Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Temos defendido a verdade que Deus tem apenas uma vontade concernente à salvação e condenação.2 Ele não pode desejar (no evangelho) e não desejar (na predestinação) a salvação dos homens.
Existe, contudo, uma distinção legítima a ser feita ao falar da vontade de Deus. A Escritura usa a palavra vontade para se referir não somente aos decretos de Deus, mas também aos seus mandamentos. Seus mandamentos, também, são sua vontade para as nossas vidas, embora num sentido diferente.
Em seus decretos Deus deseja certas coisas para as nossas vidas no sentido que ele soberanamente as determina. Em sua lei ele também deseja certas coisas para nós, mas no sentido que as ordena [manda]. Efésios 1:5 fala de sua vontade de decreto, Mateus 7:21 de sua vontade de mandamento.3 Seus decretos revelam o que ele tencionou fazer, enquanto seus mandamentos revelam o que o homem deve fazer. Sua vontade de decreto inclui tudo o que Deus pré-ordenou e que sempre acontecerá. Sua vontade de mandamento revela tudo o que o homem deve fazer e ser.
Essa distinção é algumas vezes usada em defesa da idéia que Deus tem duas vontades contraditórias: que ele ordena (deseja) que todos ouçam o evangelho e creiam em Jesus Cristo, enquanto decretou (desejou) que alguns não crerão. Isso, cremos, é brincar com as palavras, visto que mandamento e decreto são duas coisas diferentes, embora a palavra vontade seja usada para se referir a ambas. No caso do decreto, a palavra vontade refere-se ao que Deus determinou eternamente. No caso do seu mandamento, refere-se ao que é aceitável e agradável a ele. Essas duas não são a mesma coisa, todavia, não há conflito entre elas. Pode ser verdade que Deus ordena [manda] o que ele não decretou, mas mesmo então não existe conflito. Por quê? Porque o mandamento não é uma palavra vazia, mas algo que Deus usa para cumprir o seu decreto.
Para colocar de uma forma mais clara, quando Deus ordena que alguém creia, esse mandamento ou traz a pessoa irresistivelmente a Cristo em fé salvadora (João 6:44), ou a endurece na incredulidade (Rm. 9:18; II Co. 2:15-16), cumprindo assim o que Deus decretou. Nenhum conflito existe, de forma alguma.
Nem existe conflito na prática. Quando confrontado pelas demandas do evangelho, precisamos apenas saber que a fé é o que Deus requer de nós. Devemos crer ou perecer. O que ele decretou não é nossa preocupação, e não pode ser quando somos confrontados com suas justas demandas. Vivemos por seus mandamentos, não por seus decretos.
Quando buscando conforto e segurança, então nos importamos com o decreto de Deus. Então devemos ver que a fé e a obediência são frutos do decreto de eleição de Deus, vendo na fé, arrependimento e santidade a prova da nossa eleição.
Fonte (original): Doctrine According to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 79-80.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em junho/2007. 2A Vontade de Deus 3“E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Efésios 1:5). “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 7:21).
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