Prof. Herman Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra (Ap. 22:12).
Pergunta: “Uma pessoa salva, digamos, há apenas um ano pode ter avançado na vida cristã bem mais do que alguém salvo há sessenta anos. O galardão no céu depende do estágio alcançado e do total de serviço acumulado ao longo dos anos?”
Eu dei a este artigo o título “O Galardão da Graça” porque a pergunta tem a ver com a explicação que os teólogos Reformados e Presbiterianos têm consistentemente dado ao galardão que os crentes recebem por suas obras. Ele é chamado de o galardão da graça porque, embora, de fato, um crente seja recompensado por suas obras, essa recompensa é pela graça somente.
A situação descrita na pergunta—um homem convertido há apenas um ano estando bem mais avançado na vida cristã do que outro convertido há sessenta—é uma exceção, e não uma regra. Podem existir pessoas assim, mas a forma comum na qual Deus opera Sua salvação no coração do Seu povo é mediante progresso e crescimento na santificação. Contudo, seja qual for o caso, a resposta à pergunta não é afetada.
Que seja estabelecido que as nossas obras são de fato recompensadas. A Escritura ensina isso em mais de um lugar (e.g., Mt. 5:12; 6:4, 6, 18; 10:41; 16:27; Lucas 6:23, 35; I Co. 3:8; II Co. 5:10; Hb. 11:6). Um incentivo a praticar boas obras enquanto estamos aqui na Terra é o galardão que receberemos na glória.
É também o ensino da Palavra de Deus que o galardão será em proporção às obras. Esse é claramente o significado das palavras do Senhor em Apocalipse 22:12, de que todos serão recompensados “segundo a sua obra.” O Senhor dispensará as recompensas de uma forma totalmente justa. (Isso implica também o castigo dos ímpios no inferno de acordo com suas obras.) Podemos deduzir disso que não há desapontamento no céu, e que cada um de nós ficará satisfeito com a recompensa que receber.
Além disso, as boas obras recompensadas no céu não são necessariamente as obras extraordinárias que alguns realizam. Em sua obra de reforma, Lutero virou a Europa de cabeça para baixo. Essa foi de fato uma grande obra. Mas existem obras agradáveis a Deus que passam despercebidas pelos homens, obras de grande valor e dignidade. O coração partido de um pecador penitente, chorando em seu quarto, é de maior dignidade que muitos feitos poderosos. O cuidado fiel de uma mãe piedosa pela sua família é de valor bem maior que um sermão poderoso de um ministro enamorado com suas próprias habilidades. Deus pesa as obras em escalas diferentes das que usamos.
Mas o que eu disse até agora não é de forma alguma a história toda. Penso que o resto da história pode ser melhor contada citando-se a Confissão Belga 24: “Então, fazemos boas obras, mas não para merecermos algo. Pois, que mérito poderíamos ter? Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que fazemos e não Ele a nós. Pois, ‘Deus é quem efetua em’ nós ‘tanto o querer como o realizar, segundo sua boa vontade’ (Filipenses 2:13). Então, levemos a sério o que está escrito: ‘Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer’ (Lucas 17:10). Contudo, não queremos negar que Deus recompensa as boas obras; mas, por sua graça, Ele coroa seus próprios dons.” Através da graça de Deus, Ele coroa Seus dons! Esse é o galardão da graça! Várias idéias são ensinadas aqui.
(1) As boas obras que realizamos e que Deus recompensa são graciosamente nos dadas como um dom. Deus opera em nós tanto o querer como o realizar a Sua boa vontade (Fp. 2:13). Somos devedores a Deus por nossas boas obras, não Ele a nós.
(2) Nunca, sob quaisquer circunstâncias, merecemos algo de Deus. Nem mesmo Adão, antes de cair, poderia ter merecido algo da parte de Deus. Toda a idéia de mérito humano é contrária às Escrituras.
(3) O galardão que recebemos também nos é dado pela graça. Esse é o motivo de ser chamado “o galardão da graça.” É, nas palavras da nossa confissão, “por Sua graça que Ele coroa Seus próprios dons.”
(4) Cada um recebe um galardão inteiramente justo, ajustado e apropriado para ele ou ela.
Para explicar isso adicionalmente, o professor de catecismo da minha juventude dizia que Deus cria vários copos de vidro de muitos tamanhos diferentes. Eles são criação Sua; o tamanho não é arbitrariamente determinado. Na glória, Ele enche cada copo de vidro até o topo. Cada copo fica cheio e não pode receber mais, mas cada um deles é de um tamanho diferente.
A metáfora é como segue. Em Sua obra de salvação, Deus muda e forma cada um do Seu povo, de acordo com a Sua vontade. Ele faz isso pela obra de salvação, pela qual cada um de nós realiza boas obras, obras que revelam a glória de Deus na salvação. No céu, todo santo será recompensado por causa das suas obras por Deus, de forma que a obra iniciada nesta vida será finalizada no céu, onde a glória de Deus brilha em cada santo para o louvor do nome de Deus.
No plano perfeito de Deus, a obra da salvação nesta vida é perfeitamente realizada para preparar cada santo para o seu lugar na glória. Cada pedra—a fim de usar outra metáfora—é moldada e formada por Deus através de todas as experiências de vida, a fim de se encaixar perfeitamente no templo de Deus construído em toda a sua glória no céu (Ef. 2:20-23). Assim, cada um em seu lugar, de acordo com o galardão da graça, exibe em sua própria forma e em conexão com todos os eleitos a glória do Deus que salva a igreja inteira e edifica o Seu próprio templo. Tudo é sempre para a glória de Deus e louvor de Sua graça!
Fonte (original): Covenant Reformed News, Fevereiro de 2007, Volume XI, Edição 10.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em maio/2008.
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