Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Porque a Escritura é a Palavra de Deus e tem um autor, ela também é uma. Deus não fala com sessenta e seis vozes diferentes. Ele não pode, pois ele mesmo é um em poder, em propósito e em ser. Porque ele é um, sua Palavra e revelação são uma também.
O fato de a Escritura ser uma é de suprema importância. Por essa razão, a Escritura não pode contradizer ou divergir entre si. Um livro não pode diferir de outro, nem o Antigo do Novo Testamento. A Escritura não pode ensinar uma coisa no Antigo Testamento e algo oposto no Novo, nem um escritor humano algo diferente do outro.
É errado, portanto, falar de “a teologia de Paulo,” como fazem alguns, sugerindo que ela difere da teologia de Jesus ou da teologia de Pedro. Nem pode alguém sugerir que Jesus tinha visões diferentes das de Moisés, Paulo ou João em certos assuntos, tais como divórcio ou o lugar da mulher na igreja.
Essa doutrina da unidade da Escritura é especialmente importante contra o dispensacionalismo, que não vê nenhuma unidade entre o Antigo e Novo Testamento, entre Israel e a igreja. Mesmo o ensino batista que o pacto com Israel é um pacto fundamentalmente diferente do pacto de Deus com a igreja é uma negação da unidade da Escritura. A Escritura é um livro e não pode ensinar dois ou mais pactos diferentes e conflitantes.
Se a Escritura é uma, não pode haver diferentes revelações, pactos, povos de Deus, ou diferentes formas de salvação. Nossas objeções ao ensino do dispensacionalismo e do batismo [apenas] do crente,2 portanto, não são baseadas apenas em passagens que refutam ensinos específicos desses grupos, mas também sobre passagens que ensinam que a Escritura é uma e não pode ser quebrada (João 10:35, KJV).
A noção que o Antigo Testamento não é autoritativo para os cristãos do Novo Testamento, exceto onde o seu ensino é reafirmado no Novo Testamento, é uma negação da unidade da Escritura. O que está escrito no Antigo Testamento foi escrito para nós, como cristãos do Novo Testamento também (I Co. 10:11).
A unidade da Escritura, como Jesus nos lembra em João 10:35, está nele mesmo. Ela é toda, desde o princípio ao fim, a revelação de Cristo como o Salvador e da graça de Deus que é revelada nele. Como Spurgeon disse: “Onde quer que você fure as Escrituras, elas jorram o sangue do Cordeiro.”3 Encontrar Cristo em cada passagem deve ser o nosso objetivo, e ao fazê-lo descobriremos com certeza que a Escritura fala com apenas uma voz.
A doutrina da unidade da Escritura é importante não somente como uma defesa contra outros ensinos, mas também para o nosso estudo da Escritura. Se a Escritura é uma, nenhuma passagem dela jamais pode ser estudada, crida ou mesmo citada de uma forma isolada do restante da Palavra. Nada que digamos ou pensemos sobre a Palavra de Deus pode contradizer outra parte dela. E isso significa, sem dúvida, que devemos nos ocupar com as Escrituras, para que a conheçamos do princípio ao fim, e estejamos plenamente inteirados com o seu ensino.
A doutrina da unidade da Escritura significa, então, que toda a Escritura é necessária e importante, e que nenhuma parte dela pode ser negligenciada. Devemos conhecer, ler, estudar, aprender e prestar atenção à tudo dela. Você faz isso?
Fonte (original): Doctrine According to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 23-24.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em abril/2008. 2Ao invés de estender o mesmo às crianças que são filhos de crentes, por serem membros da aliança, como ensinado na Escritura. (N. do T.) 3Localização da citação nos escritos de Charles Haddon Spurgeon é desconhecida
Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.