Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Deus é tão grande que não podemos conhecê-lo, a menos que ele se revele a nós. Ele é tão grande que não podemos vê-lo ou tocá-lo (I Tm. 6:16), e assim, ele se revela a nós como nosso Salvador e Pai por sua Palavra. Não devemos nos surpreender com isso, visto que o discurso é o principal meio de comunicação mesmo entre nós, que fomos criados à sua imagem.
Todavia, que Deus fala aos homens é um milagre. É um milagre, em primeiro lugar, que o infinito e o eterno Deus falou de si mesmo e da sua glória em nosso discurso limitado e imperfeito e, todavia, tenha feito algo de si verdadeiramente conhecido a nós. É a Deus que conhecemos e com quem temos comunhão por meio de sua Palavra.
Em segundo lugar, o falar de Deus aos homens é um milagre porque, assim como se dá com a linguagem humana, esse falar de Deus a nós é mais do que apenas um meio de comunicação. É o meio pelo qual temos comunhão com Deus, lhe conhecemos e amamos. Como um homem conhece e ama a voz de sua amada esposa acima de todas as outras, assim realmente conhecemos e amamos a Deus ouvindo a sua voz (Cantares de Salomão 2:14).
Em terceiro lugar, a revelação de Deus de si mesmo por meio de sua Palavra é um milagre porque a Palavra não é mero som no ar, nem marcas sobre uma página, mas é viva e eterna (I Pe. 1:23). É uma palavra que não somente ouvimos e lemos, mas que toma uma forma visível e se torna uma revelação tangível do Deus vivo e invisível (I João 1:1), de forma que embora Deus seja para sempre impossível de se ver, vemo-lo na pessoa de seu Filho, a Palavra feita carne.
Finalmente, a Palavra é um milagre porque é um ato da maior condescendência e misericórdia possível que Deus tenha falado conosco. Visto que caímos no pecado, não seria mais apropriado que ele se afastasse e se ocultasse de nós? Todavia, ele fala, e fala de paz.
Que Deus fala em misericórdia como nosso Pai e Salvador é possível somente por causa da relação inseparável entre a Palavra feita carne e a Palavra escrita, lida e pregada. Nem pode existir uma sem a outra. Somente através da Palavra escrita conhecemos a Palavra viva; não há outra possibilidade, não importa o que aqueles que falam de revelações diretas possam alegar. Nem é a Palavra escrita entendida e recebida, a menos que alguém também conheça e receba-a por meio daquela Palavra viva feita carne.
Existem erros que precisam ser evitados dos dois lados aqui. Por um lado, devemos evitar falar de conhecer e crer em Cristo à parte das Escrituras, como se, agora que a Bíblia está completa, pudéssemos ter comunhão com ele, ouvi-lo e vê-lo à parte daquelas Escrituras. Por outro lado, nunca podemos esquecer que ler as Escrituras e não encontrar Cristo nelas (João 5:39-40) é lê-las sem entendimento e em vão.
Assim, nunca podemos duvidar ou esquecer essas Escrituras, visto que elas nos foram dadas em forma escrita e preservadas nessa forma por Deus, desde os tempos antigos. É por essas Escrituras somente que Deus agrada se fazer conhecido em e através do nosso Senhor Jesus Cristo. “São elas,” Jesus diz, “que de mim testificam” (v. 39). Prestemos então a mais séria atenção às Escrituras (Hb. 2:1).
Fonte (original): Doctrine According to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 9-11.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em abril/2008.
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