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O Que é Hiper-Calvinismo?

Rev. Ronald Hanko

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / [email protected]

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Um dos nossos leitores perguntou: “O que é hiper-Calvinismo? Como você o definiria?”

A acusação de hiper-Calvinismo se apresenta de muitas formas nestes dias. Alguém poderia quase pensar que não há outra heresia tão séria como esta.

Nós mesmos somos acusados de sermos hiper-Calvinistas, frequentemente de maneira maliciosa e simplesmente por causa de boatos. O The New Dictionary of Theology [O Novo Dicionário de Teologia], por exemplo, dá uma descrição exata dos ensinos do hiper-Calvinismo e então alega que Herman Hoeksema é o hiper-Calvinista moderno mais proeminente, embora ele não tenha sido responsável por nenhum dos ensinos listados como característicos do hiper-Calvinismo.

Frequentemente a acusação é trazida contra aqueles que negam que o evangelho é uma oferta sincera de salvação da parte de Deus, isto é, que Deus expressa no evangelho um amor e desejo sincero pela salvação de todo aquele que ouve o evangelho, e promete sinceramente a salvação a todos sem exceção. Se não for por mero boato, então somos acusamos de hiper-Calvinismo por esta razão, ou seja, por negarmos estas coisas.

Contudo, frequentemente aqueles que acusam os outros deste erro, nem mesmo conhecem realmente o que é hiper-Calvinismo. Temos nos deparado com aqueles que crêem que todo aquele que ensina a expiação limita é um hiper-Calvinista e outros que estão convencidos de que todo aquele que ensina qualquer um dos Cinco Pontos do Calvinismo é um hiper-Calvinista. Eles confundem o Calvinismo verdadeiro, histórico e bíblico com o hiper-Calvinismo (algo que está longe de Calvino e do Calvinismo).

O mesmo acontece com aqueles que crêem que uma negação do amor universal de Deus e da suposta intenção da parte de Deus de salvar todos, expressa no evangelho, é hiper-Calvinismo. Pode ser facilmente mostrado que os credos e escritores Calvinistas sempre ensinaram o oposto, e que aqueles que ensinam estas coisas não estão ensinando o verdadeiro Calvinismo, mas o Pelagianismo de Roma e o Arminianismo dos adeptos da teoria do livre-arbítrio.

Assim, o que é hiper-Calvinismo? Ele é um erro grave?

Deveríamos enfatizar, em primeiro lugar, que existe algo chamado hiper-Calvinismo, embora alguns neguem isto. Historicamente, o nome tem sido aplicado àqueles que negam que o mandamento do evangelho para arrepender e crer deve ser pregado a todos os que ouvem o evangelho.

Um hiper-Calvinista, portanto, não é alguém que ensina que na predestinação, na morte de Cristo, na pregação e na obra do Espírito Deus ama somente os eleitos e pretende salvar somente eles. Isto é simplesmente o Calvinismo bíblico.

Antes, um hiper-Calvinista (histórica e doutrinariamente) é alguém que—pelo fato de nem todos terem sido escolhidos e redimidos—não mandará que todos os que ouvem o evangelho se arrependam e creiam. Ele é alguém que começa a partir de premissas corretas, mas traça conclusões errôneas—que não crê que “Deus ordena agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam” (Atos 17:30, KJV).

Um verdadeiro hiper-Calvinista, então, é alguém que crê corretamente na predestinação dupla e soberana e na redenção particular—que nega um amor universal de Deus e uma vontade de Deus de salvar todos os homens. Todavia, ele conclui erroneamente que—porque Deus determinou quem serão salvos, enviou Cristo para eles somente e dá somente a eles a salvação como um dom gratuito—somente os eleitos devem ser instados a crer e arrepender na pregação do evangelho.

Isto, nós cremos, é um sério erro. É um erro que efetivamente destrói tanto o evangelismo como a pregação do evangelho em geral—um erro que deve ser evitado.


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Continuamos aqui nossa examinação do hiper-Calvinismo na resposta à questão apresentada na última edição do jornal: “O que é hiper-Calvinismo? Como você o definiria?”

Naquela edição dissemos que hiper-Calvinismo NÃO é a negação da oferta sincera de Deus a todos os que ouvem o evangelho, demonstrando um amor por todos e um desejo de salvar a todos. Hiper-Calvinismo é a negação de que a ordem do evangelho de se arrepender e crer deve ser pregada a todos, sem exceção.

O cerne do hiper-Calvinismo, portanto, é uma rejeição do assim chamado “dever da fé” e “dever do arrependimento,” isto, que é o solene dever e obrigação de todos ouvir o evangelho para arrepender e crer. O hiper-Calvinismo conclui que—porque todos os homens estão perdidos no pecado e incapazes de se arrependerem e crer por si mesmos—é um equivoco ordená-los a fazer tal coisa. Tal ordem implicaria que eles são capazes de se arrepender e crer.

O hiper-Calvinista, então, comete o mesmo engano dos Arminianos e adeptos da teoria do livre-arbítrio, com a diferença de que ele traça uma conclusão diferente. Ambos pensam que ordenar ou demandar arrependimento e fé de pecadores mortos deve implicar que tais pecadores não estão mortos e têm em si mesmos a capacidade para arrepender e crer. Então, o adepto do livre-arbítrio diz: “Ordenar deve implicar capacidade; portanto, os homens têm a capacidade.” O hiper-Calvinista diz: “Ordenar deve implicar capacidade, portanto, não devemos ordenar ninguém, senão os eleitos.”

Isto significa que embora um verdadeiro hiper-Calvinista pregará os “fatos” do evangelho a todos que ouvirem (e insiste que ele está pregando o evangelho), ele não ordenará uma audiência “mista” a arrepender e crer. Aqueles mandamentos, ele crê, devem ser pregados somente àqueles que mostrarem evidência de serem “pecadores sensibilizados,” isto é, pecadores que estão debaixo de convicção mediante a obra do Espírito Santo.

Rejeitamos estas noções por várias razões. Primeiro, é difícil imaginar como alguém, sem inspiração divina, pode estar certo de que está pregando somente a “pecadores sensibilizados”, para então trazer com confiança o mandamento do evangelho. Portanto, na realidade, o mandamento do evangelho raramente, se é que alguma vez, será ouvido na pregação hiper-Calvinista.

Em segundo lugar, o hiper-Calvinismo transforma o mandamento para arrepender e crer num mandamento para continuar a arrepender e crer ou para perseverar em arrepender-se e crer. Os assim chamados “pecadores sensibilizados”—os únicos que podem ser chamados a arrepender e crer—são aqueles que já começaram a fazer isso pelas operações secretas do Espírito Santo. A fé requerida, neste caso, não é a fé salvífica no sentido mais correto e profundo da palavra, isto é, a fé que traz uma pessoa à comunhão com Cristo, lhe justifica e dá salvação, mas somente fé da forma como ela se manifesta em seus frutos de certeza e esperança.

É nesta conexão que os verdadeiros hiper-Calvinistas frequentemente ensinam que a pessoa é justificada completamente na eternidade e que a justificação pela fé envolve somente a certeza da justificação. Assim, a fé exigida no evangelho não nos justifica diante de Deus, mas somente nos assegura de uma justificação que já ocorreu.

É nesta conexão também que os hiper-Calvinsitas também são acusados, e corretamente, de um certo antinomianismo (anti-lei ou anti-mandamento) com respeito a fé. Eles não tomam seriamente o mandamento para arrepender e crer, exatamente porque o chamado à fé para eles é somente o chamado para estar certo da sua fé. É sobre estes fundamentos que enfaticamente repudiamos o hiper-Calvinismo.


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Continuamos aqui com a questão: “O que é hiper-Calvinismo? Como você o definiria?”. Mostramos em nosso último artigo que hiper-Calvinismo é uma negação do assim-chamado “dever da fé” e “dever do arrependimento.”

Esta negação é contra a Escritura. A Escritura diz em Atos 17:30 que “Deus ordena agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam.” João o Batista em sua pregação chamou até mesmo os fariseus e saduceus incrédulos ao arrependimento (Mateus 3:8; Lucas 3:8). Jesus, também, chamou todos ao arrependimento em sua pregação (Mateus 4:17) e censurou as cidades da Galiléia por não terem se arrependido (Mateus 11:20). Quando ele enviou os 70, ele os enviou também para aqueles que rejeitariam o evangelho e até mesmo os advertiu sobre esta rejeição (Marcos 6:10-11); todavia, lemos que eles saíram e pregaram àqueles que eles deveriam se arrepender (Marcos 6:12).

Nem existe alguma evidência de que quando Pedro pregou—no templo, após curar o homem coxo—”arrependei-vos, pois, e convertei-vos (Atos 3:19), ele estava pregando somente a “pecadores sensibilizados.” Certamente, Simão o feiticeiro não era um “pecador sensibilizado” quando Pedro lhe disse: “Arrepende-te, pois, da tua maldade e roga ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração” (Atos 8:22).

Várias das passagens já citadas (Atos 3:19; 8:22) também implicam que o evangelho exige fé da parte de todos que ouvem. A fé é parte da conversão, e uma pessoa não pode orar a Deus por perdão sem também orar em fé. Assim, também, não é possível que Jesus condene os fariseus por não crer se crer não fosse requerido deles (Mateus 21:25; Lucas 22:67; João 10:25-26).

O hiper-Calvinista contorna estes versículos falando de tipos diferentes de arrependimento e fé. Ele fala de “arrependimento judeu,” “arrependimento de reforma,” “arrependimento circunstancial,” “arrependimento coletivo,” etc., e alega que a Escritura também exige tipos diferentes de fé. Assim, ele insiste que muitos dos versículos que já mencionamos exigem somente tais tipos de fé e arrependimento, mas não o arrependimento e fé salvíficos.

Nós não negamos, certamente, que a Escritura fala de “fé” e “arrependimento” que não são salvíficos (Atos 8:13; II Coríntios 7:10; Tiago 2:19; Hebreus 12:17). Mas estes, como sabemos, são simplesmente hipocrisia, e não encontram o favor de Deus. Eles não podem, então, ser algo que Deus exija. Como Deus, que não mente, poderia, falando através do evangelho, chamar os homens ao arrependimento ou fé que não sejam sinceros ou salvíficos? Nem há a mínima evidência na Escritura de que ele faça isso.

Nós cremos, portanto, que a Palavra de Deus em Atos 17:30 deve ser tomada seriamente por aqueles que pregam o evangelho. Rejeitamos a noção de que o mandamento para crer e arrepender salvificamente deve ser ouvido somente por aqueles que mostram alguma evidência de convicção. Isso não somente limitaria a pregação do evangelho, mas no fim destruiria a verdadeira pregação do evangelho.

Como esperamos mostrar no próximo artigo, o mandamento para arrepender e crer é uma parte integral da pregação não somente com respeito aos eleitos de Deus, mas também para com os “réprobos”. Todos que se encontram debaixo de uma pregação DEVEM ouvir este mandamento! Não somente é de acordo com a vontade de Deus que ele deve ser pregado a todos indistintamente, mas isto é necessário até onde diz respeito a pregação do evangelho. Negar isto é despir o evangelho do seu poder e torná-lo uma exibição vazia e vã.


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Continuamos aqui com a questão: “O que é hiper-Calvinismo?” E devemos mostrar neste artigo o porquê o mandamento para arrepender e crer deve ser pregado não somente àqueles a quem Deus escolheu salvar, mas também àqueles que ele não escolheu, isto é, tanto aos eleitos como aos réprobos. Há duas razões.

Primeiro, no que diz respeito aos eleitos, o chamado ou mandamento do evangelho é o poder pelo qual Deus os traz à fé e ao arrependimento (de acordo com seu propósito e pelas operações soberanas do Espírito Santo). Isto é o que algumas vezes chamamos de chamado eficaz do evangelho. Quando o evangelho é pregado, o mesmo é feito com efeito salvífico!

Agostinho mostrou que ele entendia isto quando, falando das repreensões contidas no evangelho, disse: “a repreensão é a graça;” isto é, a graça pela qual Deus convence seus eleitos do pecado, e começa a trazê-los para si mesmo (João 6:44). Nisto o evangelho é também, então, o meio pelo qual Deus chama para si mesmo os seus, de maneira soberana, poderosa e irresistível.

O Salmo 19 fala disto quando ele diz que a lei de Deus converte a alma, seu testemunho faz do simples um sábio, seu mandamento ilumina os olhos (v. 7-8). Romanos 1:16 adiciona que o evangelho é o poder de Deus para salvação. Romanos 10:17-18 nos diz que a fé vem pelo ouvir a palavra de Deus. I Coríntios 1:18 diz que a pregação da cruz é o poder de Deus (cf. também o versículo 21).

A pregação é isto porque o próprio Cristo fala através da pregação do evangelho. Os hiper-Calvinistas têm dito que o chamado do evangelho como pregado por Cristo e os apóstolos poderia ter tal poder, mas não a pregação dos pregadores de hoje. Todavia, a Escritura nos assegura que toda pregação é o meio pelo qual o próprio Cristo chama soberanamente os seus.

Ele diz em João 10:27: “As minhas ovelhas (e não há exceções!) ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem”. De fato, é somente porque elas ouvem a voz de Cristo que elas podem ser salvas. Nenhuma outra voz tem o poder para lhes dar vida, como feito a Lázaro, e trazê-los das trevas para a maravilhosa luz. Assim também, lemos em Efésios 2:17 que ele veio e pregou paz não somente aos judeus, mas aos gentios, àqueles que estavam longe.

Com respeito àqueles que não são escolhidos, a pregação do chamado do evangelho é importante também. Porque Cristo fala através dela, ninguém pode ouvir a pregação do evangelho e não ser afetado, para o bem ou para o mau. Para aqueles que não foram escolhidos e continuam em incredulidade, o evangelho é o meio de endurecimento e condenação.

Esta é a parte difícil da pregação, a parte concernente a qual Paulo está pensando principalmente quando diz: “Quem é suficiente para estas coisas?” (II Coríntios 2:16). Nenhum pregador quer ver este fruto negativo, nem ele busca realmente ser um meio de endurecimento, mas se ele entende a Escritura e seu próprio chamado, então não pode evitar isto. Se o evangelho há de ser o poder de Deus para salvação, ele deve ser também um poder para condenação.

A própria Escritura fala disto em Isaías 6:8-13 (observe a resposta de Isaías) e em II Coríntios 2:16, onde lemos que o evangelho tem cheiro de morte para morte para alguns.

Na pregação do evangelho, o bom perfume de Cristo é para morte para alguns!

Tudo isto é simplesmente dizer que o evangelho é seu próprio poder. Ele não precisa da eloqüência do pregador, nem de algo mais. Seu poder é manifestado em tudo que é pregado, mas especialmente no chamado glorioso do evangelho, o chamado para se arrepender e crer, o chamado que traz e arrependimento e fé àqueles a quem Deus escolheu.

Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.

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