Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Hebreus 4:15 nos ensina que Cristo tinha uma natureza humana fraca (ele foi “tocado com o sentimento das nossas fraquezas” e “como nós, em tudo foi tentado”) e sem pecado (“mas sem pecado”). Essas verdades já foram explicadas. Juntas, elas levantam questões sobre as tentações de Cristo. Como ele poderia ser tentado, se não tinha pecado? Como as tentações poderiam ser reais, se não era possível ele pecar? E se não podia pecar, ele tinha realmente uma natureza humana fraca, que era como a nossa em tudo?
Que as tentações de Cristo foram reais é claro a partir da Escritura. Quando elas terminaram, ele precisou do ministério dos anjos (Mt. 4:11). Ele tinha uma natureza humana fraca que sofreu na tentação, assim como nós. Contudo, isso não responde a pergunta sobre como as tentações podiam ser reais, se ele não podia pecar.
Alguns dizem que era possível Cristo pecar em sua natureza humana, mas não em sua natureza divina. Cremos que essa é uma resposta inaceitável. Ela termina dizendo o que não devemos dizer: que ele não era perfeito. Mesmo que fosse verdade que ele era capaz de pecar somente em sua natureza humana, seria todavia ele, o Filho unigênito de Deus, que seria capaz de pecar. Tal conversa é blasfema!
Sem pretender ser capaz de explicar o grande mistério que “[Deus] se manifestou em carne” (I Tm. 3:16), cremos que a Escritura nos ajuda a entender as tentações de Cristo. Deveríamos entender que o Novo Testamento usa na verdade apenas uma palavra onde temos duas no português: “tentação” e “provação.” Ao usar apenas uma palavra, a Bíblia nos ensina que a tentação e a provação, que parecem tão diferentes para nós, são dois lados da mesma luta espiritual contra Satanás e o pecado. Quando Satanás nos tenta, Deus está ao mesmo tempo nos provando.
Esse é um tremendo testemunho da soberania de Deus sobre o pecado e Satanás, um testemunho que fazemos sempre que oramos a Deus: “Não nos induzas à tentação” (Mt. 6:13). Ele é útil também no entendimento das tentações de Cristo.
Ele significa que, quando Cristo estava sendo tentado por Satanás, ele estava sendo também provado por Deus. Quando pensamos de suas tentações dessa forma, é de certa forma mais fácil entender que ele poderia ser tentado sem ser capaz de pecar, e entender o porquê ele foi assim tentado.
As tentações de Cristo foram uma grande batalha espiritual contra o pecado e Satanás, um teste enviado por Deus para nos provar que Cristo era, de fato, sem pecado. A partir desse ponto de vista, não é necessário pensar na possibilidade dele ter pecado, e ainda ver que suas tentações foram reais e difíceis—que ele foi tentado em tudo, como nós.
É importante entendermos isso. A impecabilidade de Cristo na luta contra Satanás é parte do nosso encorajamento na mesma batalha. Devemos olhar para ele, para que “não enfraqueçamos, desfalecendo em nossos ânimos” (Hb. 12:2-3).
Fonte (original): Doctrine According to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 133-134.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em fevereiro/2007.
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