Douglas J. Kuiper
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Ao dizer à sua igreja que tipo de homens seus diáconos devem ser, Deus estabelece um alto padrão.
Examinamos esse padrão nos vários artigos passados.2 O diácono deve ser cheio do Espírito Santo, de sabedoria, e de fé; deve guardar o mistério da fé com a consciência pura; deve manifestar a graça de Deus vivendo uma vida irrepreensível, sendo honesto, não de língua dobre, não dado muito ao vinho, e não cobiçoso de torpe ganância; deve ser fiel a uma esposa, governando bem seus filhos e casa; e sua esposa não deve ser maldizente, mas sim honesta, sóbria e fiel em todas as coisas.
Um requerimento ainda deve ser observado – um que também ressaltará quão alto é o padrão para os diáconos. Lemos em I Timóteo 3:10: “E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis.”3
Já examinamos a idéia do diácono ser irrepreensível.4 Mas como sabemos se um homem é irrepreensível ou não? A resposta é: prove-o! Somente após ser provado, e encontrado irrepreensível, ele poderá ser instalado no ofício como um diácono.
Devemos ser claros sobre o que se pretende por essa provação, e como a mesma deva ser feita.
Provar algo é testar, examinar e ver se é genuíno.
Freqüentemente usamos a palavra “provar” com referência aos minérios metais. O ouro, por exemplo, contém muitas impurezas. Para removê-las, de forma que possamos ter o ouro puro, devemos colocar o ouro no fogo. O fogo remove as impurezas queimando algumas e derretendo o ouro, de forma que as outras impurezas possam ser removidas dele. O que é deixado é ouro genuíno – foi “provado” como sendo tal.
A Escritura também usa a palavra “provar” com referência a Deus testando a nossa fé (Tiago 1:3, por exemplo). Perseguição, por exemplo, é um meio pelo qual Deus prova os membros de sua igreja sobre a terra, para fazer conhecido se a fé deles é ou não genuína. O fato é que ter membresia numa igreja cristã não significa ser um filho de Deus; na igreja também existem incrédulos não convertidos. De tempo em tempo Deus envia perseguição ou outras aflições sobre a sua igreja. A perseguição faz com que aqueles que não são verdadeiramente filhos de Deus deixem a igreja, e fortalece a fé daqueles que são.
Vemos que provar algo, no sentido no qual a palavra é usada em nosso texto, resulta numa separação do que é genuíno e do que não é.
Ora, o Espírito Santo em nosso texto requer que a igreja prove homens para o ofício de diácono. Há muitos homens na igreja; mas não pense que todos eles estão qualificados para serem diáconos! Um processo de provação deve acontecer, a fim de sabermos quem está preparado para ser um diácono. Alguns homens, quando provados, não se mostrarão como irrepreensíveis. Eles não podem ser colocados no ofício. Outros se mostrarão irrepreensíveis; eles estão qualificados.
Como essa provação deve ser realizada?
O ponto da passagem não requer um exame formal e oral dos possíveis diáconos, da forma como os candidatos ao ministério são examinados. De acordo com Peter Y. DeJong um certo Jacobus Koelman argumentou que o texto requer tal exame:
Assim, antes de alguém ser publicamente instalado, ele teria que se submeter a um exame de doutrina, conduta e conhecimento geral da natureza e funções desse ofício. Isso deve acontecer diante dos presbíteros e diáconos que já exerçam o ofício na congregação.5
Contudo, as igrejas Reformadas não adotaram essa idéia. João Calvino disse corretamente: “Esse processo de comprovação não é algo que dure apenas uma hora, mas consiste em um longo período de prova.”6
Alguns têm argumentado que essa provação é realizada permitindo-se que o possível diácono faça a obra do ofício numa base experimental durante um período de provação, após a qual uma determinação final será feita com respeito a sua habilidade de desempenhar a obra.7 O problema com essa idéia é dupla: primeiro, um homem não deve ser colocado no ofício até que tenha sido examinado, de acordo com o nosso texto (“depois sirvam, se forem irrepreensíveis,” ênfase minha, DJK); e segundo, em tal exame a ênfase muda das qualificações do homem para se eles executa a obra bem. Mas o texto requer que a igreja examine se ele está ou não qualificado para o ofício. Se está qualificado, e se Deus o chama para o ofício, ele fará a obra bem, pela graça de Deus.
A melhor forma de cumprir o requerimento que um diácono deve ser primeiro provado é simples: os concílios devem avaliar cada homem cujo nome aparece para o ofício, se ele está verdadeiramente preparado ou não. Os homens do concílio devem discutir a pessoa entre si, em confidencialidade, mas também em verdadeiro amor por essa pessoa e a igreja. A questão deve ser aberta e honestamente encarada: “Existem razões que possam ser apresentadas para o motivo pelo qual tal homem não está qualificado para o ofício?” Assim escreve DeJong:
Indubitavelmente essa passagem refere-se a uma das responsabilidades que caem sobre o consistório no tempo de fazer nomeações. A igreja deve estar certa que aqueles que são apontados para essa obra possuem os dons de sabedoria e honestidade, altamente essenciais no ministério diaconal.8
Qual padrão deve ser usado na provação deles?
Sem dúvida, o padrão da Palavra de Deus, em I Timóteo 3:8ss. O concílio deve se perguntar se o possível diácono satisfaz essas qualificações. DeJong diz:
Uma advertência deve ser soada contra a prevalecente atitude que qualquer jovem do sexo masculino, que seja um membro com boa e regular posição e possua certa perspicácia negocial, tenha as qualificações necessárias para o ministério de misericórdia. Freqüentemente a esperança é expressa em tais casos que, porque a obra do diácono não é muito difícil, tal candidato se eleito será em breve capaz de realizar a obra apropriadamente. Isso, sem dúvida, é contrário ao espírito do texto da Escritura.9
Nada além das qualificações da Escritura é o padrão!
Relacionado a isso, observe uma qualificação que ainda não examinamos: o diácono não deve ser um neófito.
Pode parecer a princípio que a Escritura em nenhum lugar faça esse requerimento dos diáconos. Dos presbíteros, não dos diáconos, lemos: “não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo” (I Tim. 3:6). Contudo, o Espírito se refere a esse versículo (há pouco citado) quando no versículo 10 ele diz dos diáconos: “e também estes sejam primeiro provados.” Observe: “também!” Isto é, assim como homens que são relativamente novos na fé não devem ser postos no ofício de presbítero, assim também homens que são relativamente novos na fé não deveriam ser postos no ofício de diácono – prove-os primeiro! Uma pessoa que se uniu a uma congregação recentemente pode parecer ter os dons naturais e espirituais necessários para sustentar o ofício de diácono, mas na verdade não os tem. Após certo tempo, à medida que o concílio e a congregação observam o indivíduo e o conhecem melhor, eles serão capazes de melhor determinar se ele tem ou não as qualificações necessárias.
O requerimento que um diácono deve ser primeiro provado, e não deve ser um neófito, significa que imporemos uma idade mínima sobre os diáconos?
Alguns têm imposto tais restrições sobre os diáconos. O Concílio de Cartago em 397 decidiu que os diáconos deveriam ter pelo menos 25 anos.10 James Barnett defende isso:
Essa idade concede tempo para que os indivíduos adquiram maturidade suficiente e formação cristã para tomar decisões responsáveis num assunto tão sério, e ainda ao mesmo tempo jovens o suficiente para que seus padrões de vida sejam mudados mais prontamente nesse ministério.11
Em 1967, o Papa Paulo VI fixou a idade mínima de 25 anos para homens solteiros, e 35 para aqueles que já eram casados. Os Bispos católicos nos Estados Unidos foram mais adiante ao exigir que todos os diáconos, casados ou não, tivessem pelo menos 35 anos. A Igreja Episcopal Americana em 1952 estabeleceu a idade mínima de 21.12
Quando uma pessoa Reformada ouve que isso é a regra da Igreja Católica Romana, pode ser tentada a ver isso como mais uma forma na qual preceito tem sido adicionado sobre preceito, e na qual as igrejas vão além do que é requerido por Deus. Talvez seja outro exemplo disso, no caso particular da igreja Romana. Contudo, a igreja de Jesus Cristo é livre para estabelecer diretrizes nesse respeito, se seu propósito em assim fazer é orientá-la em ser fiel ao requerimento da Escritura. Algumas de nossas igrejas têm feito essencialmente a mesma coisa, ao exigir que um homem seja membro da congregação por certo período de tempo antes de ser considerado para o ofício na igreja. A base para esse requerimento é encontrada na Palavra de Deus: “estes sejam primeiro provados.”
Mesmo que não estabeleçamos uma idade mínima (e penso que não deveríamos fazê-lo), o fato é que os concílios fariam bem em considerar a idade de um homem quando determinando se ele é ou não apto.
Um perigo que deve ser evitado ao considerar a idade de um possível diácono, é dizer: “ele é muito velho, consideremo-lo para presbítero (ancião), e encontremos homens mais jovens para cumprir o ofício de diácono.” Nenhum suporte pode ser encontrado na Escritura para uma noção que os diáconos deveriam ser os homens mais jovens da igreja. Que fique provado que os diáconos também são homens maduros!
Maturidade é a questão real, então. Devemos perguntar sobre a idade de um homem, pois é um indicador de sua maturidade. Admitidamente, não é o único indicador – esse é o motivo de não ser útil ou sábio estabelecer uma idade limite. Uma pessoa pode ser madura o suficiente para desempenhar o ofício de diácono aos 24 anos de idade; outra pode não ser, mesmo que tenha 42.
E não apenas maturidade física ou intelectual, mas espiritual, é o padrão real. Ele deve ser achado irrepreensível. Ele é assim achado em toda a sua vida? O seu andar é piedoso em todos os aspectos? A sua teologia é sã? O ponto real da qualificação “estes sejam primeiro provados” é que, não qualquer homem, mas somente os melhores, devem ser selecionados para o ofício de diácono. Assim, Calvino declara sucintamente o ponto da passagem quando diz:
Numa palavra, a designação de diáconos não deve consistir de uma escolha precipitada e fortuita de alguém que se encontra à mão, senão que a escolha deve ter por base homens que se recomendem por sua anterior maneira de viver, de tal forma que, depois de serem submetidos a um interrogatório, sejam investigados profundamente antes que sejam declarados aptos.13
Concílios, é esse o seu desejo, que quando nomeiam homens para o ofício de diácono vocês não arrumam apenas homens medíocres, com o melhor sendo selecionado para presbítero; e não apenas jovens, com o mais velho sendo selecionado para presbítero; mas selecionam os melhores homens para os dois ofícios? Isso é como Deus faria!
À luz desse requerimento que o diácono seja provado, algumas palavras de conselho são apropriadas para qualquer um que deseje a boa obra do ofício de diácono em sua congregação particular. Primeiro, conheça as pessoas da congregação, e mostre que você as ama. Freqüente os estudos bíblicos regularmente, prepare-se bem para eles, e contribua sabiamente. Fale com o povo de Deus após a igreja; misture-se em grupos diferentes; e que o seu falar seja sobre assuntos espirituais. Já mostre preocupação por aqueles que estão doentes ou em necessidade.
Segundo, seja um homem piedoso em toda a sua vida, mesmo no trabalho, nas férias, e em outros tempos quando os líderes e membros da igreja não estão te vendo. Que o mundo veja que se sua congregação te seleciona para o ofício, você é um homem apto para servir!
Terceiro, que o seu negócio seja ler e estudar por conta própria. Um diácono deve ser um homem teologicamente sadio!
Finalmente, não faça nada acima, se não fizer com um coração sincero. Esse conselho não visa àquele que olha somente para a honra e poder terreno que poderia ter na igreja, se tivesse o ofício de diácono, e que está, portanto, buscando a melhor forma de fazer campanha para esse ofício. Tal homem está singularmente desqualificado para o ofício! O conselho é para o homem que deseja servir a Deus e sua igreja nesse ofício. Então, faça as coisas mencionadas acima, e você se mostrará apto para servir.
1E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em agosto/2007.
2
As Qualificações dos Diáconos (1): Um Assunto Importante 3Na RA, lemos: “Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato”. (Nota do tradutor)
4
As Qualificações dos Diáconos (2): Um Alto Padrão
51.Peter Y. DeJong, The Ministry of Mercy for Today (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1963), página 101.
6Cf. comentário de Calvino sobre 1 Timóteo 3:10.
7Charles W. DeWeese, The Emerging Role of Deacons (Nashville, TN: Broadman Press, 1979), página 74. DeWeese não diz que ele toma pessoalmente essa visão, mas sim que algumas igrejas Batistas assim o fazem.
8
DeJong, op. cit., página 101.
9
DeJong, op. cit., página 102.
10Cf. James Monroe Barnett, The Diaconate: A Full and Equal Order (Valley Forge, PA: Trinity Press International, 1995), page 182.
11Ibid., page 182.
12Cf. Jeaninne E. Olson, One Ministry, Many Roles: Deacons and Deaconesses Through the Centuries (St. Louis, MO: Concordia Publishing House), páginas 358-359, e página 367, bem como Barnett, página 182, para essa informação.
13Cf. seu comentário sobre essa passagem.
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