por Rev. D. H. Kuiper
A importância do retorno de Jesus Cristo para a Igreja dificilmente poderá ser superenfatizada. Ele é um aspecto da promessa que espera cumprimento. É a final e coroadora obra no processo completo da redenção. É, portanto, o objeto de desejo de esperança que existe em todo santo. O retorno de Cristo: a ressurreição do corpo … e o julgamento final..a renovação de todas as coisas … a glória eterna!
Falando de uma forma geral, há três visões que buscam apresentar a verdade das Escrituras sobre a segunda vinda de Jesus e o reino que Ele aperfeiçoará. Estas visões diferem de acordo com a interpretação dada à palavra milênio (do latin millenium – mille, mil; e annum, ano). Esta palavra ocorre apenas seis vezes nas Escrituras e todas no capítulo 20 de Apocalipse, uma porção admitidamente difícil e simbólica da Palavra. À palavra milênio são adicionados vários prefixos (pós-, pré- e a-), e dessa forma, designando uma visão particular com respeito aos mil anos. O pré-milenismo toma o milênio literalmente e mantém que Cristo voltará e então reinará sobre esta terra por exatamente mil anos. O pós-milenismo toma a palavra figurativamente, denotando um longo período de tempo pertencente à parte final desta era Cristã, e imediatamente antes do aparecimento de Cristo. O amilenismo também interpreta o milênio simbolicamente; só que ele mantém que o mesmo se refere a toda a era Cristã. Nos propomos chamar vossa atenção a estas posições nesta série de três artigos, sujeitado-os à luz da Escritura, na esperança de que sejam construtivos à nossa fé e esperança. Começaremos com uma consideração do pós-milenismo.
Faremos bem em deixar que um pós-milenista defina sua própria posição: “Pós-Milenismo é aquela visão das últimas coisas que sustenta que o Reino de Deus está sendo agora estendido no mundo através da pregação do Evangelho e da obra salvadora do Espírito Santo; que o mundo será finalmente Cristianizado, e que o retorno de Cristo ocorrerá no término de um longo período de justiça e paz freqüentemente chamado o Milênio” (Loraine Boettner – ver livro online http://www.monergismo.com/livros/boettner/posmile/index.htm). Esta definição é representativa daqueles que sustentam esta visão. Desejamos desenvolver alguns de seus elementos para que suas implicações estejam claramente diante de nós.
Sem qualquer hesitação, o pós-milenismo declara que a maioria da humanidade será salva em Jesus Cristo. Se isto não foi verdade nos tempos do Antigo Testamento, se isto não foi verdade nos tempos dos apóstolos, certamente não será verdade durante a era final do milênio. O pós-milenismo baseia esta alegação em passagens da Escrituras que falam da universalidade da salvação (Salmos 97:5; Malaquias 1:11; Atos 13:17), o mundo como o objeto da redenção em Cristo (João 1:29 e 3:16; 1 João 2:2), especialmente sobre Mateus 28:18-20, onde Cristo diz: “É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinado-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” Neste texto o pós-milenismo vê que Cristo tem tanto a capacidade como o direito de Cristianizar o mundo inteiro. Por causa desta promessa de Cristo, o número dos redimidos será aumentado até que sobrepuje o número dos perdidos.
Novamente, sem hesitação, o pós-milenismo declara que o mundo está se tornando melhor; existem períodos curtos durante os quais pode parecer que as forças do mal estão ganhando, porém, se olharmos para trás, através do estender-se da história, veremos inequivocamente progresso e melhoramento espiritual. Sempre o pecado será encontrado no mundo, até mesmo no fim do tempo. Mas sua influência será diminuída, e os ímpios serão a minoria. Os princípios e as condutas Cristãs se tornarão os padrões aceitáveis, tanto para a vida púbica como para a privada. A educação, os negócios, o governo, a indústria e toda a sociedade estarão sob o domínio da vida e do pensamento Cristão. Isso não pode ser já observado? A escravidão e a poligamia são praticamente inexistentes. A função das mulheres e das crianças melhorou grandemente neste século. As nações têm começado a cooperar de maneira que a arbitração substitui a guerra e o derramamento de sangue. A Bíblia, em outro tempo de preservação privada do clero, tem sido traduzida, e impressa em centenas de línguas nativas. Aproximadamente dez milhões de cópias são vendidas anualmente, de forma que noventa e oito por cento das pessoas do mudo a têm em suas casas. A obra missionária floresce: o Cristianismo está a ponto de se tornar A religião mundial. E se o progresso não tem sido tão rápido ou extensivo como poderíamos desejar, a culpa deve ser posta na Igreja por não lutar seriamente para evangelizar o mundo em resposta ao mandamento de Cristo.
Em lealdade, deve ser também mencionado que o pós-milenismo crê que estas mudanças acontecerão, não naturalmente, nem devido a algum processo evolucionário operando na raça humana, mas pela pregação do Evangelho de Jesus Cristo e a poderosa obra do Espírito nos corações dos homens. Esse evangelho deve ser pregado. Então, o futuro mostrará que o melhor está por vir; guerra e derramamento de sangue cessarão (Isaías 2:4), a corrupção desaparecerá e um longo período de justiça e paz (o milênio) virá a este mundo! Sua vontade será feita na terra assim como no céu. Cristo retornará ao mundo nessa condição dourada. Ele trará um fim a esta presente era, e os reinos deste mundo serão o reino de Cristo (Apocalipse 11:15).
Estamos convencidos de que o que foi dito anteriormente não é a verdade da Escritura. Embora o pós-milenismo creia que a Bíblia é a Palavra de Deus, não obstante, ele erra grandemente na interpretação de muitas passagens das Escrituras e, portanto, também cai em erro com respeito ao milênio. No restante deste artigo, mostraremos este erro.
Estranhamente pode ser mostrado a partir dos jornais diários o oposto exato do pós-milenismo; alguém não lê de nações resolvendo disputas por meio da arbitragem. Os Estados Unidos já provou ser uma farsa esta esperança. As guerras continuam, e ainda aumentam! Alguém lê de crimes aumentando geometricamente, de modo que incontáveis áreas desta terra [UE] (supostamente a mais avançada e Cristã, levará outros a Cristo) são inseguras para a vida normal. Os anúncios de filmes e as análises de livros, os atos públicos de violência e desordem estudantis; tudo isto, mostra que a Cristianização destas áreas não começou. Nem jamais passará perto dos níveis otimistas descritos acima. As guerras mundiais passadas mais as numerosas guerras restritas deveriam demolir tal otimismo. Estes eventos continuam a ser assim diariamente. O tempo presente não se compara tão favoravelmente com a Idade Média. O pecado aumentou, embora tenha, talvez, tomado uma forma mais sutil e “refinada.” A civilização não pode ser erroneamente tomada como fruto do evangelho.
O decisivo para o Cristão é o que a Palavra de Deus diz das realidades concernentes à salvação, ao pecado, ao milênio e às últimas coisas. O pós-milenismo ou ignora certas passagens da Escritura ou lhes dá um significado muito forçado e não natural. Certamente Deus revelou Sua vontade de salvar em Jesus Cristo um número relativamente pequeno de homens, enquanto o resto d humanidade perece. O exército de redimidos constituirá uma vasta multidão, não há dúvida; porém, comparado com os perdidos, deve ser chamada uma minoria. Mateus 22:14 declara que muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Muitos, nem sequer todos os homens, ouvem a pregação da Palavra, mas poucos são escolhidos para serem salvos pela Palavra para glória. Para a maioria a pregação é meramente um testemunho que lhes deixa sem escusa. A Igreja de Cristo é chamada de um pequeno rebanho (Lucas 12:32) e de uma cabana na vinha (Isaías 1:8). Estes termos nos proíbem dizer que a maioria dos homens será salva, em qualquer era.
Em segundo lugar, há o tremendo testemunho do capítulo 24 de Mateus. Ninguém pode crer nestas palavras e ainda manter uma idade dourada de justiça e paz, a qual será obtida justamente antes do retorno de Cristo. Jesus nos diz aqui que o sinal de Sua vinda e do fim do mundo (eventos simultâneos) envolverá um aumento na guerra, nos distúrbios étnicos, nas fomes, pestilências e terremotos. Em vez de uma influência universal da verdade e da paz, haverá falsos profetas e a iniqüidade abundará. A tribulação será a porção da Igreja naqueles dias. A verdadeira religião estará quase extinta. Quando Jesus retornar, achará fé na terra? (Lucas 18:8). A resposta não é um “sim” ressoante como muitos responderiam; nem é “não”; mas a resposta é um quieto e hesitante “sim, Deus preservará Sua igreja em fé” Mas isto requererá Sua graciosa abreviação daqueles dias.
Rogamos que estudem Mateus 24 e Apocalipse 20, além de outras porções relevantes das Escrituras. Coloque de lado todas opiniões privadas, e se deixem ser guiados pelo Espírito e pela Palavra. Faça isto somente depois de ter orado. Cremos que vocês verão que vivemos perto do final do milênio, esse período de tempo que se estreita desde a primeira vinda de Cristo até o Seu retorno. Nesta era deve ser observado um desenvolvimento duplo: o mundo aumenta em pecado e impiedade até que o Anticristo seja revelado e estiver maduro para a destruição; a Igreja será reunida e salva; todos, até o último dos escolhidos! Então Cristo virá. E com Ele o fim!
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / [email protected]
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