Thomas Miersma
Tradução: Marcelo Herberts
“Jesus declarou: ‘Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo’” (João 3:3).
Por essas palavras Jesus ensina que nós não podemos nem mesmo ver o reino de Deus, não podemos crer a menos que tenhamos primeiro nascido de novo. Quanto a isso Ele acrescenta, “O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (João 3:6). Ser nascido de novo é estritamente uma obra da graça, pelo lavar dos nossos pecados e pela obra do Espírito Santo em nossos corações. Sem isso nós não podemos crer e ver, nem entrar no reino de Deus pela fé.
Por suas palavras Jesus nos ensina dois princípios vitais. Primeiro, que somos nascidos de novo pelo Espírito de Deus e, portanto, cremos, e não o inverso. Segundo, ser nascido de novo não é uma experiência, mas uma obra divina da graça na alma, fora da qual somos salvos mediante a fé. Portanto, fé não é minha decisão, mas o fruto da graça, de ser nascido de novo.
Essa mesma verdade é ensinada em João 1:12-13: “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.” Aqueles que creram em Seu nome foram salvos. Eles creram porque estavam recebendo Cristo pela graça de Deus e portanto receberam Ele e a dádiva da fé para crer e serem filhos de Deus. Se fôssemos perguntar de que forma eles O receberam, a resposta não seria que foi pela sua descendência natural, nem que eles O escolheram, mas que eles nasceram “de Deus.” Somente “de Deus.” O homem não colabora com a sua própria concepção e nascimento, seja física ou espiritualmente. Por essa graça de ser nascido de Deus nós somos conduzidos a ouvir a Palavra de Deus com entendimento espiritual e crer nessa Palavra. Salvação é, portanto, também comparada a uma ressurreição espiritual da morte, “Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que a ouvirem, viverão” (João 5:25).
Assim, Jesus diz aos incrédulos perversos, “Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus” (João 8:47). A menos que uma pessoa seja nascida “de Deus,” não pode ouvir e crer. Aquele que ouve é “de Deus,” isto é, é nascido da graça de Deus, que concede olhos para ver, ouvidos para escutar e um coração para crer. De fato, o som do evangelho alcança o ouvido natural de todos os que fisicamente escutam a pregação, e essas pessoas são responsáveis pelo que fazem com isso em sua incredulidade. Porque Deus fez o homem bom, inicialmente apto a discernir as coisas espirituais, mas o homem caiu no pecado, tornando-se espiritualmente surdo à Palavra de Deus. Salvação é pela graça somente, em que Deus concede a ouvidos espiritualmente surdos a capacidade de escutarem coisas espirituais.
O próprio Jesus faz menção a isso quando ensina através de parábolas. Ele diz, “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!” (Marcos 4:9). Quando os discípulos se debatem com isso e pela razão de Jesus ensinar através de parábolas, “Ele lhes disse: A vocês foi dado o mistério do Reino de Deus, mas aos que estão fora tudo é dito por parábolas, a fim de que, ‘ainda que vejam, não percebam; ainda que ouçam, não entendam; de outro modo, poderiam converter-se e ser perdoados!’” (Marcos 4:11-12; Isaías 6:10). Salvação pela fé é um dom da graça. Como claramente sugerem as palavras do Salvador, Deus não concede esse dom a todas as pessoas, nem é o propósito da pregação do evangelho salvar todos que o escutam. No caso de muitos, a Palavra do evangelho efetua julgamento. Fé é a obra da graça de Deus em nós. Você não pode escrever um manual sobre como ser nascido de novo.
É Jesus que salva, e isso soberanamente. É ele que nos vivifica (nos torna vivos), quando estamos espiritualmente mortos no pecado. Ele faz isso pelo poder da Sua graça, da Sua cruz e do Espírito Santo, que uma vez sendo nós nascidos de novo, creiamos e sejamos salvos. Então Ele diz, “Pois, da mesma forma que o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, o Filho também dá vida a quem ele quer” (João 5:21). Tão certamente como Jesus ressuscitará Seu povo da morte física e das sepulturas, Ele nos ressuscitará da morte espiritual. O homem pode decidir nascer? O morto pode decidir levantar dos mortos pelo seu próprio livre-arbítrio? Jesus realmente salva! É nesse contexto que Ele diz, “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (João 5:24). O ouvir e crer do homem devem ser admitidos como a causa da vida eterna? Absolutamente não. Note o que Jesus está realmente dizendo: ouvir e crer é a vida eterna. Aquele que tem um (fé) tem o outro (vida eterna), e o motivo é que ele “passou da morte para a vida.” Ele foi espiritualmente levantado da morte. Portanto ele ouve, crê e necessariamente “tem a vida eterna” como sua posse. Ele tem essa posse porque Jesus o vivificou, assim como Ele diz, “… o Filho também dá vida a quem ele quer” (João 5:21). Essa é a explicação do próprio Jesus, como é claro a partir do contexto. É a Sua vontade que nos salva e não a nossa própria.
Isso levanta uma questão importante. Você crê nesse Cristo, ou num cristo falso da imaginação humana, que pode somente salvar o morto se este deixá-lo? Você crê na capacidade onipotente desse Salvador que “dá vida a quem ele quer,” ou naquele que vivifica e torna o homem espiritualmente vivo quando este deseja? Nós podemos também colocar a questão de um modo mais direto. Você crê que Jesus é verdadeiramente “a ressurreição e a vida” (João 11:25) da alma, bem como do corpo? Esse é o testemunho do próprio Jesus. É o seu?
Fonte: What Jesus said about, Rev. Thomas Miersma, cap. 4.
Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui