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A Doutrina da Escritura

Rev. Angus Stewart

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

A doutrina da Escritura é vitalmente importante para todos os cristãos, pois é através da instrumentalidade da Palavra (pregada e lida) que Deus nos salva e faz com que cresçamos na graça que há em Cristo Jesus. Somente por meio das Escrituras temos o conhecimento de Deus em Jesus Cristo.

Considere:

  • Se o Antigo Testamento não é verdadeiro, o Novo também não (Hb. 1:1-2).
  • Se a Bíblia é falível, Deus é falível.
  • Se a Palavra escrita de Deus é uma farsa, assim o é a Palavra Encarnada de Deus.
  • Se a fé da Escritura (Judas 3) é espúria, assim é a sua.

Consideraremos agora o que a Bíblia alega sobre si.

(I) A Bíblia é a Revelação de Deus

(1) A revelação é possível?

Aqueles que crêem que não, argumentam que:

(a) Deus não desejaria se revelar ao homem.

Mas por que então Deus criou o homem? Antes da queda, o Senhor Deus se revelou e comungou com o homem no Jardim do Éden. Assim, desde o princípio Deus mostrou que tinha deleite em se revelar. Agora a revelação escrita de Deus para nós são as Escrituras.

(b) O homem não poderia entender a revelação de Deus.

É verdade que nenhum homem pode ou poderá entender a Deus em sua inteireza (Jó 11:7), pois então ele seria Deus, que é absurdo. Mas deve ser dito que nenhum homem (ou anjo) conhece algo em sua inteireza. O fato de um conhecimento não ser completo não quer dizer que não seja um conhecimento verdadeiro. Além do mais, podemos entender a revelação de Deus por causa da sabedoria infinita de Deus. Ele desejou se revelar e sabia como se comunicar mesmo com o homem finito a quem criou. Podemos entender facilmente que adultos conseguem explicar coisas às crianças. Sendo Deus infinitamente superior em sabedoria ao homem, ao invés de ser uma barreira para ele ser capaz de se revelar, na verdade tal sabedoria o capacita a isso.

(2) A revelação é necessária?

Sim. Deus deve se revelar ou jamais será conhecido. Se ele escolhesse se ocultar, quem poderia encontrá-lo? Além disso, desde a queda, o homem é pecaminoso e não pode conhecer a Deus por sua própria busca ou teorias. Portanto, é necessário Deus se revelar.

(II) A Bíblia é Inspirada por Deus

A palavra “inspirada” (cf. II Tm. 3:16) significa, literalmente, “soprada por Deus.” Deus soprou as Sagradas Escrituras como sua Palavra.

(1) A inspiração é plenária.

A Escritura não admite diferentes qualidades de inspiração. Nem todas as partes são de igual valor para edificação, mas todas as partes são igualmente inspiradas. Quando Cristo ou seus apóstolos citavam o Antigo Testamento, eles não faziam distinção entre o Pentateuco (Gênesis-Deuteronômio) ou os Profetas, ou qualquer dos outros livros, como tendo diferentes graus de autoridade, pois todos eram Palavra de Deus. Visto que “toda a Escritura é divinamente inspirada” (II Tm. 3:16), o ensino bíblico concernente à história, geografia e ciência estão incluídas, e não meramente a “teologia.” Se Deus não pode nos dar a verdade com respeito às coisas terrenas, como podemos confiar nele quando nos diz das coisas celestiais (cf. João 3:12)? E se partes da Bíblia não são inspiradas, quem nos dirá quais são?

(2) A inspiração é verbal.

Toda palavra dos autógrafos (os manuscritos originais) é inspirada. Isso era necessário, pois a revelação escrita de Deus consiste de proposições que são comunicadas por meio de palavras. Verificamos isso também a partir de uma consideração inteligente das citações do Antigo pelo Novo Testamento. Em Mateus 22:32, o argumento de Cristo descansa sobre o fato que as palavras de Deus em Êxodo 3:6 não estão no tempo passado. Em Gálatas 3:16, Paulo prova seu ponto apontando que Gênesis 12:7 fala de “descendência” (singular) e não “descendências” (plural). Alguns argumentam que Deus inspirou meramente os pensamentos dos autores, mas a Escritura fala de “palavras” (Mt. 4:4; II Pedro 3:2; Judas 17). De qualquer forma, como essas idéias podem ser transmitidas a nós, senão por palavras?

(3) A inspiração é orgânica.

Deus usou humanos para escrever a Escritura, mas não mecanicamente (como poderíamos usar uma máquina de escrever); usou-os como homens com dons e habilidades pré-determinadas. II Pedro 1:21 nos diz que os apóstolos e profetas (com seus talentos e estilos recebidos por Deus) escreveram sob a inspiração do Espírito. Portanto, aquelas coisas que escreveram eram de Deus, e foram dirigidos por Sua vontade. Assim, Deus não permitiu que a vontade de homens pecadores alterasse Sua mensagem ou registrasse-a erroneamente.

(III) A Bíblia é Inerrante

Os manuscritos originais não possuem erro. Isso deve ser assim, visto que:

(1) A Bíblia é a Palavra de Deus. Se ela contivesse erros, Deus cometeria enganos em sua fala. Então Deus não seria perfeito, que é absurdo.

(2) A Bíblia é a revelação de Deus. O Deus dos céus se revela na Escritura. É uma afronta à sua sabedoria pensar que ele poderia cometer um engano, e à sua veracidade que ele poderia contar uma mentira (cf. Tito 1:2).

(3) A Bíblia alega ser perfeita (Sl. 19:7). Jesus disse: “Tua Palavra é a verdade” (João17:17). Ele mesmo era a verdade (João 14:6) e não profere mentiras. Visto que a Bíblia é perfeita, ela não possui erro. Cristo ensina em João 10:35—”a Escritura não pode ser anulada”—que é impossível que a Escritura possa errar.

(IV) A Bíblia tem a Autoridade de Deus

(1) Que a Bíblia possui autoridade divina segue-se de uma consideração lógica de (I), (II) e (III).

(2) Que a Bíblia possui autoridade divina é provado a partir do seguinte silogismo: Deus tem toda autoridade. As Escrituras são sopradas por Deus. Portanto, a Bíblia é a Palavra autoritativa de Deus.

(3) Que a Bíblia possui autoridade divina é ensinado por referências bíblicas expressas. Isaías 1:2 declara: “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o SENHOR tem falado” (cf. Miquéias 1:2). É também visto na declaração: “Assim diz o Senhor,” e nas palavras de Cristo: “Na verdade, na verdade vos digo.”

(4) Que a Bíblia possui autoridade divina é provado a partir de citações, pelo Novo Testamento, de passagens do Antigo Testamento como sendo as palavras do Espírito Santo (Hb. 3:7; cf. Sl. 95:7; e Hb. 10:15; cf. Jr. 31:33). Como Deus, o Espírito Santo fala com autoridade divina.

(5) Que a Bíblia possui autoridade divina é provado a partir de citações do Novo Testamento onde a fala de Deus é citada como a Escritura falando (Gl. 3:8; cf. Gn. 12:3; e Rm. 9:17; cf. Ex. 9:16). A Escritura (que não existia então) não falou a Abraão, mas Deus o fez (Gn. 12:3). Similarmente, Deus, através de Moisés, fez esse anuncio a Faraó (Ex. 9:16). Das citações de Paulo (Gl. 3:8; Rm. 9:17) desses dois textos (Gn. 12:3; Ex. 9:16), vemos que ele habitualmente identificava o texto da Escritura como Deus falando.

(6) Que a Bíblia possui autoridade divina é provado a partir de citações do Novo Testamento onde Deus é mencionado como se fosse as Escrituras (Mt. 19:4-5; cf. Gn. 2:24; e Atos 4:25-26; cf. Sl. 2:1-2). Cristo (Mt. 19:4-5) e Pedro (Atos 4:25-26) citam palavras do Antigo Testamento como sendo “ditas” por Deus, mas no texto do Antigo Testamento essas afirmações não são colocadas na boca de Deus. Assim, as palavras da Escritura são as palavras de Deus, possuindo a autoridade de Deus mesmo.

(7) Que a Bíblia possui autoridade divina é visto pela finalidade com a qual Cristo citava a Escritura. O Senhor Jesus usava as Escritura como autoritativas. Ele dizia continuamente, “Está escrito” (Mt. 4:4, 7, 10; 21:13; 26:31; Marcos 7:6; 9:13; João 6:31, 45; 10:34), e assim também os apóstolos (Atos 1:20; 7:42; 15:15; 23:5; 1Co. 1:19; I Pedro 1:16). O veredicto das Escrituras é final; não deve ser questionado; “a Escritura não pode ser anulada” (João 10:35).

Visto que “a Bíblia não é outra coisa senão a voz daquele que está assentado sobre o trono” (Dean Burgon), ela é a regra pela qual devemos crer e viver (II Tm. 3:15-17; Sl. 19:7-9).

(V) A Bíblia tem sido Especialmente Preservada por Deus

O Deus do céu tem preservado de forma especial seu livro que registra a verdade da salvação por meio do seu Filho (João 20:31). A partir da pregação de Cristo vemos que:

(1) O texto do Antigo Testamento comumente usado entre os judeus durante o ministério terreno de Cristo era inteiramente confiável. Jesus disse: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido” (Mt. 5:18). “E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei” (Lucas 16:17).

(2) A mesma providência divina que preservou o Antigo Testamento preservará o Novo Testamento. Implícito na “grande comissão,” que tem aplicação à igreja de Cristo de todos os tempos, está a promessa que a igreja sempre possuirá o registro infalível das palavras e obras de Jesus. Cristo declarou: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mt. 24:35; Marcos 13:31; Lucas 21:33).

(VI) A Bíblia tem muitas outras Características Excelentes

(1) A Bíblia é eterna. As Escrituras foram escritas durante períodos históricos definidos, mas tiveram sua origem na mente eterna de Deus. “Para sempre, ó SENHOR, a tua palavra permanece no céu” (Sl. 119:89). Assim, ela é relevante a todas as épocas e povos.

(2) A Bíblia é perspícua. As Escrituras são claras e somos capazes de entendê-las. Elas são como luz (Sl. 119:105) e podem ser entendidas mesmo por crianças (II Tm. 3:15). Isso não significa que não existem partes difíceis na Bíblia (cf. II Pedro 3:16), mas antes que o significado da Escritura pode ser captado pelo uso devido dos meios ordinários. Visto que Deus nos deu sua Palavra, a qual podemos entender, Cristo pode nos ordenar a estudar as Escrituras para O conhecermos mais plenamente (João 5:39). Devemos orar também para que Deus desperte nossas mentes em nosso entendimento de sua Palavra (Sl. 119:18, 27, 37).

(3) A Bíblia é pura. Como o Deus que as deu, as Escrituras são puras. Como Davi diz: “As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes” (Sl. 12:6).

(4) A Bíblia é purificadora. As Escrituras, como a pura Palavra de Deus, têm um efeito purificador sobre os cristãos. Elas são o meio pelo qual Deus purifica a igreja. Dessa forma, Cristo ora: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17).

(5) A Bíblia é suficiente. Tudo o que é necessário para a nossa salvação está revelado na Bíblia (João 20:30-31; II Tm. 3:15-17). O sapientíssimo Deus nos deu sua Palavra e nenhum livro(s) novo(s), pretensas “revelações do Espírito” ou qualquer outra coisa podem ser adicionadas ou igualadas a ela (Ap. 22:18).

(6) A Bíblia é una. Tanto o Antigo como o Novo Testamento são uma só Palavra de Deus. Moisés, Davi, os profetas, Pedro, Paulo e João escreveram sobre o mesmo Deus (Hb. 12:29; cf. Dt. 4:24) e o mesmo caminho de salvação (cf. Rm. 4). Assim, Cristo pôde dizer: “no rolo do livro de mim está escrito” (Sl. 40:7; Hb. 10:7) e “as Escrituras … são elas que de mim testificam” (João 5:39). Nós, como os dois no caminho de Emaús, pela iluminação do Espírito, podemos ver o Cristo único em tudo da Bíblia.

(7) A Bíblia é auto-autenticadora. Os cristãos sabem que o que a Palavra de Deus nos ensina sobre nós, a humanidade caída, o mundo, etc., é verdadeiro. A concordância e harmonia dos diferentes livros, as doutrinas sublimes e seu fim geral—dar toda a glória a Deus—manifesta ser ela a própria Palavra de Deus. A certeza do crente que as Escrituras procedem de Deus vem do testemunho interior do Espírito Santo, testemunhando por e com a sua Palavra em nossos corações (1 Co. 2:4-5). Essa segurança é desfrutada no caminho de obediência aos mandamentos do Pai na Escritura, pois como Cristo disse: “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo” (João 7:17).

Fonte: The Doctrine of Scripture

Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.

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