Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Em sua providência, Deus controla e dirige todas as coisas que acontecem. Mesmo as vidas dos homens, em cada detalhe, estão sob esse controle soberano de Deus. “Ele opera”, como Nabucodonosor disse, “segundo a sua vontade … com o exército do céu e os moradores da terra” (Daniel 4:35). Por sua providência, portanto, Deus também controla e dirige as ações pecaminosas dos homens, como é evidente a partir do exemplo de Nabucodonosor e outros (I Sm. 2:25; II Sm. 16:10; 24:1; I Reis 22:19-22; Atos 2:23; Rm. 9:18). Incluso nessa obra soberana e providencial de Deus está uma restrição do pecado. Deus, por providência, restringe de muitas formas diferentes a impiedade dos homens.
A Escritura nos dá muitos exemplos dessa restrição do pecado. Gênesis 6:3 é o primeiro exemplo na Escritura. Ali Deus restringiu o pecado diminuindo a longevidade do homem. Ele também restringiu o pecado no tempo da torre de Babel, ao mudar o idioma dos homens. Passagens que falam de Deus entregar alguém ao pecado implicam uma restrição prévia de algum tipo (Sl. 81:11-12; Atos 7:42; Rm. 1:24-28).
Muitos citam essas passagens como exemplos da assim chamada graça comum. Que Deus restringe o pecado do homem, dizem eles, é evidência de uma disposição graciosa de Deus para com todos os homens. Alguns até mesmo diriam que essa graça comum é o resultado de uma obra não-salvadora de Deus no coração, mente e vontade do homem, que deixa o homem menos que totalmente depravado; e que prepara o caminho para o evangelho, tornando possível para um homem aceitar ou rejeitar o evangelho como uma oferta de graça salvadora.
Que existe tal restrição do pecado, contudo, não prova que isso seja uma questão de graça. A questão “Como e por que o pecado é restringido?” ainda deve ser levantada.
A Escritura claramente ensina que essa restrição do pecado é realizada somente pelo poder de Deus, não por qualquer operação graciosa do Espírito operando alguma mudança na natureza depravada do homem. Portanto, ela é semelhante a colocar uma focinheira num cão violento. Ela o impede de morder, mas não faz nada para recuperá-lo de sua raiva. Dessa forma Deus usa muitas coisas, especialmente o temor das conseqüências, para restringir a impiedade dos homens sem mudar seus corações. Um dos melhores exemplos de uma restrição soberana, mas não-graciosa, é encontrada em Isaías 37:29, onde Deus diz ao rei da Assíria: “Eis que porei o meu anzol no teu nariz, e o meu freio, na tua boca, e te farei voltar pelo caminho por onde vieste.” Não há nada gracioso nisso!
Essa mesma passagem de Isaías nos lembra do propósito dessa restrição. Ela não tem o outro propósito senão a proteção e preservação do povo de Deus no mundo.
As operações comuns da providência de Deus não são uma graça comum. Graça é o poder pelo qual Deus salva pessoas (Ef. 2:8-10). Não existe outro tipo de graça além da graça maravilhosa, impressionante e salvadora. Louvado seja Deus por isso!
Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 96-98.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em junho/2007.
Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.