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Sobre a Inclusão de Crianças

Thomas Miersma

Tradução: Marcelo Herberts

Jesus disse: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus” (Marcos 10:14).

Quem Jesus tinha em vista quando disse essas palavras? No contexto nós lemos sobre pais que traziam crianças a Cristo “para que ele tocasse nelas” (Marcos 10:13). Que se tratassem de crianças de pais crentes é indicado claramente pela vinda desses pais a Jesus e por trazerem os seus pequeninos na esperança de que Ele os abençoasse. Pelas palavras “dos tais” Jesus ensina que a tais tipos de crianças, filhos de pais crentes, “é o Reino de Deus.” Não se tratavam apenas de crianças pequenas, quem sabe crianças em idade escolar ou de 1 a 3 anos de idade, pois a palavra usada no evangelho de Lucas remete especificamente aos pequeninos (Lucas 18:16). Esses pequeninos, filhos de crentes, pertencem a Cristo e fazem parte da Sua igreja e reino.

Quando Jesus disse, “Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele” (Marcos 10:15), ele nos ensina que tanto adultos como crianças entram no reino de Deus da mesma forma, pela mesma obra da graça. Ele chama a nossa atenção não apenas para uma fé de simplicidade inocente, mas para a forma em si de alguém poder entrar no reino de Deus, o que é explicado por ele em João 3:3, “… se alguém não nascer de novo [ou ‘de cima’], não pode ver o reino de Deus”. Ser nascido de novo vale tanto para o adulto como para a menor das crianças. À parte do renascimento espiritual, ninguém pode ver e entrar no reino através da fé. Deus é capaz de operar essa graça do renascimento em adultos e também, enquanto obra inicial da graça, no coração da menor das crianças admitidas como de Sua propriedade. Eles são então do reino de Deus, não devido à sua origem natural, mas tão-somente por essa operação da graça, que tem sua origem em Deus somente. Tal como Jesus disse, “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” (João 3:6). Se nós ensinamos que as crianças são excluídas do recebimento dessa graça do renascimento, devemos igualmente ensinar que nenhum adulto pode receber o reino de Deus, posto que a salvação de adultos depende do mesmo renascimento espiritual de cima. Mas note bem que há nisto uma ordem da salvação fixada por Deus. Nós nascemos de novo a partir da graça no Espírito e, portanto, cremos. Fé é uma dádiva de Deus, que ele opera através do renascimento espiritual no coração das crianças e dos adultos.

Esse é o porquê de nós lermos que Jesus não apenas disse “dos tais é o reino de Deus”, mas também “… tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava” (Marcos 10:16). Pelos Seus atos Jesus testificou que Deus se apraz em operar a graça, mediante a qual nós nascemos de novo, no coração dos filhos dos pais crentes. Realmente, Jesus não diz que toda e qualquer criança é salva não mais que todo e qualquer adulto batizado com água é salvo. Mas quanto aos filhos dos crentes, como um corpo, Ele diz “dos tais é o reino de Deus.” Tais pessoas ele admite como Sua propriedade, tais são as Suas ovelhas por quem ele morre. Pois a salvação de crianças também é pela graça somente.

Qual é a resposta de Jesus àqueles que estariam excluindo as crianças? Nós lemos que ele “indignou-se” com os seus discípulos, por estes repreenderem aqueles que traziam crianças (Marcos 10:13-14), pois a vontade do Seu Pai estava sendo ignorada. Tendo lido o que Jesus lhes ensinou naquele dia, os discípulos posteriormente pregaram aos judeus, “… para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2:39). Aos gentios que estavam longe, eles pregaram a mesma palavra, “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (Atos 16:31). Aqueles que creram foram batizados pelos discípulos, que assim os trouxeram para o Seu reino, batizando também toda a sua casa (Atos 10:44-48; 16:15, 33-34). Eles puseram em prática a doutrina de Jesus. Tal é o evangelho e a prática da igreja apostólica. Aquele que exclui os filhos dos crentes do batismo, o sinal do lavar da regeneração ou renascimento, está dizendo que esses filhos não têm parte em Cristo, na graça de ser nascido de novo, ou nas promessas do Seu reino. Isso é desagradável ao Senhor Jesus.

Não está simplesmente em questão aqui a ordenança do batismo, mas o evangelho em si. Jesus veio para salvar o Seu povo dos seus pecados. Seu povo foi confiado a Ele pelo Pai. Ele não veio simplesmente para salvar pessoas individualmente. Ainda que a salvação seja pessoal, não é individualista. Deus criou famílias quando criou o casamento. A queda no pecado, ao passo que trouxe miséria e morte sobre o casamento e a família, não destruiu, pela obra da Graça, a vontade de Deus. Essa vontade de Deus estava sobre a união de um homem com uma mulher, em meio ao Seu povo crente, a fim de reunir a Sua igreja nas gerações de crentes, em que “Ele buscava a descendência que prometera” (Malaquias 2:15). Ele prometeu que essa descendência seria reunida nas gerações do Seu povo como uma descendência espiritual—a descendência [ou ‘semente’] da mulher (Gênesis 3:15), a descendência de Noé (Gênesis 6:16; 9:9), a descendência de Abraão (Gênesis 17:7). Fundamentalmente, Cristo é o descendente (Apocalipse 12; Gálatas 3:16), mas nele os crentes também são tornados herdeiros dessa promessa (Gálatas 3:29; 4:28). Essa é a descendência da promessa, obra da Sua graça, que Deus em Cristo se apraz em reunir nas gerações de crentes (Gênesis 17:7). É a essa maravilhosa obra de Deus que Jesus constantemente se refere quando fala a respeito dos filhos dos crentes (Marcos 10:14; Mateus 18:14). De fato Jesus toma pequeninos em seu colo repetidamente e os coloca entre os Seus discípulos. Não são os pequeninos meros exemplos de lições. Elas são os “pequeninos que crêem em mim” (Mateus 18:6; Marcos 9:42). Jesus não traz salvação tão-somente a indivíduos, mas ao crente e à sua casa. Ele pode dizer, em vista da promessa do pacto de Deus a Abraão (Gênesis 17:7), não apenas quanto a Zaqueu, mas também quanto à sua família, “Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é o filho de Abraão” (Lucas 19:9).

Nosso Salvador vê a graça da salvação como uma graça que Deus direciona a famílias. A família cristã é um corpo. A igreja como o corpo de Cristo não é levantada a partir de simples indivíduos, certamente não de adultos somente, mas normalmente a partir de lares. Ao passo que nem toda pessoa que é membro de uma igreja é salva, nem também é salvo todo e qualquer filho de crentes, Deus salva uma igreja e salva lares. Isso tem a ver com o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Deus é o Deus cuja “fidelidade estende-se de geração em geração” (Salmos 119:90). Filhos de crentes são “herança do Senhor” (Salmos 127:3). Jesus é o Pastor a respeito de quem é dito, “Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” (Isaías 40:11). Portanto Ele diz “dos tais é o reino de Deus” (Marcos 10:14) e a Pedro, não diz simplesmente “apascenta as minhas ovelhas,” mas “apascenta os meus cordeiros” (João 21:15).

Em questão está o evangelho de Cristo. Que essa igreja consista de famílias que se colocam perante Deus mediante a fé na dependência da Sua graça, era verdadeiro no Antigo Testamento (II Crônicas 20:13). Não é menos verdadeiro no Novo Testamento. Ao passo que um homem adulto estava em primeiro plano no batismo de João Batista, eles agiam assim não simplesmente como indivíduos, mas como cabeças de lares, uma vez que toda a Jerusalém e Judéia é que tinha ido ao seu encontro para ser batizada (Marcos 3:5; Marcos 1:5). Semelhantemente, Jesus não alimentou simples indivíduos em Seus milagres de alimentar cinco mil e também mais quatro mil pessoas. Famílias vieram ao seu encontro. Os números representam somente os homens, muitos dos quais era cabeças de lares (Mateus 14:21; 15:38). Os milagres de Jesus envolvem filhos que são levantados da morte, curados de doenças e libertados do poder de demônios. Em tudo aquilo que Jesus diz e faz (assim como os apóstolos após ele), reside esse princípio: Deus salva o seu povo em famílias e reúne a Sua igreja a partir de lares de crentes. Zaqueu e a sua casa foram salvos, Cornélio e a sua casa, Lídia e a sua casa, o carcereiro filipense e a sua casa. As promessas do evangelho, dos quais os gentios são agora herdeiros (Gálatas 3:29) e concidadãos (Efésios 2:19) estão em jogo.

Exatamente por esse motivo nenhum batista, por mais que seja calvinista em certos aspectos, pode ser um calvinista genuíno. A verdade da queda em Adão é que a família humana caiu em total depravação. A verdade da eleição é que Deus em Cristo deseja redimir para Si mesmo um povo de todas as nações, uma família reunida segundo a eleição nas gerações de crentes eleitos. A verdade da redenção particular é que Cristo morreu para salvar o Seu povo dos seus pecados, também os cordeiros do Seu rebanho reunidos nas gerações de crentes, tal que “dos tais é o reino de Deus” (Marcos 10:14). Jesus abençoa as crianças trazidas em Seus braços, em Marcos 10:16, porque os filhos dos crentes são o alvo da Sua graça irresistível. E os pequeninos do Seu reino certamente serão salvos porque “Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos” (Mateus 18:14). Isso é Calvinismo autêntico e pleno. Esse é também o evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo.

Fonte: What Jesus said about, Rev. Thomas Miersma, cap. 20.

Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.

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