Thomas Miersma
Tradução: Marcelo Herberts
“Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que a ouvirem, viverão” (João 5:25).
Nesse versículo Jesus descreve não o corpo de um homem, mas a condição espiritual da sua alma e a obra da graça pela qual ele é salvo ao ouvir a Palavra de Deus. Através dela Jesus ensina que o homem está espiritualmente morto, não simplesmente moribundo. A salvação envolve uma ressurreição espiritual da morte. Isso é evidente a partir do fato que nesse texto Jesus não fala da futura ressurreição do corpo (algo tratado por ele num versículo posterior e como algo futuro, João 5:28), mas daquela hora que “agora é.” Esse texto é repercutido pela Palavra de Deus que diz, “Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados” (Efésios 2:1). Esta verdade define os limites para qualquer doutrina bíblica da salvação. O homem é um pecador morto e como tal pode fazer apenas o que um cadáver faz, cheirar à corrupção. Trata-se apenas de uma doutrina da salvação fiel que começa com um pecador morto e com a necessidade de uma operação da graça que o levanta da morte para a vida.
Jesus disse, “Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas” (João 3:19-20). Por essas palavras Jesus ensina que o homem, sendo morto, é mau e está em trevas espirituais. Ele não é neutro, apto a escolher e crer em Deus, mas odeia a luz do evangelho e não virá a Jesus. O homem não está simplesmente em trevas sem conhecimento ou luz, mas ele próprio, sendo um pecador, está obscurecido. Ele ama as trevas, ele tem laços de amor com as trevas. Em si mesmo, odeia a luz do evangelho e Cristo que é a luz do evangelho. Ele persiste na incredulidade.
Jesus também disse, “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair …” (João 6:44). Nessas palavras Jesus ensina o mesmo princípio, que o homem não pode por si só crer, ele não tem capacidade de crer e não tem vontade de ser salvo. Ele “não pode vir.” A sua vontade está constrangida, pois como escravo das trevas, ele está espiritualmente morto.
Mais adiante Jesus disse ao perverso e incrédulo, “Por que a minha linguagem não é clara para vocês? Porque são incapazes de ouvir o que eu digo” (João 8:43). O homem por si só não pode mesmo discernir espiritualmente o evangelho, tal é a sua cegueira. Como testificam todos os milagres de Jesus, ele está cego e surdo às coisas espirituais. A sua boca é muda e assim ele não pode adorar a Deus. Ele é um leproso em sua alma, sob o domínio do pecado e está confinado à prisão do pecado. Ele é o paralítico que não pode seguir os caminhos de Deus, seja no arrependimento ou na fé. Seus pecados precisam ser perdoados (Lucas 5:17-26).
Assim, Jesus ensina que o homem é um pecador morto, incapaz de crer por si só, não tendo um livre-arbítrio com o qual possa se aproximar da luz do evangelho, ou qualquer capacidade de entendê-lo. Ele ensina que o homem ama as trevas do pecado e da morte. Jesus ensina a doutrina da depravação total e da incapacidade total do homem. A graça todo-poderosa de Deus, apenas e tão somente salva! Deus salva pecadores mortos. Você crê nessa palavra de Jesus e aceita a sua condição tal como nas Suas palavras? Ou você vê a si mesmo em sua própria sabedoria, como se tendo algum bem em si mesmo? A sua confissão é a confissão da doutrina de Jesus de que somos espiritualmente mortos, ou é uma confissão pelos termos do homem, que não estamos completamente mortos, não plenamente confinados às trevas do pecado e do mal? Jesus disse a respeito do homem que ele “ama as trevas” e “odeia a luz.” Você crê em Seu veredicto? Ou você crê que ainda pode vir a Ele por si própria vontade e decisão quando Jesus diz que ninguém pode vir a Ele nessa condição? Não se trata de uma questão inútil. Jesus advertiu acerca dos falsos evangelhos e cristos que enganariam a muitos (Mateus 24:4-5, 11, 23-25). Esse é na verdade um alerta freqüente. Jesus também confronta aqueles que confiam em si mesmos, em sua retidão, em sua fé e bondade e fala parábolas contra essas pessoas (Lucas 18:9-14).
Estas são questões importantes. A salvação é pela graça mediante a fé, mas ela é uma dádiva de Deus em todos os aspectos (Ef. 2:8-9). Graça não é um mero auxílio que salva o homem por si só pelo seu uso da graça ou do evangelho. Fé é o fruto da obra da graça efetiva de Deus naquele que é levantado da morte para a vida, que sendo espiritualmente morto, chamado e vivificado por Cristo, escuta de fato e então crê. “Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que a ouvirem, viverão” (João 5:25). A doutrina do livre-arbítrio é um falso evangelho de um falso cristo. É o orgulho pecaminoso que confia em si mesmo. Jesus também adverte contra esse orgulho pecaminoso do homem, que confia em sua própria capacidade, nega a sua real cegueira espiritual, e não precisa de Salvador. “Disse Jesus: ‘Se vocês fossem cegos, não seriam culpados de pecado; mas agora que dizem que podem ver, a culpa de vocês permanece’” (João 9:41).
Fonte: What Jesus said about, Rev. Thomas Miersma, cap. 3.
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