Prof. Herman Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
“O rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e benevolência mais do que todas as virgens; o rei pôs-lhe na cabeça a coroa real e a fez rainha em lugar de Vasti” (Ester 2:17).
Tendo respondido duas objeções específicas na última News, dessa vez concluirei meu tratamento de Ester replicando aos três pontos restantes do leitor.
(3) “Que princípio impediu Mordecai de reverenciar Hamã (Ester 3:2)?”
Eu não sei o porquê Mordecai recusou se curvar diante de Hamã. Como uma criança ouvindo essa história lida das Escrituras ou contada por meu professor ou instrutor de catecismo, sempre pensei comigo mesmo: “Mordecai era um judeu orgulhoso que não se curvava diante de ninguém.” Pode ser, contudo, que sua recusa em se curvar estava enraizada em alguma noção que um judeu não poderia se curvar diante de um pagão, embora até onde eu saiba não existia nenhuma lei em Israel que dissesse que um judeu não poderia se curvar diante de alguém como um gesto de respeito ou submissão a uma autoridade mais alta. Abraão se curvou diante dos filhos de Hete (Gn. 23:7).
(4) “Mordecai usou sua posição de influência para o bem dos judeus e sua raça. Em Ester 10:3, lemos dele ‘tendo procurado o bem-estar do seu povo e trabalhado pela prosperidade de todo o povo da sua raça.'”
É inteiramente possível, e penso eu ser o caso, que o motivo de Mordecai em toda a questão era (1) sede por poder e (2) amor por seus compatriotas. No que diz respeito ao primeiro ponto, por que Mordecai quase forçou Ester a entrar no concurso de beleza? Ele não sabia que Deus intentava que esse fosse um meio para salvar Israel. Ele conhecia a vileza e promiscuidade da corte pagã; conhecia as leis de Israel; conhecia as conseqüências de tal conduta. Parece-me que ele viu em tudo isso uma oportunidade para se promover na corte do rei. Mesmo que Ester não tivesse se tornado rainha, mas meramente sido adicionada às concubinas de Assuero, ele teria tido algum tipo de acesso interno ao poder. Que Ester teria se tornado ao menos uma concubina é quase certo.
Quanto ao segundo ponto, um homem pode ter um amor inteiramente natural e patriótico, que o estimula a fazer qualquer coisa pelo bem-estar do seu país. Eu pertenço à terceira geração que se mudou da Holanda, e a Holanda se tornou moralmente falida apóstata. Todavia, mesmo como uma criança, sofri quando os Nazistas violaram a Holanda e a mantiveram em escravidão virtual. Eles fizeram o mesmo à França, mas isso não me machucou tanto. Eu usei um exemplo de um soldado na última edição da News. Existem muitos casos de soldados dispostos a morrer por seu país nos anais das guerras britânicas e americanas.
(5) “Quem escreveu o livro de Ester? Não somos informados, mas Ester 9:20 nos dá uma pista, e o próprio Mordecai naturalmente parece ser o autor mais provável. Se foi ele, Deus usaria alguém não incluso no pacto da graça?”
Não sei quem escreveu o livro de Ester. Já li uma sugestão que Daniel o escreveu, pois pode ter estado no palácio de Susã (Dn. 6:1-3; 9:1-2; cf. 8:2). Mas é duvidoso se ele estava vivo ou não nesse tempo. Se Mordecai escreveu o livro, poderíamos ter uma explicação do por que o livro não menciona o nome de Deus. Em todo o caso, não somos obrigados a construir um argumento para a salvação de Mordecai sobre a possibilidade remota que ele era o homem que Deus usou para escrever o livro. Não sabemos os autores de muitos livros na Bíblia. Não precisamos saber (caso contrário, seríamos informados). Não precisamos saber por que Deus, por meio do Espírito de Cristo, é o Autor divino.
Qualquer pessoa hoje que cometesse os pecados de Ester e Mordecai seria excomungada. No Antigo Testamento, a lei requeria que fossem apedrejados. Deus abomina tais pecados! Acho difícil imaginar que Deus tenha aprovado esses pecados sob essas circunstâncias; ou desaprovando-os, não deixasse nenhuma dica no próprio livro de sua fúria contra tais pecados.
Finalmente, tomar a posição que Mordecai e Ester foram motivados por amor a Deus não somente cria o dilema e o casuísmo jesuíta que “os fins justificam os meios”, mas também destrói todo o propósito do livro, a saber, mostrar que Deus usa até mesmo ímpios para salvar a sua igreja.
Fonte (original): Covenant Reformed News, Maio de 2007, Volume XI, Edição 13.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em março/2007.
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