Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / [email protected]
Em teologia, a doutrina do estado intermediário tem a ver com o estado da alma entre a morte e a ressurreição final. Essa doutrina responde à pergunta: “O que acontece comigo após a morte?” Portanto, o que a Escritura ensina é de vital importância para os crentes: que após a morte os crentes entram na glória celestial e estão conscientes da glória e de sua existência com Cristo. Quão diferente a experiência deles é daquela dos incrédulos e impenitentes, que vão para o sofrimento consciente no inferno pelos seus pecados, mesmo antes dos seus corpos serem ressuscitados (Lucas 16:22-28).
Há muitos que negam isso. Alguns ensinam “o sono da alma”; que as almas daqueles que estão no céu ou inferno estão dormindo e não estão cientes do que está acontecendo com eles. Similarmente, alguns cristãos Reconstrutivistas ensinam que a alma perde a consciência da existência na morte. Essa noção, como Calvino apontou há muito tempo atrás, é perversa e não deveria ser sustentava pelo povo de Deus. Ela destrói a esperança deles em Cristo, renova o terror da morte, e deixa-os sem conforto em face do último de todos os inimigos.
Nossa esperança de glória com Cristo é baseada nas palavras de Jesus para o ladrão moribundo: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:43). Alguém realmente crê que Jesus quis dizer “você estará comigo, mas não saberá” ou que “seu paraíso consistirá no fato que você perderá a consciência de existência até que milhares de anos tenham passado e o fim finalmente chegue”?
Concernente a Filipenses 1:23, Calvino diz: “Eles pensam que ele [Paulo] desejava adormecer, para não mais sentir qualquer desejo por Cristo? Isso era tudo o que ele desejava quando disse que sabia que tinha um edifício de Deus, uma casa não feita por mãos, tão logo a casa terrestre deste tabernáculo se desfizesse? (2Co. 5:1). Onde estava o benefício de estar com Cristo quando ele cessasse de viver a vida de Cristo? Quê! eles não ficam intimidados pelas palavras do Senhor quando, chamando a si mesmo de o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, diz que ele “não é Deus de mortos e sim de vivos”? (Mt. 22:32; Mc. 12:27). Então, ele não lhes será um Deus, nem eles lhe serão um povo?”1
Mas o que dizer daquelas passagens que descrevem a morte dos crentes como sono? (Mt. 27:52; At. 13:36; 1Co. 11:30; 1Co. 15:20,51; Ef. 5:14; 1Ts. 4:14). À luz das passagens já mencionadas, elas não podem significar que há tal coisa como sono da alma. Elas devem se referir à morte e dissolução do corpo e o fato que a morte dos crentes, para quem a morte está conquistada, não é mais difícil do que um adormecer. Não é estranho que a morte dos crentes deva ser descrita como sono, pois é através da morte que eles entram no descanso eterno dos seus labores (Is. 57:1; Ap. 14:13).
A Escritura sugere que no intervalo entre a morte e a ressurreição final, Deus faz certa provisão especial, de forma que a alma sem o corpo pode desfrutar a glória que ele prometeu: “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2Co. 5:1). Por essa razão, estar ausente do corpo é estar presente (literalmente “em casa”) com o Senhor (v. 8). Assim, embora outros estejam indispostos, nós estamos dispostos a estar ausente do corpo, não estamos?
Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 316-318.
1João Calvino, “Psychopannychia”, em Tracts and Treatisies of John Calvin, vol. 3 (Grand Rapids, Mich.: William B. Eerdmans Co., 1958), 444.
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