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Charles Grandison Finney: Reavivalista (1)

Herman Hanko

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

Introdução

Entre as igrejas em algumas partes da Europa, particularmente nas Ilhas Britânicas, o reavivalismo é um conceito popular. Igrejas que uma vez foram fortes e vibrantes, e tornaram-se letárgicas e pequenas, olham para um reavivamento como uma libertação de sua desgraça atual. Igrejas espiritualmente fracas pensam que o reavivamento será a solução para os seus problemas, e muitas orações são feitas em favor desse derramamento especial do Espírito Santo.

Embora tais países como as Ilhas Britânicas, talvez especialmente Wales e Irlanda do Norte, tenham sido famosos por reavivamentos no passado, esse fenômeno não tem sido muito comum aqui na América. De certo ponto de vista, Charles Finney pode ser chamado de o pai do reavivalismo Americano.

Ao chamar Finney de o pai do reavivalismo, não quero dizer que a América não viu reavivamentos antes do seu tempo. Quando George Whitefield chegou a esse país e trabalhou na Nova Inglaterra com Jonathan Edwards, é dito ter chegado o reavivamento às colônias ali. Isso aconteceu na primeira metade do século dezoito. Charles Finney nasceu no final do século dezoito e fez o seu trabalho na primeira metade do século dezenove. Seu método de reavivalismo e os aspectos teológicos de sua pregação evangelística deixaram marcas indeléveis no evangelicalismo Americano. E enquanto ainda existe esperança de reavivamento nesse país, é na sua maior parte no estilo Finneyiano.

Se o método e a teologia de Finney são ostensivamente rejeitados por algumas igrejas e pregadores conservadores que oram por reavivamento, sua busca por uma “melhor” forma de reavivamento deixa alguém estarrecido. Finney tomou muita coisa emprestada de John Wesley; e John Wesley recebe tratamento favorável por parte das igrejas conservadores nas Ilhas Britânicas. Seus reavivamentos tornaram-se algo pelo qual as igrejas conservadores anelam. Aprovar o reavivalismo Wesleyano é, portanto, aprovar os ensinos de Finney sobre reavivamento.

A influência de Finney é abundante. Ele é freqüentemente aclamado como um modelo para a pregação evangelística moderna, e é dito que seus métodos são simplesmente o que a igreja precisa se for se engajar na obra de “salvar almas.”

Vale a pena parar um pouco para examinarmos a vida e os ensinos de Finney.

A Vida Pré-conversão de Finney

O começo da vida de Charles Finney não foi espetacular, com poucas evidências do que ele alguma dia se tornaria. Ele nasceu em 29 de 1792, em Warren, Connecticut, numa família de fazendeiros. Era o sétimo filho nessa antes grande família Puritana, e nasceu e cresceu entre aqueles que por mais de 160 anos tinham tentado manter uma religião Calvinista na Nova Inglaterra, onde os Puritanos tinham originalmente se estabelecidos. Jonathan Edwards tinha dado às colônias um Calvinismo forte, e, por causa da associação de Edwards com os reavivamentos de Whitefield, o reavivalismo tinha feito cedo uma marca sobre Finney. Mas era também um tempo de tumulto e mudança nacional. O país tinha acabado de emergir de sua batalha pela liberdade, e a Convenção Constitucional ainda era nova no meio do povo.

Era também um tempo quando bravos colonizadores estavam empurrando os limites do país para além do oeste, com o passar dos meses. Na fronteira, ajuntamentos em tendas, religião emocional, igrejas apressadamente organizadas, e pregadores viajantes eram a ordem do dia. Comparando-se com a fronteira efervescente, Warren, Connecticut era tranqüila e agradável. Mas educações soberbas estavam disponíveis no litoral oriental, algo não verdadeiro na fronteira. A mudança da família para Oneida, Nova York, uma cidade na parte ocidental do estado e parte considerável da fronteira, teve um efeito profundo sobre a carreira educacional e o ponto de vista religioso de Finney. Ele nunca se tornou uma pessoa altamente educada, mas se tornou um homem religioso.

Embora a família fosse uma parte da igreja Presbiteriana, Finney considerava a maior parte da pregação como doutrinariamente seca. Aparentemente o mesmo era verdadeiro da família, pois, após mudar-se para Oneida, a família passou a cultuar numa igreja Batista. Grande parte da pregação na fronteira era reavivalista e atrativa às emoções, e esse tipo de pregação parecia ser mais atraente a Finney. Uma religião que enfatizava o conhecimento da verdade era para ele enfadonha; uma religião com um apelo emocional, e, portanto mais excitante, satisfazia seus gostos.

Finney esforçou-se para continuar sua educação. Ele se matriculou na Academia Warren, em sua cidade natal, e permaneceu ali por dois anos. Era um bom estudante, e tornou-se proficiente em música: voz, violino e violoncelo. Por quatro anos, de 1814 a 1818, Finney deu aulas, mas logo voltou sua atenção para o Direito. Ele retornou à sua casa em Oneida e se tornou secretário de um advogado. Embora uma vez mais Finney freqüentasse uma igreja Calvinista, ele realmente não tinha nenhum interesse em teologia ou religião. Estudava a Bíblia, como nos diz em sua autobiografia, mas seu interesse nela era devido ao seu interesse por Direito e a influência que a Bíblia tinha na jurisprudência.

Finney alega ter se convertido em 1821. Ele descreve sua conversão, provavelmente numa reunião de reavivamento, nessas palavras: “O Espírito Santo desceu sobre mim de uma maneira que parecia me atravessar, corpo e alma. Pude sentir a impressão como uma onda de eletricidade percorrendo todo o meu ser.” Ele alega ter se tornado um homem diferente.

O Ministério Pós-conversão de Finney

Finney estava comprometido desde o início de sua “nova” vida à noção que a escolha da vontade humana era decisiva na obra de conversão. Dessa posição Pelagiana, ele nunca se afastou. Mas é melhor discutir esse aspecto do ministério de Finney um pouco mais tarde.

Finney se comprometeu ao ministério. Como é tão frequentemente verdadeiro de novos “convertidos,” seu primeiro impulso foi pregar aquilo em que passou a crer. Ele começou a estudar para o ministério com o seu pastor Presbiteriano, George W. Gale. Esse estudo continuou de 1822 a 1825, durante cujo tempo ele também se engajou na pregação. Finney alega que o comitê do presbitério, que era responsável pela pregação no distrito onde Finney vivia, queria que ele fosse para Princeton, mas isso ele recusou pois estava convencido que os estudantes que estudavam ali eram todos erroneamente educados. Contudo, o pastor de Finney disse que a escola estava relutante em aceitá-lo.

A pregação de Finney logo levantou curiosidade e certo excitamento, pois parece que quase desde o início ela resultou em conversões de muitas pessoas e freqüentemente produzia reavivamentos.

Não demorou muito para Finney começar a discordar de doutrinas Calvinistas fundamentais, em especial das doutrinas do pecado original e da expiação limitada. Ele as considerava irracionais, anti-bíblicas e impraticáveis do ponto de vista da pregação evangélica.

Quando o Rev. Gale adoeceu, Finney foi convidado a ocupar o seu púlpito. Isso requereu que ele aparecesse diante do presbitério. Ao ser interrogado pelo presbitério, ele foi tão vago na questão de sua concordância com os credos (as Confissões de Westminster) – ele disse que estava em concordância substancial com eles – que passou. Na verdade, ele nunca tinha lido os credos completamente, muito menos estudado os mesmos.

Finney se orgulhava de nunca preparar os sermões antes da pregação. Na realidade, algumas vezes ele entrava no púlpito sem ao menos saber que texto usaria como base para o seu sermão. Ele pensava que o Espírito Santo lhe daria seus sermões, e que a preparação seria apenas um obstáculo para a livre obra do Espírito. Todavia, ele foi ordenado para o ministério como um evangelista de tempo integral em 1 de Julho de 1824. Sem treinamento em seminário, admitidamente hostil a algumas doutrinas-chave das Confissões de Westminster, um evangelista viajante sem qualquer obrigação fixa, mesmo assim ele foi ordenado. Tal ação fala altamente do estado do Calvinismo nas igrejas Presbiterianas daqueles dias. Discutirei essa questão mais tarde.

No outono do mesmo ano em que foi ordenado, Finney se casou com uma mulher de nome Lydi Root Andrews. Com ela teve seis filhos, um dos quais morreu no nascimento e outro ainda criança. Uma história interessante é contada sobre os seus primeiros anos de casado. Aparentemente Finney achou necessário mudar-se para a parte norte de Nova York. Ele teve que percorrer uma distância considerável para obter uma carruagem na qual pudesse arrumar os seus pertences. Enquanto estava indo para trazer a carruagem, ele pregou aqui e acolá e começou reavivamentos onde passou. O resultado foi que ele não retornou à sua esposa com sua carruagem por seis meses.

À medida que a obra de Finney ganhou popularidade, ele foi convidado para mais e mais igrejas que eram consideradas mortas – embora a definição de “morta” nem sempre seja clara. Ele promoveu avivamentos em quase todo lugar e considerava sua obra bem-sucedida somente se um reavivamento seguisse a sua pregação. Finney, em sua pregação, exigia de sua audiência decisões imediatas por Cristo. De fato, ele instituiu o “banco dos ansiosos,” que era uma ou duas filas na frente do edifício, para o qual os “seekers”2 viriam, e em cujo banco eram pressionados por uma decisão. Essa idéia de um banco dos ansiosos foi o precursor do sistema de apelo ou chamado ao altar, tão comum no reavivalismo de hoje em dia.

Os reavivamentos de Finney eram acompanhados por barulho, que algumas vezes era tão grande que tudo o que Finney podia fazer era andar no meio do povo e gritar o evangelho no ouvido de um, e então no de outro. Gritos, rugidos, choros, berros e risos santos – todo tipo de comportamento bizarro era o resultado da pregação de Finney, e tal comportamento bizarro era considerado um sinal seguro da presença do Espírito Santo e do sucesso do reavivamento. Tal atividade não era exclusiva aos reavivamentos de Finney; foi característica de reavivamentos na Nova Inglaterra e nas Ilhas Britânicas.

O método de Finney era pregar algumas vezes durante todos os dias da semana, visitar as pessoas em seus lares, marcar encontros de questionamento, andar no meio da audiência que se reunia para ouvi-lo, e intimar as pessoas para o banco dos ansiosos. No seu livro Memórias, vemos com freqüência o orgulho dele por tal sucesso.

Finney foi logo convidado às grandes cidades para realizar sua obra reavivalista. A Filadélfia era uma cidade procurada, e nela ele ganhou o apoio de um ministro Reformado holandês e de um ministro Reformado alemão. Na cidade de Nova York ele iniciou uma capela na área mais depravada da cidade. A capela se tornou uma igreja que cresceu rapidamente, mas o excesso de trabalho logo debilitou a saúde de Finney. Como resultado, ele foi para o que estava agendado para ser um cruzeiro de dez meses, sozinho, no Mar Mediterrâneo. Em sua ausência, problemas surgiram na igreja que ele fundou, e a vida da igreja se deteriorou rapidamente. Ele reduziu sua viagem, mas parece ter perdido sua popularidade em Nova York. Essa diminuição em sua popularidade minou suas energias, pois se alimentava de aclamações.

Em 1835 o Instituto Oberlin em Ohio lhe ofereceu um professorado em teologia. Ele aceitou essa oferta e começou o que equivaleria a uma nova carreira. Embora tenha tentado continuar sua obra na cidade de Nova York, isso se provou ser impossível. Por razões de saúde e finanças, ele não mais pôde continuar nas duas cidades. Antes de abdicar da igreja em Nova York, Finney deixou a denominação Presbiteriana na qual tinha trabalhado todos esses anos, e organizou a igreja de Nova York como uma igreja Congregacional. Dali em diante seus labores eram como um congregacionalista. Mas Finney misturou seu trabalho no Instituto Oberlin com a obra reavivalista.

Em Oberlin, encontros eram freqüentemente realizados numa tenda, que abrigava em torno de mil pessoas. Isso foi o princípio dos reavivamentos em tendas, comum na América na primeira metade do século vinte.

A esposa de Finney morreu em 1847, após muitos anos de saúde precária e muitas provações, incluindo o cuidado de uma garota mentalmente incapaz, a morte de um genro, e a saúde debilitada de seu marido. Finney se casou novamente em 1848, mas sua segunda esposa, Elizabeth, morreu em 1863, no meio da Guerra Civil. Sua terceira esposa foi Rebecca Allen Baze, com quem se casou quanto tinha 78 anos e Rebecca 41. Finney morreu em agosto de 1875.

Prof. Hanko é professor emérito de História da Igreja e de Novo Testamento no Protestant Reformed Seminary.

Fonte: Standard Bearer, vol. 82, Issue 3.


1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em agosto/2007.

2“Aquele que busca, procura, etc.” (Nota do tradutor)

Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.

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