Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
A característica singular do pacto com Israel foi, sem dúvida, a entrega da lei no Monte Sinai. Qual é a relação entre a lei e o pacto?
Fundamental para um entendimento dessa relação é Gálatas 3:17-21. Essa passagem mostra, primeiro, que o pacto com Abraão, quatrocentos anos antes da entrega da lei, é o pacto que foi “confirmado em Cristo,” isto é, o pacto eterno de Deus; e, segundo, que a entrega da lei não poderia anular o pacto (v. 17). De fato, a lei não é nem mesmo contra o pacto (v. 21).
Êxodo 24:7 vai mais adiante e chama a lei de “o livro do pacto,” o livro no qual Deus fez conhecido seu pacto com o seu povo. Se o pacto ao qual ela pertencia é o pacto que foi confirmado em Cristo—o mesmo pacto ao qual pertencemos—então a lei ainda é o livro do pacto, embora muita coisa tenha sido adicionada ao livro desde então.
De acordo com Gálatas 3:19, essa lei escrita foi adicionada ao pacto por causa das transgressões, até que Cristo viesse. Isso significa que a lei, ao revelar o pecado, mostra a nossa necessidade de Cristo. Ela foi o “aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” (v. 24) nele.
Romanos 10:4 diz a mesma coisa. A passagem não diz que Cristo é o fim da lei no sentido dele abolir a lei, mas que ele é o fim da lei por ser seu objetivo e propósito. A lei foi dada com Cristo como o seu objetivo, e ela realiza seu propósito quando, ao revelar o pecado, mostra ao verdadeiro Israel sua necessidade de Cristo e da justificação pela fé nele.
Que a lei continua a ter essa função Paulo mostra claramente em Romanos 7:7: “Eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei.” Gálatas 3 também prova isso quando diz que a lei não era o aio apenas dos judeus, mas nosso também (vv. 23-24).
Não temos dificuldade, portanto, em dizer que a lei era e é parte do pacto. Ela era certamente parte do pacto no Antigo Testamento, como Gálatas 3:19 nos lembra. Que isso ainda pertence ao pacto é claro a partir do fato que a mesma lei continua a ser para nós um aio (tutor) que conduz a Cristo. O que mudou foi a nossa relação para com a lei como povo do pacto, mas isso é um assunto totalmente diferente, o assunto de Gálatas 4:1-7.
Isso não é o mesmo que negar que existiam “rudimentos do mundo” amarrados à lei e elementos que eram puramente cerimoniais (Cl. 2:20-23). Esses cessaram, mas mesmo no Antigo Testamento eram parte do pacto de Deus por apontar para Cristo e funcionar como um “aio” para trazer Israel a Cristo.
O ponto é que existe apenas um pacto, um pacto que não está em conflito com a lei, um pacto de graça em Cristo ao qual todos os verdadeiros israelitas pertencem. A lei de Deus não era, não é, e nunca será contra o pacto de Deus.
Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 175-177.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em fevereiro/2007.
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