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Provai os Espíritos – Uma Análise Reformada do Pentecostalismo

Prof. David J. Engelsma

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto (outubro/2007)

SUMÁRIO

Prefácio à Segunda Impressão

Prefácio à Terceira Impressão

Prefácio

Introdução

Capítulo 1: A Resposta Reformada aos Apelos Bíblicos do Pentecostalismo

Capítulo 2: O Teste Reformado do Espírito do Pentecostalismo

Capítulo 3: A Visão Reformada da Vida Cristã

Prefácio à Segunda Impressão

O Comitê de Evangelismo e a Congregação da Protestant Reformed Church de South Holland (Illinois) são gratos a Deus que uma segunda impressão desse livreto é necessária. Isso significa que Deus está dando uma ampla distribuição a este testemunho da fé e vida Reformada. Pedidos continuam a chegar, não somente do nosso próprio país, mas também de outras nações. Não poucos têm expressado que essa pequena obra tem sido usada pelo Senhor, quer para livrá-los da religião carismática, ou para capacitá-los a resistir à tentação de virar carismático.

Alguns, não sendo contra a ênfase do livreto, repreenderam-nos por seu tom “pejorativo”. Devemos reconhecer que a advertência que damos é severa. Mas a severidade na defesa da sã doutrina, e na advertência contra o erro, embora excessivamente rara em nossos dias, não somente é permitida à Igreja, como também demandada: “Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé” (Tito 1:13). Nem isso denuncia um espírito amargo e odioso. Testificamos da forma como fazemos no livreto, porque amamos a Deus, cuja glória, estamos convencidos, é revelada na fé e vida Reformada histórica e confessional; porque amamos os crentes Reformados e os seus filhos, cuja fé e vida são menosprezadas pelos carismáticos e que são seduzidos a abandonar a sua fé e vida pela religião carismática; e porque amamos os carismáticos, como nosso próximo, e desejamos que eles reconheçam que suas crenças e práticas são falsas.

Não temos o intuito de suavizar a mensagem, nem um pouco. A tese clara desse livro é que as doutrinas básicas do movimento carismático são doutrinas falsas, e que a religião carismática é uma inimiga da fé Reformada, e, portanto, do Protestantismo histórico. Provamos isso, cremos, a partir da Sagrada Escritura. Maravilhamo-nos que Protestantes esqueceram tão cedo da luta de Lutero e Calvino contra o Anabatismo e a exposição de B. B. Warfield sobre o perfeccionismo. Quando observamos que o dr. D. M. Lloyd-Jones (por quem temos alta consideração e de cujos escritos temos nos beneficiado) foi aparentemente brando com o movimento carismático, de forma que muitos agora podem apelar à sua autoridade para aprovar o movimento, e que o dr. J. I. Packer (a quem também respeitamos e que nos fez devedores de seu magnificente “Historical and Theological Introduction” para a tradução dele e de Johnston do The Bondage of the Will, de Lutero, em seu livro, Keep in Step with the Spirit) dá boas-vindas ao movimento dentro das igrejas e adverte contra condená-lo, e que quase todas as igrejas aceitam os carismáticos como membros em boa posição, ficamos mais convencidos que, mais do que nunca, o Protestantismo precisa de um inflexível “Não” ao movimento carismático e um fervoroso “Sim” à fé e vida Reformada tradicional.

Pedimos apenas que nosso testemunho seja ouvido. Aqui, também, que os homens “provem os espíritos.”

David J. Engelsma

South Holland, Illinois

Janeiro, 1987

Prefácio à Terceira Impressão

Atualmente, é evidente a todos que o movimento carismático (ou, neo-Pentecostalismo) não é uma brisa vaga passando pelas igrejas Protestantes, mas um vento poderoso soprando firmemente nelas. Nem isso nos surpreende. A religião, como a natureza, detesta um vácuo. Carentes durante esses muitos anos de doutrina sólida, pregação expositiva e instrução doutrinária completa, as igrejas são expostas às ondas de misticismo. Privados do “alimento sólido” da Palavra (Hebreus 5:12-14), as almas vazias dos membros dessas igrejas anseiam o ar sem substância do sentimento. Embora a presença poderosa do vento carismático nas igrejas Protestante não nos surpreenda, ela nos entristece. Convocamos nossos irmãos Protestantes, especialmente todos os Cristãos Reformados, a resistir ao furacão neo-Pentecostal: “não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina” (Efésios 4:14). Pela regra infalível do Espírito Santo, “provai se os espíritos são de Deus” (1 João 4:1).

David J. Engelsma

South Holland, Illinois

Abril, 1988

Prefácio

O crente está “em Cristo” (Cl. 2:10). Cristo habita em nosso coração pela fé (Ef. 3:17), de forma que mediante o poder da nossa fé recebida de Deus, somos possuidores de todas as bênçãos espirituais da salvação. Como tal, somos completos nele. Possuindo a plenitude de Cristo, possuímos a plenitude do Espírito de Cristo, através do poder de quem somos capacitados a viver uma vida santa.

Tal é a confissão da fé Reformada!

O panfleto está dividido em três capítulos:

Capítulo 1 – A Resposta Reformada aos Apelos Bíblicos Básicos do Pentecostalismo.

Capítulo 2 – Um Teste Reformado do Espírito do Pentecostalismo; e terminamos, apropriadamente, respondendo à pergunta sobre o que é a vida cristã normal, regular, na…

Capítulo 3 – Visão Reformada da Vida Cristã.

Possa o Senhor nos guardar fiéis à sua verdade, nos ensinando a viver vidas que sejam vividas no poder vivificador da sua Palavra.

COMITÊ DE EVANGELISMO

Protestant Reformed Church

16511 South Park Avenue

South Holland, Illinois 60473

(Quarta Impressão, 1990)

Introdução

Uma análise, do ponto de vista da Fé Reformada, do movimento religioso conhecido como Pentecostalismo é necessária. O motivo é que o Pentecostalismo tem invadido as Igrejas Reformadas. Alguns sustentam que a Fé Reformada e o Pentecostalismo são harmoniosos; outros alegam que o Pentecostalismo é a complementação da Reforma em nosso tempo; outros proclamam abertamente que a religião Pentecostal substitui a Fé Reformada histórica.

É legítimo conduzir esta análise. É comum os Pentecostais insinuarem que críticas ao Pentecostalismo é o pecado imperdoável da blasfêmia contra o Espírito Santo. Um Reformado não é intimidado por tal tática de amedrontamento. Mais de uma vez na história da Igreja, falsos mestres tentaram ganhar recepção na Igreja apelando ao Espírito. Um exemplo sobressalente é a aparição de fanáticos no tempo da Reforma Protestante do século 16, que perturbaram os Luteranos em Wittenberg. Esses eram “profetas celestiais” e “entusiastas,” que alagavam receber revelações especiais do Espírito e realizar milagres. Eles atemorizaram Melanchthon, mas não a Lutero. Quando gritavam, “O Espírito, o Espírito”, Lutero replicava, “eu esbofeteio seu espírito no focinho.”

O Reformado conhece a instrução do Espírito de Cristo na Sagrada Escritura: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 João 4:1).

O padrão da análise dos espíritos, incluindo o espírito do Pentecostalismo, é a Sagrada Escritura, a Palavra de Deus inspirada. À luz da Escritura, a pergunta deve ser essa: esse espírito, esse movimento religioso, confessa a Jesus Cristo (1 João 4:2-3); ele permanece “na doutrina de Cristo” (II João 9)? O Espírito Santo confessa a Jesus Cristo e traz a doutrina de Cristo!

Nossa análise do Pentecostalismo deve incluir uma consideração de seus críticos sobre a vida cristã dos crentes Reformados. O Pentecostalismo deprecia a vida dos “meros crentes.”

O efeito do Pentecostalismo é que os crentes se perguntam se a sua vida é o que deveria ser – uma vida cristã normal. Os crentes passam até mesmo a duvidar se são cristãos afinal. Em última análise, o apelo do Pentecostalismo ao povo religioso é sua ostentação de uma vida cristã mais alta, plena, profunda e rica. O Pentecostalismo exulta numa vida cristã que é só poder, excitamento, alegria e vitória.

Que ninguém suponha que, porque falamos de uma análise Reformada do Pentecostalismo, a preocupação da análise está limitada àqueles que são membros de uma igreja Reformada. A Fé Reformada representa o Protestantismo – Cristianismo Bíblico. Como ficará evidente, o padrão pelo qual a Fé Reformada conduz a análise é a Sagrada Escritura – a regra de fé e prática de todo cristão professo. Sob a clara luz da Sagrada Escritura, o Pentecostalismo demonstra características que o marcam inequivocadamente como uma forma de uma antiga e bem familiar ameaça ao Cristianismo.

 

Capítulo 1: A Resposta Reformada aos Apelos Bíblicos do Pentecostalismo

Por Pentecostalismo, entendemos o movimento religioso que ensina uma segunda e distinta obra da graça no filho de Deus, que é chamada de “batismo com o Espírito Santo.” Em algum momento após a regeneração (ou conversão), o crente recebe o Espírito Santo, geralmente como uma experiência maravilhosa e emocional, de tal forma que agora, pela primeira vez, ele tem um sentimento maravilhoso de alegria; possui poder para a vida e serviço cristão dinâmico; e exerce um dom extraordinário do Espírito, a saber, o falar em línguas. Embora o crente tenha recebido a Cristo, o perdão dos pecados, e a santificação antes disso, não é até que o batismo com o Espírito o encha a um nível espiritual muito mais alto, que ele é capacitado a viver a vida cristã plena, alegre, poderosa e real.

É essa doutrina que constitui o cerne do Pentecostalismo. Outras características dele podem atrair a atenção do espectador, e.g., línguas, milagres e a exuberância dos encontros; mas o movimento permanece ou cai com sua nova doutrina da salvação—seu segundo batismo. A crítica fundamental que a fé Reformada faz dessa religião é que ela é herética em sua doutrina da salvação. Os Pentecostais identificam esse “batismo do Espírito Santo” com a vinda do Espírito sobre os 120 crentes no dia de Pentecoste. Disso vem o nome do movimento: Pentecostalismo.

Visto que o Espírito supostamente dá dons extraordinários àqueles que são assim batizados, o movimento é chamado também de “movimento carismático.” No grego do Novo Testamento, a palavra significando “dons” é ‘charismata’ (cf. 1Co. 12:4). Os dons que o Pentecostalismo mais enfatiza são as línguas; interpretação de línguas; profecias; milagres; e o poder de expulsar demônios. O dom principal é o falar em línguas. Portanto, o movimento é algumas vezes chamado de “movimento de línguas.”

Neo-Pentecostalismo é o nome dado a esse movimento quando praticado dentro de igrejas Protestantes estabelecidas e dentro da Igreja Católica Romana. Têm existido igrejas Pentecostais desde os primórdios de 1900, e.g., as Assembléias de Deus. No início da década de 1960, homens nas igrejas Protestantes estabelecidas começaram a advogar crenças e práticas Pentecostais dentro de suas igrejas. O líder é geralmente conhecido como sendo o Episcopal, Dennis Bennett. Hoje, dificilmente existe uma denominação que não tolere, ou aprove, Pentecostais praticantes entre a sua membresia.

O Pentecostalismo alega que sua doutrina do batismo com o Espírito Santo como uma segunda obra da graça e seu ensino da presença na Igreja dos dons extraordinários do Espírito são bíblicos. Com base em Atos 2, bem como em Atos 8, 10 e 19, dizem que houve uma recepção distinta do Espírito Santo por crentes subseqüente à conversão deles, uma recepção do Espírito que deu aos crentes grande poder e que lhes concedeu dons especiais. Os Pentecostais apontam para 1 Coríntios 12 como prova que os dons do Espírito à Igreja do Novo Testamento incluem cura, a operação de milagres, profecia, línguas e coisas semelhantes.

Qual é a resposta Reformada a esses apelos à Bíblia em apoio dos ensinos Pentecostais do batismo com o Espírito e os dons extraordinários?

Batismo com o Espírito

Existe um batismo com o Espírito Santo. É uma parte essencial da salvação. Isso é claro a partir da descrição da obra salvífica de Jesus por João o Batista: “ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo” (Mt. 3:11; cf. também Marcos 1:18; Lucas 3:16 e João 1:33). Mas ela não é uma segunda obra do Espírito, subseqüente à regeneração e ao dom da fé. Nem é limitada a alguns cristãos somente, aqueles que cumpriram certas condições e se fizeram dignos desse estágio mais alto da salvação. O batismo de Cristo com o Espírito é sua obra salvífica por seu Espírito em cada filho eleito de Deus. É a regeneração, o novo nascimento do céu (João 3:1-8). É a limpeza do pecado e consagração a Deus pelo derramamento do Espírito no coração do pecador. Dessa realidade espiritual, o batismo com água de João era um sinal. O sacramento do batismo na Igreja é um sinal do batismo com o Espírito, como Tito 3:5,6 ensina: “segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador.”

Há somente um batismo na Igreja de Jesus Cristo: o batismo com o Espírito Santo, representado pela aspersão com água em nome do Deus Triúno. Esse é o ensino do apóstolo em Efésios 4:5: “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. O Pentecostalismo tem dois batismos: o primeiro, que é menor – salvação do pecado (do qual o sinal é a água); e o segundo, que é maior—o batismo com o Espírito Santo. Dessa forma, o Pentecostalismo divide Cristo, a salvação e a Igreja.

O batismo efetuado por Cristo de cada um do seu povo com o Espírito Santo depende somente de Sua obra em merecer esse dom para eles por Sua morte. Não depende de obras que as pessoas devam realizar. Portanto, todo eleito de Deus não somente pode recebê-lo, como também recebe. “Ele vos batizará com o Espírito Santo,” João prometeu.

Sem dúvida, o batismo com o Espírito é a recepção de grande poder para todo aquele assim batizado, como Cristo instruiu seus discípulos em Atos 1:8: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós …” Mas a Escritura deve nos ensinar do que consiste esse poder e como é exercido. No que concerne à Igreja, é o poder de testemunhar de Cristo: “… e ser-me-eis testemunhas” (Atos 1:8). A marca de uma Igreja batizada com o Espírito, portanto, é a proclamação fiel de Cristo.

No que concerne ao indivíduo, filho de Deus, a natureza do poder do batismo com o Espírito é indicada por João o Batista quando ele diz que somos batizados “com o Espírito Santo, e com fogo.” Recebemos o Espírito como um fogo; ele lida e trabalha em nós como um fogo. O fogo purifica queimando totalmente o lixo que suja o metal precioso. O Espírito Santo, similarmente, queima nosso pecado, de forma que possamos ser consagrados a Deus na obediência de amor. O poder do batismo com o Espírito é o poder maravilhoso da santificação. Essa era exatamente a profecia do batismo com o Espírito no Antigo Testamento. No dia quando o “renovo do SENHOR” for cheio de beleza e glória, o remanescente da graça “será chamado santo; todo aquele que estiver inscrito entre os viventes em Jerusalém; Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar o sangue de Jerusalém, do meio dela, com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor” (Isaías 4:2-4).

A marca de um cristão batizado com o Espírito, portanto, é tristeza para com o pecado (arrependimento) e obediência à lei de Deus (santidade).

Você já nasceu de novo (e, se crê em Jesus Cristo, certamente já)? Você lamenta sua pecaminosidade e seus pecados? Existe um início em sua vida, mesmo que pequeno, de obediência a todos os mandamentos da lei de Deus? Se sim, então você já foi batizado com o Espírito Santo; e o sacramento é um sinal e selo para você de seu batismo com o Espírito, enquanto viver. Que ninguém te engane, dizendo que você ainda deve buscar outro e melhor batismo!

Como explicar então que no livro de Atos houve obviamente duas obras distintas do Espírito Santo sobre alguns do povo de Deus? Os discípulos de Jesus – Pedro, João e outros – eram homens salvos e nascidos de novo antes do dia de Pentecoste. Isso, sem dúvida, era resultado da operação graciosa do Espírito sobre os seus corações. Todavia, no dia de Pentecoste esses homens “foram todos cheios do Espírito Santo” (Atos 2:4). O Espírito foi derramado sobre eles (Atos 2:16-18). Eles foram então “batizados com o Espírito Santo” (Atos 1:5).

O Pentecostalismo apela a essa história em Atos como prova para sua afirmação que existem duas obras distintas da graça na vida de todo cristão: regeneração (ou, conversão) e o batismo no Espírito Santo. A experiência dos discípulos, e outros, no livro de Atos, é considerada como normativa para todo filho de Deus. O Pentecostalismo insiste que o Pentecoste seja repetido, continuamente, para todo membro da Igreja. Um dos principais escritores Pentecostais, Donald Gee, fala de “um Pentecoste pessoal” para todo cristão (A New Discovery).

Isso denuncia um completo mal-entendido do grande evento de Pentecoste. É tão tolo demandar um Pentecoste pessoal como seria demandar uma encarnação pessoal de Jesus, ou a morte pessoal de Jesus, ou uma ressurreição pessoal de Jesus.

O Pentecoste foi o dom do Espírito Santo, concedido pelo Cristo exaltado à sua Igreja. O Espírito foi dado em medida rica e plena—ele foi “derramado.” Ele foi dado como aquele que traz à Igreja as primícias da obra consumada de Jesus Cristo, os benefícios da morte e ressurreição de Cristo, isto é, a salvação de Cristo. No dom do Espírito, a promessa do evangelho contida no Antigo Testamento foi cumprida na Igreja (Atos 2:38,39; Gl. 3:14), pois o Filho de Deus deu ao povo de Deus plena salvação—perdão de pecados e vida eterna. Ele batizou a Igreja com o Espírito Santo (Atos 1:5). Sendo mais poderoso que João o Batista, ele inundou a Igreja com a realidade, enquanto João pôde dar apenas o sinal (Mt. 3:11).

Aquele grande Domingo marcou a passagem da antiga era e a chegada da nova; ele é o limite entre a antiga e a nova dispensação. A distinção entre o Antigo e o Novo Testamento é uma questão da plenitude do Espírito Santo; e a plenitude do Espírito Santo é uma questão da riqueza plena da salvação consumada de Cristo. Esse é o ensino de João 7:37-39: “… porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.” No tempo do Antigo Testamento, antes do Pentecoste, o Espírito Santo ainda não tinha sido dado. Ele e sua obra salvífica não estavam absolutamente ausentes, pois salvou o povo de Deus sob o antigo pacto, assim como nos salva agora. Mas ele não estava presente com a plenitude e riqueza de salvaç��o com a qual agora habita na Igreja. Ele não poderia, pois Cristo não tinha ainda morrido e ressuscitado, adquirindo de fato essa rica e plena salvação. Assim como o Natal foi o nascimento do Filho de Deus na carne, Pentecoste foi o “nascimento” do Espírito como o Espírito de Cristo na Igreja.

O Pentecoste, como a encarnação, crucifixão, ressurreição e ascensão, foi um evento de uma vez por todas. Cinqüenta dias após ele ressuscitar, Jesus enviou seu Espírito à sua Igreja. Isso nunca é repetido, não mais do que a morte de Jesus. É absurdo, se não heresia, pregar um Pentecoste pessoal para cada cristão. Esse é o motivo de ser um engano esperar a reaparição dos sinais de Pentecoste no decorrer da história da Igreja. O som como de um vento veemente e impetuoso, as línguas repartidas como de fogo, e os discípulos falando em outras línguas foram os sinais, de uma vez por todas, do evento histórico do derramamento do Espírito, assim como o grande terremoto foi o sinal da ressurreição de Jesus. Sem dúvida, esses sinais tinham a intenção de serem meus sinais no século 20, tanto quanto para Pedro em 33 d.C.; mas eles são meus, não por serem repetidos em minha experiência, mas por terem sido escritos nas páginas da Sagrada Escrituras e recebidos pela fé.

Quando os Pentecostais tentam negar o caráter de uma vez por todas do Pentecoste, eles apontam para os incidentes no livro de Atos que aparentemente são repetições do Pentecoste: a descida do Espírito sobre os conversos samaritanos (Atos 8:5-24); o derramamento do Espírito Santo sobre Cornélio e sua casa (Atos 10:44-48; Atos 11:15-18); e a vinda do Espírito sobre os discípulos de João (Atos 19:1-7). Na realidade, esses incidentes são eventos especiais, nos quais Deus tinha o objetivo de demonstrar que a maravilha irrepetível de Pentecoste se estendia a toda a Igreja, especificamente os meio-gentios (samaritanos), aos totalmente gentios (casa de Cornélio) e aos discípulos de João o Batista. Eles eram extensões de Pentecoste à toda a Igreja, a operação mais remota de Pentecoste.

À luz da significância de Pentecoste, podemos prontamente entender que, no dia de Pentecoste, homens e mulheres que já tinham sido salvos receberam o dom do Espírito Santo, de forma que agora desfrutavam novas riquezas de salvação e um poder até então desconhecido. Isso não é indicativo de duas obras da graça em cada cristão; isso não é normativo para todos os crentes, como se também devêssemos esperar, e ansiar, passar da “mera salvação mediante a fé” para o nível mais alto de sentimento e poder de um “batismo do Espírito.” A explicação é encontrada na posição histórica única dos santos que viveram na época do Pentecoste. Eles viveram durante a transição da antiga para a nova dispensação, do Espírito não estando ainda presente para a sua presença, de Cristo não tendo sido ainda glorificado para o seu estado glorificado. Antes desse momento, aqueles santos eram salvos; agora, conforme a nova dispensação surge, eles recebem o dom do Espírito em sua plenitude, isto é, a salvação completa do Cristo glorificado. Em Pentecoste, eles avançam, não de um primeiro nível da graça para um segundo e mais alto nível da graça, mas da infância da Igreja do Antigo Pacto para a maturidade da Igreja do Novo Pacto (Gl. 4:1-7).

Ficamos horrorizados diante da sugestão que cada um de nós deve repetir a experiência de Pentecoste. Nesse caso, devemos voltar por um tempo à antiga dispensação, para viver sob a lei nos tipos e sombras, de forma que, em algum ponto, possamos passar para a nova dispensação. Mesmo que isso fosse possível, recusaríamos, tendo já ouvido as advertências presentes nos livros de Gálatas e Hebreus.

Os santos do Novo Testamento recebem o Espírito do Cristo glorificado, com o Cristo pleno e todos os seus benefícios, de uma vez, tão logo ele nos regenera, faz morada em nós, nos batiza no Corpo de Cristo, a Igreja, e nos une a Cristo por uma fé viva e verdadeira. Certamente, a bênção de Pentecoste é nossa, tanto quanto foi dos 120 no cenáculo em Jerusalém; sem dúvida, fazemos parte do Pentecoste, tão pronta e plenamente como se estivéssemos entre aqueles 120 crentes. Isso é tão necessário quanto fazer parte na morte e ressurreição de Cristo. Se alguém não faz parte da morte e ressurreição de Cristo, ou de Pentecoste, simplesmente não é salvo. Mas eu não faço parte da morte de Cristo mediante a repetição dessa morte de alguma forma em minha história e experiência pessoal. Faço parte dela e da ressurreição de Cristo pela fé: pela fé, estou crucificado com Cristo e ressurreto com ele. Da mesma forma, por essa mesma fé faço parte de Pentecoste. A bênção desse grande dia, já passados agora quase 2.000 anos, se torna minha pessoalmente através da fé, operada em mim pelo Espírito, que me une a Cristo e ao seu Corpo, a Igreja, a quem o Espírito foi então dado e em quem o Espírito habita para sempre. Esse é o ensino de Gálatas 3: “e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito” (v. 14).

O Dom de Línguas

Outra das duas características principais do Pentecostalismo é sua doutrina, e alegada prática, concernente aos dons extraordinários do Espírito, especialmente o de línguas. Para isso também, ele alega encontrar apoio na Escritura, particularmente 1 Coríntios 12-14. Qual é a resposta Reformada a esse ensino e seu apelo à Bíblia?

Havia, no tempo dos apóstolos, um dom de línguas, quer esse dom seja explicado como a capacidade de falar idiomas estrangeiros sem ter estudado os mesmos, ou como a capacidade de falar em idiomas totalmente novos e desconhecidos. 1 Coríntios 14 indica que pelo menos um aspecto do dom de línguas naqueles dias era a capacidade de falar num idioma completamente novo e desconhecido. Ninguém, incluindo aquele que falava, entendia o que era dito (vss. 2, 14). A interpretação das línguas era, como a própria língua, um dom do Espírito (v. 13; cf. 1 Co. 12:10). Aquele que falava em línguas não falava a homens, mas a Deus (v. 2). O benefício disso não era a edificação dos outros, mas sua própria edificação (v. 4). “Em espírito,” aquele que fala em línguas “fala mistérios” (v. 2).

Havia outros dons extraordinários do Espírito naqueles dias também: o dom de receber revelações especiais da parte de Deus; o dom de expulsar demônios; o dom de manusear serpentes; o dom de beber coisas mortíferas sem dano; o dom de curar o doente com a imposição de mãos; e o dom de ressuscitar os mortos (cf. Marcos 16:17-18; 1 Co. 12:1-11).

Entre esses dons, a capacidade de falar em línguas era um dom de menor importância. Na lista dos dons em 1 Coríntios 12:28-31, línguas e interpretação de línguas vem no final e não está entre os “melhores dons” que os coríntios deveriam desejar. 1 Coríntios 14:39 meramente instrui os coríntios a não proibir as línguas, enquanto exorta-os a desejar a profecia. Por todo o capítulo de 1 Coríntios 14, o apóstolo minimiza a importância das línguas em comparação com a profecia, enquanto expondo os muitos abusos do dom de línguas entre os coríntios. E as línguas era um dom que não era possuído por todos os coríntios, nem se esperava que fosse possuído por todos (1 Co. 12:20). É no mínimo muito estranho que o Pentecostalismo, com toda a sua arrogância de restaurar o Cristianismo do Novo Testamento, faça das línguas o dom do Espírito, par excellence, atribuindo a ele, tanto na teoria como na prática, uma preeminência que não possuiu nem mesmo nos dias dos apóstolos, e que o Pentecostalismo sustente que todo cristão deve possuir esse dom, como se Paulo nunca tivesse escrito: “Falam todos em outras línguas?”

O argumento do Pentecostalismo para os milagres hoje é simples: a Escritura ensina que o miraculoso fazia parte da vida e ministério da Igreja durante o tempo dos apóstolos; portanto, o dom de realizar milagres deve ser encontrado na Igreja hoje.

Ignorado pelo Pentecostalismo é o ensino da Escritura que os milagres eram “sinais de um apóstolo”. O poder de realizar milagres estava ligado ao ofício apostólico e tinha como seu propósito a autenticação dos apóstolos como servos especiais de Cristo e a confirmação da doutrina deles como o evangelho de Deus. Isso não implica que somente os apóstolos poderiam realizar milagres; de fato, outros santos também possuíram o dom de operação de milagres. Mas isso significa que o miraculoso era apostólico: derivava-se do ofício apostólico presente na Igreja naquele tempo, e servia para atestar os apóstolos e sua doutrina. Os milagres eram as credenciais dos apóstolos.

A necessidade dos milagres durante a era apostólica deve ser encontrada no labor único dos apóstolos. Eles lançaram o fundamento da Igreja de Cristo do Novo Testamento. Paulo escreve, em Efésios 2:20, que os crentes gentios, com os santos de Israel, estavam “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas.” Os apóstolos são o fundamento da Igreja, sendo Cristo a “principal pedra da esquina.” Eles são o fundamento pela virtude da Palavra que eles proclamaram e escreveram. Similarmente, em 1 Coríntios 3:10, Paulo alega ter lançado o fundamento da Igreja em Corinto, enquanto outros então constroem sobre esse fundamento: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele …”

Que milagres, incluindo o milagre das línguas, eram parte do ofício apostólico é ensinado em 2 Coríntios 12:12: “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas.” Paulo está defendendo seu apostolado em vista do ataque sobre esse apostolado em Corinto. Ele lamenta, no versículo 11, que não era estimado pelos coríntios, embora “em nada fosse inferior aos mais excelentes apóstolos.”

Os coríntios deveriam ter reconhecido e honrado o apostolado de Paulo, pois Cristo deu claras provas dele nos milagres que realizou por meio de Paulo. Os milagres são descritos como sinais, prodígios e maravilhas. Eles são chamados de “… sinais de um apóstolo.” Literalmente, lemos: “os sinais do apóstolo.” Os milagres indicavam a presença e poder do apostolado. Eles pertenciam ao ofício apostólico.

Hebreus 2:3-4 também conecta os dons extraordinários do Espírito com o ofício apostólico. Os três primeiros versículos do capítulo são uma advertência contra negligenciar a “tão grande salvação.” Alguém se faz culpado disso quando recusa dar séria atenção à Palavra de Deus. É por meio da Palavra que temos essa salvação: “Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram.” A grande salvação é anunciada; temo-la ouvido. A passagem estabelece a primazia da pregação da Palavra como o meio de salvação. Mesmo na era apostólica, não milagres, nem dons extraordinários do Espírito, mas a proclamação da Palavra era a coisa principal. Os milagres eram secundários; estritamente subservientes à doutrina apostólica.

Mas a passagem também ensina claramente que os milagres pertenciam ao ofício e ministério apostólico. O autor disse que os santos do Novo Testamento, os cristãos hebreus em particular, têm a Palavra de Deus que traz salvação. Eles devem prestar atenção a essa Palavra; e não devem se desviar dela: “Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas” (v. 1). Como chegamos a ter a Palavra de Deus? Ela foi primeiro anunciada pelo próprio Senhor Jesus. Então foi confirmada a nós “pelos que a ouviram”. Esses eram os apóstolos. Concernente a esses apóstolos, o versículo 4 declara: “Testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade”. A referência é aos milagres, descritos, como em II Coríntios 12:12, como “sinais, e milagres e várias maravilhas” (“milagres” sendo a mesma palavra traduzida como “prodígios” em II Coríntios 12:12). Impressionantemente, essa passagem também fala de “dons do Espírito Santo”. A palavra “dons” poderia ser mais bem traduzida como “distribuições”. As distribuições do Espírito Santo são os dons extraordinários do Espírito encontrados na Igreja no tempo dos apóstolos. Entre eles estava o dom de “variedade de línguas” e o dom de “interpretação das línguas”, como 1 Coríntios 12:10 mostra. Os milagres e dons extraordinários do Espírito eram o testemunho de Deus àqueles que ouviram a Cristo, isto é, os apóstolos. O propósito desse testemunho era a confirmação da Palavra de Cristo por meio dos apóstolos a nós, isto é, atestar a doutrina apostólica como a própria Palavra de Deus. Os milagres e os dons extraordinários do Espírito não eram para todo o tempo, mas para a era apostólica; eles estavam ligados pela vontade divina ao ofício de apóstolo, para que eles pudessem confirmar a Palavra que os apóstolos traziam.

O mesmo é ensinado em Marcos 16:20: “E eles [os apóstolos, a quem o Cristo ressurreto tinha dato a comissão de ir a todo o mundo e pregar o evangelho—D.J.E.], tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram”. Os sinais, ou milagres, eram a confirmação poderosa do Senhor à Palavra pregada pelos apóstolos. Da mesma maneira, o Senhor autenticou a Palavra trazida por seu apóstolo, Paulo, e seu colega, Barnabé: “Detiveram-se, pois, muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios” (Atos 14:3).

Ora, o ofício apostólico não era um ofício permanente na Igreja, mas temporário. As qualificações de um apóstolo mostram isso. Um requisito era que o apóstolo deveria ter visto o Jesus ressurreto, de forma que pudesse pregar uma ressurreição da qual ele mesmo fosse uma testemunha ocular (1 Co. 9:1). Ele deveria ser chamado e comissionado diretamente pelo Senhor ressurreto (João 20:21, Atos 26:15-18), que incluía ter recebido o evangelho de Jesus mesmo (Gl. 1:11-12).

A tarefa específica do apóstolo também indica a natureza temporária do ofício. Essa tarefa era o lançamento do fundamento da Igreja. Não há como lançar para sempre o fundamento de um edifício. Chegará um tempo quando o fundamento foi lançado. Então, aqueles cujo trabalho é lançar o fundamento são removidos; e outros, pastores e mestres, cujo chamado é construir sobre o fundamento, são dados à Igreja.

Mas se o ofício de apóstolo desapareceu, assim também o miraculoso deve ter desaparecido (“os sinais de um apóstolo”!), pois o miraculoso era parte desse ofício e servia a esse ministério.

Da mesma forma, aqueles que insistem sobre milagres hoje devem produzir apóstolos também. Que os Pentecostais apresentem seus apóstolos! É digno de nota que o movimento Irvingita, um precursor do Pentecostalismo na Inglaterra nos anos de 1800, chamado pelo nome do seu líder, Edward Irving, apontou doze apóstolos. Ao fazê-lo, o movimento foi consistente. É digno de nota também que, embora hesite em chamá-los de apóstolos, o Pentecostalismo hoje está atribuindo aos seus líderes poderes que somente os apóstolos possuíram: uma autoridade pessoal e absoluta sobre a igreja, ou comunidade; novas revelações de sua vontade para a igreja da parte de Deus; ensinos extra-bíblicos que são obrigatórios para os santos.

A história da Igreja testemunha a verdade do ensino da Escritura que os milagres e dons extraordinários eram temporários. Os milagres cessaram na Igreja por volta de 100 d.C., próximo ao tempo da morte do último apóstolo. Por um tempo após isso, somente os heréticos e seitas cismáticas alegaram o poder de realizar milagres, e.g., os Montanistas (uma seita do segundo século com o nome do seu líder, Montano). À medida que o tempo passou, o poder de realizar milagres começou novamente a ser reivindicado e enfatizado dentro da igreja católica; mas, significantemente, isso andou de mãos dadas com o desvio da igreja da verdade do evangelho. A Igreja Católica Romana, sem dúvida, sempre alegou o poder de realizar milagres e sempre encantou o seu povo com essas maravilhas.

A Igreja purificada da Reforma repudiou expressamente todos os milagres. A Reforma foi confrontada com milagres de dois lados: Roma e os grupos Anabatistas com sua mística “religião do Espírito”. Tanto Roma como os místicos apelavam aos seus milagres como prova que eles eram a verdadeira religião e ridicularizavam a Reforma com sua falta de milagres. Intuitivamente impressionante para o próprio cerne da questão – e esse é o cerne da questão hoje também com respeito ao Pentecostalismo –, Lutero chamou o povo de Deus a crer, viver e aderir à Palavra de Deus sozinha, mesmo que heréticos estivessem produzindo uma tempestade autêntica de milagres para seduzi-los a abandonar a verdade. João Calvino deu uma explicação mais detalhada da posição Reformada:

O fato de exigirem de nós milagres, agem de má fé. Ora, não estamos a forjar algum evangelho novo; ao contrário, retemos aquele mesmo à confirmação de cuja verdade servem todos os milagres que outrora operaram assim Cristo como os apóstolos. Acima de nós, eles têm isto de singular, que podem confirmar sua fé mediante constantes milagres até o presente dia! Contudo, o fato é que estão antes a invocar milagres que se prestam a perturbar o espírito doutra sorte inteiramente sereno, a tal ponto são eles ou frívolos e ridículos, ou fúteis e falsos! Todavia, nem mesmo se esses alegados milagres fossem mui prodigiosos, certamente que não seriam contra a verdade de Deus, quando importa que o nome de Deus por toda parte e a todo tempo seja santificado, quer através de portentos, quer mediante a ordem natural das coisas.

Talvez mais deslumbrante poderia ser esse aparente matiz, não fora que a Escritura nos adverte quanto ao legítimo propósito e uso dos milagres. Ora, os sinais que acompanharam a pregação dos apóstolos, no-lo ensina Marcos [16.20], foram operados para sua confirmação. De igual modo, também Lucas narra que o Senhor deu testemunho da palavra de sua graça, quando foram operados sinais e portentos pelas mãos dos apóstolos [At 14.13] … E convém que tenhamos sempre em mente que Satanás tem seus milagres, os quais, embora sejam falazes prestidigitações, antes que genuínos prodígios, entretanto são de tal natureza, que podem seduzir os desavisados e simplórios. (Institutas, Carta ao Rei da França Francisco I)

As maravilhas do Pentecostalismo, como os milagres de Roma, são fraudulentas. Elas são parte e parcela dos únicos milagres que a Escritura profetiza para os últimos dias: os sinais e maravilhas dos falsos cristos e falsos profetas que enganariam os próprios eleitos, se isso fosse possível (Mt. 24:24); o poder, sinais e prodígios de mentira do homem do pecado que enganarão aqueles que não receberam o amor da verdade (2Ts. 2:9-12).

Cuidado! Não seja ludibriado pelos milagreiros de hoje!

A Igreja Reformada não precisa de milagres. Sua fé é a doutrina dos apóstolos, que a receberam de Jesus. Essa doutrina já foi confirmada por muitos milagres. Ela não precisa de atestação adicional. O único evangelho que requer novos milagres é um novo evangelho. Mas isso não implica que a religião Reformada é uma religião sem milagres. O Pentecostalismo gostaria de deixar essa impressão: ele é um evangelho com milagres – o evangelho pleno, enquanto a fé Reformada é um evangelho carente de milagres e, portanto, aquém de um evangelho pleno.

Primeiro, o crente Reformado vê o poder onipotente de Deus em tudo da criação e em cada aspecto da vida terrena. O surgir diário do sol, a mudança de estações, a florescência de uma simples rosa, a concepção de um bebê, a revolta de um terremoto, o levantar e cair de nações, saúde e vida, e um pedaço de pão em minha mesa – tudo é procedente da obra poderosa, sempre presente e incompreensível do poder de Deus. O Cristo da nossa fé é o Senhor soberano que está presentemente sustentando e governando todas as coisas pela Palavra do seu poder, de uma maneira muito maravilhosa (Hb. 1:3).

Segundo, nós Reformados reivindicamos como nosso cada milagre que está registrado nas páginas da Escritura. A noção que alguém não tem milagres a menos milagres realizados por ele, ou diante dos seus olhos, é tola. O milagre da criação do mundo, o milagre do dilúvio, o milagre do fogo de Jeová devorando o sacrifício de Elias, o milagre da encarnação, o milagre de Pedro ressuscitando Dorcas, e todos os outros milagres são meus, tão verdadeiramente como se tivesse experimentado-os, não somente porque foram livramentos da Igreja da qual sou um membro, mas também porque me impressionam, me fazem adorar a Deus, e fortalecem minha fé em sua Palavra, tanto quanto se tivesse visto os mesmos com meus próprios olhos. Os crentes Reformados têm uma abundância de maravilhas na Bíblia; qualquer milagre adicional, antes da vinda do Senhor Jesus, seria supérfluo.

Terceiro, a Palavra proclamada pela Igreja Reformada constantemente realiza muitos e grandes milagres. Ela ressuscita os mortos espiritualmente; abre os olhos do cego espiritualmente; faz o espiritualmente coxo pular como um cervo; destrói a fortaleza de Satanás no coração e vida humano (Isaías 35; 2Co. 10:3-6). Pelo poder do Espírito Santo, a verdade efetua o milagre da salvação: fé, arrependimento, perdão e santidade. Essas são maravilhas impressionantes, bem maiores, se fôssemos inclinados a fazer uma comparação, que milagres de cura física, para não mencionar os “milagres” triviais e absurdos tão freqüentemente ostentados pelo Pentecostalismo. As maravilhas espirituais do evangelho, de fato, são a realidade da qual a cura física por Jesus e seus apóstolos era um sinal.

Não, a Igreja Reformada não é uma Igreja destituída de milagres.

Mas nosso propósito principal tem sido responder aos argumentos do Pentecostalismo a partir da Escritura, para a sua doutrina do batismo do Espírito Santo e para a sua prática de milagres, especialmente línguas. Isso foi feito. Em resposta aos seus apelos à Escritura, temos mostrado a partir da Escritura que o Pentecostalismo é herético em sua doutrina de salvação (batismo do Espírito Santo) e fraudulento em seus milagres.

A fé Reformada julga o Pentecostalismo como sendo uma religião diferente daquela de Lutero, Calvino e os credos Reformados – um abandono fundamental da fé uma vez entregue aos santos.

Capítulo 2: O Teste Reformado do Espírito do Pentecostalismo

O Pentecostalismo substituiu a Palavra de Deus na Igreja e na vida do membro da Igreja pela experiência, isto é, sentimento humano. Esse é um dos seus erros básicos. Essencialmente, é um ataque à Palavra, quer substitua a Palavra completamente, empurre a Palavra para o segundo plano, ou coloque a experiência ao lado da Palavra. O movimento dá pouco valor à doutrina e fala com desprezo de ortodoxia. Albert B. Simpson, o famoso pregador Pentecostal, expressou a atitude Pentecostal para com a sã doutrina, quando chamou seu batismo do Espírito Santo de “o funeral da minha dogmática”. Onde quer que apareça, o Pentecostalismo abole os credos. Um dos “dons” que ele restaurou é aquele das revelações especiais dadas diretamente por Deus a certos “profetas”. Isso é a negação da autoridade única e plena suficiência da Escritura – um assassinato da sola scriptura (somente a Escritura). Ouvir e crer na Palavra não é mais a coisa central, mas sim a experiência do batismo do Espírito.

Essa substituição da Palavra pela experiência identifica o Pentecostalismo como um reavivamento da antiga heresia do misticismo: salvação como contato imediato com Deus. As palavras favoritas do Pentecostalismo são “experiência,” “poder,” “êxtase” e coisas semelhantes. Isso é o batismo do Espírito deles; essa é a natureza da reunião Pentecostal; esse é o seu apelo ao povo religioso; esse é o porquê mulheres têm papel de liderança no movimento.

Que o Pentecostalismo é misticismo, na verdade misticismo enlouquecido, é ilustrado a partir de fontes Pentecostais. The Full Gospel Business Men’s Voice (uma revista Pentecostal) de junho de 1960 dá uma descrição de seu batismo com o Espírito Santo por um ministro que, perturbado por sua “falta de poder,” buscou o batismo no fogo:

Imediatamente, veio às minhas mãos uma sensação estranha, e desceu para os meus braços, e começou a fluir! Era como mil – como dez mil – depois um milhão de volts de eletricidade. Começou a sacudir minhas mãos e puxar minhas mãos. Podia ouvir, por assim dizer, o som zunido do poder. Puxava minhas mãos mais para o alto e as segurava ali como se Deus as tivesse tomada nas dEle. Veio para dentro da minha alma uma voz que dizia: “Imponha estas mãos sobre os doentes, e Eu os curarei!”… mas eu não tinha o batismo… Numa sala com ar-condicionado, com minhas mãos erguidas… e meu coração ansiando por meu Deus, veio a lava quente e derretida do seu amor. Entrou correndo como um rio do Céu, e eu fiquei levantado fora de mim mesmo. Falei durante cerca de duas horas numa língua que não podia entender. Meu corpo perspirava como se eu estivesse num banho de vapor: O Batismo no Fogo! (citado em Frederick Dale Bruner, Teologia do Espírito Santo, p.102-103)

Sem dúvida, isso embaraçaria Jacob Boehme, místico que ele era.

John Sherrill, um proeminente Pentecostal, escreve de ver Jesus como uma luz branca brilhante em seu quarto de hospital (cf. seu Eles Falam em Outras Línguas). Donald Gee, outro Pentecostal de destaque, descreve o batismo Pentecostal dessa forma: “Somos tomados em Deus, e a alma receberá um desejo consumidor de ser sempre mais absoluta e inteiramente perdida nEle” – a linguagem típica de misticismo (cf. A New Discovery, p. 23).

Um segundo erro fundamental do Pentecostalismo é dar ao Espírito Santo o palco central, enquanto relegando Jesus às alas, se não o colocando inteiramente fora de cena. Eles se esforçam para negar isso, assim como Roma esforça-se para negar que o culto à Maria substitui Jesus, mas o fato permanece. A verdade dessa acusação é óbvia na própria superfície do movimento. O Espírito recebe a atenção no Pentecostalismo. A obra do Espírito, não aquela do Filho, é celebrada e exaltada. O próprio nome pelo qual esse movimento é chamado revela isso: Pentecostalismo – um nome que tem a ver com o Espírito. A Escritura, contudo, dá ao povo de Deus o nome cristão – um nome que tem a ver com o Filho, Jesus.

Esse menosprezo de Jesus em favor do Espírito está fundamentado profundamente na doutrina básica Pentecostal. O Pentecostalismo ensina que o filho de Deus deve ir além de Cristo, para o nível mais alto do Espírito, deve avançar além de “meramente” receber a Cristo pela fé recebendo o Espírito pelo batismo do Espírito Santo.

O Pentecostalismo insulta a Cristo.

Onde quer que o espírito substitua Cristo, menospreze Cristo, ou vá além de Cristo, não é o Espírito de Cristo, mas um dos espíritos do anticristo, pois o Espírito de Cristo revela Cristo, concede Cristo, chama atenção para a obra de Cristo e glorifica a Cristo. “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim” (João 15:26). “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (João 16:14).

Um terceiro erro relacionado é a minimização da fé no Pentecostalismo. Fugindo claramente do testemunho da Bíblia que em Jesus Cristo nada tem valor algum, “mas sim a fé que opera pelo amor” (Gl. 5:6), o Pentecostalismo insiste que a fé em Cristo não é suficiente – nem de longe. Algo adicional é requerido, que vale muito mais na verdade, a saber, o batismo do Espírito Santo. Ignorando completamente o louvor gracioso da Escritura quanto ao crente como alguém que não será confundido, e que pertence à geração eleita, ao sacerd��cio real, à nação santa, e ao povo adquirido de Deus (1Pe. 2:8-9), o Pentecostalismo desdenha aqueles que “meramente” crêem, exaltando no lugar aqueles batizados no Espírito. Com a depreciação da fé vem uma ênfase sobre todos os tipos de obras humanas. O Pentecostalismo coloca um prêmio sobre certas obras que são alegadamente condições para receber o batismo com o Espírito: orar intensivamente, limpar o coração de todo pecado, se render completamente, e coisas semelhantes. Mais altamente estimado, sem dúvida, é a obra humana de falar em línguas. Crer no Filho de Deus vai para o final da fila diante disso!

Não é surpresa, então, o Pentecostalismo praticamente ignorar a bênção fundamental da salvação para o filho de Deus, a bênção recebida mediante a fé: o perdão dos pecados. No lugar do “bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas” (Rm. 4:7ss; Salmo 32:1), o Pentecostalismo pronuncia seu “bem-aventurados aqueles que desfrutam do êxtase e poder do batismo do Espírito Santo.”

Tudo o que menospreza, adiciona algo ou vá além da fé é procedente do diabo, sendo outro evangelho; e todos que caem nessa heresia, caíram da graça. Os primeiros versículos de Gálatas 5 soam a clara e severa advertência que nada pode ser adicionado à fé, muito menos ir além. Adicionar algo à fé, para a recepção da salvação, é perder a Cristo totalmente. Nesse caso, “Cristo de nada vos aproveitará” (v. 2); “da graça tendes caído” (v. 4).

Sola fide! Somente a fé! Tudo da salvação é pela fé somente! “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef. 2:8-9). Nossa salvação começa, continua e é aperfeiçoada pela fé somente.

O Pentecostalismo é orgulhoso. É arrogante em sua atitude para com a Igreja do passado. Até aproximadamente 1900 d.C., não existia tal coisa como o batismo Pentecostal com o Espírito dentro da Igreja. Atanásio e Agostinho não tinham isso. Nem Lutero e Calvino. Os santos Reformados da Holanda, que morreram aos milhares sob a perseguição Católica Romana no século 16, também não tinham. Pelo contrário, eles explicitamente repudiavam isso. Agostinho expressa a mente da Igreja do passado:

Nos primeiros tempos o Espírito Santo caiu sobre aqueles que creram: e eles falaram em línguas que não tinham estudado, “conforme o Espírito concedia”. Esses foram sinais adaptados ao tempo. Isso foi uma sinalização do Espírito Santo em todas as línguas, e mostrou que o Evangelho de Deus percorreria toda a terra em todas as línguas. Isso foi feito como um sinal e cessou (“Ten Homilies on the First Epistle of John,” The Nicene and Post-Nicene Fathers, Vol. VII).

O que o Pentecostalismo diz sobre isso? “Até agora a Igreja tem sido uma Igreja muito pobre e sem vida. O evangelho pleno, a salvação plena e a vida cristã plena começam conosco.”

Coloque tudo do Pentecostalismo e neo-Pentecostalismo numa pilha, e o monte todo não é digno de desatar o cordão do sapato de um Lutero, ou de um Calvino, ou de um santo Reformado que creia no evangelho da Escritura, confie em Cristo para sua justiça, tema ao Senhor, guarde os mandamentos, edifique sua família na verdade, e adore a Deus em espírito e em verdade.

O Pentecostalismo é arrogante também em sua atitude para com o “mero” crente. O Pentecostal é a elite na Igreja, o super-santo; todos os outros são cristãos “meramente” convertidos. Essa arrogância não é tanto uma questão de pecado pessoal do Pentecostal quanto o é de doutrina Pentecostal. O Pentecostalismo ensina dois batismos na Igreja: o batismo inferior do lavar dos pecados (do qual o sinal é a aplicação da água) e o batismo superior com o Espírito Santo (do qual o sinal inicial são as línguas). Todos os cristãos recebem o primeiro; mas somente alguns recebem o último – os super-santos. Em sua doutrina fundamental, portanto, o Pentecostalismo é cismático. Não há um esforço para guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz, como o apóstolo de Cristo suplica em Efésios 4:3, mas sim ruptura. A unidade na congregação é baseada em “um batismo,” de acordo com o versículo 5 de Efésios 4. Colocar dois batismos é tão destrutivo para a unidade como seria colocar duas fés, ou dois Senhores, ou dois Deuses. O orgulho espiritual em toda forma cria divisão; a humildade nutre a unidade. Presbíteros apenas se enganam quando toleram o Pentecostalismo dentro da congregação, mas admoestam os membros a “guardar a paz.”

A explicação desse orgulho é que o Pentecostalismo é uma religião do homem. Ele se centra nos sentimentos e na possessão de poder do homem. Isso atribui ao homem o dever decisivo de realizar as obras que são as condições para o aperfeiçoamento da salvação no batismo do Espírito Santo. Permite ao homem receber revelações extra-bíblicas e obrigar a congregação a cumpri-los. Dá ao homem o poder de exercer uma liderança soberana sobre uma congregação, ou sobre uma comunidade de congregações, e governar a vida do povo de acordo com a sua vontade. O espírito honrado pelo Pentecostalismo não é o Espírito que glorifica a Cristo (João 16:14), aplica a redenção de Cristo (Catecismo de Heidelberg, P. 53: “… Ele [o Espírito Santo] foi dado também a mim … me torna participante de Cristo e de todos os seus benefícios …”), guia à verdade que Cristo falou na Escritura inspirada (João 16:13), e é dado a todos do povo de Deus mediante a fé (Gl. 3:14). Esse é o Espírito que magnifica a Deus. Mas o espírito do Pentecostalismo chama a atenção para si mesmo, concede seus próprios benefícios de salvação, fala de si mesmo, e opera à parte do ouvir da fé. Esse é um espírito que satisfaz ao homem.

O Pentecostalismo não é teocêntrico [centrado em Deus]. Por essa razão, ele pode atacar a Palavra de Deus (Escritura), menosprezar o Salvador de Deus (Cristo), minimizar o caminho de Deus para a salvação (fé) e ignorar a bênção fundamental de Deus na salvação (justificação). O fato de ser um evangelho de acordo com o homem (Gl 1:11) é um erro que, embora freqüentemente ignorado, mesmo em críticas do Pentecostalismo, caracteriza o Pentecostalismo onde quer que seja encontrado. Esse é o erro do livre-arbítrio, isto é, a doutrina que a salvação depende da vontade do pecador, ao invés da vontade soberana e graciosa de Deus (Rm. 9:16). Os fundamentos do Pentecostalismo não estão em Calvino, Dort e Westminster, mas em Armínio, Wesley, Finney e no reavivalismo.

Isso ajuda para explicar tanto a popularidade do Pentecostalismo, como seu ecumenismo. O Pentecostalismo é ecumênico. É óbvia, admitida e agressivamente ecumênico. Ele age em todas as igrejas, com total desconsideração pelas diferenças confessionais e doutrinárias. Ele une Protestantes e Católicos Romanos. Todos se tornam um pelo Pentecostalismo – aqueles que praticam idolatria na missa, bem como aqueles cuja confissão é que essa prática é maldita; aqueles que dependem dos seus próprios méritos para a justificação, bem como aqueles cuja confissão é que devemos confiar somente numa justiça externa, ou seja, a justiça de Cristo; aqueles que se orgulham da salvação pelo seu livre-arbítrio, bem como aqueles cuja confissão é que o “evangelho do livre-arbítrio” é o erro que Pelágio tirou do inferno. Longe de ficarem envergonhados por seu “Espírito” doutrinariamente indiferente, e então serem provocados a duvidar com respeito a um “Espírito” que desdenha assim da verdade, os líderes Pentecostais anunciam sua religião como o meio de união na igreja. A natureza ecumênica do Pentecostalismo era evidente na “Conferência de 1977 sobre Renovação Carismática nas Igrejas Cristãs,” na Cidade de Kansas. A conferência foi co-patrocinada por Batistas, Pentecostais, Episcopais, Luteranos, Menonitas, Judeus Messiânicos, Presbiterianos e Metodistas Unidos. Membros de muitas outras denominações participaram.

Um dos palestrantes principais, o Episcopal Dennis Bennett, disse que “ele vê três rios do Cristianismo que estão começando a jorrar juntos: o rio Católico com sua ênfase sobre a história e a continuidade da fé, o rio evangélico com sua ênfase sobre a lealdade à Escritura e a importância do compromisso pessoal a Cristo, e o rio Pentecostal com sua ênfase sobre a experiência imediata de Deus pelo poder do Espírito Santo.”

O palestrante chave, o Católico Romano Kevin Ranaghan, “afirmou que divisões entre as várias igrejas cristãs têm sido um ‘sério escândalo’ no mundo. ‘Para o mundo crer depende de nos tornarmos um’, disse ele. É a vontade de Deus, ele enfatizou, ‘que sejamos um.’” Ele expressou suas crenças que existe uma “real possibilidade de movimento em direção a alguma forma permanente de unidade cristã” (cf. Christianity Today, August 12, 1977, pp. 36-37).

Por causa de seus erros fundamentais com respeito à Palavra, Cristo e a fé; por causa do seu orgulho; por causa do seu falso ecumenismo – um ecumenismo à parte da verdade; por causa da sua doutrina herética de salvação – o ensino do batismo do Espírito Santo; e por causa de seus milagres fraudulentos, o Pentecostalismo deve ser rejeitado. Ele deve ser rejeitado mediante disciplina cristã. Aqui, alguns são fracos. Eles conhecem os erros do Pentecostalismo. Vêem-no como radicalmente diferente da fé da Reforma. Eles até mesmo falam alto em críticas sobre o movimento. Mas ao mesmo tempo falam de seus “irmãos e irmãs Pentecostais,” e toleram o Pentecostalismo em suas igrejas.

O Pentecostal deve ser disciplinado. Deve ser disciplinado para o seu bem, para que Deus possa dar-lhe arrependimento para o reconhecimento da verdade. Ele deve ser disciplinado para o bem da igreja, para que outros membros possam aprender a temer e para que o fermento do Pentecostalismo não se espalhe pela igreja. Quanto ao Pentecostal que permanece dentro da igreja, para ganhar aderentes à sua religião: “Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando” (Gl. 5:12). “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o. Sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tito 3:10-11).

Capítulo 3: A Visão Reformada da Vida Cristã

O Pentecostalismo, a despeito dos seus sérios erros, tem algo a contribuir às igrejas da Reforma, algo, de fato, que essas igrejas precisem muito? Não deveriam os crentes Reformados aprender algo do Pentecostalismo, algo que de outra forma seriam totalmente ignorantes? As igrejas Reformadas e seus membros não carecem de algo que Deus mesmo está agora suprindo através do movimento Pentecostal ou carismático? Tendo dado à sua Igreja a primeira chuva moderadamente, não está Deus agora cumprindo a profecia de Joel de uma “chuva seródia” (Joel 2:23)?

Essa noção é amplamente aceita nos círculos Reformados. A suposta contribuição do Pentecostalismo para a igreja e o membro é uma vida cristã vibrante. Uma igreja Reformada e um santo Reformado têm a sã doutrina, é dito; mas eles são deficientes na área de vida cristã. Para a congregação, o Pentecostalismo contribuirá com uma unidade real dos membros; um amor que cuida e compartilha com os outros membros; o uso enérgico de seus dons por todo membro; e uma adoração espontânea, viva e exuberante. Para o membro individual, ele fornecerá experiência, alegria, zelo e poder espiritual. O Cristianismo Reformado tem a Palavra (doutrina); o Pentecostalismo adicionará o Espírito. Assim, o Pentecostalismo é introduzido, e bem recebido, nas igrejas Reformadas.

A noção é falsa. A Igreja Reformada sempre buscou a unidade do povo de Deus; urgiu o amor mútuo de seus membros; e fez justiça ao uso de seus dons por cada membro. Não foi o Pentecostalismo que levou a Igreja Reformada a confessar a comunhão dos santos, na P. 55 do seu Catecismo de Heidelberg, nessas palavras:

Primeiro: entendo que todos os crentes, juntos e cada um por si, têm, como membros, comunhão com Cristo, o Senhor, e todos os seus ricos dons. Segundo: que todos devem sentir-se obrigados a usar seus dons com vontade e alegria para o bem dos outros membros.

Nem foi o Pentecostalismo responsável pela exigência da Igreja Reformada que seus membros vivam a vida cristã amando seu próximo, como o faz no Dia do Senhor 39-44 desse mesmo Catecismo. Que o Pentecostalismo melhore, se puder, a aplicação que a Fé Reformada faz do Quinto Mandamento ao crente, como o requerimento que “devo prestar toda honra, amor e fidelidade a meu pai e a minha mãe e a todos os meus superiores … e também ter paciência com seus defeitos …” (P. 104); do Sexto Mandamento, como o requerimento que “amemos nosso próximo como a nós mesmos e mostremos paciência, paz, mansidão, misericórdia e gentileza para com ele. Devemos evitar seu prejuízo, tanto quanto possível, e fazer bem até aos nossos inimigos” (P. 107); do Sétimo Mandamento, como o ensinamento que “devemos … viver de maneira pura e disciplinada, sejamos casados ou solteiros” (P. 108); do Oitavo Mandamento, como o requerimento que “devo promover tanto quanto possível, o bem do meu próximo e tratá-lo como quero que outros me tratem. Além disto, devo fazer fielmente meu trabalho para que possa ajudar ao necessitado” (P. 111); e do Novo Mandamento, como a exigência que “devo defender e promover, tanto quanto puder, a honra e a boa reputação de meu próximo” (P. 112).

À sugestão do Pentecostal que deveríamos estudar aos pés do Pentecostalismo, para aprender sobre experiência cristã, os cristãos Reformados são inclinados a responder como o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho: “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? … Onde estavas tu, quando eu fundava a terra?” (Jó 38:2, 4). Deixando de lado agora a gloriosa tradição dos pregadores e escritores Reformados, Presbiterianos e Puritanos, convidamos aqueles que fazem essa sugestão arrogante a lerem o Catecismo de Heidelberg. Por mais de 400 anos, os cristãos Reformados têm sido instruídos num catecismo que apresenta a mensagem inteira da Escritura do ponto de vista de conduta pessoal; que define seu conforto como pertencer a Cristo; e que fundamenta esse conforto num conhecimento experimental do pecado, da redenção e de gratidão. Quando terminarem o Catecismo, podem pegar os Cânones de Dort, observar o tratamento afetuoso e pastoral das grandes doutrinas que são as verdades distintivas da Fé Reformada e o cerne do evangelho da graça de Deus. Aqui, eles acharão uma exposição da predestinação, por exemplo, que está profundamente preocupada com a certeza da eleição (I, 12); com os efeitos do senso de eleição na humildade, adoração, auto-purificação e amor grato diário do filho de Deus (I, 13); e com as lutas e dúvidas espirituais daqueles que são a “torcida que fumega” e “a cana quebrada” (I, 16).

Como o genuíno Cristianismo Bíblico, a Fé Reformada sempre honrou também o Espírito Santo e sua obra. Ela confessa sua Divindade; tem notado o seu derramamento como o Espírito de Cristo em Pentecoste; tem atribuído a ele a obra completa de reunir a Igreja e salvar cada pecador eleito, enquanto negado que mesmo a infinitesimal parte da reunião da Igreja e salvação do pecador seja a obra do homem, e tem afirmado que mesmo a Palavra não tem poder sem o Espírito. Ela tem exaltado as obras do Espírito, e.g., regeneração e santificação; louvado seus dons, e.g., testemunho fiel à verdade; e cultivado seu fruto – o amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança listados em Gálatas 5:22. Por tudo isso, a Igreja Reformada deve exatamente nada ao Pentecostalismo.

O cristão Reformado recusa honrar algum espírito ao lado de Jesus Cristo; recusa interessar-se em alguma salvação adicional à redenção de Cristo; recusa voar com algum espírito acima da atmosfera sólida da Palavra de Cristo – a Sagrada Escritura; e recusa confessar algum espírito que não o de Jesus. Mas o Espírito Santo não se entristece com aqueles que fazem essa recusa. Ele mesmo demanda e opera isso em nós. Pois ele veio para glorificar a Jesus (João 16:14); conceder a redenção de Jesus (João 7:37-39); trabalhar em e através da Palavra de Jesus (João 6:63); e confessar a Jesus Cristo (1 João 4:1-3).

O Pentecostalismo não tem nada para contribuir para as igrejas da Reforma. Os crentes Reformados não podem aprender nada dele. A Fé Reformada não precisa de nada que o Pentecostalismo possa suprir. O Pentecostalismo deve ser rejeitado em sua inteireza, como uma religião alheia ao Cristianismo Reformado. Na circulação sanguínea da igreja Reformada, ele é um elemento estranho. Se permanecer ali, sem ser expurgado, será a morte desse corpo como um corpo Reformado.

É perturbador encontrar literatura Pentecostal nos lares do povo Reformado, para usar como leitura edificante – Watchman Nee; David Wilkerson; John Osteen; Arthur Wallis; The Full Gospel Businessman’s Voice; e outros. Mesmo que o material possa não ser Pentecostal, a leitura e escuta devocional de alguns crentes Reformados será prejudicada. A comida que eles regularmente empregam para satisfazer o desejo da alma pela exposição da vida, experiência e prática cristã é a leitura popular do fundamentalismo de hoje em dia. Na melhor das hipóteses, essa é destituída de algo Reformado; na pior, questiona tudo que os crentes Reformados estimam, inculcando uma visão superficial e falsa da vida e experiência cristã. Onde, por exemplo, nas obras rasas sobre a vida cristã mais sublime, rica, plena e profunda, com suas capas berrantes, que abundam nas livrarias cristãs, você encontra algo sobre “das profundezas a ti clamo, ó SENHOR”, do Salmo 130? Muito menos esse lamento sobre a culpa do pecado é central para a ostentação deles de uma vida cristã mais sublime, rica, plena e profunda. A emoção dessa vida cristã deles não é o perdão dos pecados na redenção da cruz de Cristo. A vida cristã a qual esses livros chamam os leitores não pode ser uma vida de temor ao Senhor, o santo e gracioso Juiz, da parte do pecador perdoado (Salmo 130:4). Em vez disso, eles nos dizem como seremos felizes. Nem eles apresentam a vida cristã como obediência – obediência custosa – aos Dez Mandamentos da Lei de Deus. Uma praga sobre esses livros; e uma praga sobre a vida cristã deles mais sublime, rica, plena e profunda.

Pode muito bem ser, contudo, que parte da culpa por essa má leitura resida aos pés de nós pregadores, presbíteros, pais e professores cristãos. Talvez, não estamos recomendando aos santos as obras devocionais boas e sólidas – os sermões, comentários e outros escritos de Lutero; de Calvino; e dos antigos autores Reformados, Presbiterianos e Puritanos.

Talvez não estejamos produzindo livros e artigos que façam justiça aos aspectos práticos e experimentais da Fé Reformada – sua piedade única e vital. Talvez nossa pregação despreze esses aspectos do evangelho. Então, defendemos a ortodoxia, sem aplicá-la. Ou, em reação ao experiencialismo, ignoramos a experiência; em reação ao subjetivismo, não ousamos ser subjetivos; em reação a um clamor pela prática que despreza a doutrina, falhamos em falar as coisas práticas que procedem da sã doutrina (Tito 2:1). Nesse caso, há de fato uma falta, não na Fé Reformada, mas em nosso ensino dela; e não deveria nos surpreender, errado como seja, que os santos procurem satisfazer sua fome em outro lugar.

O fato que o Pentecostalismo não tem nada para contribuir para o crente Reformado não implica que Deus não faça uso desse movimento em favor do seu povo. Deus sempre usou heresias para dirigir sua Igreja à Palavra, de forma que seu conhecimento da verdade possa crescer e sua fidelidade de vida possa ser renovada. Deus usa o Pentecostalismo ao nos mandar de volta à Sagrada Escritura, a fim de examiná-la com respeito ao seu ensino sobre a vida cristã.

O apelo básico do Pentecostalismo é sua crítica da vida cristã e sua promessa de uma vida cristã mais sublime e rica. O Pentecostalismo encontra muita negligência, infidelidade, mundaneidade e desobediência. Fazemos bem em confessar isso. Deus envia a calamidade do Pentecostalismo por uma razão: muitos perdem o primeiro amor. O amor de outros se esfria. A iniqüidade abunda. Para muitos, adoração é formalismo sem vida; confissão da verdade é uma tradição morta; vida cristã é um ritual externo; e a experiência da paz e alegria da salvação não existe. Sempre, o misticismo surgiu contra o pano de fundo de um declínio na vida espiritual da Igreja, especialmente um declínio para a ortodoxia morta e mundaneidade viva. Nessas circunstâncias, o Pentecostalismo seduz o povo com a fascinação de uma vida real, poder dinâmico e sentimento maravilhoso.

Em vista da crítica do Pentecostalismo sobre a vida, tanto do crente Reformado fiel, que não recebeu o batismo com o Espírito do Pentecostalismo, e do membro de igreja negligente e infiel, e em vista de sua promessa de transportar o cristão para um nível mais alto de vida e experiência espiritual, somos compelidos a perguntar: “Qual é a vida e experiência cristã? Qual é a vida cristã normal?”

Ao responder essa pergunta, não prestamos atenção às alegações de homens e mulheres religiosos. A norma da vida e experiência cristã não é o testemunho do próximo sobre o seu último sentimento de êxtase, mas a Sagrada Escritura. Dessa forma, que Deus seja verdade, e todo homem mentiroso. A falha em deixar a Escritura, a confiável Palavra de Deus, ser o padrão da vida cristã, e a dependência de palavras totalmente inconfiáveis de homens, é a causa de dúvida contínua, quanto a se ele é o que deveria ser espiritualmente, e mesmo se é um filho regenerado de Deus afinal. Assim, o Pentecostalismo recebe a abertura que deseja. Para o conhecimento da vida cristã, a regra é: “À lei e ao testemunho,” afastando-se os adivinhos que chilreiam e murmuram (Isaías 8:19-20).

De acordo com a Escritura, a vida cristã é uma vida que encontra sua plenitude em Jesus Cristo, como esse Cristo é revelado na Palavra. Ela não vai além de Cristo; não terá nada à parte de Cristo, ou em adição a Cristo – nem circuncisão, nem novas revelações, nem um conhecimento mais sublime, nem algum espírito. A razão é que o cristão sabe, e tem descoberto por experiência, que Cristo é um Salvador completo. Em Cristo habita toda a plenitude da divindade corporalmente; e o cristão é completo nele, isto é, é perfeito nele (Cl. 2:9-10). Sem dúvida, a vida cristã é uma vida de crescimento, mas esse crescimento é um crescimento em Cristo, e não além de Cristo: “Para que … cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef. 4:14-15). Assim como é o caso com o crescimento físico até a maturidade, esse crescimento espiritual é gradual, freqüentemente imperceptível e progressivo, e não uma transformação instantânea da noite para o dia. É um processo que dura a vida toda. Acontece pela Palavra e a oração.

Esse Cristo suficiente, com todos os seus benefícios adequados, é a vida do crente pela habitação do Espírito Santo em seu coração. “E vivo,” exulta o crente, “não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl. 2:20). A oração fervorosa do apóstolo por todos os membros da Igreja de Deus é “que Cristo habite pela fé nos vossos corações” (Ef. 3:17). Isso acontece em cada um de nós ao sermos “corroborados [fortalecidos] com poder pelo seu Espírito no homem interior” (v. 16).

A vida cristã é uma vida de caminhada no Espírito de Cristo, a quem todos nós recebemos quando nascemos de novo. O crente não procura, busca ou espera um segundo batismo; antes, ele esforça-se para andar no Espírito diariamente, em tudo da vida. Essa é a instrução concernente à vida cristã em Gálatas 5. Havia problemas na Galácia com respeito à vida cristã, problemas sérios. Havia a ameaça dos santos morderem e devorarem uns aos outros – uma falta patética de amor (vs. 13-15). Havia outras tentações da carne e suas cobiças: adultério, idolatria, embriaguez e coisas semelhantes (vs. 19-21). Havia evidências de glória vã, de provocar e invejar uns aos outros (v. 26). Havia problemas para homens e mulheres que tinham sido batizados (Gl. 3:27) e recebido o Espírito Santo (Gl. 3:2). Mas a solução não era buscar um novo batismo, ou uma administração diferente do Espírito. Pelo contrário, eles deviam andar no Espírito Santo em quem viviam: “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne” (5:16); “Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” (v. 25).

Assim, a vida cristã é ativa. A atividade da vida cristã é, em primeiro lugar, uma batalha – uma batalha feroz, árdua e que dura a vida toda. O campo de batalha é a própria pessoa. O inimigo é o pecado. O Pentecostalismo não conhece nada dessa batalha; o Pentecostal já conquistou a vitória em seu batismo com o Espírito. Não somente você ouve pouco ou nada do perdão dos pecados no Pentecostalismo, mas ouve também pouco ou nada da luta diária do santo contra o pecado que habita nele. De fato, não é raro ouvir um pregador carismático ridicularizar aqueles que estão sempre gemendo por seus pecados, aqueles cujo testemunho de toda a sua vida é: “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm. 7:24). Nada expõe mais claramente do que isso o Pentecostalismo como uma religião totalmente alheia à Fé Reformada. Um Pentecostal Reformado é uma impossibilidade, uma contradição de termos. Um Pentecostal não pode confessar a primeira parte do Catecismo de Heidelberg. No máximo, pode apenar dizer que costumava conhecer a miséria do pecado, tanto culpa como depravação. Ignorante de sua miséria, nem pode ele conhecer a redenção ou a gratidão viva que brota diariamente num coração perdoado.

Contudo, a Escritura apresenta a vida cristã como um esforço contra o pecado que habita em nós. Esse é o ensino de Gálatas 5:17: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.”

Essa é a poderosa doutrina de Romanos 7. O cristão é carnal, vendido sob o pecado. O próprio Paulo, homem de Deus e apóstolo de Cristo, era carnal, vendido sob o pecado. Ele se achava assim, no fim de sua vida, após ter sido santificado pelo Espírito e após sua santificação ter progredido grandemente (v. 14). Paulo era carnal, não porque não fosse regenerado, não porque Cristo não o tinha batizado com o Espírito Santo e com fogo, nem porque o pecado reinava em sua vida, não porque Paulo era um cristão negligente; mas sim porque embora tivesse nascido de novo, o mal ainda estava presente nele – ele ainda tinha sua carne pecaminosa, totalmente depravada (v. 21). Como um novo homem em Cristo e, podemos supor com segurança, como um dos mais santos dos santos, ele se deleitava na lei de Deus segundo o homem interior (v. 22); tinha ódio pelo pecado (v. 15); e possuía uma vontade de fazer o bem (v. 18). Mas tal era o poder do pecado nele enquanto viveu, que “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço” (v. 19). Portanto, o apóstolo – e todo cristão – conhecia sua miséria. Ele a expressa em seu clamor angustiado: “Miserável homem que eu sou!” (v. 24) – o eco no Novo Testamento do “das profundezas a ti clamo, ó SENHOR” do Salmo 130. Todavia, ele nunca desistiu da luta espiritual, nem ficou sem o conforto do Salvador, Jesus Cristo seu Senhor. O versículo 23 insiste sobre a batalha (“Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento…”); e os versículos 24 e 25 sobre o conforto de Cristo (“quem me livrará …? Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor”).

Não somente essa luta com o pecado é a atividade da vida cristã com respeito à vida pessoal de alguém, mas é também a atividade da vida cristã na família e na congregação.

Essa é uma batalha dolorosa e difícil.

Por essa razão, o cristão pode ser seduzido pela doce promessa que subitamente a batalha termina nessa vida. Um pastor pode ser tentado similarmente por tal promessa para a congregação. Mas com o escudo da Escritura, ele pode, e deve, resistir à tentação.

Você encontra essa batalha difícil contra o pecado em si mesmo?

Não se desespere!

Não pense que você não é salvo, ou que foi insuficientemente salvo!

Essa é a vida cristã normal!

O resultado é que anelamos ardentemente e esperamos, não por uma segunda obra da graça, mas pela segunda vinda de Jesus Cristo: “Ora vem, Senhor Jesus.” Esperamos avidamente, não por um batismo com o Espírito, mas pela ressurreição dos nossos corpos: “mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm. 8:23).

Segundo, a atividade da vida cristã é fazer boas obras. Mas ela não é produção de feitos especulares e realizações glamorosas, como os carismáticos querem que creiamos. Antes, é a realização de obras imperceptíveis e insignificantes – obras sem importância na estima dos homens. É a atividade da santificação de vida, andando segundo o Espírito, não segunda a carne: não praticar adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas (Gl. 5:19-21); mas vivem em amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança (Gl. 5:22, 23).

É a atividade das obras não observadas de guardar a lei de Deus: a correta adoração a Deus; o confessar a verdade; lembrar o Dia do Senhor; obedecer aos pais; fidelidade no casamento; castidade na vida de solteiro; criar os filhos piedosamente; trabalhar com diligência na vocação terrena; pagar a César os seus impostos; falar bem do próximo, especialmente do irmão e irmã na congregação; e contentar-se com a fortuna do outro, sem inveja.

Em resumo, a atividade da vida cristã é o amor – amor ao Senhor nosso Deus e ao próximo.

Ao fazer isso, não toque uma trombeta diante da sua piedade; faça secretamente, e Deus o recompensará.

Isso é possível pelo poder do Deus todo-poderoso que habita em nós; mas, mesmo então, o pecado manchará nossas melhores obras, de forma que haverá somente um pequeno princípio da nova obediência e constante necessidade de perdão.

Mas a vida cristã não tem suas experiências?

Como uma alternativa ou adição à fé, a experiência deve ser renunciada, completamente. Jesus Cristo não nos chama a experimentar ou sentir, mas a crer. O caminho da salvação é a fé, não o sentimento; somos salvos pela fé, não pela experiência; somos salvos pela fé somente, não pela fé e experiência.

Todavia, a fé tem sua experiência. Ela é tripla: o filho de Deus conhece a grandeza de seu pecado e miséria, sua graciosa redenção em Cristo e gratidão por essa redenção.

Você tem essa experiência? Então, você tem a experiência cristã normal. Isso é tudo que existe. Todo aquele que deseja mais é ingrato e insulta a Deus. Ele diz ao Deus que dá o conhecimento de si mesmo em seu Filho (João 17:3): “Mas não há algo mais, algo melhor?”

Colocando de forma diferente: através da fé o Espírito Santo dá a paz e alegria que vem da justificação. “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo … e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Rm. 5:1-2).

Visto que essa é a vida cristã, o crente Reformado faz uma confissão que é radicalmente diferente daquele do Pentecostal. O Pentecostal está sempre se gabando de seus grandes poderes e sempre se regozijando em suas maravilhosas realizações. O santo Reformado confessa humildemente sua fraqueza e toma prazer em suas enfermidades, reprovações, necessidade, perseguições e aflições por causa de Cristo. Ele aprendeu a confiar na graça divina; deseja que o poder de Deus resida sobre ele; e ouve o que Deus diz, no evangelho: “o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co. 12:9-10).

Ele não se gloriará em si mesmo. Para ele, fazer isso é abominável – uma blasfêmia. Do mais profundo do seu coração quebrantado, porém justificado, vem a confissão: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl. 6:14).

Esse é o som da Pomba.

Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui.

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