Rev. Herman Hoeksema
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Como, então, devemos conceber o que usualmente chamamos de o pactum salutis, o qual prefiro chamar o conselho de paz?2 Tornou-se claro que esse conselho de paz não pode ser o mesmo que a vida pactual do próprio Deus. A vida pactual de Deus é de fato a base para o conselho de paz, mas não é o conselho de paz em si. O ser de Deus e o seu conselho devem ser distinguidos. O ser de Deus é o que ele é em si mesmo. O conselho de Deus representa aquilo que, com absoluta liberdade e soberania, ele determina e deseja. Certamente seu conselho está sempre em harmonia com o seu ser, mas não pode, sem algo adicional, ser derivado do ser de Deus imediatamente. O conselho de Deus é seu livre e soberano decreto. Se, portanto, podemos falar de um conselho de paz, esse conselho não pode ser identificado com a vida pactual no Deus triúno.
Nem (como temos mostrado) pode esse conselho ser identificado com o pacto como Deus o estabelece com o seu servo e com a igreja eleita em Cristo Jesus nosso Senhor. Isso é o que usualmente é designado como o pacto de graça, mas deve ser distinguido do conselho de paz. O pacto de graça não é o conselho de paz em si, mas antes a revelação e realização dele. No pacto de graça, Cristo aparece como homem em sua natureza humana, e como homem ele não pode ter nenhuma participação no decreto do Deus triúno. Portanto, se podemos fazer menção de um conselho de paz, então esse conselho de paz deve residir entre a vida triúna de Deus, que é a base de toda relação pactual com os homens, e o pacto estabelecido com Cristo e os seus como os amigos-servos de Deus. Em outras palavras, o conselho de paz deve ser o decreto concernente ao pacto.
Tendo isso em mente e lembrando ao mesmo tempo que o pacto não pode ser concebido num sentido infralapsariano, como um meio para um fim, mas que ele mesmo é o propósito e o fim de todas as coisas nas obras de Deus, procedente dele mesmo, definiríamos o conselho de paz como o decreto eterno de Deus de revelar sua vida pactual triúna, no sentido mais alto possível, no estabelecimento e realização de um pacto com a criatura procedente dele mesmo, num caminho de pecado e graça, de morte e redenção, para a glória do seu santo nome.
Em outras palavras, o conselho de paz, que pode ser chamado também de simplesmente o conselho do pacto, é a vontade eterna ou o decreto eterno de Deus de se revelar como o Deus que vive em si mesmo uma vida pactual perfeita de amizade, de fazer isso recebendo um povo em sua comunhão pactual e fazendo deles participantes, de uma forma criatural e segundo a medida da criatura, de sua vida pactual, e assim fazendo com que eles provem que o Senhor é bom. Esse é o elemento todo dominador no eterno beneplácito de Deus, para o qual todos os outros elementos devem ser feitos subservientes.
Fonte: Reformed Dogmatics, Herman Hoeksema, Reformed Free Publishing Association, vol. 1, pp. 471-472.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em julho/2007.
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Nota do tradutor: Ver A Realização Final do Pacto
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