Ronald Cammenga e Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
1. Predestinação é uma negação do amor de Deus.
Freqüentemente objeta-se contra o ensino da predestinação que o mesmo nega um Deus amoroso. Ora, certamente Deus é um Deus de amor. Em 1 João 4:8 lemos: “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.”
O que é esquecido, contudo, é que Deus ama a si mesmo em primeiro lugar. Ele é um Deus zeloso, zeloso de seu próprio nome, sua justiça, e sua santidade. Exatamente no amor que ele tem por si mesmo, Deus julga, pune, e condena todos os que não estão em harmonia com sua santidade.
A reprovação demonstra a justiça de Deus, assim como a eleição sua misericórdia. De fato, a misericórdia de Deus na eleição é magnificada contra o pano de fundo escuro de sua justiça na reprovação. Isso é exatamente o que Paulo ensina em Romanos 9:22-23: “E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou.”
2. A predestinação é uma negação da justiça de Deus.
Outra objeção familiar contra a doutrina da predestinação é que a mesma não é justa. Não é justo Deus faz discriminação entre os homens, elegendo e salvando alguns enquanto rejeitando e condenando outros.
O apóstolo Paulo lida com essa objeção contra a predestinação em Romanos 9:14: “Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus?” O simples fato das pessoas levantarem essa objeção contra nós indica que estamos mantendo a mesma doutrina defendida por Paulo.
Qual é a nossa resposta a essa objeção? A mesma de Paulo: “De maneira nenhuma!” Essa objeção poderia ter validade se todos os homens indistintamente merecessem a salvação, mas não obstante isso Deus escolhesse e salvasse somente alguns. Então poderia haver lugar para a acusação de que há injustiça em Deus – Deus não é justo! Mas o caso é completamente diferente. A realidade é que todos os homens são indignos da salvação de Deus. Todos os homens igualmente caíram em Adão, e todos os homens são concebidos e nascidos mortos em pecado. Não existe nenhuma injustiça da parte de Deus quando da massa da humanidade caída, ele achou certo escolher e salvar apenas alguns. Ele não está sob nenhuma obrigação de salvar alguém. Que ele determinou salvar alguns é meramente uma questão de misericórdia soberana: “Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Romanos 9:15).
3. A predestinação é uma negação da responsabilidade do homem.
Ainda outra objeção freqüentemente ouvida contra a doutrina Reformada da predestinação é que ela nega a responsabilidade do homem e leva ao determinismo e fatalismo. Se Deus determinou se uma pessoa será salva ou não, e decidiu o destino eterno de todos os homens, podemos viver como bem nos agradar. Se fomos eleitos para a salvação, seremos salvos de qualquer forma. Se fomos reprovados, não há nada que possamos fazer para mudar a vontade de Deus, nem podemos ser realmente responsáveis por nossos pecados.
Essa objeção, também, é enfrentada por Paulo em Romanos 9:19: “Dir-me-ás então: Por que se queixa ele (Deus) ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade?” Uma vez mais, o simples fato das pessoas levantarem essa mesma objeção contra nós coloca-nos em boa companhia. Não deveria ser surpresa para nós que, visto que o apóstolo enfrentou essa objeção com respeito ao ensino da predestinação, devemos ser confrontados com a mesma também.
Que resposta devemos dar a essa objeção? A mesma resposta básica que Paulo deu: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos 9:20-21). Duas coisas permanecem verdadeiras: a predestinação soberana de Deus e a plena responsabilidade do homem. Paulo não abdica da doutrina da predestinação, nem cede à objeção que esse ensino nega a responsabilidade do homem diante de Deus. Ambas são verdade. Numa forma que transcende nossa capacidade de explicar ou compreender plenamente, Deus é soberano, soberano em determinar o destino eterno de todo homem, e o homem permanece uma criatura responsável, moral e racional.
Embora as Escrituras sejam claras sobre o fato de Deus ter predestinado eternamente todas as coisas, elas são igualmente claras em manter a plena responsabilidade do pecador. Há vários exemplos que salientam isso. De acordo com Isaías 37:21-38, Senaqueribe, o rei da Assíria, invadiu e destruiu Judá. Esse evento tinha sido ordenado por Deus há muito tempo: “Porventura não ouviste que já há muito tempo eu fiz isto, e já desde os dias antigos o tinha formado? Agora porém o fiz vir, para que tu [Senaqueribe] fosses o que destruísse as cidades fortificadas, e as reduzisse a montões de ruínas” (Isaías 37:26). Mas o fato da predestinação de Deus escusa o comportamento de Senaqueribe? De forma alguma! Deus ficou irado com Senaqueribe por sua impiedade e puniu-o por isso, embora ele tivesse pré-ordenado o que aconteceu: “Porém eu conheço o teu assentar, e o teu sair, e o teu entrar, e o teu furor contra mim. Por causa do teu furor contra mim, e porque a tua arrogância subiu até aos meus ouvidos, portanto porei o meu anzol no teu nariz e o meu freio nos teus lábios, e te farei voltar pelo caminho por onde vieste” (Isaías 37:28-29).
O exemplo extraordinário da predestinação de Deus e a responsabilidade do homem é a crucificação de Cristo. Em seu sermão em Pentecostes, Pedro declarou: “A este [Cristo] que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” (Atos 2:23). A crucificação de Cristo aconteceu de acordo com o “determinado conselho e presciência de Deus.” Mas isso de modo algum escusou ou minimizou a culpa das “mãos dos injustos” que pegaram Cristo e o crucificaram na cruz.
Fonte: Extraído e traduzido de Saved by Grace, Rev. Ronald Cammenga e Rev. Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association.
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