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Porque somente Salmos? O uso de cânticos não inspirados na adoração de Deus é autorizado? / Why Psalms Only?

 

Rev. Professor R. J. George, D.D., Alleghany, PA, E.U.A.*

A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração (Colossenses 3:16).

Quando há diferenças na forma de crer entre cristãos sobre qualquer assunto, sempre é útil perguntarmos até que ponto concordamos,e então averiguamos o ponto exato no qual as opiniões começam a divergir. Em relação aos cânticos a serem empregados no louvor a Deus, há vários pontos de concordância geral.

  1. Concorda-se que os Salmos foram dados por inspiração divina, e são a própria Palavra de Deus. “E estas são as últimas palavras de Davi: Diz Davi, filho de Jessé, e diz o homem que foi levantado em altura, o ungido do Deus de Jacó, e o suave em salmos de Israel. O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra está na minha boca” (2 Samuel 23:1-2). “Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus” (Atos 1:16). (ver também Atos 4:25; Heb. 3:7; etc.) Os homens devem ser cuidadosos ao falar contra o livro dos Salmos. O Espírito Santo é o autor deles. Este é o primeiro ponto de concordância.
  2. Concorda-se que os Salmos foram designados por Deus para serem usados na Sua adoração. “Então o rei Ezequias e os príncipes disseram aos levitas que louvassem ao Senhor com as palavras de Davi, e de Asafe, o vidente. E o louvaram com alegria e se inclinaram e adoraram” (2 Crônicas 29:30). “Apresentemo-nos ante a sua face com louvores, e celebremo-lo com salmos” (Salmos 95:2). Expositores da Bíblia e historiadores da igreja igualmente concordam que os Salmos inspirados eram exclusivamente usados na adoração do Antigo Testamento. Deus os designou para serem usados e ninguém exceto Deus pode mudar a designação. Este é o segundo ponto de concordância.
  3. Concorda-se que, até quanto se tem registro, nosso Senhor Jesus Cristo usou os Salmos exclusivamente no culto. Apenas uma ocasião refere-se ao Senhor Jesus cantando. Isto estava em conexão com a observância da Páscoa. É dito, “E havendo eles cantado um hino, foram-se para o Monte das Oliveiras” (Mat. 26-30; Mar. 14:26). Estudiosos da Bíblia não são enganados pelo uso da palavra “hino” em nossa tradução deste versículo. O original simplesmente declara que eles cantaram louvores a Deus. Na margem lê-se: “Quando eles cantaram um salmo”. É um fato bem conhecido que os judeus estavam acostumados a cantar na Páscoa o grande Hallel que consistia no Salmo 113 ao 118. Certamente nosso Senhor e seus apóstolos não se desviaram desse costume. De fato seria estranho se o Senhor Jesus, que sempre honrou o Espírito Santo, tivesse colocado de lado as sagradas canções que Ele mesmo havia escrito para seu próprio propósito. Mas ele não fez isso. Aqueles que seguiriam de perto os passos de Jesus deveriam cantar os Salmos. Jesus cantou. Este é o terceiro ponto de concordância.
  4. Concorda-se que temos autoridade expressa para o uso dos Salmos do Antigo Testamento na igreja do Novo Testamento. “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Colossenses 3:16).

Quaisquer que sejam as diferenças de visão que possam existir quanto a “hinos e cânticos espirituais”, os salmos mencionados aqui são os Salmos inspirados da Escritura. A passagem portanto contém uma expressão de preceito para o uso continuado do saltério na igreja do Novo Testamento. Isto não é negado por ninguém. Este é o quarto ponto de concordância.

Não é afirmado que não existem opiniões contrárias a um ou outro desses quatro pontos, sustentadas por indivíduos, mas que há uma concordância geral entre todas as classes de cristãos evangélicos sobre estes pontos.

Agora alcançamos o ponto exato da divergência. Enquanto todos concordam que os ”salmos” referidos na passagem de Colossenses 3:16 são os Salmos da Bíblia, há muitos que sustentam que “hinos e cânticos espirituais” são meras composições humanas; e o Novo Testamento é por isso autorizado e instruído a adicionar ao seu livro de louvores os escritos de homens não-inspirados. Este é o texto crucial sobre o assunto. Se este texto contém um preceito claro para o uso de hinos não-inspirados, outras passagens podem dar suporte; mas se aquele preceito não é encontrado aqui, não é encontrado em qualquer outro lugar. Agora é forçoso mostrar que não apenas essa passagem não autoriza o uso de canções não-inspiradas no culto, mas também exige o uso exclusivo dos Salmos da Bíblia.

Primeiro. Nenhum preceito pode ser encontrado para o uso de canções não-inspiradas, nas palavras, “hinos e cânticos espirituais”. À primeira vista, estas palavras parecem ser conclusivas em favor dos advogados do cântico de hinos, No texto grego é “psalmois, humnois, odais pneumatikais,” “salmos, hinos e cânticos espirituais”. Agora, esses três nomes gregos são encontrados nos títulos dos Salmos na tradução grega do Antigo Testamento, que era usada entre as pessoas a quem Paulo escreveu essa epístola. Eles ocorrem nos vários títulos aos Salmos. A palavra “psalmois“, cerca de sessenta e nove vezes, a palavra “humnois” seis vezes e outra palavra “aleluia”, que tem exatamente a mesma importância, cerca de vinte vezes, e a palavra “odais”, principalmente na forma singular, “Ode”, trinta e quatro vezes. Com o fato diante de nós que essas três palavras são realmente encontradas muitas vezes nos títulos dos Salmos inspirados -e quando todos concordamos que a palavra “salmois” se refere a canções inspiradas –é não mais que irracional insistir que “humnois” e “odais” significam músicas sem inspiração. Como se para remover toda possível dúvida a palavra ”espiritual” é usada para qualificar as (três) palavras. Thayer em seu léxico do Novo Testamento, referindo-se a essa passagem e a semelhante, Efésios 5:19 define a palavra “espiritual” como “divinamente inspirado e tão redolente do Espírito Santo”.

Albert Barnes, em seu comentário sobre I Coríntios 10:3, “E todos comeram da mesma comida espiritual e beberam da mesma bebida espiritual”, diz: “A palavra espiritual é evidentemente usada para denotar o que é dado pelo Espírito, por Deus; aquilo que foi resultado de Seu dom milagroso; aquilo que não foi produzido da maneira ordinária”. Novamente, “A palavra ‘espiritual’ deve ser usada no sentido de sobrenatural ou aquilo que é dado imediatamente por Deus”. Portanto, “cânticos espirituais” são canções produzidas de maneira sobrenatural, aquelas dadas imediatamente pelo Espírito de Deus. É como se lesse: “Ensinando e admoestando uns aos outros com salmos, hinos e cânticos dados pelo Espírito Santo”. Que canções são essas? O mavioso salmista de Israel responde: “O Espírito do Senhor falou por mim e as suas palavras estavam na minha língua”

Portanto, esses mesmos nomes, que têm sido contados como uma provisão de preceito para o uso de hinos não inspirados, achamos ser títulos bem conhecidos dos Salmos da Bíblia, e como qualificados pela palavra “espiritual”, eles não podem designar canções não inspiradas, mas fornecem um mandado para o uso exclusivo das canções do Espírito.

Segundo. Os Salmos são em um sentido eminente “a palavra de Cristo”. “Que a palavra de Cristo habite em vós abundantemente em toda a sabedoria”. Esta é a condição de ser capaz de “ensinar e admoestar”. Como os Salmos são”a palavra de Cristo?”

  1. Cristo, pelo Seu Espírito, é o autor deles. Isto foi completamente demonstrado acima.
  2. Cristo é o orador em muitos deles. Por exemplo, “Proclamarei o decreto: o Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Salmos 2:7). Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito” (Salmos 40:7). “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?” (Salmos 22:1). Salmos como esses são a Palavra de Deus no mesmo sentido que o sermão da Montanha é Sua Palavra. Ele e ninguém mais é o orador neles.
  3. Apenas Cristo é o sujeito de muitos deles. A objeção mais ignorante e sem sentido já feita é a acusação que os Salmos são “sem Cristo”. A verdade é que nenhum livro na Bíblia revela Cristo com tanta plenitude como é feito no livro dos Salmos, exceto o evangelho de João ou a epístola aos Hebreus.

O que podemos aprender deste livro maravilhoso?

  1. Sua divindade. Salmo 45:6a, “O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo”. Em Hebreus 1:8, isto é citado como a forma de tratamento do Pai ao Filho, “Mas ao Filho ele diz: Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre”. Salmo 110:1, “Disse o SENHOR ao meu Senhor, assenta-te à minha mão direita até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés”. Em Mateus 22-42-45, isto é citado por nosso Senhor para provar Sua divindade.
  2. Sua filiação eterna. No Salmo 2:7: “Proclamarei o decreto: o Senhor me disse: Tu é meu Filho, eu hoje te gerei”. Em Hebreus 1:5, isso é citado como tratamento do Pai ao Filho. Veja também Salmo 2:7 comparado com Atos 13:33.
  3. Sua encarnação. Salmo 8:5, “Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste”. Em Hebreus 2:7 isso é citado e no verso 9 é aplicado à encarnação. “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. Salmo 40:7, “Então disse: Eis aqui venho, no rolo do livro de mim está escrito. Em Hebreus 10:7, lemos “Então disse: Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de mim), para fazer, ó Deus, a tua vontade”. E em Hebreus 10:5, “Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste”. A encarnação e seu propósito sendo introduzidos pelas palavras: “Por isso, entrando no mundo, diz …”
  4. Seus ofícios mediatórios
    1. Seu ofício profético. Salmo 40:9-10, “Preguei a justiça na grande congregação; eis que não retive os meus lábios, SENHOR, tu o sabes. Não escondi a tua justiça dentro do meu coração; apregoei a tua fidelidade e a tua salvação. Não escondi da grande congregação a tua benignidade e a tua verdade”. Que descrição incomparável do ofício profético! Hebreus 10:5-7 mostra conclusivamente o orador como Cristo. Veja Salmo 22:3 comparado com Hebreus 2:12.
    2. Seu ofício de sacerdote. Salmo 110:4, “Jurou o SENHOR, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque”. Em Hebreus 7:17-21, isso é citado para provar a superioridade do sacerdócio de Cristo, quando diz: “De tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador”.
    3. Seu ofício de rei. Salmo 45:6, “O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade”. Em Hebreus 1:8 isto é citado como forma do Pai se dirigir ao Filho. Salmo 110:1, “Disse o SENHOR ao meu Senhor, senta à minha mão direita até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés”. Em Mateus 22:44-45, nosso Senhor atribui isso diretamente a Si mesmo, e em Hebreus 1:13 é citado para provar a exaltação de Jesus acima dos anjos. Veja também ao longo dos Salmos 2 e 72 e Salmo 22:28.
  5. Sua traição. Salmo 41:9, “Meu próprio amigo íntimo, sim, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar”. Em João 13:18 Jesus disse: Mas para que a Escritura se cumpra: o que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar”.
  6. Sua agonia no jardim. Salmo 22:2-3, “Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite; e não tenho sossego. Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel”. Compare também os versos 11 e 19 com estes: Mateus 26:36-44, Marcos 14:32-42, Lucas 22:41-44 e Hebreus 5:7.
  7. Seu julgamento. Salmo 35:11, “Falsas testemunhas se levantaram, depuseram contra mim coisas que eu não sabia”. Em Mateus 26:59-60, lemos, “Ora, os principais sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho, buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem dar-lhe a morte; e não o achavam; apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas, não o achavam. Mas, por fim chegaram a duas testemunhas falsas”.
  8. Sua rejeição. Salmo 22:6, “mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo”. Compare com isto Mateus 27:21-23 e Lucas 23:18-23. “Mas toda multidão clamou a uma, dizendo: Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás: o qual fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade, e de um homicídio. Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus. Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o”. Salmo 118:22, “A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina. Da parte do Senhor se fez isto; maravilhoso é aos nossos olhos”. Em Mateus 21-42, nosso Senhor cita estas palavras contra os judeus por sua rejeiçãoa ele. E o apóstolo Pedro em Atos 4:11 diz: “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posto por cabeça de esquina”.
  9. Sua crucificação: Salmos 22 e 69 descrevem as cenas da crucificação com uma minúcia de detalhes quase igual àquela dos quatro evangelhos. A zombaria, o balançar da cabeça e o rasgar das roupas, o lançar de sortes sobre as vestes, a sede, o vinagre e o fel, os pés e mãos perfurados, o clamor do abandonado, a entrega de Seu Espírito a Deus. O Salmo 22 abre com umclamor, “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste” e as palavras finais foram prestadas, “Está consumado”.
  10. Seu sepultamento e ressureição. Salmo 16:9-11, “Portanto meu coração está alegre e minha glória se regozija; minha carne também descansará segura. Porquanto não deixará minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção. Tu me mostrarás o caminho da vida, em tua presença há abundância de alegria, e à tua mão direita delícias para sempre”. Pedro, apóstolo, depois citando estas palavras, diz: “Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para assentá-lo sobre o seu trono, e antevendo isto, disse da ressureição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas” (Atos 2:29-32).
  11. Sua ascensão. Salmo 47:5, “Deus subiu com júbilo, o SENHOR, subiu ao som de trombeta”. Em Atos 1:11 é dito, “Este mesmo Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir”. E em I Tessalonicenses 4:16, o modo da sua segunda vinda é assim descrita: “Pois o Senhor mesmo descerá do céu com um alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus”. Estes são os próprios termos do Salmo. Salmo 68:18: “Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro, recebeste dons para os homens, e até para os rebeldes, para que o SENHOR Deus habitasse entre eles”. Em Efésios 4:8, 11, o apóstolo Paulo cita esses versos para provar a ascensão de nosso Senhor, e os dons de sua ascensão a Sua igreja: “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens … E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros pastores e doutores”. Veja também Salmo 24:7-10 comparado com Apocalipse 5:6-14.
  12. Sua segunda vinda. Salmo 53:3-6, “Virá o nosso Deus, e não se calará; um fogo se irá consumindo diante dele, e haverá grande tormenta ao redor dele. Chamará os céus lá do alto, e a terra, para julgar o seu povo. Ajuntai-me os meus santos, aqueles que fizeram comigo uma aliança com sacrifícios. E os céus anunciarão a sua justiça; pois Deus mesmo é o Juiz”.
    Em relação ao mesmo evento Cristo diz: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mateus 24:30-31).

Bem disse Jesus, “Está escrito nos Salmos acerca de mim”. “Os sofrimentos de Cristo e a glória que deverá se seguir” são aqui desdobrados, e estes Salmos e hinos e cânticos espirituais são repletos de Cristo. Se alguém quiser examinar e comparar estas passagens prontamente crerá que quando Paulo escreveu: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda sabedoria”, era como se Ele dissesse: “Memorize os Salmos”.

Terceiro. Cânticos não inspirados não podem ser colocados no mesmo nível com as canções de inspiração humana como regra para “ensinar e admoestar”. Todos concordam que os “Salmos” do texto são Salmos inspirados, a própria Palavra de Deus. “Ensinar” refere-se à doutrina, que temos de crer. “Admoestar” refere-se à prática, como devemos viver. Não é concebível que Paulo colocaria os escritos de homens não inspirados no mesmo nível com os Salmos da Bíblia como padrão de doutrina e prática. “As Escrituras do Antigo e Novo Testamentos são a Palavra de Deus, a única regra de fé e prática”.

Hinos não inspirados abundam em erros. Dr. Henry Cook de Belfast, diz: “Eu nunca encontrei uma compilação de hinos que eu pudesse pronunciar livre de sérios erros”. Em 1838 na Assembleia Geral Presbiteriana, designou-se um comitê para revisar o hinário deles. Em seu registro eles dizem, “Num exame crítico encontramos muitos hinos deficientes em mérito literário, alguns incorretos em doutrina, e muitos juntamente inadequados para o santuário”. Que acusação para apresentar contra o livro que sua própria igreja havia substituído pelo livro de louvores de Deus! Alguém supõe que Paulo se referiu a “hinos e cânticos espirituais” como estes, e os colocou no mesmo nível com os Salmos da Bíblia para ensino e admoestação?

Quarto. Apenas os salmos inspirados são adaptados a serem os veículos de graça ao coração e dos louvores ao Senhor! “Cantando com graças em vossos corações ao Senhor”. Aqui são duas coisas: o despertar de afeições graciosas no coração, e o levantar da alma a Deus.

Duas características dos Salmos marcam sua adaptação a esteduplo propósito, seu espírito devocional e sua natureza objetiva.

1. Os Salmos são devocionais. O saltério é o livro devocional da Bíblia no sentido preeminente. Todos os cristãos reconhecem isso na sua leitura devocional pessoal. Ele ocupa grande espaço do serviço de igrejas litúrgicas. Ambrósio diz: “Embora toda a Escritura divina exale a graça de Deus, ainda mais doce que todos os outros é o livro dos salmos”. Às vezes é objetado que os salmos não são adaptados para despertar afeições graciosas nos reavivamentos. Tal visão está completamente equivocada.

Pense por um momento dos conteúdos do livro: suas visões de Deus; do homem; da lei; do pecado; de Cristo; do arrependimento; do perdão; do relacionamento pactual; da nova vida; do juízo; do céu; do inferno. O que há de necessário para o reavivamento que ele não contenha? E que livro é mais plausível de ser honrado pelo Espírito Santo do que seu próprio livro? Como Dr. J. W. Bain disse: “Eles serão achados adequados para qualquer reavivamento que vier; aqueles reavivamentos que são “levantados” devem precisar de algo menos divino”.

O fato é que os maiores reavivamentos da religião que o mundo já viu foram conectados com o uso exclusivo dos Salmos. Eles eram usados exclusivamente nos grandes reavivamentos nos dias de Ezequias, Josias, Esdras e Neemias. O mesmo fato é verdadeiro no reavivamento do Pentecostes quando três mil pessoas foram convertidas em um dia. O período da Reforma também foi um período de grande reavivamento, e foi um reavivamento glorioso do cântico de Salmos.

Os reformadores calvinistas usaram exclusivamente os Salmos. Toda a França foi arrebatada com sua música nos dias dos Huguenotes. Eles, apenas, foram usados na Igreja da Escócia naquele dia na Kirk de Shoots quando sob Livingstone, quinhentos foram convertidos em um sermão. Nos tempos de Robert McCheyne, quando eles continuavam suas reuniões até perto da meia-noite, eles fizeram das vigílias da noite felizes cantando os cânticos de Sião.

O presidente Edwards presta este testemunho quanto ao seu uso no grande reavivamento de Northampton na Nova Inglaterra nos seus dias. “Umas das mais observáveis características da obra era o deleite singular que todos os despertados pareciam se apropriar no cântico de salmos. Nos campos, nas casas, nos bosques, sozinhos e juntos, eles pronunciavam afora os louvores do seu Rei, e mesmo criancinhas ou pessoas idosas que nunca haviam aprendido a cantar, vinham cantando louvores com solenidade e doçura”.

2. Os salmos são objetivos. A respeito disso as canções inspiradas estão em forte contraste com as composições humanas. Hinos são subjetivos. Homens escrevem sobre eles mesmos, seu estado, experiência e altas resoluções. Eles são introspectivos. Eles são autocentrados. Mas os Salmos são objetivos. Eles são centrados em Deus. A alma olha para fora e para cima. Eles levam a alma a adorar Deus na beleza da santidade e devotamente se prostrar do Seu trono como o ouvinte de oração. Isto é verdadeira devoção. “Adorar a Deus”. Parece que os Salmos são eminentemente adaptados a serem os veículos de graça ao coração, e louvor ao Senhor. “Cantando ao Senhor com graça nos vossos corações”.

Concluímos, portanto, que esta passagem que sempre tem sido contada pelos advogados dos cânticos de hinos como contendo um mandado para suas práticas não tem tal significado. Os títulos “Salmos, hinos e cânticos espirituais”, pertencem aos Salmos inspirados, e sendo qualificados pela palavra “espiritual” não se aplica a qualquer outro. Os salmos são “a palavra de Cristo”, canções não inspiradas não são Sua Palavra; os Salmos são um verdadeiro padrão de ensino e admoestação, as canções não inspiradas, não; Os Salmos são adaptados a serem veículos de graça ao coração e dos louvores ao Senhor, canções não inspiradas, não. A passagem não fornece nenhum preceito para canções não inspiradas na adoração, mas é uma explícita injunção apostólica que no serviço de louvor na igreja do Novo Testamento a salmodia divinamente autorizada deveria continuar.

Não podemos encerrar sem um apelo sincero ao coração cristão em nome de duas coisas:

  1. A restauração do próprio Saltério de Deus a um lugar no hinário de todas as igrejas. Um movimento nesta direção deve ter a cooperação calorosa de cada cristão. Sua rejeição tem ocorrido em desprezo da designação divina, e do exemplo de nosso Senhor e da autoridade apostólica contida nesta passagem. Ele deve ser restaurado ao seu lugar pela voz unida de toda a Cristandade e aclamação alegre de todos os cristãos. Seria como trazer de volta a arca de Deus.
  2. Quando o Saltério for restaurado ao seu lugar no hinário das igrejas ele deve ser usado exclusivamente na adoração de Deus. Um lugar deve ser encontrado para o uso de canções não inspiradas, mas não na adoração. Deus deve ser servido com o seu próprio hinário. “Pois seja maldito o enganador que, tendo macho em seu rebanho, promete e oferece ao Senhor o que tem mácula; porque eu sou grande Rei, diz o SENHOR dos Exércitos, o meu nome é temível entre os gentios” (Malaquias 1:14).

O Rev. W. D. Ralston, em “Conversas sobre Salmodia”, relatou a seguinte história; “Enquanto eu caminhava para casa, parei na casa de um tio e passei a noite lá. À noite, trouxe meu hinário e cantei com meus primos. Depois que eu deitei, meu tio o pegou, colocou os óculos e passou algum tempo olhando para dele. Ele acreditava firmemente no uso exclusivo dos Salmos, e meu livro era o hinário de outra denominação. Deu os hinos e a música com os nomes dos compositores de cada um, até onde se sabe. O tio leu um hino e nomeando o autor, disse: ‘Não sei nada dele’. Ele leu outro e disse: ‘Eu li sobre o autor deste. Ele era um padre católico romano’, ele leu outro e disse: ‘Eu sempre li esse autor. Ele era um homem bom e um fervoroso ministro cristão’. Ele então disse: ‘Agora, John, se eu fosse usar um desses hinos na adoração a Deus hoje à noite, qual você acha que é melhor eu escolher? Alguém sobre cujo autor eu não conheço nada, aquele do padre católico romano ou aquele do fervoroso ministro cristão.’ Eu respondi: ‘aquele do ministro’. ‘É verdade’, disse ele. ‘Devemos escolher aquele escrito pelo padrinho; e vejo examinando seu livro que ele contém muitos hinos escritos por homens bons; mas se eu encontrasse nele um composto pelo próprio Deus, não seria melhor cantar aquele do que um composto por qualquer homem bom?’Eu respondi: ‘Certamente’. Depois de um pouco de tempo, ele disse: ‘Agora examinei cuidadosamente seu livro, e não encontro um hino marcado como ‘composto por Deus’; mas tenho aqui um pequeno hinário e Deus, pelo Seu Espírito Santo, compôs todo hino nele; pois Pedro diz: ‘Os homens santos falaram ao serem tocados pelo Espírito Santo’. Enquanto falava, ele me entregou um de nossos livros de Salmos, e a maneira como ele apresentou seu argumento causou uma impressão em minha mente que eu nunca esqueci”.

Quão conclusivo é o argumento. Devemos servir a Deus com o melhor. O livro de Deus é o melhor. Quando Ingersoll (um agnóstico americano) disse que “poderia escrever um livro melhor que a Bíblia”, os cristãos ficaram chocados e o denunciaram como um “blasfemador infiel”. Como então podemos dizer que podemos escrever um livro de louvores melhor do que o Saltério de Deus? Se for verdade que os livros de hinos são melhores que o livro de Salmos, isso marca a maior conquista da raça humana; e então o homem transcendeu Deus em Seu próprio campo. Se não for verdade, logo a substituição do Saltério criado por Deus, pelos livros de hinos feitos pelo homem, na adoração a Deus, é um ato da mais ousada presunção.

Em uma reunião de ministros de várias denominações em uma cidade do leste houve a leitura sobre hinologia da igreja. A discussão geral seguiu a preleção. Um defensor do uso exclusivo dos Salmos inspirados empregou a ilustração a seguir com grande efeito. “Se eu tivesse uma mensagem importante para enviar a um morador nos distritos mais altos da cidade, poderia chamar um mensageiro e dizer-lhe: ‘Você pode levar esta mensagem para mim para uma pessoa que mora em uma parte da cidade?’ E o garoto responderia duvidosamente: ‘Acho que posso. É verdade que nunca estive naquela parte da cidade, nasci aqui perto. Ouvi falar da pessoa a quem você deseja enviar a mensagem, mas não a conheço; mas acho que posso encontrá-lo. Estou disposto a tentar. ‘Minha mensagem é muito importante e, embora esteja satisfeito com as boas intenções desse garoto, não tenho muita certeza de sua capacidade para satisfazer a confiança. Então, ligo para outro garoto e faço a mesma pergunta. No mesmo instante, o rosto dele brilha com inteligência quando ele responde: ‘Ah, sim, eu posso levar sua mensagem diretamente para a casa dele. Eu sei tudo sobre essa parte da cidade. Eu nasci lá. Eu vim de lá. Na verdade, seu amigo me enviou aqui para encontrá-lo e transmitir qualquer mensagem que deseje enviar a ele’. Não seria difícil decidir qual desses mensageiros devo empregar. Isto é uma alegoria. Se eu tivesse uma mensagem de louvor para enviar a Deus e empregasse um hino para carregá-lo, ficaria inseguro; pode alcançá-Lo e pode não alcançá-Lo. Mas se eu empregasse um salmo para carregá-la, sei que ele subiria ao céu. O salmo nasceu lá. Veio de Deus para mim; e, de fato, Deus o enviou a mim para carregar qualquer mensagem de louvor que eu desejasse enviar a ele.”

*Traduzido por John Rick Lima de Oliveira ([email protected])

Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.

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