Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
A doutrina não mais é altamente estimada. Em muitas igrejas evangélicas, há uma tamanha ignorância de doutrina que até mesmo os fundamentos do Cristianismo não são bem conhecidos. Mesmo em igrejas que permanecem fiéis em seu ensino e pregação, há freqüentemente pouco interesse em aprender e entender doutrina. Os jovens ficam, na maior parte, entediados com ela, e os seus anciões ficam contentes com um conhecimento superficial das doutrinas da fé Reformada.
Muito freqüentemente o sintoma dessa carência de doutrina é uma constante agitação por pregação e ensino mais “prático,” juntamente com uma grande ênfase na liturgia e outras partes do culto de adoração, até que o sermão fique totalmente comprimido. Da parte dos pregadores, encontramos menos e menos exposição bíblica e mais e mais ilustrações, historinhas e entretenimento.
Sintomático da indiferença doutrinária na vida privada do povo de Deus é o completo desinteresse em ler bons livros e periódicos Reformados. Em alguns casos, esses são comprados, mas não lidos; em outros, não há interesse suficiente nem mesmo para comprá-los. Se alguma leitura é feita, ela é superficial, na maioria das vezes do tipo “como conseguir …” Quase nada de substância é lido, e a maioria consideraria um livro de doutrina muito profundo a despeito do fato que seus pais e avós, que tinham bem menos educação, não somente foram capazes de ler teologia, mas ler extensamente e muito bem.
Se a igreja e a vida do povo de Deus hão de ser resgatados da superficialidade, do declínio, e de todas as tribulações que nos afligem hoje, deve haver um retorno à doutrina. Como prova, não precisamos ir mais longe que a grande Reforma do século dezesseis. Acima de tudo, a Reforma foi um retorno à doutrina—às doutrinas da justificação pela fé somente, da graça soberana, da igreja, e dos sacramentos. Sem um interresse em doutrina ou um retorno a ela, não podemos nem mesmo esperar um reavivamento e renovação na igreja.
Em II Timóteo 3:16-17 a Palavra de Deus nos diz que a Escritura é proveitosa para muitas coisas, mas para doutrina em primeiro lugar. De fato, se não nos ensinasse primeiro a doutrina, ela não seria proveitosa para repreensão, correção e educação na justiça. Para tudo isso, a doutrina não é apenas primária, mas também fundacional.
A Escritura enfatiza a importância da doutrina de outras formas. Aprendemos de João 17:3 que o conhecimento de Deus e de Jesus Cristo é a vida eterna. Nada é mais importante que isso. A doutrina, propriamente ensinada, entendida e crida, é esse conhecimento de Deus e de seu Filho. Esse é o ensino de toda a Escritura. “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5:39).
Portanto, prestemos atenção à doutrina. Ela não é a província apenas dos teólogos, mas de todo aquele que deseja a vida eterna. Não deixemos a doutrina de lado em interesse de assuntos mais “práticos,” mas entendamos que a doutrina repreende, corrige e ensina o caminho da justiça. Sobretudo, ela nos coloca face a face com o próprio Deus vivo, em quem vivemos, nos movemos e temos a nossa existência. Ficar sem doutrina é ficar sem Deus.
Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 3-4.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em fevereiro/2007.
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