, não em termos incertos, que Cristo morreu pelos eleitos. O apóstolo diz: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? ” E quem são este povo por quem Cristo se entregou? Quem são os “todos nós”? Encontramos a resposta nos versículos 33 e 34: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”. Eles são os eleitos de Deus. O povo eleito de Deus nunca temerá a condenação—nem da parte de Cristo e nem da parte de Deus. Porque Cristo morreu por eles e por esta morte Deus os justifica. Este é o poder da cruz. O ímpio que não conhece esta justificação e que são condenados ao inferno para sempre, não pode de forma alguma estar incluído na obra expiatória de Cristo sobre a cruz. Se estivessem, então, não haveria nenhuma razão para a condenação deles. Porque eles seriam condenados por causa de seus pecados, se Cristo pagou por esses pecados sobre a cruz? Não, Cristo não morreu por eles. Cristo morreu pelos eleitos de Deus. Além do mais, a obra da cruz é tão soberana que nada jamais será capaz de condenar o povo de Deus. Nada jamais será capaz de separá-los do amor de Deus manifestado em Cristo sobre a cruz (Romanos 8:35-39). Assim o nosso Senhor diz: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10:28). Deveras, “ele (Cristo) verá o seu fruto (os eleitos) … Ele verá o fruto do trabalho de sua alma, e ficará satisfeito” (Isaías 53:10-11).
Regeneração
Deus é soberano. Ele é soberano em todo o seu ser. Isso significa que sua vontade é soberana. Ela é tão soberana que ele somente determina, por eleição e reprovação, o destino de cada homem. O fator decisivo na salvação é a vontade de Deus e não a vontade do homem. Além do mais, porque a vontade de Deus é soberana, assim também é o seu amor, o qual é a origem da soberana eleição. Ele é tão soberano que aqueles que são os objetos deste bendito amor certamente serão salvos. A morte de Cristo, como a eficaz operação e manifestação deste amor, realmente assegura a salvação de seu povo escolhido.
Ora, visto que tudo isso é verdade, segue-se que a aplicação desta salvação é também uma obra soberana de Deus. Visto que Deus determina quem será salvo, visto que ele ama aquele povo escolhido e envia Cristo para morrer para assegurar a salvação deles, ele deve também soberanamente desenvolver essa salvação nos corações e vidas deles. É inconcebível que Deus tenha soberanamente planejado nossa salvação, objetivamente obtido essa salvação através da morte pré-ordenada de seu Filho primogênito e, então, deixar ao homem o apropria-se desta salvação em si e por si mesmo. Não, visto que Deus a planejou, ele somente realiza esse plano. Ele soberanamente aplica a salvação ao pecador eleito.
Vemos isso ser verdadeiro já no primeiro ato de salvação que Deus realiza dentro do pecador, escolhido e amado por ele. Regeneração, o novo nascimento, não é uma obra do homem, mas a soberana obra do Todo-poderoso. Regeneração é a obra poderosa do Deus soberano pela qual ele, à parte de qualquer vontade ou obra do homem, dá vida ao escolhido, mas espiritualmente morto pecador. Assim, lemos em Efésios 2:4-6: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos). E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus”. Por natureza somos espiritualmente mortos, mas na regeneração Deus nos faz vivos. A regeneração é uma ressurreição espiritual de uma morte espiritual. Deus dá vida àqueles que antes estavam absolutamente destituídos de vida—”mortos em pecados.” Assim como a ressurreição do corpo é um ato poderoso de Deus, assim também a regeneração, como uma ressurreição espiritual, pode acontecer somente pela maravilhosa e poderosa operação da graça soberana de Deus. Um cadáver apodrecendo no túmulo não pode se levantar por si mesmo, porque não há vida nele. É impossível para um homem morto fisicamente fazer algo. Nem pode o morto espiritualmente fazer algo para contribuir com sua regeneração.
Isso é demonstrado ainda mais pelo fato que a regeneração não é nada menos do que a implantação de um novo coração. Na profecia de Ezequiel lemos: “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” (Ezequiel 36:26). Por natureza, o pecador morto tem um coração que é duro como uma pedra. Ele não é receptivo à Palavra de Deus. Ele não ama a Deus e nem procura andar nos mandamentos de Deus. Mas na regeneração Deus soberanamente tira o coração de pedra e dá, no lugar dele, um coração de carne, um coração que é terno e receptivo. Como o Grande Médico, ele implanta dentro do pecador eleito, pelo seu Espírito, um coração que o ama e procura ser obediente aos seus estatutos. À parte deste novo coração é impossível para o pecador se voltar de seus pecados e, por fé, buscar o Deus vivo e verdadeiro.
A regeneração, não pode de forma alguma ser condicionada sobre a vontade ou obra do homem. Não pode ser que a fé e o arrependimento precedam a regeneração e, portanto, sejam as condições que devem ser satisfeitas antes que Deus possa nos regenerar. Tanto a fé como o arrependimento são impossíveis à parte do novo nascimento. Se um homem tem fé é porque Deus já o regenerou. A fé é o fruto da regeneração e não a sua causa. O apóstolo João descreve os crentes nascidos de novo como aqueles “os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1:13). Pode um recém-nascido ter ajudado, de si mesmo, sua mãe a produzir o nascimento? Pode de alguma forma ter contribuído para sua própria concepção? Certamente não. Nem pode o homem contribuir para o novo nascimento que Deus dá. Paulo nos instrui: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5). Um homem nasce na família de Deus por um ato soberano de Deus somente.
A nova vida da regeneração não tem sua origem no sangue (descendência física), nem tem sua origem na vontade da carne (o desejo natural do corpo). De fato, essa vida não pode ser atribuída à vontade do homem de forma alguma. Ela tem sua origem em Deus somente. A regeneração nunca é resultado da escolha do homem. Deveras é verdade que, “aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus ” (João 3:3). Mas, como um homem nasce de novo? O apóstolo Pedro diz que é “Deus” quem “nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (I Pedro 1:3). O povo de Deus é regenerado pela poderosa e viva palavra de Deus. “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (I Pedro 1:23). Regeneração é a obra soberana de Deus. Somente ele pode dar vida eterna ao morto pela sua palavra viva.
A Depravação do Homem
A necessidade da soberania de Deus na regeneração (e em tudo da salvação) é especialmente demonstrada pela absoluta depravação do homem. O homem é absolutamente incapaz de salvar a si mesmo. Ele não tem nem a vontade nem o poder de mudar o seu coração mau. Assim o profeta pergunta: “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (Jeremias 13:23). Da mesma foram como o etíope não pode de forma alguma mudar a cor de sua pele escura e o leopardo não pode remover a negridão de suas manchas, assim também, o homem não pode de forma alguma mudar o mau caráter de seu coração, vontade e mente. O homem nasce neste mundo com um coração mau e uma natureza corrupta. Sem a obra soberana de Deus, este coração e natureza nunca serão feitos brancos e bons, limpos e puros, justos aos olhos de Deus.
Além do mais, a depravação da natureza do homem é total. Ela não somente se estende a todo o seu ser, mas o faz completamente incapaz de qualquer bem. Assim, o apóstolo escreve: “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Romanos 3:10-12). Muitas vezes pode nos parecer que o homem natural realiza algum bem. Mas o julgamento de Deus é claro: “Não há quem faça o bem, não há nem um só.” É absolutamente impossível para um homem natural fazer algum bem. O homem natural não pode e não busca a Deus.
Antes, ele é um rebelde que se opõe a Deus e ao reino de Deus. Ele é um escravo do pecado que não pode fazer nada, senão pecar. Ele está cego em seu entendimento e pervertido em seus julgamentos. Em todos os seus caminhos ele imita o seu pai espiritual, o diabo. Até mesmo sua vontade é escravizada à vontade de Satanás. Isso Jesus nos ensina quando ele diz: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai (literalmente—‘vós quereis fazer’)” (João 8:44). Dessa forma, o homem natural realmente odeia a Deus e ao seu Filho ungido. Ele está tão longe de desejar e buscar a salvação no único Deus verdadeiro que ele ama as trevas mais do que a luz. “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas” (João 3:19-20). Realmente, como as Escrituras nos ensinam, o homem natural está “morto nos seus pecados e nas incircuncisão de sua carne” (Colossenses 2:13).
Essa corrupção de nossa natureza nós herdamos dos nossos pais. Como resultado de seu pecado, a natureza de Adão se tornou má, e esta maldade é passada de uma geração à outra. Nós nascemos pecadores. Somos corruptos na natureza, mesmo antes de cometermos quaisquer pecados pessoais. Devemos todos dizer com Davi: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5). De fato, mesmo à parte de nossas naturezas corruptas, somos pecadores culpados porque Deus nos contou como culpados do primeiro pecado de Adão no paraíso. Dessa forma, o apóstolo Paulo diz: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12). O pecado de nosso pai Adão é imputado a nós. Somos culpados de comer o fruto proibido, assim como ele é. Esta é a nossa condição e estado por natureza.
Portanto, como é possível para o homem contribuir para sua regeneração, seja por sua vontade ou por suas obras? À parte da graça soberana de Deus, somos culpados, pecadores corruptos que não podem e não querem mudar os nossos corações. À parte de Deus, nossa vontade e obras podem contribuir somente para mais dívida. À parte de Deus, somos filhos do diabo que merecem serem condenados juntamente com ele e os seus anjos maus. À parte de Deus, não podemos fazer nada que seja agradável aos seus olhos. À parte de Deus, a salvação é impossível. Somos como ossos secos no meio de um vale—ossos que não fazem nada e que não podem viver, ossos sem nenhuma carne sobre eles, ossos sem o fôlego de vida. Todavia, todos do povo de Deus vivem porque Deus, em sua graça regeneradora, soberanamente lhes dá esta vida. Ele lhes diz: “Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o Senhor DEUS a estes ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e vivereis. E porei nervos sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o SENHOR” (Ezequiel 37:4-6). O que os pecadores não podem fazer, Deus faz.
O Chamado Salvífico
Quando Deus imparte a sua graça regeneradora num homem, este homem é soberanamente transformado no profundo de seu ser. Aquele que uma vez esteve espiritualmente morto é levantado dentre os mortos. Ele é nascido de novo de cima. Àquele que uma vez não podia nem mesmo “ver o reino de Deus” (João 3:3) é dado olhos para ver, ouvidos para ouvir, e um coração para entender as coisas de Deus e do seu reino. Na regeneração Deus imparte o poder espiritual que capacita o homem a buscar, conhecer e abraçar Cristo e todos os seus benefícios.
Isso não significa, contudo, que o homem está nas suas próprias mãos, e que não necessita mais de Deus. A salvação está tão totalmente nas mãos de Deus que, mesmo após a regeneração o homem não chega ao arrependimento e fé sem uma obra adicional de Deus. Se o eleito, o pecador regenerado, há de chegar à conversão e à consciência de sua salvação, Deus deve soberanamente e salvificamente chamá-lo para tal atividade espiritual para que seus olhos vejam, seus ouvidos ouçam e seu coração entenda as coisas de Deus.
O apóstolo nos ensina que o chamado salvífico de Deus é um elo essencial na cadeia inquebrável da salvação. Ele diz: “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” (Romanos 8:30). Tão certo quanto um homem deve ser predestinado para ser salvo, ele deve também ser chamado. Pois o povo de Deus são aqueles que “anunciam as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2:9). Todo verdadeiro filho de Deus foi chamado das trevas do pecado e da morte para a gloriosa luz da salvação de Deus.
Sem este chamado salvífico de Deus seria absolutamente impossível para alguém ser chamado por ele para salvação. Porque não é a invocação a Deus por parte do homem que vem primeiro na salvação, mas o chamado de Deus ao homem. O apóstolo diz: “Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Romanos 10:13). O apóstolo, contudo, continua a perguntar: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerãonaquele de quem (literalmente) não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?” (Romanos 10:14). Se o pecador eleito há de ser salvo, ele deve invocar a Deus. Ele faz isso, contudo, somente pela fé em Jesus Cristo. Ele deve crer primeiro. Sem fé é impossível invocar a Deus. Mas essa fé em Cristo vem somente através do ouvir o chamado de Cristo. O eleito, o pecador regenerado, deve ouvir a voz de Cristo lhe chamando das trevas para a sua maravilhosa luz. Cristo, como o Bom Pastor das suas ovelhas, chama o seu povo para si mesmo. Ele diz que “ele chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora” (João 10:3). O próprio Cristo fala ao seu povo e faz com que o arrependimento e a fé aconteçam a partir de seus corações regenerados.
Esse chamado de Deus em Cristo ao seu povo eleito é um chamado poderoso, eficaz, que não pode ser resistido. É um chamado interno que é direcionado ao coração regenerado e que sempre produz fruto. Deus diz: “Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” (Isaías 55:11). Quando Cristo chama as ovelhas elas ouvem sua voz, e como resultado da poderosa obra desta Divina Palavra, em fé eles seguem o seu Pastor. Jesus diz: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” (João 10:27).
O chamado irresistível de Deus, além do mais, vem através da pregação externa do evangelho. A questão conclusiva de Romanos 10:14 é: “como ouvirão, se não há quem pregue?” O pecador regenerado não ouve a voz de Cristo, exceto através da pregação do evangelho. A resposta de fé, arrependimento, obediência e amor do pecador regenerado é sempre uma resposta ao chamado do evangelho. Dessa forma, o apóstolo pôde exclamar: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade; para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso SENHOR Jesus Cristo” (II Tessalonicenses 2:13-14).
Isso, contudo, não significa que esxe chamado é de alguma forma uma obra do homem. O pregador traz a Palavra de Deus, a qual assim toca o coração regenerado de forma que acontece a produção de arrependimento e fé e, mesmo assim, essa não é uma obra do pregador nem do pecador regenerado. É totalmente uma obra de Deus. É o chamado soberano de Deus. Porque Deus é o Deus “que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (II Timóteo 1:9). O homem não invoca primeiro a Deus, mas Deus chama o homem. Não por causa de alguma coisa que o homem seja ou faça, mas em perfeita harmonia com seu propósito predestinador e abundante graça. Ele, através da pregação, soberanamente chama o seu povo eleito: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Então, por sua graça, ouvem naquelas palavras a voz de seu Salvador e vindo para ele, eles seguem a Cristo. Porque “fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” (I Coríntios 1:9). O Deus que promete salvar o seu povo faz com que os seus corações produzam fé, que lhes une a Cristo para o gozo de sua comunhão para sempre.
Fé Salvadora
Quando Deus soberanamente regenera o pecador eleito e salvificamente o chama por sua Palavra e Espírito, ests pecador sempre chega a uma fé verdadeira e salvadora. Visto que na regeneração Deus lhe dá vida espiritual e pelo chamado salvífico Deus o chama irresistivelmente à fé, ele deve crer. É impossível para ele não crer. Um coração regenerado que ouve o chamado de Cristo sempre crê em Cristo. Assim, a fé é uma parte essencial da salvação. Ninguém pode ser salvo sem fé. Lemos: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece ” (João 3:36). Se você crê, tem a vida eterna. Se você não crê, não tem nada da vida eterna. Jesus pregava dessa forma: “… Arrependei-vos, e crede no evangelho” (Marcos 1:15). Da mesma forma, Paulo e Silas pregaram: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (Atos 16:31). Não há salvação sem fé salvadora.
Porque as Escrituras deixam claro que é o dever de todos os homens crer em Cristo, muitas pessoas assumem que a fé é a parte do homem na salvação. Muitos evangelistas modernos proclamam que a fé é uma condição de salvação que o homem deve cumprir antes que Deus o salve. Eles nos dizem que Deus deseja nos salvar, mas ele não pode até que primeiro creiamos. Deus tem feito tudo o que é necessário para nossa salvação. Ele está pronto para nos regenerar, pronto para nos dar sua graça, pronto para perdoar nossos pecados; mas tudo isso é dependente de nossa fé. Ó sim, Deus fez tudo na salvação. Somos salvos por sua graça somente. Mas uma coisa é deixada ao homem. Nós devemos primeiro crer. Deus não pode e não fará isso por nós. Toda a graça salvadora de Deus depende do ato de fé do homem.
Tudo isso, contudo, é contrário ao ensino da Sagrada Escritura. A fé é uma obra soberana de Deus da mesma forma como o é todo o resto da salvação. Isso pode ser visto a partir do fato que o não regenerado não pode de forma alguma crer em Cristo. Como pode um homem que está “morto em delitos e pecados” (Efésios 2:1) ter fé em Cristo? O espiritualmente morto não tem vida espiritual, nem poder espiritual para crer. Jesus diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer …” (João 6:44). Ninguém, de si mesmo, tem a capacidade de vir a Cristo em fé. Isso é absolutamente impossível. Somente quando Deus nos traz soberanamente por sua irresistível graça, temos verdadeira fé e buscamos a Cristo.
Dessa forma, a fé não é uma obra do homem, mas uma obra de Deus. As Escrituras nos ensinam que o povo de Deus “crêem, segundo a operação da força do seu (de Deus) poder” (Efésios 1:19). A fé, então, não é um dom do homem a Deus, mas um dom de Deus ao homem. O homem naturalmente não tem fé. Se Deus não lhe dá, ele não tem nenhuma. O apóstolo Paulo declara: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9). A fé não é de nós mesmos. Não é uma obra do coração e vontade não regenerados. A fé é o dom de Deus que ele concede ao seu povo escolhido como resultado de sua graça. Isso é confirmado pelas palavras do apóstolo aos crentes filipenses. Ele diz: “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele” (Filipenses 1:29).
A fé está tão longe das mãos do homem que as Escrituras atribuem-na a ninguém mais do que ao próprio Jesus Cristo. Lemos em Hebreus 12:12: “Olhando para Jesus, autor e consumador da nossa fé …” O homem não é o autor de sua própria fé. Jesus Cristo o é. Ele é a fonte de toda fé porque somente ele mereceu fé para todo o seu povo por sua morte sobre a cruz. Assim, ele é o único que inicia a fé operando-a nos corações do seu povo. Ele é o único que faz com que esta fé cresça e se desenvolva até que ele a traga à sua consumação, sua perfeição na glória. Não é de estranhar que possa ser dito de Cristo: “E o Senhor adicionava à igreja aqueles que se haviam de salvar” (Atos 2:47). É Cristo que reúne seus eleitos para fora do mundo operando fé em seus corações e, assim, adicionando-lhes à sua Igreja.
Que fé é uma obra soberana de Deus é demonstrado, acima de qualquer dúvida, pelo fato de que a Divina eleição é a fonte primária e fundamental da fé. À parte da eleição ninguém pode crer. Embora os ímpios recusem crer por causa de seus próprios corações maus, a soberana causa da incredulidade é a reprovação. Jesus nos ensina isso quando diz: “Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas …” (João 10:26). Essas pessoas a quem Jesus falou não creram porque não eram das ovelhas de Cristo—seu povo escolhido. Por outro lado, quando uma pessoa crê, isso é somente porque ele é um dos do povo escolhido de Deus. Lemos em Atos 13:48: “… e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.” Visto que a fé é um dom de Deus, obviamente ele a dá somente àqueles a quem escolheu para salvação. Aos eleitos é dada a fé de forma que são de fato salvos como Deus planejou. Assim, todos os que crêem no Senhor Jesus Cristo devem reconhecer que eles “creram pela graça” (Atos 18:27) somente—a graça soberana de Deus.
Conversão
Quando Deus soberanamente opera fé no coração do pecador regenerado, o resultado é que o pecador é convertido. A fé salvadora é de uma natureza tal que a conversa é sempre seu fruto. A conversão é a fé em operação. É impossível ter fé sem também se voltar dos pecados para Deus. Conversão é um voltar-se ético e espiritual. Dessa forma, isso pôde ser dito dos crentes tessalonicenses que foram convertidos da idolatria: “… como se voltaram dos ídolos para Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro” (I Tessalonicenses 1:9). Conversão é um voltar-se de Satanás para Deus. É um voltar-se do reino das trevas para a luz do reino de Jesus Cristo. É um voltar-se da impiedade e do pecado para uma vida de justiça. Na conversão o crente se arrepende de seus pecados. Ele muda sua mente concernente aos seus pecados e, portanto, sua vida também. Ele vê que é um pecador, é cheio de tristeza piedosa por causa de seus pecados, para que finalmente abandone os seus pecados. Embora o crente nesta vida seja sempre um pecador, ele está diariamente se voltando dos seus pecados para Deus.
A conversão, assim como a fé, é uma parte essencial da salvação. Jesus disse: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 18:3). Assim, tanto no Antigo como no Novo Testamento o mandamento para se converter é apresentado como uma parte essencial da pregação do evangelho. Deus, através do profeta Ezequiel, demanda: “Tornai-vos, e convertei-vos de todas as vossas transgressões, e a iniquidade não vos servirá de tropeço” (Ezequiel 18:30). O apóstolo Pedro pregou no Dia de Pentecoste: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do SENHOR” (Atos 3:19). Ninguém entra no reino de Deus sem observar o mandamento de se arrepender e converter.
Mas esse mandamento não significa que o homem, de si mesmo, tem a capacidade de se converter. A conversão não é uma obra do homem. Assim como é impossível para o homem, à parte da graça, crer, assim é impossível para ele se arrepender e se voltar dos seus pecados. A conversão é a obra da graça de Deus somente. Essa é a experiência de todo verdadeiro filho de Deus. Assim, ouvimos o povo de Deus clamar a Deus: “Converte-me, e converter-me-ei, porque tu és o SENHOR meu Deus” (Jeremias 31:18). Se o Senhor Deus não fizer com que um homem se volte dos seus pecados, não há conversão. Se, contudo, Deus o volta, ele deveras se voltará. O salmista coloca isso dessa forma: “Faze-nos voltar, SENHOR Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos” (Salmos 80:19). Nós somos salvos somente quando Deus volta sua face resplandecente de amor e graça sobre nós, e por este amor e graça realmente nos volta de nossos pecados para si mesmo.
Que a conversão é uma obra soberana de Deus é demonstrado ainda mais pelo fato que, se Deus retém a sua graça e endurece uma pessoa, não pode haver nenhuma conversão. O apóstolo João citando o profeta Isaías diz de Deus: “Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure” (João 12:40). Deus, em sua santidade e justiça, cega os olhos e endurece os corações dos réprobos, para que eles não queiram e não possam ser convertidos. Lemos de Deus: “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (Romanos 9:18). A conversão no final das contas depende da escolha soberana de Deus. Ele tanto endurece como mostra misericórdia.
A mesma coisa é verdade do arrependimento. Ninguém pode de forma alguma se arrepender de seus pecados sem a obra poderosa da graça. Quando os judeus ouviram que Deus havia salvado os gentios também, eles disseram: “E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida” (Atos 11:18). Como a fé, “o arrependimento para a vida” é algo que Deus deve conceder ao homem, se ele há de tê-lo. Ele não pode se arrepender por sua própria força. Paulo exortou a Timóteo: “E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (II Timóteo 2:24-25). O arrependimento é tanto uma obra de Deus, que o apóstolo Pedro pôde pregar: “Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados ” (Atos 5:31). Israel (os eleitos de Deus) se arrepende e é perdoado somente porque Deus dá arrependimento através do Salvador exaltado. As Escrituras são claras. Ninguém é convertido dos seus pecados a Deus, senão pela graça soberana.
Justificação
A justificação pela fé é uma das maiores bênçãos da salvação que o crente desfruta. Ser justificado significa que alguém é declarado ser justo diante do tribunal de Deus. Embora ele seja um pecador que diariamente quebra a santa lei de Deus, seu estado legal é um de perfeita justiça. Na justificação um homem é contado como sendo livre de toda culpa e condenação. De fato, Deus o considera sendo tão justo como se nunca tivesse pecado e como se tivesse sempre guardado os seus mandamentos perfeitamente.
Deve ser evidente que esta bênção da salvação não tem absolutamente nada a ver com a vontade e as obras do homem. As Escrituras nos ensinam que é Deus quem justifica, e que ele assim o faz pela sua graça soberana. O profeta Isaías escreve: “De mim se dirá: Deveras no SENHOR há justiça e força … no SENHOR será justificada, e se gloriará toda a descendência de Israel” (Isaías 45:24-25). Toda a nossa justiça está “no SENHOR”. Não justificamos a nós mesmos. Isso é o que o apóstolo Paulo ensinou aos cristãos da Galácia, quando disse: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gálatas 2:16). Justificação é uma obra totalmente do Deus Todo-poderoso. Se Deus não nos justificar, então, nada que pensemos, digamos ou façamos poderá nos fazer justos diante da perfeição de sua justiça.
A própria natureza da justificação, por si mesma, nos ensina que é absolutamente impossível que esta bênção seja uma obra do homem. Isso porque justificação significa o meio que o pecador é declarado ser justo. Quando Deus nos justifica, ele justifica um povo que são, em si mesmos, um povo injusto. O apóstolo Paulo nos diz que Deus “justifica o ímpio” (Romanos 4:5). Quando Deus justifica o pecador, ele perdoa o seu pecado – pecado que lhe faz digno de condenação. O homem é injusto, não justo; mas Deus não leva em conta seu pecado contra ele. Essa é a maravilha da justificação. Davi coloca isto dessa forma: “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano” (Salmos 32:1-2). Na justificação Deus pode dizer ao seu povo: “Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” (Isaías 1:18).
Além do mais, não é o caso que Deus simplesmente faz vistas grossas para o pecado. Ó não! A causa divina da justificação não é em nenhum outro lugar vista tão claramente como no fato de que Deus enviou o seu próprio Filho para justificar o seu povo através de sua morte sobre a cruz. Alguém deve pagar pelos pecados dos eleitos. Este Alguém é o próprio Deus através de Jesus Cristo, nosso Senhor. O fundamento e a base da justificação é o sangue de Cristo. Os pecados do povo de Deus são apagados no sangue do Cordeiro. Portanto, Deus pode dizer concernente a Cristo: “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Isaías 53:11). Realmente o homem é “justificado pelo seu sangue” (Romanos 5:9). Embora o crente mereça ser condenado para sempre, Cristo sofreu esta condenação para que ele [o crente] possa ser livre de toda condenação. Ele tomou os pecados de seu povo e lhes deu, no lugar deles, sua própria justiça. No momento em que Cristo morreu sobre a cruz, seu povo foi objetivamente justificado.
Porque a única base da justificação é a morte de Cristo, não podemos nem mesmo atribuí-la à fé. Realmente somos justificados pela fé. “Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Romanos 4:3). Mas isso não significa que nossa fé seja nossa justiça. Isso não pode ser, pois nossa fé é fraca e imperfeita. Nossa justiça é Jesus Cristo. O apóstolo diz: “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça …” (I Coríntios 1:30). Fé é o meio pré-ordenado e dado por Deus de justificação, mas não é a sua base. Pela fé somos unidos a Cristo e feitos participantes de sua morte e ressurreição, sua justiça e vida. Pela fé subjetivamente experimentamos a benção da justificação. Mas esta fé não pode ser o fundamento da justificação. Tão longe está a justificação removida de nossas vontades e obras que ela já foi consumada no conselho eterno de Deus. Assim como Cristo foi “morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8), assim também o povo escolhido de Deus foi eternamente justificado no decreto e na vontade de Deus. Ele sempre contemplou os eleitos em Cristo como justos. Assim, Balaão foi compelido a declarar: “Ele (Deus) não viu iniquidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó …” (Números 23:21). Embora o povo de Deus sejam grandes pecadores, ele sempre os viu como aqueles lavados no sangue. Não é de estranhar, portanto, que o apóstolo possa perguntar: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos …” (Romanos 8:33-34). A justificação do povo de Deus é certa porque ela é a obra soberana de Deus somente. Ele imputa ao seu povo a justiça de Jesus Cristo o Senhor. Nada pode ser adicionado a essa justiça.
Santificação
Assim como Deus soberanamente justifica o seu povo através do sangue de Cristo, assim também é Deus quem soberanamente os santifica pela poderosa obra do Espírito de Cristo. Enquanto a justificação tem a ver com nosso estado legal diante de Deus, a santificação tem a ver com nossa condição atual. Somos libertos da culpa do pecado pela justificação, mas ainda somos pecadores. O pecado ainda habita dentro dos filhos de Deus, de forma que o melhor de suas boas obras é manchado por ele. Na santificação, contudo, o povo de Deus é livrado do poder e do domínio do pecado. O Espírito de Deus dá graça para que sejamos “despidos do velho homem” e “vestidos do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Colossenses 3:9-10). O apóstolo Paulo fala disso em II Coríntios 3:18. Ele diz: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” Embora o crente nunca será perfeito nesta vida, na santificação ele é mais e mais transformado à imagem de Cristo.
Não pode ser negado, portanto, que o pecador justificado deva realizar boas obras. Não é verdade que você pode viver como o diabo porque já foi justificado. Embora na justificação o crente seja liberto da culpa de todo pecado, sua justificação não é um fundamento para uma vida ímpia. Essa é a mentira do diabo. Nós que cremos na soberania da graça de Deus, cremos que Deus opera de tal forma nos corações do seu povo que Ele faz com que eles mais e mais fujam do pecado e procurem o que é bom e reto. As boas obras são uma parte essencial da vida cristã. O apóstolo Pedro nos exorta: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (I Pedro 1:15-16). Jesus nos diz que manifestamos o fato de que somos seguidores dele pela produção de muito fruto. Ele diz: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (João 15:8). Aqueles que são os objetos da graça de Deus, glorificam a Deus mostrando ao mundo as boas obras que a graça produz neles. “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:16).
De fato, se um homem diz que é um crente e, todavia, vive uma vida ímpia de contínuo pecado e promiscuidade, ele mostra que ele não é um objeto da graça de Deus. A fé que é dada pela graça de Deus é uma fé que busca a Deus e a justiça do reino de Deus. Tiago nos ensina isso quando diz: “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? … Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tiago 2:14, 17). A verdadeira fé sempre se manifesta nas boas obras. Deveras, o crente está longe de ser perfeito. Todavia, sua santificação implica que ele busca o que é bom e agradável a Deus.
Mas, são estas boas obras o produto da própria força dos crentes? Elas contribuem com algo para a salvação? Podem ser consideradas como a parte do homem na salvação? Não, nunca! Isso é impossível, porque todas boas obras que qualquer crente realize são somente o produto da graça de Deus. À parte da obra de santificação de Deus, o seu povo não pode fazer nada. Lemos em Filipenses 2:13: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querercomo o efetuar, segundo a sua boa vontade.” O crente faz o que é agradável a Deus somente porque Deus soberanamente opera essa boa obra nele. Ele faz com que o crente deseje o que é reto e faz com que ele faça isso também. De fato, todas as boas obras que o seu povo realiza foram determinadas por Deus desde antes da fundação do mundo. “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus ordenou antes para que andássemos nelas” (Efésios 2:10). A vida de santificação do cristão está tanto nas mãos de Deus que os crentes fazem todas as boas obras que Deus ordenou para cada um fazer.
Assim a santificação, como a justificação, é totalmente uma obra de Deus. Assim com Cristo é dito ser nossa justificação, assim também ele é dito ser nossa santificação. “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação …” (I Coríntios 1:30). Santificação é o resultado da obra soberana do Espírito de Cristo baseada sobre o sangue de Cristo. É somente no poder do sangue de Cristo que o crente pode vencer o pecado e fazer o que é bom. O Espírito Santo nos ensina isso em Hebreus 10:10: “Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, de uma vez por todas.” Realmente, Cristo Jesus nosso Senhor, que morreu pelo seu povo, é tudo da salvação. Do princípio ao fim a salvação é baseada sobre o seu precioso sangue.
Preservação e Perseverança
Visto que Deus soberanamente elege o pecador para vida eterna, o regenera pelo Espírito de Cristo, o chama e lhe dá fé e arrependimento pela sua irresistível graça, o justifica e até o santifica pela força do seu poder, deve ser também verdade que o pecador convertido é feito perseverar na fé pela graça preservadora de Deus. O crente verdadeiro que é salvo pela graça soberana de Deus não pode perder essa salvação. Deus, pelo seu poder soberano, guarda o crente para que não ele não possa cair total e absolutamente do estado de graça. O apóstolo Pedro diz que aqueles que são “eleitos segundo a presciência de Deus Pai” e “gerados de novo para uma viva esperança” são “guardados pelo poder de Deus mediante a fé para a salvação, já prestes a se revelar no último tempo” (I Pedro 1:2-5). Deus, pela força de seu poder, preserva o verdadeiro filho de Deus para que ele receba esta salvação final e completa que será revelada na segunda vinda de Cristo.
Não poderia ser de outra forma, visto que a obra da salvação é uma obra de Deus. A obra de Deus não falha. A obra do homem é finita e frequentemente termina em nada. Mas a obra de Deus é uma obra todo-poderosa e soberana. Quando ele estabelece seu pacto com o seu povo, promete salvá-los no sangue de Cristo e, então, lhes salva pela sua graça, essa grande obra é certa e segura. É uma obra eterna. Assim Deus diz através do profeta Isaías: “Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não mudará, diz o SENHOR que se compadece de ti” (Isaías 54:10). Deveras, os montes podem se retirar; mas a benignidade, a misericórdia e o amor de Deus, que salva o seu povo, permanecerão sobre eles para sempre. Deus não muda. Quando salva alguém, ele salva de fato—salva para sempre. Quando o Deus da vida dá vida, essa vida é uma vida eterna que nunca morre. Dessa forma, Jesus pôde dizer: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5:24). A vida eterna não é algo que possa ser perdido. Se fosse, não seria vida eterna.
A salvação eterna do povo eleito de Deus é tão certa que nada pode jamais tirá-la deles. Embora os ímpios procurem conseguir com que eles corram com eles em toda a sua lascividade e pecado, embora o próprio diabo os tente para abandonar a Deus e a Verdade de sua Palavra, ninguém é capaz de tirá-los da graça que Deus lhes deu. Jesus diz: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” (João 10:28-29). Os crentes estão seguros nas mãos de Cristo e nas mãos de seu Pai celestial. Ninguém pode arrebatá-los. Sim, nem mesmo os pecados dos crentes pode separá-los de Deus e de sua salvação. Todos os seus pecados foram apagados no sangue do Cordeiro. Cristo morreu por eles e Deus os justificou. Portanto, o povo de Deus pode dizer com o apóstolo Paulo: “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8:38-39).
Isso não significa, contudo, que alguém que professe ser um cristão possa viver da forma que ele quiser e ainda estar certo da salvação eterna. O apóstolo Pedro diz que “somos guardados pelo poder de Deus através da fé” (I Pedro 1:5). Quando Deus preserva o seu povo, ele o faz de uma forma que eles perseveram na fé. Embora o crente verdadeiro possa tropeçar em graves pecados, ele não cai definitivamente. Deus o traz de volta para que pela fé ande nos caminhos de Deus. Ele é preservado no caminho da fé—uma fé que resulta num viver piedoso. Qualquer um, portanto, que professa ser um cristão, mas contínua e abertamente anda nos caminhos do pecado, não é um verdadeiro filho de Deus. De tais pessoas o apóstolo João fala quando diz: “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (I João 2:19). Há muitos que professar serem cristãos, mas não o são. Eles caíram de sua profissão. O verdadeiro filho de Deus, contudo, persevera na fé. Não porque ele seja capaz de permanecer de pé por si mesmo, mas porque Deus o preserva pela sua graça. De fato, o povo de Deus tem boa razão para regozijar-se com Judas quando o mesmo diz: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória. Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém” (Judas 24-25).
Glorificação
A bênção final que o filho de Deus recebe é a bênção de eterna glória nos novos céus e nova terra. Ele está aguardando por aquele grande dia quando Jesus virá e o tomará para estar com ele para sempre. Porque, “quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” (Colossenses 3:4). Este é o porque os crentes são capazes de suportar pacientemente os sofrimentos e problemas desta vida. Eles sabem que estas aflições não durarão para sempre. Em breve elas serão substituídas por uma glória que é tão maravilhosa que está acima de nossa imaginação. Portanto, dizemos com o apóstolo: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Romanos 8:18). Todo pecado, todas doenças, todas enfermidades e fraquezas do povo de Deus serão retiradas, de forma que eles serão gloriosos tanto no corpo como na alma. Eles serão como Cristo. A glória do Deus Todo-poderoso resplandecerá neles e irradiará a partir deles.
Essa glória é a consumação, o produto final, daquela que começou antes da fundação do mundo na eleição de seu povo. Esse é o último elo na cadeia inquebrável da salvação. “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” (Romanos 8:30). Que este último passo na salvação não é uma obra da graça soberana de Deus é inconcebível. Mesmo aqueles que insistem que o homem deve ter uma parte em sua salvação, atribuem a glorificação a ninguém mais, senão a Deus. A própria natureza dessa maravilha da graça a tira completamente da esfera da obra do homem. Somos glorificados pelo poder soberano de Deus somente. Esse fato, contudo, é uma forte prova de que tudo da salvação é uma obra de Deus somente. Porque não podemos separar a glorificação de nenhum dos outros passos. Como a consumação da salvação, ela está inseparavelmente conectada com cada parte da salvação.
A glorificação é o próprio propósito e o objetivo da eterna eleição. Quando Deus escolheu o seu povo antes da fundação do mundo, ele os escolheu para glória. O apóstolo Paulo diz: “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Romanos 9:23). Já no eterno conselho de predestinação de Deus o seu povo foi preparado para glória. De fato, eles já foram glorificados no conselho de Deus. No extremo princípio, o fim já tinha sido determinado. Porque a glorificação é o propósito da eleição, ela é também o propósito da regeneração. O apóstolo Pedro escreve: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo … para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós” (I Pedro 1:3-4). O povo de Deus são regenerados para que possam ser glorificados. A regeneração é simplesmente outro passo que os traz para mais perto da glória final. Sem ela, a glorificação seria impossível. Até mesmo o chamado eficaz tem como o seu propósito a glória. Lemos dessa forma em II Tessalonicenses 2:14: “Para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso SENHOR Jesus Cristo.” O Espírito de Cristo chama os eleitos à fé e ao arrependimento para que eles possam obter a glória de Cristo.
De fato, todas as coisas que Deus traz para as vidas dos crentes são apenas os meios que ele usa para trazê-los à glória final. O salmista diz: “Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás na glória” (Salmos 73:24). Deus conduz o seu povo através de toda as sua vida em harmonia com o que ele propôs para eles. Esse propósito é a glória. Durante toda as suas vidas, Deus os conduz para a glória eterna. Tudo o que acontece a eles, tudo o que chega a eles, seja isso “bom” ou “mal,” é enviado pelo Senhor para conduzi-los à glória. Certamente, então, a glorificação é uma obra da graça soberana de Deus, como também tudo da salvação, do princípio ao fim. Isso porque toda a salvação é uma única e grande obra. A salvação é um dom de Deus. É completa e perfeita. Ninguém pode adicionar ou tirar algo dela.
Realmente o homem não tem nada do que se gloriar. Sim, o crente é glorificado, mas sempre essa glória é no final das contas não sua glória, mas de Deus. Ele enche o crente com sua glória. O propósito da glorificação do povo de Deus é a glorificação do próprio Deus. Deus manifesta a glória do seu grande nome na salvação que ele dá ao seu povo por sua maravilhosa graça somente. Assim, o apóstolo Paulo diz: “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória de sua graça …” (Efésios 1:5-6). A salvação, a glória, do povo de Deus é sempre “para o louvor de sua glória”—a glória de sua graça soberana.
Dessa forma, as Escritura deixam muito claro que a “SALVAÇÃO É DO SENHOR” (Jonas 2:9). Do princípio ao fim, a salvação não é um resultado da obra ou vontade do homem, mas da soberana graça de Deus. Ele é Deus mesmo na salvação. Em seu eterno decreto de predestinação, ele planejou a salvação. Ele realmente obteve salvação enviando o seu Filho para morrer por seu povo sobre a cruz. Ele aplica essa salvação ao coração e vida de seu povo pela poderosa operação de sua graça. Aquele que crê na Bíblia pode somente concluir com o apóstolo Paulo: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Romanos 9:16). A salvação é de Deus. Louvemos, portanto, a maravilhosa majestade do Altíssimo Deus com o apóstolo Paulo:v”Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Romanos 11:33-36).
Referências Nas Escrituras
O Deus Soberano
1 Crônicas 29:11; Daniel 4:34-35; Salmos 22:28; Deuteronômio 4:39; Isaías 40:17; Isaías 45:9; Isaías 57:15; Atos 17:25, 28
A Vontade Soberana de Deus
Isaías 46:9-10; Efésios 1:11; Efésios 3:11; Salmos 33:11; Isaías 14:24, 27; Provérbios 19:21; Isaías 46:11
Predestinação Soberana
Romanos 9:21-23; II Tessalonicenses 2:13; Salmos 33:12; Efésios 1:3-4; João 15:16; Judas 4; 1 Pedo 2:7-8; Romanos 9:16; II Timóteo 1:9
Presciência
Romanos 9:11; Romanos 8:29-30; Amós 3:2; João 10:14-15; Deuteronômio 7:7-8
O Amor Soberano de Deus
Jeremias 31:3; Efésios 2:4-5; 1 João 3:1; Oséias 11:1; Salmos 11:5; Salmos 5:5; Salmos 7:11; João 3:36; Malaquias 1:1-3; Romanos 9:13; II Tessalonicenses 2:16
O Amor de Deus e a Cruz
1 João 4:9; Atos 20:28; Atos 4:27-28; Atos 2:23; Apocalipse 13:8; Lucas 19:10; Hebreus 9:12; 1 Coríntios 1:24-25
Redenção Particular
João 10:14-15, 26; Atos 20:28; Efésios 5:25; Romanos 8:32-34; Romanos 8:35-39; João 10:28; Isaías 53:10-11
Regeneração
Efésios 2:4-6; Ezequiel 36:26; João 1:13; Tito 3:5; João 3:3 ; I Pedro 1:3; I Pedro 1:23
A Depravaçãodo Homem
Jeremias 13:23; Romanos 3:10-12; João 8:44; João 3:19-20; Colossenses 2:13; Salmos 51:5; Romanos 5:12; Ezequiel 37:4-6
O Chamado Salvífico
Romanos 8:30; I Pedro 2:9; Romanos 10:13-14; João 10:3; Isaías 55:11; João 10:27; 2 Tessalonicenses 2:13-14; II Timóteo 1:9; Mateus 11:28; 1 Coríntios 1:9
Fé Salvadora
João 3:36; Marcos 1:15; Atos 16:31; Efésios 2:1; João 6:44; Efésios 1:19; Efésios 2:8-9; Phil. 1:29; Hebreus 12:2; Atos 2:47; João 10:26; Atos 13:48; Atos 18:27
Conversão
1 Tessalonicenses 1:9; Mateus 18:3; Ezequiel 18:30; Atos 3:19; Jeremias 31:18; Salmos 80:19; João 12:40; Romanos 9:18; Atos 11:18; 2 Timóteo 2:24-25; Atos 5:31
Justificação
Isaías 45:24-25; Gálatas. 2:16; Romanos 4:5; Salmos 32:1-2; Isaías 1:18; Isaías 53:11; Romanos 5:9; Romanos 4:3; 1 Coríntios 1:30; Apocalipse 13:8; Números 23:21; Romanos 8:33-34
Santificação
Colossenses 3:9-10; II Coríntios 3:18; 1 Pedro 1:15-16; João 15:8; Mateus 5:16; Tiago 2:14,17; Filipenses 2:13; Efésios 2:10; I Coríntios 1:30; Hebreus 10:10
Preservaçao e Preservação
1 Pedro 1:2-5; Isaías 54:10; João 5:24; João 10:28-29; Romanos 8:38-39; 1 João 2:19; Judas 24-25
Glorificação
Colossenses 3:4; Romanos 8:18; Romanos 8:30; Romanos 9:23; 1 Pedro 1:3-4; II Tessalonicenses 2:14; Salmos 73:24; Efésios 1:5-6; 1 Coríntios 1:31; Salmos 103:1-4; Salmos 57:5; Jonas 2:9; Romanos 9:16; Romanos 11:33-36.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / [email protected]
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