Thomas Miersma
Tradução: Marcelo Herberts
Jesus disse: “Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. E aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:26-27).
Essas palavras de Jesus são surpreendentes, particularmente à luz dos Seus próprios dizeres sobre amar o nosso próximo e demonstrar amor também pelos nossos inimigos. O que elas significam? Elas não significam, como alguns têm entendido, que devemos simplesmente amar o pai ou a mãe menos do que a Jesus Cristo. Odiar algo ou alguém não significa “amar menos.” O termo “ódio” na Bíblia nunca tem outro significado que não seja odiar.
As palavras de Jesus nos conduzem à realidade do pecado, a qual devemos odiar. Toda relação humana que Deus fez boa no princípio está agora corrompida e poluída pelo pecado do homem, seja a relação dos pais e filhos, seja a do casamento, ou qualquer outro tipo de relacionamento humano. Mesmo a nossa própria vida, tal como se mostra a partir do nosso nascimento, é corrompida e depravada. Se a nossa conduta em qualquer desses relacionamentos há de ser agradável ao Senhor, precisamos primeiro morrer para eles, odiá-los, pois que estão em pecado. Nós precisamos morrer para a nossa vida e odiar a sua raiz depravada. No sofrimento do nosso pecado precisamos nos voltar a Cristo. “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo” (João 3:3). A graça de Deus que traz salvação opera em nós um novo nascimento. Como conseqüência desse novo nascimento, nós morremos para a nossa velha vida de pecado, morremos para a nossa própria vida, antes de tudo. Por meio disso nós também morremos a tudo que tenha relação à vida deste mundo, uma vez que ele jaz no pecado. Essa obra da graça traz uma separação entre os homens, uma separação espiritual entre aquele que ama a Deus e o mundo que O odeia.
Jesus disse, “Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois eu vim para fazer que o homem fique contra seu pai, a filha contra sua mãe, a nora contra sua sogra; os inimigos do homem serão os da sua própria família” (Mateus 10:34-36). O evangelho cristão não traz uma paz e fraternidade universal terrenas, mas hostilidade, conflito espiritual entre o crente e o incrédulo. Por essa razão é que Jesus acrescenta que nós devemos carregar a nossa cruz se quisermos segui-Lo (Lucas 14:27). Ser cristão implica firmar-se pela causa de Cristo, mesmo contra a família e os amigos, e sofrer por Sua causa. De fato, somente em Cristo é que somos habilitados a caminhar retamente nos relacionamentos da vida. Nós precisamos morrer para eles, desde que residem no pecado, tal que possamos recebê-los sob uma nova forma em Cristo.
Como então os recebemos sob uma nova forma em Cristo? É em conexão a isso que Jesus ensina no versículo paralelo, “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim” (Mateus 10:37). O amor de Cristo é um amor exclusivo. Ele é fundamental, e nós amamos outras pessoas de uma forma reta somente quando primeiro O amamos.
Isso pode implicar que nós precisemos repreender e chamar ao arrependimento amigos e amados, mesmo que em resposta eles nos abandonem. Isso pode implicar que pela causa de Cristo eu não possa gozar uma comunhão normal com membros da família em virtude do obstáculo entre nós e seu andar no pecado. Isso pode implicar que precisemos deixar, posto que o evangelho tenha sido corrompido, uma igreja confortável e familiar repleta de parentes e amigos. Nós precisamos amar a Cristo antes de tudo. Um cristão piedoso precisa estar pronto para sofrer a perda de todas as coisas pela causa do seu Senhor, até mesmo suportar a reprovação da família e dos amigos pela causa de Cristo, se for necessário. No entanto é também pelo buscar a Cristo antes de tudo, que Deus também vai operar arrependimento e conversão dos membros de uma família que Lhe aprouver trazer à salvação. Não concessões, mas o amor obediente a Cristo é que atrai os homens a Ele.
Você está agindo como um discípulo de Cristo? O que está em primeiro lugar na sua vida, o Senhor ou os seus vínculos terrenos? A sua vida e o seu proceder demonstram isso?
Fonte: What Jesus said about, Rev. Thomas Miersma, cap. 28.
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