David Engelsma
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / [email protected]
Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério. Mateus 5:31:32
Ao continuarmos examinando a Palavra de Deus sobre o casamento, chegamos ao assunto do divórcio. Igrejas que se importam pouquíssimo com a verdade sobre o casamento estão preocupadas com o divórcio. Até mesmo o mundo incrédulo fica alarmado com o alto índice de divórcio. A explicação dessa preocupação e interesse não é a indignação que se apodera deles por causa dos ímpios que abandonam a lei de Deus, como o Salmo 119:53 coloca, mas porque o divórcio rompe suas vidas e causa vários problemas na sociedade humana.
Alguns dos filhos de Deus têm um interesse especial no ensino bíblico com respeito ao divórcio por terem se divorciado, ou por que o casamento deles está atormentado com sérios problemas. Mas a verdade sobre o divórcio é de grande importância para todos os membros da igreja, casados bem como solteiros. Todos nós somos responsáveis pela pureza, força e bem-estar espiritual da igreja. É aqui, na questão do divórcio, que a obediência da igreja à verdade do casamento é testada. Por sua postura para com o divórcio, a igreja mantém ou fatalmente compromete a verdade do casamento, tanto para si mesma como para a geração futura.
Devemos ser cuidadosos para não considerar o divórcio à parte do casamento. O divórcio pode ser visto corretamente somente à luz de tudo o que foi dito anteriormente concernente ao casamento. O divórcio é o negativo. O positivo que ele nega é o casamento. O divórcio é uma separação de dois que foram unidos no casamento. Portanto, para julgar o divórcio corretamente, precisamos lembrar a verdade sobre o casamento: quem instituiu o casamento; do que o casamento é um símbolo; o que realmente acontece quando um homem e uma mulher se casam; e quais são as leis de Deus que governam o casamento.
Cristo mostrou que o divórcio deve ser visto e julgado à luz da verdade do casamento em Mateus 19. Quando os fariseus lhe perguntaram sobre o divórcio (v. 3), ele respondeu afirmando primeiramente a verdade do casamento (vs. 4-6a). A essência do casamento é: “De modo que já não são mais dois, porém uma só carne” (v. 6a). Então, à luz da verdade do casamento e em completa dependência dele, Cristo expressou a lei com respeito ao divórcio: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”.
Embora o título desse capítulo seja negativo, “A Probição do Divórcio”, a idéia e propósito principal serão positivos. O tópico foi colocado na forma negativa deliberadamente. A forma negativa serve para deixar a verdade acentuada e clara. Como nunca antes, a igreja de hoje deve ouvir e conhecer essa verdade: nenhum divórcio! O título negativo é fiel também ao ensino de Jesus em Mateus 5:31,32, pois esse texto é uma condenação do divórcio. Todavia, o texto condena o divórcio em favor da santidade, intimidade e beleza do laço do casamento.
A Passagem de Deuteronômio 24 sobre o Divórcio
Em Mateus 5, Jesus está obviamente contrastando seu ensino sobre o divórcio com outro ensino. Esse outro ensino é o regulamento de Moisés com respeito ao divórcio para Israel no Antigo Testamento. Quando Jesus declara no versículo 31: “Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio”, ele refere-se ao regulamento com respeito ao divórcio em Deuteronômio 24:1-4 (RC):
Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então, será que, se não achar graça em seus olhos, por nela achar coisa feia, ele lhe fará escrito de repúdio, e lho dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem, e se este último homem a aborrecer, e lhe fizer escrito de repúdio, e lho der na sua mão, e a despedir da sua casa ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então, seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a tomá-la para que seja sua mulher, depois que foi contaminada, pois é abominação perante o SENHOR; assim não farás pecar a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá por herança.
É este regulamento do Antigo Testamento que é tão importante também em Mateus 19. Os fariseus tentaram Jesus com respeito ao divórcio, perguntando-lhe: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?” (v. 3). Jesus respondeu que, visto que Deus une as pessoas ao se casarem, então o homem não deve separá-las: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (v.6). Em outras palavras, Jesus proibiu o divórcio. Então, os fariseus lançaram sua armadilha. Moisés tinha dito que eles poderiam se divorciar: “Replicaram-lhe: Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar?” (v. 7). Eles se referiam, certamente, à passagem de Deuteronômio 24:1-4. O argumento deles é claro. Moisés foi o grande profeta e legislador de Deus. Jesus estava em oposição a Moisés sobre a questão da permissibilidade do divórcio. Portanto, Jesus não pode ter vindo da parte de Deus.
A importância de Deuteronômio 24:1-4 para o assunto do divórcio requer que olhemos com atenção para a passagem. O regulamento com respeito ao divórcio encontrado na passagem foi grosseiramente mal entendido nos dias de Jesus e ainda é comumente mal entendido hoje. Com esse mal entendido, criamos o problema da falta aparente de concordância entre Jesus e Moisés, entre o Novo Testamento e o Antigo Testamento, e falhamos em ver a concordância básica entre eles sobre essa questão do divórcio. Nosso equívoco é que tomamos o regulamento como uma aprovação do divórcio e até mesmo do novo casamento. Assim entendemos as palavras: “ele lhe fará escrito de repúdio, e lho dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem” (vv. 1, 2). Vemos isso como uma legitimação do divórcio por uma razão insignificante (“por nela achar coisa feia”, v. 1). De fato, contudo, não há na passagem nenhuma aprovação de divórcio, seja qual for, muito menos de novo casamento. Moisés não requer aqui o divórcio. Nem ele aprova o divórcio. Mas, como Cristo apontou em Mateus 19:8, ele apenas permitiu. Permitir algo é fundamentalmente diferente de aprovar. Moisés deu a Israel uma lei, em Deuteronômio 24, que prescrevia o que um homem tinha que fazer se ele pretendesse se divorciar de sua esposa. Moisés percebeu que os homens em Israel estavam se divorciando de suas esposas e continuariam a fazê-lo no futuro. Em tais casos, eles deveriam escrever e dar às suas esposas um “escrito de repúdio”, um termo de divórcio oficial. Moisés não ordenou aos israelistas: “Divorciem-se de suas esposas”, nem caso houvesse algo indecente nelas (Dt. 24:1, RA). Mas seu mandamento foi: “Se você for se divorciar de sua esposa, então deve lhe dar um termo de divórcio”. O propósito da exigência em dar um termo de divórcio era o bem-estar da mulher que era repudiada. A mulher em Israel era completamente sujeita ao homem e estava inteiramente à sua mercê. Se Moisés não tivesse exigido que o marido desse um termo de divórcio à mulher a quem ele estava determinado a repudiar, as mulheres em Israel em breve se tornariam meros brinquedos e seriam consideradas pouco diferentes de uma prostituta. O termo de divórcio tinha que ser escrito “para ela” e dado “na sua mão”; isto é, ele era para o seu benefício.
Há algo mais em Deuteronômio 24, frequentemente ignorado, que indica que Moisés não aprovou o divórcio ou novo casamento, muito menos o ordenou, mas apenas permitiu. De acordo com a correta leitura da passagem, o regulamento feito por Moisés é que uma mulher que se divorciou do seu marido original e se casou com outro homem, não pode retornar ao seu marido original em caso do segundo também se divorciar dela. Nos versículos 1-3, Moisés meramente observa o que ele estava de fato vendo acontecer em Israel. Os homens estavam se divorciando de suas esposas por causa de alguma coisa indecente. Essas mulheres divorciadas estavam se casando com outros homens. Então, as mulheres eram divorciadas pelos seus novos maridos. Em tais casos, Moisés proíbe o retorno ao primeiro marido (v. 4). Os versículos 1-4 não apresentam o que Moisés aprova, mas apenas o que ele observa acontecer. A tradução em nossa Bíblia King James é de certa forma enganosa, especialmente nos versículos 1 e 2, onde deixa a impressão que Moisés expressamente aprova o fato do homem se divorciar de sua esposa e até mesmo o novo casamento dela. A tradução correta é esta:
Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter ele achado coisa indecente nela, e se ele lhe lavrar um termo de divórcio, e lho der na mão, e a despedir de casa; e se ela, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem; e se este a aborrecer… então, seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a desposá-la para que seja sua mulher…
De acordo com essa tradução, ainda existe um requerimento implícito que o marido deve dar um termo de divórcio à mulher da qual ele pretende se divorciar. Mas essa tradução deixa claro que Moisés está apenas permitindo o divórcio, não aprovando.
Deve ser observado também que o único fundamento para o divórcio que é permitido por Moisés é “coisa indecente” (RA). Literalmente, lemos o versículo 1 assim: “a nudez de uma coisa”. A frase não ocorre em nenhum outro lugar na Escritura, o que torna difícil dizer exatamente o que ela significa. Não pode haver nenhuma dúvida que a referência é a algum tipo de corrupção ou indecência sexual na mulher. Não era adultério, pois o mesmo era punido com morte. Mas estava relacionado com adultério, considerando que era impureza sexual de algum tipo. Portanto, não é o caso de Deuteronômio 24 permitir o divórcio por razões menores. Pelo contrário, mesmo ao permitir o divórcio, o Antigo Testamento restringia rigorosamente o mesmo às circunstâncias que envolviam impureza na esfera do sexo. Assim, o Antigo Testamento mostra sua harmonia básica com o ensino de Jesus, que limita o divórcio aos casos de adultério.
Todavia, esse regulamento de Moisés em Deuteronômio 24 não é satisfatório. Essa é a implicação clara das palavras de Jesus em Mateus 5:31,32: “Também foi dito… Eu, porém, vos digo”. Jesus contrasta seu ensino, que é a verdade pura, com o ensino de Moisés em Deuteronômio 24. O regulamento de Moisés é insatisfatório visto que Moisés tolera a prática do divórcio sobre um outro fundamento que não o adultério, bem como tolera o novo casamento. Note bem, contudo, que Cristo não culpa Moisés. Antes, ele culpa Israel! Pois em Mateus 19:8 ele diz: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher” [ênfase minha].
Isso pode apresentar um problema para a harmonia entre o Antigo e Novo Testamento. De fato, ele apresenta um problema. Contudo, o problema não é este: Como algo pode ser certo no Antigo Testamento e errado no Novo Testamento? Antes, o problema é este: Como pode o Antigo Testamento permitir ou tolerar ocasionalmente o errado, enquanto o Novo Testamento não permite? A poligamia no Antigo Testamento cai na mesma categoria. A despeito desse “problema”, é claro como cristal e indubitável que os cristãos do Novo Testamento nunca podem apelar a Deuteronômio 24 para aplicar esse regulamento do Antigo Testamento às suas vidas. Se eles o fazem, estão reconhecendo que têm corações duros, assim como o Israel a quem a regra foi feita. Ainda mais, eles mostrarão que insistem em serem duros de coração. Essa é a condição espiritual de ser governado pela incredulidade, pois Jesus diz que “por causa da dureza do vosso coração” Moisés criou a regra de Deuteronômio 24.
Entre nós e Deuteronômio 24 permanece a Palavra de Jesus Cristo: “Eu, porém, vos digo”. Cristo anulou a permissão de Deuteronômio 24. O divórcio não é permitido por nenhuma razão, exceto por adultério. Em Jesus Cristo, o reino dos céus chegou em sua plenitude, também com respeito à verdade do casamento. Dentro desse reino, permanece que “qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério” (Mt. 5:32).
A Lei sobre o Divórcio do Antigo Testamento
Todavia, Deuteronômio 24 não é a lei do Antigo Testamento sobre o divórcio. Deuteronômio 24 é um desvio da lei do Antigo Testamento. Isso é evidente a partir do fato que ela era uma permissão do divórcio. Não se permite algo que é certo e bom. Permite-se o que não é certo e não é bom: um desvio da lei.
Ao permitir o que era errado, Deuteronômio 24 também permite muita miséria em Israel. Isso é frequentemente esquecido por aqueles que são ávidos em aplicar a passagem para si mesmos, na esperança de aliviar um problema marital. Neste próprio regulamento de Deuteronômio 24 está a advertência de Moisés quanto à abertura para uma bagunça vergonhosa e desgraça amarga. É possível que uma mulher vá de um divórcio para outro e acabe desejando voltar ao seu primeiro marido. Essa é a descrição de uma bagunça marital e de uma miséria alastrada. E o que dizer das crianças que nascem durante esse período? O caminho de um coração duro é o caminho da miséria, já nesta vida. O mesmo foi verdade no Antigo Testamento como conseqüência da poligamia. Essa violação do casamento também levou o culpado a sérios problemas. Nós que vivemos na era do Novo Testamento somos poupados desta miséria por termos uma melhor luz sobre o casamento.
Deuteronômio 24 não era a lei com respeito ao divórcio, mas um desvio da lei. A lei com respeito ao divórcio era aquela implicada na instituição do casamento feita por Deus em Gênesis 2. É para isso que Jesus chamou a atenção dos fariseus em Mateus 19:8. Após observar que Deuteronômio 24 foi uma permissão feita por Moisés de um desvio da lei do divórcio, ele lembra aos fariseus: “Entretanto, não foi assim desde o princípio”. A lei com respeito ao divórcio é encontrada em Gênesis 2:18-24, o registro da instituição do casamento feita por Deus no princípio. Essa é a lei, tanto no Antigo como no Novo Testamento: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt. 19:6). Deus une as pessoas casadas. Portanto, o divórcio é proibido. Também no Antigo Testamento, Deus odiava o divórcio. Ele deixa isso claro em Malaquias 2:15,16: “Não fez o SENHOR um, mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava a descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis”. Portanto, em Mateus 5 Jesus não contradiz a lei do Antigo Testamento com respeito ao divórcio, mas ele desvela, apresenta e mostra sua plena significância: o divórcio é proibido!
A Impiedade do Divórcio
Deve ser enfatizado que Jesus trata o divórcio em Mateus 5:31,32. Ele condena e proíbe o repúdio de uma esposa. Não é o novo casamento que é a sua preocupação aqui, mas o divórcio. Há razão para temer que, embora o novo casamento ainda nos choque, já nos tornamos endurecidos para o divórcio. Se esse é o caso, precisamos ouvir cuidadosamente ao Senhor.
Nem é o caso que ele proíba o divórcio somente por causa da possibilidade de um novo casamento, como se o divórcio em si não fosse pecaminoso. Jesus de fato aponta para a possibilidade de novo casamento quando o divórcio ocorre. Mas ele condena o divórcio, não porque ele conduz a outro mal, mas porque ele mesmo é um mal. Todo aquele que se divorcia de sua esposa peca em virtude do fato que se divorcia dela.
Embora Jesus condene o divórcio na forma do marido divorciando da sua esposa, é óbvio que está implicado a pecaminosidade igual da esposa divorciando do esposo. Nos dias de Jesus, o homem tinha a vantagem, de forma que qualquer divórcio feito era feito somente pelo homem. Hoje a mulher tem a vantagem, de forma que ela domina na questão do divórcio. Não é importante quem pratica o divórcio, se homem ou mulher, mas sim o ato que é cometido.
A condenação do divórcio por Cristo deve ser entendida como uma condenação de todas as formas de separação de um homem e sua mulher. Ele fala de “repudiar”. Isso se refere ao divórcio legal, oficial. Mas abrange também o que conhecemos como pedido de desquite. Inclui também o simples abandono do seu parceiro, quer seja o marido abandonado a esposa ou a esposa abandonando o marido. Repudiar, separar, abandonar – todas essas atitudes tentam quebrar em dois o que Deus tornou um, e que deve assim permanecer.
Pode acontecer que chegue um momento em que a esposa deve deixar o marido temporariamente, ou pedir que ele a deixe. Talvez ele beba e espanque ela e as crianças. Não é seguro para a sua vida e família que ele esteja em casa com ela. Então, embora não pretenda se divorciar dele completamente, num sentido oficial, ela vê que eles precisam viver separados. Mas mesmo isso é uma questão fatalmente séria. A igreja deve considerar isso como tal. As próprias pessoas casadas devem considerá-la como uma questão muito séria. Ela é simplesmente uma situação intolerável.
O divórcio é proibido em termos do que pode acontecer às pessoas divorciadas. Repudiar o parceiro é pecar, e um aspecto desse pecado é expor o outro ao adultério. Cristo diz: “Qualquer que repudiar sua mulher… faz que ela cometa adultério” (Mt. 5:32, RC). O Senhor conhece a natureza humana, não somente a natureza humana caída, mas também a natureza humana como originalmente criada: “Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn. 2:18). O homem que repudiar sua esposa com um divórcio oficial é responsável por colocá-la numa posição onde ela está tentada a se casar novamente, e esse novo casamento é adultério de acordo com as palavras de Cristo na última parte de Mateus 5:32: “E aquele que casar com a repudiada comete adultério”. Ou a mulher divorciada é tentada a cometer adultério sem casar novamente. O homem que repudiar sua esposa “meramente” separando-se dela ou deixando-a também é culpado de fazê-la cometer adultério. Ele a expõe ao perigo de relações ímpias com outros homens. Isso é vividamente ilustrado na história de Abrão e Sarai em Gênesis 12. Abrão “repudiou” sua esposa para sua própria segurança, e ela foi logo levada para a casa de Faraó e ameaçada com uma união adúltera com ele. Deus não tolera nenhuma tolice em sua instituição de casamento. Certamente, o mesmo é verdade quanto à esposa que repudia seu marido ou o abandona. Então, é a mulher que faz com que ele cometa adultério. A pessoa que é repudiada não deve cometer adultério, mesmo que ela que tenha sido divorciada injustamente. Se cometer, ela é culpada de pecado. A última parte do versículo 32 ensina isso. Mas o parceiro responsável pelo divórcio também será culpado. Deus o considera responsável!
O fato que Jesus proíbe o divórcio em termos da malignidade do adultério, que quase sempre é uma conseqüência do divórcio, não pode obscurecer a verdade que o ato do divórcio é em si mesmo pecado. A despeito dele resultar em outro casamento ou não, totalmente à parte de quaisquer conseqüências, o divórcio é pecado. A razão é que o homem, em arrogante rebelião, está separando o que Deus uniu. O homem não pode desunir o que Deus uniu. O casamento é uma instituição divina. No casamento, Deus faz de dois um só. É errado esse um torna-se dois novamente, não considerando agora a questão se isso é sequer possível. Quer essas pessoas separadas tentem ou não estabelecer novos laços, não tem como haver uma quebra do laço entre elas.
Essa é a força das palavras de Jesus sobre o divórcio em Mateus 19:4-6:
Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
A última parte do versículo 32 mostra que isso fundamenta a proibição do divórcio por Jesus em Mateus 5. Não é suficiente proibir o divórcio, mas ele precisa adicionar que se a mulher prejudicada e divorciada casa novamente, ela e seu novo marido são culpados de adultério. Por que? Porque o laço do casamento permanece, aconteça o que acontecer. Ao condenar o divórcio, Jesus está defendendo a união do casamento. Porque o casamento é a união de um homem e uma mulher feita por Deus, tornando-os uma só carne, o divórcio é proibido.
Um Único Fundamento Bíblico para o Divórcio
Há uma exceção para a proibição do divórcio. Essa exceção é o adultério por parte de um dos cônjuges: “exceto em caso de relações sexuais ilícitas” (Mt. 5:32). Se a esposa de um homem é infiel a ele, se ela tem relações sexuais com outro homem, ele pode repudiá-la sem incorrer na ira de Deus ou na disciplina da igreja. O adultério é o único fundamento para o divórcio diante de Deus. Um marido pode se divorciar de sua esposa sobre o fundamento do adultério dela, ou a esposa do seu marido. Contudo, ele não é obrigado a se divorciar dela! Mesmo o adultério pode ser perdoado pelo sangue de Cristo, de forma que os dois permaneçam uma só carne no casamento. Se pela graça de Deus a esposa infiel se arrepende do seu adultério, o homem cristão pode e deveria perdoá-la e recebê-la de volta. Da mesma forma, Deus tem frequentemente perdoado e recebido de volta sua esposa, Israel-Igreja, após ela ter se prostituído com muitos ídolos. Todavia, o adultério da esposa pode ser tal que torne a vida em companhia impossível.
Aqui vemos a seriedade do adultério. O adultério é considerado levianamente hoje. O mundo constrói comédias sobre ele nos filmes e na televisão. Os romances populares tratam-no duma forma frívola e até mesmo o louvam. Mesmo na igreja, são ouvidas piadas sobre adultério. Cristo não considerou o adultério levianamente. No fato que o adultério, e o adultério somente, é de tal natureza que separa o que Deus uniu, você vê a seriedade e horror desse pecado. Por sua própria natureza, o adultério golpeia o centro do casamento: a intimidade dos dois, o fato do marido e sua esposa serem uma só carne.
Quando Jesus proíbe o divórcio, “exceto em caso de relações sexuais ilícitas, ele ensina que há somente um fundamento para o divórcio. Somente o adultério quebra o laço do casamento num nível que o marido e esposa podem se apartar, separados da vida em um lar, uma mesa e uma cama. Nada mais é um fundamento para o divórcio, seja o que for. Num mundo de pecado e morte, há muitos males que podem perturbar o casamento: insanidade, paralisia, não somente maridos que desejam o divórcio, mas também esposas briguentas que são miseráveis para se conviver. Mas nenhum desses males é fundamento para o divórcio. Esse é o significado das frases no voto de casamento que declaram: “na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença… até que a morte os separe”.
Nenhum marido tem fundamento para se queixar que a igreja proíbe o divórcio, mas permite sua esposa se tornar uma víbora. Nenhuma esposa deveria se queixar que embora a proíba de divorciar de seu marido, a igreja permite que ele seja um bruto. Pois a igreja também demanda que os maridos e esposas desempenhem suas responsabilidades maritais, como observamos nos capítulos anteriores. E a igreja deve apoiar sua pregação com disciplina. Não somente nosso Senhor admoesta os crentes a viverem juntos, mas também os admoesta a viver juntos de uma maneira apropriada: em paz e amor.
A lei que proíbe o divórcio serve para todo homem e mulher casado, o incrédulo bem como o crente. “Qualquer que repudiar sua mulher” peca. Essa é a lei do casamento, de todo casamento, “desde o princípio”. Quão depravado é o mundo! Quão maduro para o julgamento está a nossa sociedade!
Um Cristo que não se divorcia
Contudo, Cristo direciona sua Palavra sobre o divórcio aos cidadãos do reino dos céus, isto é, à igreja crente. Ela é parte do Sermão do Monte. É para os crentes que a recebem pela graça de Deus. É para aqueles cujos corações foram regenerados pelo Espírito para amarem a Deus e, em gratidão pela salvação, honrar sua instituição do casamento. Os crentes vêem essa Palavra de Jesus contra o divórcio como um testemunho da sua fidelidade à sua noiva, a igreja. Cristo endossa o casamento como o mistério de si mesmo e a igreja. Ele nunca repudia seu povo, embora tenha ampla causa em virtude dos pecados deles. É essa fidelidade de amor que os crentes são chamados a refletir em seus casamentos.
Fonte: Capítulo 7 do livro Marriage: The Mystery of Christ And The Church. Traduzido com permissão da PRC [http://www.prca.org/]
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