Rev. Angus Stewart
Parte 1
Uma parte dos leitores têm perguntado acerca da amplitude do propósito da expiação, isto é, por quem morreu Cristo? Esta questão é especialmente importante porque muitos evangélicos acreditam hoje em dia que Jesus derramou o Seu sangue por todas as pessoas, cabeça por cabeça, não excluindo ninguém. Esta perspectiva é pregada em muitos púlpitos e largamente promovida em livros e panfletos. Mas esta posição precisa ser analizada muito cuidadosamente. É realmente verdade que Jesus deu a Sua vida para salvar todos sem excepção? Deixem-nos perguntar algumas questões acerca deste ponto de vista.
(1) Como pôde o Deus Triúno, que possui sabedoria e compreensão infinitas, enviar o Seu muito amado Filho salvar do pecado e do Inferno aqueles que já estavam no Inferno, um lugar do qual os malditos não podem sair (cf. Lucas 16:26)?
(2) Deus enviou a Sua Palavra a somente uma nação, os Israelitas, durante o tempo Velho Testamento, e “Não fez assim a nenhuma outra nação” (Sl. 147:19-20; Actos 14:16). Mais ainda, Jeová também não enviou o evangelho para todos no tempo do Novo Testamento (cf. Actos 16:6-8; Mt. 24:14). Porquê então enviaria Deus Cristo para morrer por aqueles que nunca iriam ouvir o evangelho e por isso nunca poderiam ser salvos (Rm. 10:14, 17)?
(3) A Bíblia ensina que Judas era “o filho da perdição” (João 17:12), isto é, um homem todo caracterizado pela perdição, ruína e eterna destruição. Morreu Jesus realmente por Judas quando Ele sabia que o Velho Testamento já tinha profetizado que Judas O iria trair (Sl. 41:9) e “para ir para o seu próprio lugar”, nomeadamente Inferno (Actos 1:25; Sl. 109; João 17:12)?
(4) A Escritura afirma que Deus odiou Esaú (Rom. 9:13) mas onde for que se fale da expiação de Cristo é como o fruto do amor de Deus (e.g., João 3:16; 15:13; Rom. 5:8; I João 4:10). Como então pôde Deus enviar Cristo, em Seu infinito, eterno e imensurável amor (Ef. 3:18-19) para morrer por Esaú o qual Ele odiava?
Parte 2
Nas últimas Notícias nós começamos a criticar a posição largamente mantida de que Cristo derramou o Seu sangue para redimir todas as pessoas, cabeça por cabeça. Agora nós devemos acrescentar aos prévios quatros argumentos, três outros baseados nas designações da Escritura aos quais Cristo dirigiu a Sua morte.
(5) Cristo morreu pelo Seu “povo” (Mt.1:21) e pelos Seus “amigos” (João 15:13). O “povo” que Cristo redimiu é depois descrito como “sua semente” (Isa. 53:10) e não a semente da serpente (Gen. 3:15); Seus “filhos,” “crianças” e “irmãos” (Heb. 2:10-14) e não “bastardos” (Heb.12:8); Suas “ovelhas” (João 10:15) e não “os bodes” (Mt. 25:33); Sua “igreja” (Actos 20:28; Ef. 5:25) e não a “sinagoga de Satanás” (Ap. 3:9); e os “muitos” (Isa. 53:11-12; Mt. 26:28) e não todos, cabeça por cabeça.
(6) Em João 10, Jesus ensina que Ele, o bom pastor, morreu pelas Suas Ovelhas (11, 15). Mais tarde, Jesus disse a algumas pessoas que elas não eram Suas ovelhas e que este era o motivo pelo qual elas não acreditavam: ” Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas” (26). O nosso argumento é simples: Jesus morreu pelas Suas ovelhas; Ele disse a certas pessoas que elas não eram Suas ovelhas; por isso Jesus não morreu por elas. Jesus também disse que as Suas ovelhas foram-lhe dadas pelo Seu Pai (“Meu Pai, que mas deu;” 29). O Pai deu as ovelhas a Cristo no Seu eterno propósito de eleição para que Ele pudesse morrer por elas e reuni-las de todas as nações (16). Uma vez que Cristo morreu por Suas ovelhas, e Suas ovelhas são os eleitos, Cristo morreu pelos eleitos.
(7) Na Sua oração sacerdotal, Cristo diz, “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (João 17:9). Se Jesus não fez a pequena coisa (orar pelo mundo), é de todo compreensível que tenha feito a maior coisa (morrer pelo mundo)? Para mais, a intercessão é um dos dois aspectos da obra sacerdotal de Cristo. Se Cristo não orou pelo mundo (um aspecto do seu trabalho sacerdotal), é possível que Ele tenha morrido pelo mundo(o outro aspecto do Seu trabalho sacerdotal)? Isto destruiria a unidade do ofício sacerdotal de Cristo porque Ele teria morrido por aqueles por quem Ele não teria (e não tem) intercedido. Considere que Cristo ora na base da Sua obra de redenção consumada. Por isso, se Cristo não orou pelo mundo, é porque Ele não morreu para redimir o mundo.
Lembre-se também que Jesus está aqui a orar horas antes da cruz e com os olhos na Sua morte sacrificial, porque Ele diz, “Pai, a hora é chegada.” Ao longo de João 17, as orações de Cristo (e por isso a Sua obra redentora) são particulares, somente para os eleitos, aqueles que o Pai Lhe deu (2, 6, 9, 11, 12, 24). Cristo diz, “E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” (19). A santificação de Cristo é a Sua separação de todo o pecado para fazer a vontade d’Aquele que O enviou. Cristo se separou especialmente como nosso necessário sacrifício na cruz. E isto, Ele diz-nos, foi porque “os tens amado”, aqueles quem o Pai Lhe deu, os eleitos. Assim, as orações e o sacrifício de Cristo não só foram particulares—”aqueles que me deste” (9)—mas também exclusivos, “não pelo mundo” (9).
Parte 3
Nas últimas duas exposições das Notícias, nós levantámos sete objecções contra a noção muito popular que Jesus deu a Sua vida para remir os pecados de todos os homens sem excepção. Por favor, consultem as vossas Bíblias à medida que acompanham os argumentos (8) e (9) abaixo, em especial o (9).
(8) Se Cristo morreu absolutamente por todos (e o Seu sacrifício é seguramente motivado pelo amor; Ef. 5:25; Jo 3:16), então Ele também amou e morreu pela falsa igreja, a prostituta das multidões que fornicam com ela na sua adoração corrupta (Ap. 17:1-2, 15). Mas Efésios 5:25 ensina que Cristo “amou a igreja, e se deu por ela.” Nenhuma menção é feita aqui a um amor de Cristo ou a uma morte de Cristo por aquilo que não é a verdadeira igreja que é santificada pela Palavra de Deus purificadora (26) e apresentada sem mancha no último dia (27). Se Cristo amou e morreu por todos, cabeça por cabeça [que necessariamente inclui a falsa igreja], então Cristo n”amou a igreja [e a falsa igreja], e se entregou por [elas].” Mas os maridos são ordenados a “amem as vossas esposas, tal como Cristo amou a igreja [e a falsa igreja]” (25). Então os maridos terão de amar as suas esposas como Cristo ama a Sua noiva e a prostituta, a falsa igreja.
Mas a Escritura ensina que Cristo tem uma noiva, a igreja de todas as eras (Ap. 21:2). Ele amou-a e se entregou por ela somente. Isto, e não a teoria de que Jesus amou e morreu por toda a gente, é a verdade da cruz, e o modelo para os maridos cristãos.
(9) Isaías 53 é o melhor capítulo no VT, e possivelmente em toda a Bíblia, acerca do sacrifício substitutivo de Cristo. A palavra “nossas” por cujos os pecados Cristo foi “ferido” (4-6) é dada nomes específicos: “meu povo” (8), “sua posteridade” ou “sua semente” (10), e os “muitos”—não todos os homens, cabeça por cabeça (11-12). Eles são o prazer do Senhor que “prosperará nas suas mãos” (10). Deus nunca fez o reprovado “prosperar nas suas mãos” e nunca teve prazer neles. Eles não são a Sua semente, povo ou prazer; e por isso Jesus não morreu por eles.
Aqueles por quem Cristo morreu “são curados” pelas “suas pisaduras” (5). Não é meramente que eles poderão ser curados se eles crerem, mas eles são realmente curados. Aqueles por quem os pecados Cristo carregou são também justificados: ” o meu servo justo justificará a muitos, e as iniquidades deles levará sobre si” (11). O povo eleito de Deus (8) são justificados porque Cristo carregou o nosso castigo (11). O réprobo não é justificado, logo Cristo não o remiu. É para os “muitos” cujos os pecados Ele carregou que Cristo intercede (12). Lembra-te, Jesus disse, “não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado” (João 17:9). Os “muitos” por quem Cristo sofreu e por quem Ele ora são os eleitos, não o mundo réprobo. Neste sentido, Jesus é perfeitamente “satisfeito” (Isaías 53:11). Se alguns daqueles por quem Ele foi “ferido” (8) e por quem Ele intercede (12) não forem curados (5) e justificados (11) e não “prosperem nas suas mãos” (10) e não recebam uma parte do Seu “despojo” (12), Cristo não é satisfeito. Até se só uma alma perecer por quem Cristo morreu, o propósito de Cristo não é totalmente realizado, o Seu sacrifício não é totalmente bem sucedido e Ele está insatisfeito.
Parte 4
Neste tema, nós continuamos a nossa crítica ao sacrifício ilimitado ao considerar diversos grupos por quem Jesus teria de ter morrido se esta teoria fosse verdadeira.
(10) Se Cristo morreu por todos, Ele deve ter morrido por Caím como também por Abel, Nimrod como também por Noé, Balaão como também por Moisés. Isto servirá bem também para nações. Cristo deve ter resgatado não só Israel mas também os amalequitas (Ex. 17:14-16), os cananitas (Js. 11:20), os amorreus (incluindo Siom; Dt. 2:30), os filisteus (incluindo Golias) e os edomitas (Ml. 1:2-5). Ele até deve ter entregue a si próprio como sacrifício por Faraó (Ex. 4:21; Rm 9:17) e pelos egípcios (Ex. 14:17), apesar de não ter sido feita qualquer provisão para a aplicação do sangue dos cordeiros sobre as ombreiras de suas portas.
(11) Se Cristo morreu por todos os homens, então segue-se que Ele foi crucificado para salvar o “homem da perdição” (II Tess. 2:3) o qual “se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora”(4). Este homem é o cúmulo da obra do “mistério da injustiça”(7), o tal que opera com “todo o engano da injustiça” (10) esse “cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira”(9). É então possível que o Pai tenha enviado Cristo para morrer pelo homem de Satanás, o “homem do pecado” e o “filho da perdição”(3), o que é todo caracterizado por iniquidade e destruição eterna? É então possível que o eterno, omnisciente Deus enviou o Seu Filho para reconciliar o que pratica iniquidade aquele a quem Ele ordenou que seria destruído pelo “Espírito da boca [de Cristo]” e “pelo esplendor da Sua vinda”(8)?
II Tessalonicenses 2 também fala acerca dos seguidores do homem do pecado. Eles rejeitam a verdade e o filho da perdição engana-os, e por isso ambos são culpados (10). Mas também lemos que “Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados” (11-12). Se Deus os amou e enviou Cristo para morrer por eles e quer salvá-los, então porque Ele envia um forte engano de forma a eles crerem na mentira de forma a serem julgados?
Semelhantemente, a morte de Cristo por todos em absoluto apresenta Cristo como oferecendo a si mesmo como sacrifício pela besta e pelo falso profeta, sobre quem nos é dito que “foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (Ap. 19:20). Para além disso, “aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” (Ap. 20:15). Se Cristo morreu por eles, Seu resgate nada fez para os libertar do castigo eterno.
(12) No Seu ministério público Jesus falou do pecado imperdoável: “se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” (Mat. 12:32). Nem estava Jesus a falar em abstracto; alguns dos seus ouvintes naquele dia haviam cometido esse pecado (22-37). Jesus sabia então que algumas pessoas, incluindo os estes fariseus (24), não poderiam ser perdoados. Que sentido existe em Jesus morrer para a redenção e perdão (Ef. 1:7) dos que absolutamente não poderiam ser perdoados? Se há algumas pessoas que Ele “não tem por inocente” (Naum 1:3), porquê morreria Cristo para estabelecer a base para os absolver?
Parte 5
Consideremos mais dois argumentos contra a morte de Cristo por todos, cabeça por cabeça.
(13) Efésios 1:3 ensina que nós fomos abençoados “todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo.” Estas bênçãos chegam a nós porque “também nos elegeu nele antes da fundação do mundo” (4). Isto é, nós recebemos todas estas bênçãos de acordo com a nossa eterna eleição (4) e predestinação (5). Efésios 1 enumera algumas das nossas bênçãos espirituais: santidade (4), adopção (5), aceitação (6), redenção (7), o perdão dos pecados (7), o conhecimento da vontade de Deus (9), o selo do Espírito Santo (13) e uma herança eterna (11, 14). Nós não só somos abençoados de acordo com a nossa eleição (4, 5), mas todos os eleitos têm “todas as bênçãos espirituais” (3). Por outro lado, o facto dos réprobos não serem abençoados com nenhuma destas bênçãos espirituais é também de acordo com o eterno “propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (11).
Agora recorda, uma das bênçãos espirituais é ” a redenção pelo seu sangue” (7). Então a redenção e o derramamento de sangue de Cristo são requisitos daquelas bênçãos espirituais que vêm a nós porque “nos elegeu nele antes da fundação do mundo” (4). Portanto Cristo redimiu, derramou o Seu sangue e morreu pelos eleitos e não pelos réprobos. Então os eleitos são perdoados (7), adoptados (5), aceites (6), feitos santos (4) e selados com o Espírito (13) para sua herança eterna (11, 14) na base na morte sacrificial de Cristo. O réprobo não recebe nenhuma das bênçãos espirituais da morte de Cristo, porque Ele não morreu por eles.
(14) Outro ponto nem sempre considerado nesta ligação envolve os sacrifícios do VT que eram tipos da morte de Cristo. Se Cristo morreu pelos pecados de todos, então é de se esperar que isto tenha reflexo no sistema sacrificial. Levítico 1-7, a passagem central dos sacrifícios Mosaicos, fala das ofertas queimadas, das ofertas de alimentos, a oferta pacífica, a oferta do pecado e a oferta da transgressão. Estes sacrifícios são sempre particulares, por Israel, pela igreja (Lev. 1:2; 4:13; 7:36, 38), e em parte alguma lemos de uma expiação universal, uma oferta por todo individuo Judeu e Gentio.
Semelhantemente, no Dia do Sacrifício, o sumo sacerdote fazia um sacrifício pelos Israelitas, não pelos Moabitas ou Jebuseus (Lev. 16:16, 17, 19, 21, 34). Para além disso, o sumo sacerdote levava “os nomes [das doze tribos] dos filhos de Israel”—e não os nomes dos filhos de Esaú—na placa peitoral “sobre o seu coração, quando entrar no santuário,” falando do Sua obra representativa e intercessória por eles (Ex. 28:29).
Que seja dito que os sacrifícios do VT falam de uma expiação por cada membro da nação de Israel, lembrando-nos do facto que “nem todos os que são de Israel são israelitas” (Rom. 9:6) e que o verdadeiro israelita não é o circuncidado na carne mas o circuncidado no espírito (Rom. 2:28-29). Cristo morreu pelo verdadeiro Israel e os tipos no VT apontam para a Sua redenção do espiritual “Israel de Deus” (Gal. 6:16).
Parte 6
(15) Consideremos um argumento de Romanos 8 contra a morte de Cristo por todos os homens, cabeça por cabeça. Romanos 8:28-30 fala acerca de um povo que Deus pré-conheceu, predestinado, chamado segundo o Seu propósito, justificado, glorificado e conforme a imagem do Seu Filho. O apóstolo tira a seguinte conclusão: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (31). “Pois” ou “portanto” indica que isto é uma inferência lógica baseado nos seus argumentos anteriores, aqui chamados “estas coisas.” O “nós” só podem ser aqueles predestinados (ou eleitos) e chamados conforme o propósito eterno de Deus (28-30). Então o argumento de Paulo é este: se Deus é “por nós” (31) na predestinação, chamado, justificação e glorificação (29-30), então “quem pode ser contra nós?” (31). Ou para expandir sobre isto: se Deus no Seu eterno decreto tem-nos escolhido para eterno gozo, chamou-nos das trevas para a Sua maravilhosa luz, absolveu-nos de todos os nossos pecados e reputou-nos justos com a mesma justiça do próprio Cristo, e glorificou-nos ao conformar-nos com a imagem do Seu Filho, então “quem pode ser contra nós?” (31).
O apóstolo reforça o seu já forte argumento com outro: ” Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” (32). Quem é o “nós” referido duas vezes aqui por quem Deus enviou o Seu Filho para morrer? Outra vez, eles são aqueles predestinados e chamados de acordo com o eterno propósito de Deus (28-30). A única conclusão é que Cristo morreu pelos eleitos.
Se for objectado que Cristo também morreu pelos não eleitos, então nós respondemos que a passagem dá nenhuma pista sobre isso. De facto, isto fará a passagem ensinar que Deus enviou o Seu Filho para morrer por aqueles que não são predestinados nem chamados, justificados, glorificados ou conformes a Cristo. Também, se for argumentado que Cristo morreu pelos réprobos, isto fará a passagem ensinar que os réprobas vão receber todas as bênçãos da Sua cruz. Porque o verso 32 ensina que Deus livremente dá todas as coisas àqueles por quem Cristo morreu. O “todas as coisas” inclui liberdade da lei do pecado e da morte (2), vida e paz (6), adopção como filhos de Deus (14), o testemunho do Espírito (16), uma herança eterna (17), a redenção do corpo (23), a capacidade de orar no Espírito (26), etc. Para além disso, o “todas as coisas” também incluirá as bênçãos da justificação, chamado, glorificação e conformidade com Cristo (29-30) de acordo com a predestinação eterna de Deus! Então, a visão que Jesus morreu por reprovados lido em Romanos 8:32 significaria que Deus dá livremente as bênçãos da justificação, chamado e glorificação aos reprovados, aqueles a quem Ele nunca chama, justifica ou glorifica. Este versículo ensina uma ligação absolutamente inseparável entre aqueles por quem Cristo morreu e as bênçãos espirituais. Alguns não recebem estas bênçãos. Logo, Jesus não morreu por eles.
A passagem prossegue em dizer que nenhuma acusação (33) e nenhuma condenação (34) pode ser feita contra aqueles que são justificados (33), aqueles por quem Cristo morreu (34). Mas muitas acusações são justamente feitas pelo Deus dos céus contra os malditos réprobas de modo a serem condenados! Isto é assim porque eles não são justificados (33) porque Cristo não morreu por eles e não intercede por eles (34).
Parte 7
(16) Outro argumento contra a expiação ilimitada flui da doutrina da Santíssima Trindade. O Pai escolheu salvar os eleitos somente e não os réprobas, o Espírito aplica a redenção aos eleitos somente e não aos réprobas, mas o Filho (alegadamente) morreu pelos eleitos e pelos réprobas. Então há uma discrepância entre a extensão da obra salvítica do Pai e do Espírito (eleitos mas não réprobas) e a extensão da obra salvítica do Filho (eleitos e réprobas). Onde está então a unidade entre as três Pessoas de Deus? Não são todos de “uma só mente” e não têm todos um propósito. De facto, uma Pessoa da Trindade (o Filho) está a trabalhar para um objectivo (a salvação dos réprobas) não repartida pelas outras duas Pessoas (o Pai e o Espírito). O Pai elege o Seu povo para ser redimido, o Espírito aplica esta redenção aos mesmos eleitos, mas o Filho (alegadamente) morre para redimir alguns a quem o Pai escolheu não redimir e alguns a quem o Espírito não quer aplicar a redenção. O ensino da morte de Cristo por todos os homens cabeça a cabeça é proíbida pela doutrina Cristã da Santíssima Trindade e vai contra as afirmações da Escritura acerca da unidade da extensão da obra salvítica do Pai e do Filho (João 10:15-17; Rom. 3:25-26; II Cor. 5:18-19; Ef. 1:4-7), o Filho e o Espírito (Gal. 4:4-6; Heb. 9:14), e o Pai, o Filho e o Espírito (II Tess. 2:13-14; Tito 3:4-6; Ap. 1:4-6).
(17) A Expiação Universal é contrariada pela apresentação Bíblica da expiação de Cristo como uma obra que realmente salva. Cristo livrou-nos do reino do diabo (Heb. 2:14-15). Ele apaziguou a ira de Deus contra nós ao carregar sobre si a justa indignação de Deus contra os nossos pecados (I João 4:10). Ele reconciliou-nos (Rom. 5:10) e redimiu-nos (Gal. 3:13) e resgatou-nos (Mat. 20:28). A Escritura não ensina que Cristo torna a salvação possível pela Sua morte. Em parte alguma diz isso. A Bíblia ensina que Jesus realmente salva, reconcilia, redime e resgata-nos pela Sua cruz. Ele não o torna meramente possível a todos os homens serem salvos, reconciliados, redimidos e resgatados. Na cruz, Ele desviou a ira punitiva de Deus contra nós para sempre. Não é verdade que a ira de Jeová é apenas potencialmente desviada de todos os homens para todos poderem ser salvos, se eles, por um acto do seu “livre-arbítrio,” escolherem Jesus. Mais ainda, esta visão faria a entrada no reino de Deus depender da decisão do homem e não da eleição de Deus.
Se Jesus pagou o preço por todos os homens e no entanto alguns perecem no Inferno então a sacrifício de Cristo não salva realmente aqueles por quem foi feito. Então, também não é substitutivo, porque se Ele levou o castigo do répobra—no seu lugar!—então porque perecem? Se alguns acabam no Inferno por quem Cristo morreu, então Deus pune os seus pecados duas vezes, uma em Cristo e uma neles. Como pode um Deus infinitamente justo requerer pagamento a dobrar pelos pecados? Como pode exigir castigo ao pecador no Inferno quando já foi satisfeita pelos seus pecados? E como podem alguns por quem Cristo salvou, reconciliou, redimiu e resgatou habitarem para sempre como inimigos de Deus na prisão do Inferno? Lembra-te: não há condenação para aqueles por quem Cristo morreu (Rom. 8:34).
Parte 8
(18) Se Cristo morreu absolutamente por todos, então porque não são todos realmente salvos? Romanos 6 torna claro que aqueles que estão em Cristo na Sua morte estão mortos para o pecado e “vivos para Deus” (11), e serão ressuscitados corporalmente para a glória (5). Mas muitos passam todos os seus dias “mortos em delitos e pecados” (Ef. 2:1) e serão levantados na “ressurreição da condenação” (João 5:29). Nós só podemos concluir que eles não estão unidos a Cristo na Sua morte (i.e., Cristo não morreu por eles). Pois se os réprobas estivessem unidos a Cristo na Sua morte (i.e., se Cristo morreu por eles), eles viveriam para Deus.
A Escritura ensina que quer a fé (Ef. 2:8-9; Fl. 1:29) quer o arrependimento (Actos 5:31; 11:18; II Tm. 2:25) são dons da graça de Deus. Fé e arrependimento são parte das “bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef. 1:3). As bênçãos de Deus em Cristo vieram pela cruz de Cristo (Rm. 8:32; Gl. 3:13-14). Mas “a fé não é de todos” (II Ts. 3:2) nem todos se arrependem (Ap. 16:11). Logo a fé e o arrependimento não foram comprados para todos, cabeça a cabeça, a cruz e por isso Cristo não morreu por todos.
Tito 2:14 explica que o propósito de Cristo na Sua redenção na cruz é a santificação do Seu próprio “povo peculiar” que nós fossemos um povo purificado e “zeloso de boas obras”. Mas muitos morrem na “imundície” (Ap. 22:11) por causa das suas “obras de impiedade” (Judas 15). Uma vez que o propósito de Deus omnipotente é firme (Rm 9:11) e nunca pode ser resistido (II Cr. 20:6), não foi propósito de Cristo de santificar e redimir o réproba pela Sua cruz. Logo Ele não morreu por eles.
(19) Se Cristo derramou Seu sangue para redimir todos, cabeça a cabeça, então os credos das igrejas Reformadas, no continente, nas Ilhas Britânicas e por todo o mundo, ensinam falsa doutrina neste ponto. Os Cânones de Dort—a maior assembleia de Protestantes Reformados de sempre—claramente afirma que Cristo redimiu os eleitos “e somente aqueles” (2:8) e que aqueles que ensinam que Ele morreu por absolutamente todos “desprezam a morte de Cristo” e “evocam do inferno o erro pelagiano” (2:R:3). B. B. Warfield escreveu que os Cânones foram “publicados autoritativamente em 1619 do encontro do Sínodo [Holandês] com a ajuda de um grande corpo de acessores estrangeiros, representativo de praticamente todo o mundo Reformado. Os Cânones … por isso … [possuem] a autoridade moral dos decretos de praticamente um Concelho Ecuménico através de todo o corpo das Igrejas Reformadas” (Works, vol. 9, p. 144). A Confissão de Fé de Westminster declara, “Nem há outros redimidos por Cristo … mas somente os eleitos” (3.6; cf. 8:1; 11:4; 13:1). Estes artigos foram copiados na Declaração de Savoy e na Confissão Baptista. Ainda, todos os credos Presbiterianos, Congregacionais e Baptistas ensinam a Expiação Limitada ou Redenção Particular. Lembremo-nos também que todos que recitam o Breve Catecismo de Westminster confessam que Jesus Cristo é o “único Redentor dos eleitos de Deus” (A 21). Como temos visto nos números anteriores desta matéria, os credos Reformados simplesmente apresentam o ensino Bíblico sobre este assunto. Tomemos sem demora a verdade da Escritura e honremos o crucificado e vitorioso Cristo!
Traduzido por Nuno Pinheiro (http://soberanagraca.blogspot.com)
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