Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Há muitos que preferem falar do evangelho como uma “oferta” e não como um chamado. É no mínimo interessante que a Escritura nunca use a palavra oferta para descrever o evangelho. Não temos nenhuma objeção à palavra oferta como tal. Em seu sentido antigo ela significa somente que no evangelho há um “anúncio de Cristo”. O Catecismo Maior de Westminster, por exemplo, define uma oferta de Cristo como “testificando que todo o que crer nele será salvo.”
Em seu sentido moderno, contudo, a palavra oferta sugere e é usada para ensinar que Deus ama todos os homens e deseja salvar todos eles, que ele faz um esforço para salvar todos eles no evangelho, e que, quer um pecador seja salvo ou não, depende da vontade do pecador. Esses ensinamentos são contrários à Escritura.
A Escritura não ensina que Deus ama todos os homens (Sl. 11:5; João 13:1; Rm. 9:13), nem ensina que Deus está tentando salvar todos eles (Is. 6:9-11; Rm. 9:18; 2Co. 2:14-16). Certamente ela não ensina que na salvação dos pecadores Deus pode ser frustrado por causa da indisposição deles, ou que ele espera, de mãos atadas, que eles aceitem sua salvação (Sl. 115:3; João 6:44; Rm. 9:16; Ef. 2:8,9). Por essas razões preferimos não falar do evangelho como uma “oferta.”
Um chamado é diferente de uma oferta. Ele nos lembra da soberania de Deus. Ele, como Rei, intima os pecadores a crer e obedecer ao evangelho. O termo até mesmo indica que ele de fato traz alguns à salvação por seu chamado soberano. Quando lembramos que é Deus quem chama, não é difícil entender isso. Ele é aquele que “chama à existência as coisas que não existem” (Rm. 4:17).
Esse chamado é ouvido na pregação do evangelho. Ele é feito eficaz pela operação interior do Espírito Santo, de forma que alguns não somente ouvem, mas também obedecem ao chamado. Pela obra do Espírito é Deus em Cristo quem chama, não o pregador. O pregador é somente um instrumento.
Essa é a razão dos ímpios serem condenados por desobediência quando recusam dar ouvidos ao chamado. Por sua incredulidade eles não rejeitam um mero homem, mas o próprio Deus vivo, que fala através do seu Filho unigênito. Isso é muito sério!
Essa é razão também pela qual o pregador não deve trazer nada senão as Escrituras. Aqueles que ouvem devem ouvir a Palavra de Deus, não as noções, filosofias, comentários políticos, etc., do pregador. O pregador deve ser cuidadoso para não obscurecer o chamado soberano de Deus ao adicionar alguns tipos desnecessários de táticas de imploração e “venda”, deixando a impressão de que Deus depende da vontade do pecador.
Deve ficar claro na pregação do evangelho que Deus soberanamente demanda fé e arrependimento dos pecadores – que ele, o Todo-poderoso, o Juiz do céu e da terra, requer obediência e punirá a desobediência. Por tal pregação os pecadores são salvos, e Deus é glorificado.
Fonte (original): Doctrine According to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 191-192.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em Setembro/2006.
2The Westminster Larger Catechism, Q&A 65.
Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.