Rev. Steven R. Houck
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
A Ênfase Apropriada
“Sabei que o SENHOR é Deus …” (Sl. 100:3). Não são essas palavras do salmista a expressão da fé de todo verdadeiro filho de Deus? O cristão crê que o seu Deus de fato é DEUS. Ele é o Deus absolutamente soberano dos céus e da terra. Ele é aquele que criou o mundo por seu poder soberano. Ele é aquele que mesmo agora sustenta o mundo e tudo o que nele há. Ele é aquele que soberanamente governa e dirige todos os assuntos do mundo, por seu conselho eterno e poder onipotente. Até o homem está absolutamente sujeito à sua vontade. Ninguém pode frustrar a vontade de Deus, nem pode alguém questionar os seus caminhos e obras. Ele é aquele que é Deus também na salvação. Ele salva seu povo soberanamente. Na eternidade escolheu aqueles a quem salvaria. No tempo ele somente aplica a obra de Cristo ao seu povo, e os leva à vida eterna na glória. Assim, o filho de Deus declara: “Quem é Deus tão grande como o nosso Deus? Tu és o Deus que fazes maravilhas …” (Sl. 77:13-14). De fato, “o SENHOR é Deus.”
A soberania de Deus é ensinada tão claramente na Sagrada Escritura que é impossível alguém negar essa doutrina sem negar as próprias Escrituras. Contudo, existem aqueles que, embora não neguem abertamente a soberania de Deus, negam que essa doutrina deva ser enfatizava. Ela é apenas uma doutrina entre muitas e, portanto, deve ser “mantida em equilíbrio” com o restante. Além do mais, eles nos dizem que a soberania de Deus entra na área das “coisas secretas” de Deus e é muito perigoso que seu povo se preocupe com essas coisas que pertencem a ele somente. Assim, eles nos aconselham que embora possamos crer na doutrina da soberania de Deus, não ousamos fazer muito caso dela. Se fizermos, nos tornaremos “unilaterais.”
Contudo, as Escrituras nos ensinam que a soberania de Deus não é apenas outra doutrina. Ela é o próprio cerne do evangelho. Se algo deve ser enfatizado, que seja a soberania de Deus. Deus é revelado como o Soberano em cada página da Sagrada Escritura. Embora isso possa ser mostrado a partir de uma análise de toda a Bíblia, voltaremos nossa atenção apenas para um livro da Bíblia – o livro de Salmos. Se existe algum livro da Bíblia que deveria demonstrar a ênfase apropriada da vida cristã, o mesmo é o livro de Salmos. O motivo é que nele não temos instrução detalhada de doutrina, tal como no livro de Romanos, mas sim a expressão do coração e alma do crente. Os Salmos são expressões da experiência diária do filho de Deus. Neles encontramos as tristezas e alegrias do crente, seus temores e conforto, seus desejos e orações. Neles encontramos a ênfase apropriada da vida cristã. A ênfase é muito óbvia também – DEUS É O DEUS SOBERANO. O filho de Deus encontra seu conforto nesse fato. Ele não somente crê que isso é verdadeiro, mas tal é o coração e a alma de sua fé.
O Glorioso Rei Soberano
Os Salmos são cânticos de louvor e adoração a Deus. São cânticos que louvam a Deus por sua grandeza e glória. Eles reconhecem Deus como sendo o Rei soberano. Os salmistas não conhecem nenhum deus impotente e indefeso. Não conhecem nenhum deus que seja dependente do homem e de sua vontade. O Deus dos salmistas é o Rei. Ele é o eterno Governador, Senhor e Soberano. Assim, o salmista exclama: “O SENHOR é Rei eterno …” (Sl. 10:16). O Senhor é o Rei soberano de todo o mundo. Ele é o Rei de toda criatura. Todos estão sujeitos a ele, tanto justos como ímpios. “Porque o SENHOR Altíssimo é tremendo, e Rei grande sobre toda a terra. Ele nos subjugará os povos e as nações debaixo dos nossos pés” (Sl. 47:2-3). Porque Deus é o Rei, ele é também o Juiz. Ele mantém os homens responsáveis por todos os seus atos. Aqueles que recusam obedecer às suas ordenanças têm razão para temer sua ira terrível. Ele vem como o Soberano Juiz para destruir os ímpios. Mas em seu justo julgamento, ele também livra o seu povo. Portanto, Israel poderia cantar do Juiz soberano: “Tu, tu és temível; e quem subsistirá à tua vista, uma vez que te irares? Desde os céus fizeste ouvir o teu juízo; a terra tremeu e se aquietou. Quando Deus se levantou para fazer juízo, para livrar a todos os mansos da terra” (Sl. 76:7-9).
Contudo, Deus não é apenas outro Rei. Ele é O REI. É o grande e glorioso Rei que encherá os corações dos homens de pavor. Quando o contemplamos devemos proclamar: “O SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus!” (Sl. 8:1). Quando o Senhor se manifesta em sua majestade então, “nuvens e escuridão estão ao redor dele; justiça e juízo são a base do seu trono. m fogo vai adiante dele, e abrasa os seus inimigos em redor. s seus relâmpagos iluminam o mundo; a terra viu e tremeu. Os montes derretem como cera na presença do SENHOR, na presença do Senhor de toda a terra” (Sl. 97:2-5). O Deus soberano é tão sublime que deve se curvar para contemplar as coisas dessa terra. Ele é excessivamente grande e glorioso, e o homem tão pequeno. Mesmo os céus são baixos em comparação com a majestade de Deus. A glória dos anjos não pode alcançar a glória do Altíssimo Deus. “Exaltado está o SENHOR acima de todas as nações, e a sua glória sobre os céus. Quem é como o SENHOR nosso Deus, que habita nas alturas? O qual se inclina, para ver o que está nos céus e na terra!” (Sl. 113:4-6).
Não é entranho, então, que Deus demande que o temamos e adoremos. Não somos nada em comparação com o Deus Soberano. Ele é o Rei glorioso a quem estamos obrigados servir. “Pois quem no céu se pode igualar ao SENHOR? Quem entre os filhos dos poderosos pode ser semelhante ao SENHOR? Deus é muito formidável na assembléia dos santos, e para ser reverenciado por todos os que o cercam” (Sl. 89:6-7). Devemos reverência a Deus. Devemos honrá-lo como o Deus glorioso. O homem não deve se gloriar em si mesmo e nas suas obras, mas na majestade de Deus. Nosso dever é adorar ao Senhor com cânticos de louvor. “Dai ao SENHOR, ó filhos dos poderosos, dai ao SENHOR glória e força. Dai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza da santidade” (Sl. 29:1-2).
O Poder Soberano De Deus
Os salmistas não somente louvam a Deus como o Rei glorioso, mas o louvam para a manifestação do seu grande poder. Deus é de fato o Governador. Seu poder maravilhoso é demonstrado em todo lugar. Vemo-lo na criação do céu e da terra. O salmista explode num cântico de louvor do poder do Criador quando diz: “Louvai ao SENHOR. Louvai ao SENHOR desde os céus, louvai-o nas alturas. Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos. Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. Louvai-o, céus dos céus, e as águas que estão sobre os céus. Louvem o nome do SENHOR, pois mandou, e logo foram criados” (Sl. 148:1-5). Homens, anjos, sol, lua, estrelas e toda criatura deve cantar louvores a Deus “pois mandou, e logo foram criados.”
Além do mais, o Deus soberano mesmo agora governa e dirige todas as questões desse mundo por seu poder. O salmista declara: “Porque dirão os gentios: Onde está o seu Deus? Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou” (Sl. 115:2-3). Deus faz tudo o que lhe agrada. Seu poder é tão alto, tão onipotente, que tudo o que desejou acontecerá. Sua vontade nunca será frustrada. Nem mesmo pelos ímpios, que pensam que podem derrotar a Deus e destruir o seu povo. Deus governa de tal maneira que todas as coisas acontecem de acordo com o seu beneplácito. “O SENHOR reina; está vestido de majestade. O SENHOR se revestiu e cingiu de poder; o mundo também está firmado, e não poderá vacilar” (Sl. 93:1). Todas as coisas são o que são e fazem o que fazem porque Deus assim as estabelece. Ninguém é capaz de “mover” algo do lugar que Deus lhe deu.
Em muitos lugares os salmistas cantam louvores a Deus pelo poder e controle que ele exerce sobre o mundo animal e as “forças da natureza.” A criação em geral está ao serviço do Rei Soberano (Sl. 74:13-17; 104:5-24; 105:16-41; 147:8-18). Mas o que é mais importante é o fato que o governo de Deus se estende ao homem – tanto ímpios como justos. Mesmo o homem, que procura ser tão independente, está preso à vontade e poder do Deus soberano. O homem aspira poder e autoridade, mas é Deus quem dá ambos àqueles a quem lhe agrada. “Porque nem do oriente, nem do ocidente, nem do deserto vem a exaltação. Mas Deus é o Juiz: a um abate, e a outro exalta” (Sl. 75:6-7). Tudo o que o homem faz é dependente do poder de Deus. O homem não pode fazer nada sem Deus. “Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono. Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão” (Sl. 127:1-3). O homem pode procurar edificar uma casa, mas se Deus não a edificar, será impossível para o homem fazê-lo. A sentinela pode tentar guardar a cidade, mas se Deus não a guardar, toda a vigia será em vão. Se o homem dorme em paz, é porque o Senhor lhe dá o sono. Mesmo nossos filhos são-nos dados pela obra maravilhosa do poder de Deus. Sim, todas as questões da vida do homem estão sob o controle e direção de Deus.
Não, o Deus dos Salmos não é um deus fraco e impotente. Ele não é um deus que deve contornar a vontade e o caminho do homem. Ele é o Deus soberano, que tem todas as coisas em suas mãos. Ele é o Rei glorioso que criou, sustenta e governa o mundo. Assim, com o salmista devemos louvar ao Senhor cantando: “Porque eu conheço que o SENHOR é grande e que o nosso Senhor está acima de todos os deuses. Tudo o que o SENHOR quis, fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos” (Sl. 135:5-6).
O Salvador Soberano
Visto que Deus é o Rei soberano sobre todo o mundo, devemos reconhecer também que ele é o Salvador soberano. Quão inconsistente seria se reconhecemos Deus como sendo o grande Rei, mas recusamos reconhecê-lo como o Salvador que salva o seu povo pela graça soberana somente. Essas duas coisas não podem ser separadas. Se Deus não é o Salvador soberano, então não pode ser o Rei Soberano. Os Salmos, contudo, deixam bem claro que Deus é de fato o Salvador soberano. O Salvador É o Rei soberano. O Salvador é o grande Deus que criou todas as coisas e que sustenta e governa todas as coisas. Assim, o salmista declara: “Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do SENHOR que fez o céu e a terra” (Sl. 121:1-2). O povo de Deus encontra o seu auxílio no Salvador que criou o mundo. O poder da salvação é o poder do Criador soberano.
Portanto, Deus é louvado nos Salmos como o grande e poderoso Salvador que livra de todo inimigo. Todo cristão verdadeiro se regozija com o salmista quando ele canta: “Eu te amarei, ó SENHOR, fortaleza minha. O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio” (Sl. 18:1-2). Todas essas expressões retratam Deus como um Salvador poderoso e forte. Ele é como uma grande rocha inamovível. Ele é um lugar forte, um alto refúgio. O Salvador é o escudo que protege seu povo de todo inimigo. Nada pode irromper as defesas com as quais Deus rodeou o seu povo. Os salmistas consideravam Deus como sendo tão soberano na salvação que confiavam nele completamente. Assim, o salmista declara: “O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O SENHOR é a força da minha vida; de quem me recearei?” (Sl. 27:1).
Essa confiança no Salvador soberano é expressa não somente por meio de louvor, mas também de oração. Os Salmos estão cheios de oração nas quais Deus é invocado para socorro e salvação. Lemos: “Das profundezas a ti clamo, ó SENHOR. Senhor, escuta a minha voz; sejam os teus ouvidos atentos à voz das minhas súplicas. Se tu, SENHOR, observares as iniqüidades, Senhor, quem subsistirá? Mas contigo está o perdão, para que sejas temido. Aguardo ao SENHOR; a minha alma o aguarda, e espero na sua palavra” (Sl. 130:1-5). Os salmistas eram pecadores, assim como todos do povo de Deus. Eles sabiam também que, se Deus considerasse os seus pecados, não permaneceriam de pé. Mas pela fé estavam confiantes que Deus poderia e os salvaria. Eles esperavam no Salvador soberano. Não buscavam salvação neles mesmos. Não confiavam na vontade ou obras deles. Nem se voltavam para outros em busca de socorro. A esperança certa deles estava fixada sobre Deus somente. Eles conheciam apenas um Salvador, e esse Salvador era Deus Jeová. “A minha alma espera somente em Deus; dele vem a minha salvação. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei grandemente abalado” (Sl. 62:1-2).
A Graça Soberana de Deus
A salvação é a obra da graça de Deus somente. É a obra da graça SOBERANA de Deus. Os salmistas não conheciam uma graça que deve ser conquistada pelo homem ou aceita por sua vontade. A salvação não é condicionada ao que o homem faz, mas é baseada totalmente na fidelidade do Deus do pacto. O povo de Deus é salvo somente porque Deus estabeleceu seu pacto com eles e prometeu salvá-los. Assim, o povo de Deus se regozija e canta: “As benignidades do SENHOR cantarei perpetuamente; com a minha boca manifestarei a tua fidelidade de geração em geração. Pois disse eu: A tua benignidade será edificada para sempre; tu confirmarás a tua fidelidade até nos céus, dizendo: Fiz uma aliança com o meu escolhido, e jurei ao meu servo Davi” (Sl. 89:1-3). A fidelidade pactual de Deus nunca falhará. Mesmo quando o povo de Deus viola o pacto, Deus permanece fiel. Ele os salva a despeito da sua infidelidade, através da Semente prometida. Ele promete: “A minha benignidade lhe conservarei eu para sempre, e a minha aliança lhe será firme. E conservarei para sempre a sua semente, e o seu trono como os dias do céu. Se os seus filhos deixarem a minha lei, e não andarem nos meus juízos. Se profanarem os meus preceitos, e não guardarem os meus mandamentos. Então visitarei a sua transgressão com a vara, e a sua iniqüidade com açoites. Mas não retirarei totalmente dele a minha benignidade, nem faltarei à minha fidelidade. Não quebrarei a minha aliança, não alterarei o que saiu dos meus lábios” (Sl. 89:28-34).
É o Salvador soberano, portanto, que regenera, converte, justifica, santifica, preserva e glorifica o seu povo. Essa era a convicção do Rei Davi, como demonstrado pelo Salmo 51. A quem Davi se voltou no meio de seus grandes pecados? Ele achou conforto no fato que fez algo para a salvação? NÃO! Ele orou: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias” (Sl. 51:1). Ele implorou a misericórdia de Deus. Ele não olhou para si mesmo, pois reconheceu “eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl. 51:5). Ele era um pecador. Como poderia salvar a si mesmo? Assim, ele busca salvação na graça soberana. Deus deve “criar” “um coração puro” e “renovar um espírito reto” nele. Somente Deus pode “restaurar” a ele “a alegria da salvação,” e sustentá-lo com o seu Espírito. Se haveria de ser limpo, Deus deve “purificá-lo” com hissope e “lavá-lo”, para que se tornasse mais branco do que a neve. Ele sabia que sua salvação é obra somente de Deus e, portanto, declara: “Ó Deus, Deus da minha salvação” (Sl. 51:14). Encontramos isso por todos os Salmos. No meio do pecado, os salmistas confiavam na graça soberana de Deus. Pois tudo da vida do crente é dirigido e controlado por Deus e sua graça, até que finalmente ele lhe dê a salvação completa. Assim, todos os crentes podem dizer: “Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás na glória” (Sl. 73:24).
Além do mais, os Salmos nos ensinam que a salvação não é dependente da escolha do homem, mas da escolha soberana de Deus. O fator determinador na salvação é vontade de Deus. Os salmistas falam da eleição de Deus em muitos lugares. “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo ao qual escolheu para sua herança” (Sl. 33:12). No conselho eterno e imutável de Deus, ele escolheu alguns para serem seu povo, a quem salva. “Porque o SENHOR escolheu para si a Jacó, e a Israel para seu próprio tesouro” (Sl. 135:4). Ele não salva todos. Deus nunca pretendeu salvar todo o mundo.
Ele salva somente aqueles a quem escolheu. Deus tem apenas um povo, que é seu “próprio tesouro”. Todos os outros não sabem nada sobre salvação. É sobre o seu povo escolhido somente que ele concede sua misericórdia, graça e amor. Ele tem somente ira pelos ímpios. Assim, o salmista fala de reprovação quando diz de Deus: “Odeias a todos os que praticam a maldade” (Sl. 5:5). “O SENHOR prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência odeia a sua alma” (Sl. 11:5).
A predestinação soberana de Deus foi manifesta por toda a antiga dispensação pelo fato que Deus deu sua Palavra somente ao seu povo. “Mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem. Louvai ao SENHOR” (Sl. 147:19-20).
A Soberania De Deus Sobre O Ímpio
Bem ligado à soberania de Deus na salvação está a soberania de Deus sobre os ímpios. Deus sempre salva o seu povo por meio do julgamento dos ímpios. O povo de Deus precisa ser salvo dos seus inimigos. Em muitos lugares os salmistas oram pela destruição dos seus inimigos. Em Sl. 68 lemos: “Levante-se Deus, e sejam dissipados os seus inimigos; fugirão de diante dele os que o odeiam. Como se impele a fumaça, assim tu os impeles; assim como a cera se derrete diante do fogo, assim pereçam os ímpios diante de Deus” (Sl. 68:1-2). Algumas vezes uma linguagem muito forte é usada. “O Deus, quebra-lhes os dentes nas suas bocas; arranca, SENHOR, os queixais aos filhos dos leões” (Sl. 58:6).
A base para tais orações pode ser somente a soberania de Deus. O poder onipotente de Deus controla até mesmos os ímpios por causa do povo de Deus e sua salvação. “[Deus] não permitiu a ninguém que os [o povo de Deus] oprimisse, e por amor deles repreendeu a reis, dizendo: Não toqueis os meus ungidos, e não maltrateis os meus profetas” (Sl. 105:14-15). Embora os ímpios tentem destruir o povo de Deus e a causa da Verdade, Deus os detém por seu poder e não permitirá que façam nada que ele não tenha determinado. “O SENHOR desfaz o conselho dos gentios, quebranta os intentos dos povos” (Sl. 33:10). Embora “os gentios se amotinem … e os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o SENHOR e contra o seu ungido … Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles” (Sl. 2:1-4). Deus usa todos os atos perversos dos ímpios para avançar a causa do seu reino. Mesmo a rebelião deles serve ao Senhor.
Todavia, por causa do seu povo, o Senhor destrói o ímpio. Isso é mais evidente na destruição do Egito. O salmista louva a Deus pela destruição dos inimigos do povo de Deus quando declara: “O que feriu os primogênitos do Egito, desde os homens até os animais; o que enviou sinais e prodígios no meio de ti, ó Egito, contra Faraó e contra os seus servos” (Sl. 135:8-9). Não somente o Egito, mas também outras nações pagãs foram destruídas por causa do povo de Deus. “O que feriu muitas nações, e matou poderosos reis: A Siom, rei dos amorreus, e a Ogue, rei de Basã, e a todos os reinos de Canaã. E deu a sua terra em herança, em herança a Israel, seu povo” (Sl. 135:10-12). Assim, o povo de Deus foi salvo por meio da destruição dos ímpios pelo poder soberano de Deus. Portanto, com o salmista todos do povo de Deus devem louvar a Deus e dizer: “Em Deus faremos proezas, pois ele calcará aos pés os nossos inimigos” (Sl. 108:13). Porque Deus é soberano sobre os ímpios, a salvação do povo de Deus é absolutamente certa. Louvai ao Senhor. Ele é o Salvador soberano.
O Conforto da Soberania de Deus
De tudo o que temos mostrado até aqui, deveria estar claro que vários temas da soberania de Deus percorrem todos os Salmos, como fios de ouro. Eles estão por toda parte. Se você arrancasse esses fios removendo a doutrina da soberania de Deus, descosturaria o Saltério inteiro. Pois não existe nenhum Salmo que não se refira à soberania de Deus de uma forma ou outra. É impossível encontrar um único Salmo que ignore essa doutrina. A maravilha do livro de Salmos, contudo, é que a grande maioria dos Salmos não menciona simplesmente a soberania de Deus: eles enfatizam-na! Um estudo cuidadoso dos Salmos indica que 90% deles devotam pelo menos 50% do seu conteúdo a essa doutrina. Pense nisso! Metade do conteúdo de cento e trinta e seis (136) Salmos lida com os temas da soberania de Deus. Além do mais, um terço dos Salmos são inteiramente devotados a esses temas. Isso é impressionante! Demonstra conclusivamente que a soberania de Deus é o tema central do livro de Salmos. Esse livro exalta ENFATICAMENTE Deus como o Deus soberano. Portanto, se o cristão haverá de ser fiel ao Senhor que inspirou esses Salmos, ele não deve apenas crer, mas também enfatizar a soberania de Deus.
Esse fato pode ser adicionalmente demonstrado pela forma com a qual os salmistas lidam com essa doutrina. Eles não tratam a doutrina da soberania de Deus de uma maneira fria e abstrata. A beleza desse livro de louvor é que a soberania de Deus é de fato o CORAÇÃO e a ALMA dos Salmos. Os salmistas amam essa doutrina. Era-lhes preciosa. Eles encontraram grande conforto no fato que Deus controla e opera todas as coisas para a salvação deles. Eles não tinham nada a temer. Mesmo no meio da tribulação, os salmistas tinham paz e contentamento. Essa é a experiência de todos aqueles que confiam no Deus soberano. Eles podem dizer: “O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei?” (Sl. 27:1). O povo de Deus não tem nada a temer porque o Deus soberano é o Salvador deles; ele mantém a própria vida do seu povo em suas mãos, e ninguém pode tocar nessa vida à parte da sua determinação. O motivo é que o controle soberano de Deus se estende a tudo da criação. Não existem criaturas que possam retirar de Deus o seu povo. Assim, os cristãos cantam juntos: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza” (Sl. 46:1-3).
A doutrina da soberania de Deus, portanto, dá ao crente uma alegria maravilhosa. Ele é feliz porque sabe que está seguro nos braços eternos de Deus. O Rei Davi falou dessa alegria quando exclamou: “O rei se alegra em tua força, SENHOR; e na tua salvação grandemente se regozija” (Sl. 21:1). A grande força do Senhor é a base da alegria cristã. Que alegria os filhos de Deus poderiam ter, se Deus fosse um deus impotente e fraco, que não tem nenhum poder soberano para salvá-los? Nenhuma! O cristão se regozija porque Deus não está apenas disposto, mas é também capaz de salvá-los. Assim, o salmista ora: “Porém alegrem-se todos os que confiam em ti; exultem eternamente, porquanto tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome” (Sl. 51:1).
O Louvor da Soberania de Deus
Essa alegria que o crente experimenta produz naturalmente uma gratidão que louva a Deus por sua grandeza. Assim, encontramos louvores por todos os Salmos. Na verdade, os livros de Salmos é um livro de louvor precisamente porque seu tema é aquele da soberania de Deus. É a soberania de Deus que é louvada. Porque Deus salva o seu povo e livra-os dos seus inimigos por seu poder soberano, os crentes cantam a sua grandeza. A soberania de Deus e o louvor são inseparáveis. O salmista diz: “Grande é o SENHOR, e muito digno de louvor, e a sua grandeza inescrutável” (Sl. 145:3). Porque o Senhor é grande, ele deve ser grandemente louvado. O povo de Deus era exortado: “Batei palmas, todos os povos; aclamai a Deus com voz de triunfo” (Sl. 47:1). Qual poderia ser a razão para tais aclamações de louvor? A resposta – “Porque o SENHOR Altíssimo é tremendo, e Rei grande sobre toda a terra … pois Deus é o Rei de toda a terra, cantai louvores com inteligência” (Sl. 47:2, 8). Alguém que não crê na soberania de Deus não tem base, seja qual for, para louvar a Deus.
Deus revela a si mesmo e a sua grandeza ao seu povo por meio de suas obras. Por todos os Salmos, portanto, os salmistas louvam a Deus por essas maravilhosas obras. Porque a soberania de Deus é exibida em suas obras, o salmista diz: “Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem” (Sl. 139:14). Aqui o ato soberano da criação é louvado. Fomos assombrosa e maravilhosamente feitos. Contudo, os salmistas louvam a Deus por todos os seus atos poderosos. Na realidade, os crentes de uma geração a outra devem continuamente louvar a Deus por suas obras soberanas. “Uma geração louvará as tuas obras à outra geração, e anunciarão as tuas proezas. Falarei da magnificência gloriosa da tua majestade e das tuas obras maravilhosas. E se falará da força dos teus feitos terríveis; e contarei a tua grandeza” (Sl. 145:4-6).
O que é verdadeiro das obras de Deus em geral, é especialmente verdadeiro de sua obra de salvação. O crente louva a Deus por todas as suas obras no que concerte à sua própria salvação. Ele o louva porque opera soberanamente todas as coisas para a sua salvação. Assim, a Igreja canta: “Cantai ao SENHOR um cântico novo, porque fez maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcançaram a salvação. O SENHOR fez notória a sua salvação, manifestou a sua justiça perante os olhos dos gentios. Lembrou-se da sua benignidade e da sua verdade para com a casa de Israel; todas as extremidades da terra viram a salvação do nosso Deus” (Sl. 98:1-3). O povo de Deus louva-o porquê reconhecem que sua salvação é o resultado da poderosa destra e o braço santo do Senhor. A salvação é o resultado das coisas maravilhosas que Deus tem feito. Além disso, o crente sabe que sua salvação remete à eleição eterna de Deus. Portanto, ele louva a Deus por sua vontade soberana que o escolheu para salvação. “Louvai ao SENHOR, porque o SENHOR é bom; cantai louvores ao seu nome, porque é agradável. Porque o SENHOR escolheu para si a Jacó, e a Israel para seu próprio tesouro” (Sl. 135:3-4).
A Proclamação da Soberania de Deus
A doutrina da soberania de Deus é uma Verdade maravilhosa que o santo não pode guardar para si. Ele explode em louvor a Deus, mas também fala da soberania de Deus aos outros. O salmista declara: “Louvai ao SENHOR, e invocai o seu nome; fazei conhecidas as suas obras entre os povos. Cantai-lhe, cantai-lhe salmos; falai de todas as suas maravilhas” (Sl. 105:1-2). O povo de Deus faz conhecidos os grandes feitos de Deus e suas maravilhosas obras. Eles falam um com o outro. De fato, os pais cristãos devem cuidar para que seus filhos digam: “O Deus, nós ouvimos com os nossos ouvidos, e nossos pais nos têm contado a obra que fizeste em seus dias, nos tempos da antiguidade. Como expulsaste os gentios com a tua mão e os plantaste a eles; como afligiste os povos e os derrubaste. Pois não conquistaram a terra pela sua espada, nem o seu braço os salvou, mas a tua destra e o teu braço, e a luz da tua face, porquanto te agradaste deles. Tu és o meu Rei, ó Deus; ordena salvações para Jacó” (Sl. 44:1-4)
Essa verdade não é algo que a Igreja “crê”, mas não promove e proclama. Os verdadeiros cristãos não a ocultam. Não temem a doutrina da soberania de Deus. Assim, o povo de Deus deve declarar a soberania de Deus mesmo aos pagãos. O povo de Deus é admoestado: “Anunciai entre as nações a sua glória; entre todos os povos as suas maravilhas. Porque grande é o SENHOR, e digno de louvor, mais temível do que todos os deuses. Dizei entre os gentios que o SENHOR reina. O mundo também se firmará para que se não abale …” (Sl. 96:3-4, 10). O cristão deve declarar as maravilhas gloriosas de Deus mesmo ao incrédulo. A mensagem que é proclamada ao não-convertido é a mensagem da soberania de Deus. A mensagem que é proclamada ao inconverso é a mensagem da soberania de Deus. O incrédulo não deve pensar que a salvação depende da sua vontade. Deve ser informado que “o SENHOR reina” em todo o mundo e especialmente na salvação. De fato, o povo de Deus deve fazer essa proclamação uma parte de sua vida diária. Eles devem continuamente mostrar as maravilhas de Deus. Pois o salmista diz: “Cantai ao SENHOR, bendizei o seu nome; anunciai a sua salvação de dia em dia” (Sl. 96:2). A soberania de Deus é um tema central da experiência cristã, que devemos lembrar e falar sobre regularmente.
Certamente alguém que se ajoelha diante da autoridade da Palavra de Deus, reconhece que o cristão não deve apenas crer na soberania de Deus, mas deve enfatizá-la também. É o coração e alma dos Salmos e, portanto, deve ser o coração e alma da fé do crente. A pessoa que enfatiza essa Verdade gloriosa NÃO é alguém unilateral. Antes, aqueles que não enfatizam essa doutrina são culpados de distorcer a Verdade do evangelho. A doutrina da soberania de Deus pode ser encontrada em cada página dos Salmos. Sim, em cada página da Sagrada Escritura. Ela é o conforto e alegria do crente, a base para a sua ação de graças e o louvor a Deus, e é a Verdade que deve ser proclamada na igreja e no mundo. De fato, “O SENHOR É DEUS …” (Sl. 100:3). Que esse seja o cerne de sua fé, para que possa dizer com o salmista que fecha o livro inteiro de Salmos com as palavras: “Louvai ao SENHOR. Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do SEU PODER. Louvai-o pelos seus ATOS PODEROSOS; louvai-o conforme a EXCELÊNCIA DA SUA GRANDEZA … Tudo quanto tem fôlego louve ao SENHOR. LOUVAI AO SENHOR” (Sl. 150:1-2, 6).
Fonte: God’s Sovereignty and the Psalms
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em setembro/2007.
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