Rev. Herman Hoeksema
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
A verdade da condição sem esperança do homem implica que esse renascimento ou regeneração2 não pode ser estabelecido por alguma obra do homem ou pelo poder da vontade do homem. Essa impossibilidade já está implícita no termo renascimento ou regeneração. Assim como nenhum homem pode ser a causa eficiente do seu nascimento natural da carne, tampouco pode ser a causa eficiente do seu segundo nascimento ou concepção espiritual. O homem não pode renovar a si mesmo.
Isso está implícito também na condição natural do homem. Quando ele ama as trevas e não a luz (João 3:19), ele certamente não fará nenhuma tentativa de vir para a luz. Antes, ele evitará, desprezará e odiará a luz. Quando por natureza está em tal condição que não pode ouvir a palavra de Cristo, por sua própria surdez ele está certamente excluído de todas as influências externas que poderiam induzi-lo a entrar no reino de Deus. Quando a mentalidade da carne, com a qual o homem nasce por natureza, é sempre inimizade contra Deus, de forma que ele não pode se submeter à lei de Deus, sim, não pode se sujeitar a essa lei (Rm. 8:5-7), é claro que seu coração estará fechado contra a influência do amor de Deus em Cristo Jesus. Para o homem natural não existe nenhuma esperança de melhora ou reforma no caminho da educação, no caminho de um exemplo melhor, ou no caminho de exercer-se na disciplina da virtude externa. Dessa forma, ele nunca entrará no reino de Deus.
Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus (Ef. 2:4-6).
O que é impossível para os homens é possível para Deus (Lucas 18:27). Ele é capaz de criar no homem um coração puro e renovar nele um espírito reto (Sl. 51:10). Ele é capaz de circuncidar o coração do seu povo e sua semente, para que amem o Senhor Deus deles com toda a sua existência e vida (Dt. 30:6). Ele é capaz e está disposto a dar-lhes um coração para conhecerem ao Senhor; eles então serão o seu povo, e ele será o Deus deles. Eles se voltarão para ele de todo o coração (Jr. 24:7).
Ele está disposto a dar-lhes um coração e colocar um espírito novo dentro deles. Ele tirará o coração de pedra deles e lhes dará um coração de carne, para que possam andar nos seus estatutos e guardar as suas ordenanças. Assim, eles serão o seu povo, e ele será o Deus deles (Ez. 11:19-20). Ele aspergirá sobre eles água pura, para que sejam purificados de sua imundícia e de todos os seus ídolos. Ele lhes dará um novo coração e colocará um novo espírito dentro deles. Ele tirará o coração de pedra da carne deles, e lhes dará um coração de carne. Dessa forma, eles andarão em seus estatutos e guardarão os seus juízos para cumpri-los (Ez. 36:25-27).
Contra esse pano de fundo, os apóstolos pregaram o evangelho do reino num mundo de trevas, enfatizando a necessidade dessa mudança radical através da qual o homem é transladado primeiro na própria profundeza de sua existência interior e, então, também em toda a sua vida consciente e andar público no mundo. Algumas vezes os apóstolos referem-se a essa mudança radical nos homens como renascimento ou regeneração:
Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas (Tiago 1:18).
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (I Pe. 1:3).
Esse renascimento ou regeneração, portanto, é a obra do Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele realiza essa obra de acordo com sua grande misericórdia, uma misericórdia que livra o seu povo da miséria do pecado e da morte, e que é chamada “grande” porque não simplesmente liberta da miséria para fazer o seu povo voltar ao seu estado e condição original, mas exalta-os acima daquele estado, fazendo-lhes serem participantes de uma nova, celestial e gloriosa vida.
Por conseguinte, essa regeneração é mediada através da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, pois não somente é essa ressurreição de Cristo o fundamento jurídico para a regeneração e a certeza da salvação deles, mas é também o princípio da regeneração de todos os crentes. Assim como Cristo em sua ressurreição não retornou à terra, mas foi vestido com uma vida mais sublime e celestial, assim os filhos de Deus recebem em seu renascimento o princípio de uma nova vida, a mesma vida com a qual Cristo levantou do sepulcro. Porque está fundamentada na ressurreição de Cristo, essa regeneração é também o princípio de uma esperança viva, que se desenvolve na esperança da realização e revelação futura da salvação completa. O eleito renascido se tornou peregrino na terra, pois recebeu o princípio de uma vida celestial através da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. Em virtude desse princípio, ele não busca as coisas que são de baixo, mas aquelas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus (Cl. 3:1-2).
Fonte: Reformed Dogmatics, vol. 2, Herman Hoeksema, Reformed Free Publishing Association, pp. 26-29.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em agosto/2008.
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