Rev. Angus Stewart
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
“As misericórdias [de Deus] são sobre todas as suas obras”, de acordo com o Salmo 145:9. Defensores da “graça comum” consideram que “todas as obras [de Deus]” aqui se refere a todo o mundo, indivíduo por indivíduo, incluindo os réprobos. Mas o versículo imediatamente seguinte declara: “Todas as tuas obras te louvarão” (v. 10a). O réprobo não louva a Deus, e assim, não pode ser o objeto das Suas “misericórdias” (v. 9). De acordo com o paralelismo hebraico, “os teus santos te bendirão” (v. 10b) define as obras de Deus aqui como o Seu povo santo, criado por Sua graça soberana em Jesus Cristo (cf. Is. 19:25; 29:23; 45:11; Ef. 2:10), os cidadãos do reino gracioso de Deus, assunto do Salmo 145.
Tenhamos o paralelismo hebraico do Salmo 145:9-10 claramente diante de nós:
[9a] O Senhor é bom para todos:
[9b] e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras.
[10a] Todas as suas obras te louvarão, ó SENHOR:
[10b] e os teus santos te bendirão.
“Todos” (v. 9a) e “todas as obras [de Deus]” e os “santos” de Deus (v. 10b) refere-se ao mesmo grupo, o povo santo de Deus, que são novas criaturas em Jesus Cristo (2Co. 5:17; Ef. 2:10). O eterno, imutável e fiel Jeová é bom para “todos” deles (Sl. 145:9a) e eles são os objetos de Suas “misericórdias” pactuais (v. 10a). Conhecendo a bondade e as misericórdias de Deus, todos do Seu povo santo O “louvam” (v. 10a) e “bendizem” (v. 10b), e “falam da glória do [Seu] reino, e relatam o [Seu] poder” (v. 11).
Observe que o Salmo 145 abre exaltando o sempre bendito Deus como “rei” (v. 1). Quatro vezes esse salmo usa a palavra “reino” (v. 11-13) e refere-se uma vez ao seu “domínio” que “dura em todas as gerações” (v. 13). O “reino” de Deus é glorioso, majestoso e eterno (v. 11-13). Ele é o tópico da conversa e assunto do louvor divino para os “santos” (v. 10), que “falam”, “relatam” e fazem saber” (v. 11-12) a “glória” do reino de Deus, sim, sua “magnificência” (v. 11-12). Nesse reino, o “poder” e as “proezas” de Deus (v. 11-12) são conhecidos e reverenciados. Similarmente, as “obras”, “proezas” e “feitos terríveis” de Jeová (v. 4-6) estão também à serviço do “rei” (v. 1) e do Seu reino (v. 11-13) e existem muitíssimas razões para a igreja de todas as eras louvá-Lo (v. 4-6): “Uma geração louvará as tuas obras à outra geração, e anunciarão as tuas proezas” (v. 4). Lembramos alegremente da “grande bondade” de Deus e “cantamos” a sua “justiça” (v. 7). Louvamo-Lo por suas perfeições éticas: “Piedoso e benigno é o SENHOR, sofredor e de grande misericórdia” (v. 8). Isso é visto no governo de Jeová de seu “reino eterno” (13), pois Ele “sustenta a todos os que caem, e levanta a todos os abatidos” (v. 14) e “perto está… de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade” (v. 18). Assim, Ele cumpre o desejo “dos que o temem,” ouve o seu clamor e os salva; dá mantimento a todos, para servir aos interesses do Seu reino (v. 15-16). Dessa forma, em todo o Salmo 145, Davi (prefácio) e “todas as obras [de Deus],” que são os Seus “santos” (v. 9-10), louvam a Deus o rei pelas proezas, magnificência gloriosa e misericórdias mostradas ao estabelecer e manter o Seu reino. Esse é o mesmo reino que Jesus Cristo pregou em Seu ministério público e estabeleceu no sangue de Sua cruz, e que Ele governa e defende do Seu trono à destra de Deus – o mesmo reino mais plenamente revelado nas páginas do Novo Testamento. O contexto do Salmo 145, bem como o paralelismo hebraico nos versículos 9-10, deveria evitar que alguns lessem “graça comum” no Salmo 145:9.
Além do mais, se fôssemos seguir a eisegesis daqueles que crêem que “todas as obras [de Deus]” no Salmo 145:9 inclui todo ser humano sem exceção, também seríamos forçados a concluir que o mesmo se aplicaria a “todos os viventes” no versículo 16. Mas se permitirmos isso, necessariamente precisaríamos crer que Deus “farta os desejos” por mantimento (v. 15-16) de todo ser humano na história do mundo – todavia, sabemos que milhares morreram e ainda morrem de fome. Também, é dito que “todos os viventes” “esperam” em Deus por mantimento (v. 15). Isso poderia muito bem incluir animais, pássaros e peixes (cf. Sl. 104:21, 25-28), bem como os filhos de Deus que buscam somente a Ele pelo seu pão diário. Mas os réprobos são incrédulos; eles não esperam verdadeiramente, nem oram a Deus em fé por mantimento!
O método exegético daqueles que sustentam a “graça comum” leva a absurdos no Salmo 145, tanto com respeito aos versículos 9-10 e 15-16, bem como a perder o significado do salmo como um todo. Não isolemos partes de versículos para fazê-los dizer o que pensamos que eles dizem, mas interpretemos a Escritura com a Escritura. Se fizermos isso com este salmo, poderemos apenas concluir que a teoria de uma “graça comum” para o eleito e réprobo não está em vista aqui de forma alguma. Pelo contrário, o Salmo 145 louva a Deus por relevar Seu poder (v. 4-6, 11-13), bondade (v. 7-9) e proximidade (v. 14, 18-19) em Seu reino glorioso. O versículo 20 resume para nós a atitude e vontade de Deus para com os dois povos antitéticos espiritualmente: “O SENHOR guarda a todos os que o amam; mas todos os ímpios serão destruídos.” Por quê? O santo e imutável Deus do reino é “justo … em todos os seus caminhos” (v. 17).
Fonte: Does Psalm 145:9 Teach Common Grace?
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em outubro/2007.
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